Uveíte

Os sinais crônicos mais comuns são catarata e glaucoma secundários
Os sinais crônicos mais comuns são catarata e glaucoma secundários

Veterinária

01/03/2013

O termo úvea é usado clinicamente para se referir às estruturas: íris, corpo ciliar e coroide. É uma estrutura altamente irrigada, imuno-sensível, fortemente relacionada com doenças sistêmicas, possui íntima relação com a lente, retina e nervo óptico e as afecções são críticas para a manutenção da visão.

Uveíte refere-se à inflamação da úvea, sendo denominada uveíte anterior ou iridociclite a inflamação da íris e corpo ciliar. Uveíte posterior ou coroidite é a inflamação da coroide. Panuveíte denota inflamação de íris, corpo ciliar e coroide.

As causas podem ser exógenas (traumas e úlceras de córnea) ou endógenas (infecciosas, neoplásicas, metabólicas e autoimunes).

A uveíte inicia-se com destruição tecidual secundária à ruptura da barreira hemato-aquosa. Após isto, ocorre um aumento da permeabilidade vascular, mediado por histamina, serotonina, prostaglandinas e leucotrienos, resultando no extravasamento de fluidos, proteínas plasmáticas e células. Logo ocorre infiltração celular, congestão iridiana, turbidez de humor aquoso, hipópio, precipitados ceráticos e edema corneal.

Na anamnese, relata-se a ocorrência de dor (caracterizada pela fotofobia), blefaroespasmo e epífora; vermelhidão, córnea azul ou branca e déficit visual.

Ao exame físico observa-se desconforto, hiperemia, edema corneal, congestão ciliar, edema iridiano, pressão intraocular baixa, miose, turbidez do humor aquoso, exsudação fibrinosa, hifema, hipópio e precipitados ceráticos. Pode ocorrer sinéquias. Os sinais crônicos mais comuns são catarata e glaucoma secundários e hiperpigmentação de íris.

A pressão intraocular abaixo de 10mmHg ou diferença de pressão entre os olhos igual ou maior que 5mmHg são indicativos de uveíte. Este fato está relacionado à diminuição da produção e aumento na drenagem do humor aquoso.

O diagnóstico baseia-se nos achados de anamnese e exame físico. Alterações bilaterais sugerem doenças sistêmicas, recomendando-se a realização de hemograma, bioquímica sérica, urinálise e radiografia torácica. Pode-se realizar ainda paracentese ocular, exames citológicos (em casos de neoplasias), cultura em suspeitas de infecções bacterianas e dosagens dos níveis de imunoglobulinas (leptospirose ou toxoplasmose).

Dentre os diagnósticos diferenciais estão conjuntivite, episclerite ou esclerite, glaucoma, ceratite não ulcerativa e Síndrome de Horner.

O tratamento deve ser realizado precocemente para se evitar o comprometimento permanente da visão, lembrando que a causa gênica deve ser tratada apropriadamente. Para a uveíte propriamente dita, recomenda-se o uso de anti-inflamatórios esteroides e não esteroides para inibir a inflamação e a resposta imunomediada, reduzir a congestão dos vasos e fazer com que os capilares tornem-se impermeáveis às moléculas proteicas e às hemácias.
Os corticosteroides são preferidos para casos mais agudos e graves da doença. A prednisona na dose de 1-2 mg/kg por via sistêmica a cada 12h, por 7 dias, diminuindo a dose gradativamente, é medicamento eficaz. Associa-se ao tratamento sistêmico a prednisolona ou dexametasona 0,1% tópica a cada 4 ou 6 horas. Quando não for possível a utilização da via sistêmica (casos em que está contraindicada a medicação sistêmica por tempo prolongado) sugere-se a via subconjuntival. A prednisolona na dose de 2,5 a 10 mg ou a dexametasona na dose de 0,5 a 1,0 mg é uma excelente escolha nesta ocasião. Os corticosteroides são contraindicados quando a uveíte está associada a úlceras corneais e ceratites micóticas.

Os anti-inflamatórios não esteroidais (AINES) são utilizados quando os corticosteroides forem contraindicados. Os AINES são contraindicados em casos de uveíte com tendência a sangramento ou hifema. Recomenda-se o uso de agentes antiprostaglandina de ação tópica, como o diclofenaco sódico 0,1%, 4 vezes ao dia, ou o flurbiprofeno 0,03%, uma gota em intervalos de 6 horas. Porém, estes fármacos podem atrasar a cicatrização de feridas corneais, mas não potencializam a ação da colagenase como os corticosteroides.

Outro AINE utilizado é o flunixin meglumine, na dose de 0,5 a 1,0 mg/kg pela via intravenosa, a cada 24 horas. A aspirina pode ser prescrita em uveítes crônicas na dose de 10 mg/kg, a cada 12h, para o cão e 10 mg/kg a cada 48h, para o gato. Os imunossupressores são prescritos para pacientes não responsivos a uma terapia convencional e recomenda-se o uso da azatioprina (Imuran®) na dose de 1-2 mg/kg/dia, até recuperação do quadro.

Os fármacos midriáticos são eficientes para ocasionar midríase e diminuir a permeabilidade dos vasos inflamados da barreira aquo-sangüínea, reduzindo o extravasamento de humor aquoso. Utiliza-se atropina a 1% em intervalos de 2 a 3 horas até a pupila dilatar, seguindo administrações BID a TID. É midriática, cicloplégica e descongestiona a íris, porém é contraindicada em casos de glaucoma. Drogas adrenérgicas são indicadas quando houver risco de glaucoma secundário, e prioriza-se o uso da epinefrina 1-2% ou fenilefrina 2,5-10%.

Quando houver significativa formação de coágulos ou fibrina na câmara anterior, agentes fibrinolíticos são utilizados, como o Ativador do Plasminogênio Tecidual – Activase (tPA), na dose de 25(mi)g intracâmara.

Os antibióticos deverão ser empregados em casos de infecção secundária devido às doses altas e duradouras de imunossupressores, ou como profiláticos. Recomenda-se o uso do cloranfenicol por sua eficiente penetração na córnea.

Outros cuidados, como manter o animal em sala escura, usar compressas mornas, realizar exame ocular completo a cada 5-7 dias e avaliar pressão intraocular periodicamente, fazem parte do tratamento.

Leucoma, sinéquias, íris bombé, glaucoma secundário, catarata, descolamento de retina, endoftalmite e Phthisis bulbi podem ocorrer como complicações das uveítes.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


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