Entrevista com Bernardinho

Bernadinho levou as seleções masculina e feminina de vôlei diversas vezes ao podium.
Bernadinho levou as seleções masculina e feminina de vôlei diversas vezes ao podium.

Recursos Humanos

08/05/2015

O técnico de vôlei, Bernardinho, que inúmeras vezes levou as seleções masculina e feminina ao podium em competições internacionais, foi o único palestrante brasileiro presente no Fórum Mundial de Alta Performance.

O motivo?

Carlos Alberto Julio, entrevistador do portal empregos.com.br, diz que: “Além de colocar um componente nacional, o objetivo de ouvir o Bernardinho foi saber por que, mesmo com as mudanças nas equipes, a vitória permaneceu. Então, qual é o segredo? É isso que queremos ouvir dele.”

Para conhecer os segredos do técnico vencedor, confira esta entrevista exclusiva.
 
Entrevista com o técnico Bernardinho dada ao portal Empregos.com.br

Empregos.com.br – Segundo Carlos Alberto Julio, presidente da HSM, a idéia de convidar você para o Fórum era saber por que sua equipe muda sempre mas mesmo assim a vitória permanece. Qual é o segredo?

Bernardinho - As peças geralmente são trocadas por necessidades técnicas ou físicas, e também pela busca da evolução. Mesmo assim, o corpo de talentos é voltado para a equipe, independente dos anseios individuais. O objetivo coletivo é que leva à evolução do grupo.

O talento individual vale muito, mas desde que esteja inserido na equipe. Por isso, a partir do momento que temos esse espírito, mesmo com algumas mudanças conseguimos vencer pelo coletivo.


Empregos.com.br –
Quais são os componentes necessários para formar uma equipe vitoriosa?

Bernardinho -
Talento, treinamento, empenho, dedicação, obstinação e o comprometimento coletivo. Temos que ganhar campeonatos, não só partidas. O trabalho de longo prazo depende disso, por isso esses itens devem ser uma constante. Precisamos de paixão, de intensidade máxima naquilo que fazemos.


Empregos.com.br – Como fazer com que a equipe esteja sempre disciplinada e motivada para vencer?

Bernardinho -
Pessoas que não tem a capacidade de se motivar e superar geralmente não conseguem se manter em ambientes de alta performance. É algo próprio de cada um, mas nós líderes podemos ajudar, dando condições para isso e propondo desafios. É preciso conhecer as pessoas para saber que instrumentos usar para motivá-las. Durante o processo ganha-perde, é preciso que o atleta ou o profissional do mundo corporativo continue motivado e firme depois de uma vitória, para não acomodar, e também que saiba lidar com a pressão constante das exigências, que só aumentam. Um ponto positivo das últimas Olimpíadas é que conseguimos ganhar sendo apontados como favorito, porque assim conseguimos evitar a acomodação.

Mesmo perdendo alguma partida, precisávamos manter o foco naquilo que esperavam de nós, que era o primeiro lugar.


Empregos.com.br -
As competências para a alta performance podem ser desenvolvidas ou já é preciso ter uma base?

Bernardinho –
É muito bom que a pessoa tenha algum tipo de vocação nata sim, mas uma série de outras características, como a liderança, importante para atletas de ponta e empresários, pode ser desenvolvida. Não adianta ter muito talento e não ter determinação, por exemplo. Cabe aos gestores descobrir isso e ajudar seus liderados a desenvolver. O Cafu, da seleção brasileira, passou por 12 peneiras no início da carreira e foi barrado em todas. Poderia ter desistido, mas por sorte não o fez. Ele é o mais talentoso? Não, mas é o mais eficiente e persistente. Acredito que aqueles que os testaram buscavam nele o que ele não tinha, e não enxergaram o resto.

A melhor equipe não é a soma dos melhores talentos mas a soma dos talentos que se complementam da melhor forma possível. Assim, na hora de selecionar pessoas, é preciso ter atenção para enxergar aquilo que elas tem de melhor, e não aquilo que gostaríamos que elas tivessem.


Empregos.com.br - Como você percebe o talento no atleta? Como faz a seleção daqueles que têm futuro e daqueles em quem não vale a pena investir?

Bernardinho – Por meio da observação, ao vê-los em ação. Além disso, avalio o comportamento, a postura, o equilíbrio emocional e o histórico, ou currículo, como dizem no ambiente corporativo. As estatísticas também são fundamentais: muitas vezes somos iludidos por uma performance magnífica, mas o rendimento efetivo não a acompanha, ou então em outras situações o profissional cometeu erros que podem atrapalhar toda a estratégia. Nós fazemos o contraponto entre erro e acerto. Queremos índice de eficiência máximo.


