Preconceito e falta de oportunidade

Psicologia

03/05/2017

No meu último artigo, falei sobre a escassez de vagas de trabalho para as pessoas com deficiência e inseri ainda a contratação “formal” imposta pela lei de cotas que não necessariamente representa o exercício de uma profissão condizente com a formação da pessoa. Este assunto é polêmico e, por isso, não posso deixar de continuar argumentando sobre o tema. O caminho é longo para se atingir a conquista dos direitos do empregado, sobretudo com a flexibilização das leis trabalhistas que tramita pelo Congresso. As pessoas com deficiência deverão esforçar-se ainda mais para se equiparar com as demais e interagir para que os saberes e conhecimentos se multipliquem e tragam benefícios para todos os envolvidos.

Porém, como diz o ditado, “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”. Ou seja, todos nós podemos insistir. Os preconceitos fazem parte da história da humanidade, em que muitos são os rejeitados e poucos os escolhidos. Então, estou aqui novamente para salientar a relevância desta luta e mencionar que as conquistas devem servir de exemplos para não abandonarmos a batalha.

Até a década de 1990, poucas pessoas com deficiência frequentavam as escolas regulares, pois elas eram direcionadas para as escolas especiais ou ficavam em casa com os cuidadores e pais. Isto não significava que elas estavam partilhando dos conteúdos apregoados em currículos escolares, mas sim que recebiam uma assistência diferenciada segundo as necessidades individuais. Hoje, o espaço escolar acolhe todos com igualdade, porém aqueles que possuem dificuldades para aquisição de habilidades e competências não têm mais um docente especializado que possa acompanhá-lo.

Os docentes sentem-se em uma encruzilhada, pois não possuem formação adequada para lidar ao mesmo tempo com deficientes auditivos, cadeirantes, pessoas com baixa visão, com baixa cognição, dentre outros problemas apresentados. Quando os pais decidem colocar seus filhos com necessidades especiais em escolas regulares necessitam contratar simultaneamente um monitor. Caso não possuam condições, podem recorrer à justiça brasileira.

Os investimentos governamentais em educação em todos os níveis declinam ano a ano. Nos estados, os salários foram congelados e os direitos à carreira ascendente foram retirados sem justificativa plausível. Logo, os professores possuem empecilhos financeiros e temporais para tratar de casos mais complexos, como os das pessoas com deficiência. As questões vocacionais se defrontam com as questões de sobrevivência, de emprego e de família. Então, a formação das pessoas com deficiência, que mereceria mais estudos e pesquisas, pode ser prejudicada e refletir no momento em que essas pessoas entrarem no mercado de trabalho.

Vale salientar que esse cenário “muda de cor” quando se classificam as pessoas como “normais” e “com deficiência”. A própria lei de cotas é contraditória e discriminatória na medida em que segmenta os grupos sociais diante das empresas. Ao se tomar essa assertiva como ponto de partida, parece que alguns possuem limites e outros não. Como canta Caetano Veloso, “de perto ninguém é normal”. Precisamos de espaço para nos mostrar, nos fazer conhecer e nos colocar no lugar do outro.

A perfeição era uma das metas dos gregos, os quais procuravam esculpir a beleza em suas imagens e na arquitetura. Mas, ainda assim, recorriam a “truques” para alcançar seus objetivos. “Não somos perfeitos e não precisamos de caridade, mas sim de dignidade e respeito” (Hisaac Oliveira).

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Fabiane Esperança Rocha

por Fabiane Esperança Rocha

Psicóloga e Psicoterapeuta: Fabiane Esperança Rocha CRP: 14ª Reg.03633-3 http://lattes.cnpq.br/8355384961471097 https://br.linkedin.com/in/fabianer

Portal Educação

UOL CURSOS TECNOLOGIA EDUCACIONAL LTDA, com sede na cidade de São Paulo, SP, na Alameda Barão de Limeira, 425, 7º andar - Santa Cecília CEP 01202-001 CNPJ: 17.543.049/0001-93