O desenvolvimento da empatia - Uma reflexão para quem educa

Psicologia

22/05/2017

Quando ligamos a TV ou nos conectamos à internet e às redes sociais, vemos sempre notícias de um mundo que parece que teve um salto quântico no conhecimento e na tecnologia, mas que continua estacionário, ou talvez até mais decadente quanto a sua evolução como ser humano. E agora, com muito mais rapidez na divulgação das más notícias, chega a seguinte indagação: que mundo é esse com tanta agressividade, onde as pessoas se preocupam muito consigo mesmas e pouco com as outras?

Isso nos remete aos estudos que vêm sendo realizados no campo da Psicologia que relacionam a empatia com melhores habilidades sociais e menor agressividade em crianças (Strayer e Roberts, 2004; Williams,O´Driscoll e Moore,2014).

Empatia é a capacidade de se colocar no lugar do outro e, dessa forma, compreender melhor o que a outra pessoa está sentindo. E quando isso acontece, há maior possibilidade de surgirem comportamentos sociais construtivos.

A empatia acontece mais facilmente quando há alguma identificação com a outra pessoa.  Ou seja, quando já vivenciamos isso em algum momento de nossas vidas.  Quando o que acontece com a outra pessoa é muito diferente da nossa realidade é mais difícil ter a compreensão sobre como é vivenciar tal situação. 

Daniel Goleman, no livro recente que escreveu com Peter Senge (O foco triplo – Uma nova abordagem para a educação), descreve no capítulo "Sintonizando com outras pessoas", que existem três tipos principais de empatia: a cognitiva, que permite compreender como as outras pessoas percebem o mundo e como pensam a respeito dele e isso nos permite abordar os assuntos que temos a dizer de modo que o outro compreenda melhor; a emocional, que nos proporciona uma percepção interior instantânea de como as outras pessoas se sentem e suas emoções do momento; e a preocupação empática, que é quando a pessoa se volta para ajudar a outra.  Essa última proporciona um bom ambiente para o aprendizado do aluno.

Podemos imaginar a preocupação empática quando um aluno que sabe bem a matéria explica o conteúdo da aula para um colega que não compreendeu claramente. Para fazer isso, ele tem que ajustar a sua explicação ao entendimento do colega e verificar onde está a dificuldade. Um professor também demonstra essa competência quando ele está atento às inúmeras diferenças nas aprendizagens de seus alunos e acaba ajustando um método mais eficaz no ensino de sua disciplina que contemple as peculiaridades de cada um.

Hoje vemos muitas crianças e adolescentes voltados para os seus interesses imediatos sem a preocupação sobre como o seu comportamento afeta o outro e, dessa forma, temos os bullyings, as agressões e a ausências de limites. Essas formas de agir podem ter inúmeras causas que não são objetos de nossa discussão aqui neste artigo. Porém, cabe destacar que alguns exercícios simples da prática da empatia podem levar a pessoa a despertar o desenvolvimento dessa competência e, em virtude disso, modificar as suas formas de agir.

Quando são feitas algumas perguntas para crianças que as levem a refletir sobre as suas atitudes estamos inspirando nelas uma mudança de comportamento posterior. Como por exemplo:

- Como você acha que o outro deve estar se sentindo com a forma como você agiu?

- Como você se sentiria se a outra pessoa tivesse feito isso com você?

- O colega parece estar chateado, você saberia dizer o motivo?

- Em quais pontos vocês concordam e em quais discordam?

- O que você poderia fazer a respeito disso?

Alguns educadores enfatizam que, quando há algum problema de comportamento, a criança deve ser colocada  para "pensar" durante alguns minutos sobre o que ela fez.  Isso, de certa forma, vai auxiliar no processo de impor limites e disciplina. Porém, pode ser que a criança fique quieta sem pensar em absolutamente nada, ou fique ainda mais chateada por estar ali naquele canto. Se ela não for induzida a refletir sobre o seu comportamento, ou auxiliada pelos familiares ou professores, ela não irá desenvolver a compreensão sobre o impacto daquela sua atitude nas outras pessoas. Na medida que são introduzidas perguntas para que ela responda, começa a surgir maior autoconsciência sobre as suas próprias emoções e motivos, bem como maior entendimento sobre as consequências de suas ações na outra pessoa.

Quando a empatia é estimulada a ser praticada no dia a dia, há maior compreensão das emoções e do ponto de vista do outro e, dessa forma, começam a surgir atitudes  que apoiam as relações interpessoais. Isso contribui, também, para a diminuição de comportamentos agressivos e para a resolução de conflitos de forma mais construtiva.

Temos que pensar agora como podemos apoiar nossas crianças e jovens, que são aqueles que estarão construindo o nosso mundo de amanhã. É um desafio? Sim, e cada um tem que fazer a sua parte nesse processo. Familiares, professores, gestores, profissionais diversos, ou seja, todos os que de, alguma forma, estejam envolvidos com educação.

 

Referências Bibliográficas

GOLEMAN, D.;SENGE,P. O Foco Triplo: uma nova abordagem para a educação. RJ: Objetiva, 2015.

STRAYER, J.; ROBERTS, W. Empathy and observer anger and aggression in five-year-olds. Social Development, 13, 2004.

WILLIAMS, A.; O`DRISCOLL,K.; MOORE,C. The influence of empathic concern on prosocial behavior in children. Department of Psychologe and Neuroscience, Dalhousie University, Halifz, NS, Canada, Front. Psychol., 12 May 2014,  < http://journal.frontiersin.org/article/10.3389/fpsyg.2014.00425/full >

 

Autora

Fátima Holanda é Psicóloga (UFRJ), Mestre em Psicologia Social e da Personalidade (FGV) , autora do livro: Liderança para Competitividade: gestão estratégica da produtividade, do relacionamento e da qualidade, RJ: Quatiymark Ed. 1996. Atuou como executiva  nas áreas de RH, Qualidade e, também, na área de educação. Professora universitária, palestrante e consultora.

 

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Fátima Holanda

por Fátima Holanda

Fátima Holanda é Psicóloga (UFRJ), Mestre em Psicologia Social e da Personalidade (FGV) , autora do livro: Liderança para Competitividade: gestão estratégica da produtividade, do relacionamento e da qualidade, RJ: Quatiymark Ed. 1996. Atuou como executiva nas áreas de RH e Qualidade e, também, na área da educação. Professora universitária, palestrante e consultora.

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