Empregos.com.br -
Você sugere que os profissionais de Recursos Humanos usem esses critérios para selecionar talentos?

Bernardinho - Eu tenho a vantagem de poder observar durante o processo de evolução, e talvez trocar o componente da equipe, já às empresas não podem esperar para contratar depois de observar muito. Mesmo assim eu me considero um profissional de RH hoje, já que tenho a tarefa de juntar talentos que rendam o máximo. Eu trabalho com pessoas, eu me preparo para a tomada de decisão exatamente com base em processos seletivos, e na hora de cortar eu também preciso considerar qual a melhor formação da equipe, e não apenas o talento individual.


Empregos.com.br - Como o líder deve agir quando se forma uma lacuna entre os resultados esperados e os que a equipe consegue?

Bernardinho -
A primeira coisa é avaliar o próprio desempenho, porque líderes tem que ser autocríticos, mais do que com as outras pessoas. Eles devem se perguntar “até que ponto eu fui capaz de prepará-los?” O bom líder aprende com as derrotas, entende onde está a falha, inclusive porque essa é a única chance de não sucumbir à frustração e ter fôlego para tentar de forma diferente. Superação é ter a humildade de aprender com o passado e investir no futuro.

 O que me mantém vivo é a possibilidade de tentar novamente no dia seguinte. Por isso os líderes estão sempre observando e aprendendo com os outros. Isso é melhor ainda, porque ajuda a evitar o erro. Buscar exemplos de sucesso é fundamental também, além de promover a capacitação constante.


Empregos.com.br -
Por que no mundo corporativo parece mais difícil fazer tudo isso funcionar?

Bernardinho - As pessoas com real capacidade fazem as coisas funcionar muito bem, certamente há grandes lideranças no mundo empresarial, mas a diferença está no “day by day” da minha atividade. Numa empresa não dá para ter contato constante com os funcionários, trocar coisas o tempo todo, porque há muito volume de trabalho e o número de pessoas é grande.

Às vezes o contato de grandes empresários com as pessoas é esporádico, por isso pelo menos o grupo de líderes tem que ser multiplicador e disseminar a idéia. Eu não acredito em equipes que tem um só líder, é preciso ter pessoas que assumam o bastão em algumas situações. Quanto mais líderes a empresa tiver, mais pessoas com essa capacidade, é melhor. Temos no Brasil grandes empresários, só que eles não aparecem tanto como os grandes atletas. A diferença está apenas no nível de visibilidade.


Empregos.com.br - Você tem gurus ou exemplos inspiradores? Quem são eles?

Bernardinho -
Eu estou sempre lendo e observando pessoas do esporte, empresários e também pessoas de outras áreas. Pessoas de sucesso. Eu olho para a Gerdau, por exemplo, e penso na capacidade dos líderes, na técnica, e fundamentalmente nos valores e princípios que eles inspiram nos colaboradores. Eles contaminam as pessoas. Eu tenho livros e tive contatos com pessoas que aprendi a admirar. São profissionais que têm como preocupação principal as pessoas, afinal não há empresa que não se envolva com o crescimento das pessoas e consiga atingir a inteligência nos negócios. Michael Jordan, por exemplo, é alguém que soube associar o talento com o ideal de busca da excelência.


Empregos.com.br - Você se considera um líder?

Bernardinho - Eu estou um líder. Tenho conseguido inspirar as pessoas e atingir resultados, mas se eu perder alguns atributos, não renovar minha capacidade, meu porto não é perpétuo. Eu sou alguém que peca pelo excesso e não espero que sejam como eu, pelo contrário, minha equipe técnica é multidisciplinar, são talentos complementares, assim como a equipe de jogadores.


Empregos.com.br -
Qual foi o momento mais difícil para você exercer sua liderança? Por quê?

Bernardinho – Um momento bastante difícil foi o que passei com a seleção feminina em Atlanta, quando perdemos para Cuba na semi-final e menos de 48h depois fomos disputar o bronze. Elas estavam arrasadas e a estratégia que usei foi dar treinamento dobrado, para tirar o foco da derrota e fazer com que pensassem só no próximo jogo. Quando uma atleta me disse “ai, estou cansada e não vou conseguir jogar amanhã” eu percebi que estava funcionando, porque ela já tava pensando no dia seguinte. A melhor maneira de superar a derrota de ontem é pensar na vitória de amanhã.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Colunista Portal - Educação

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