Por que repetimos os mesmos sofrimentos?

Psicologia

22/03/2016

Por Alenne Namba

Não importa em que tipo de relacionamento você se encontre, se familiar, afetivo, de amizade, profissional. Escuto esta pergunta o tempo todo: Mas, Alenne, por que eu continuo sofrendo pelos mesmos motivos? Atraindo o mesmo tipo de pessoas? Passando pelos mesmos problemas?

A resposta é bastante simples, embora sua solução demande um bocado de esforço: O responsável é seu Eu Machucado.

Todos nós temos dois EUs ou, se preferir, dois SELFs. Temos o Eu Machucado (ou Self Inferior) e o Eu Superior (ou Self Superior).

O Eu Machucado é sua parte incompleta, é sua porção que questiona seu valor próprio, que não se sente completo, se sente inferior. Seu Eu Machucado vive se perguntando por que você não é suficiente, por que não consegue isso ou aquilo, por que não merece o que deseja. É seu Eu Machucado que não se conforma em não ser amado.

Por outro lado, você também tem um Eu Superior. Talvez ele esteja mais próximo do que chamamos de alma. É sua parte ligada ao amor mais puro e verdadeiro, à sabedoria, à verdade, à sua paz interior. Seu Eu Superior sabe exatamente seu valor, conhece suas forças e aceita que você seja do jeitinho que você é. Este Eu Superior não precisa que outros nos valorizem, nos amem, nos reconheçam; ele já faz tudo isso por você. Ele reconhece sua completude em si mesmo.

Em muitos momentos, operamos a partir de um ou de outro. Mas muitos de nós operamos na maior parte do tempo a partir do Eu Machucado. Ou seja, acreditam que são inferiores, frágeis, incompletos e que precisamos de algo externo para compensar essa falta.

O Eu Machucado procura lá fora (nos outros, nas coisas, nos relacionamentos, no emprego, no dinheiro…) algo que te faça encontrar validação e reconhecimento. Ele acredita que quanto mais você tem (repito: um parceiro melhor, um emprego melhor, uma casa melhor, mais férias, mais dinheiro…) aí sim você será feliz.

Mas … o vazio não é preenchido e você nunca consegue essa felicidade pronta e sem fim.

Na verdade, nos primeiros momentos em que você obtém esse algo externo (dinheiro, amor, férias…) você até se sente muito animado, como se não precisasse de mais nada. É uma falsa completude, porque é da própria natureza do Eu Machucado: ele nunca se sente completo, nunca é o suficiente.

Portanto, quando você vive através da perspectiva do seu Eu Machucado, você está destinado a se sentir como se algo estivesse sempre faltando.

Em relacionamentos afetivos o Eu Machucado fica altamente ativo, pois é nos relacionamentos onde vivemos mais situações em que podemos experimentar sofrimento.

Todos nós já vivenciamos chateações, decepções, dores num relacionamento passado. Muitas vezes essa memória (tantas vezes inconsciente) é originada lá na infância, nos nossos primeiros relacionamentos (pai, mãe, responsáveis, avós, tios, irmãos, primos, professores, coleguinhas…).

Se uma ferida da infância ainda está ativa dentro de você, é provável que você atraia pessoas que lhe farão reviver esse mesmo sentimento. Quer um exemplo? Se você foi rejeitado, é possível que atraia relacionamentos que, no fim, te façam se sentir invisível, rejeitado, sem valor, abandonado.

Seu inconsciente está programado para atrair pessoas que ativam essas feridas. E você pode me perguntar: Mas Alenne, por que isso acontece? Até quando preciso passar por isso?

A razão para isso é simples e muitas vezes difícil e dolorida: Para você aprender com essa experiência e crescer.

Por exemplo, se você precisa desenvolver sua autoestima, é provável que você atraia todo tipo de pessoas que irão intimidá-lo, desvalorizá-lo, que serão agressivos com você, que irão se opor ao que você pensa e sente, que não reconhecerão o que você faz ou fez por elas. Essa, então, poderá ser sua oportunidade de praticar e desenvolver sua autoestima.

Sei que essa é justamente a parte mais dura de um processo terapêutico, justamente quando você se percebe nessa repetição. Inicialmente quando a repetição é inconsciente talvez você sofra menos. Mais difícil é quando já sabe as origens da repetição, quando já começou a se trabalhar, mas ainda se vê envolta nos mesmos sentimentos. Essa é a parte mais difícil de aceitar.

Mas tente pensar da seguinte forma: Você está repetindo essas experiências e sentimentos para que possa finalmente curar-se.

Você não vai conseguir curar qualquer coisa se não puder senti-la ou enxergá-la. Não podemos curar as coisas que são inconscientes! Essa sensação de desconforto tem de vir à tona para que você consiga crescer a partir disso, a partir do aprendizado.

E como você consegue crescer a partir dessas feridas?

Mais uma vez dou uma resposta simples, mas também difícil: Identificando-se com seu Eu Superior.

Lembra que falei que seu Eu Superior é aquela sua parte que conhece sua essência, sua verdade, seu valor? Pois é. Ele sabe o quanto você é inteligente, digno, capaz, poderoso, engraçado, justo, amoroso. É isso e mais ainda que seu Eu Superior sabe sobre você e ele quer (e quer muito!) que você também saiba disso.

Seu Eu Superior sabe que você é completo, é pleno. Ele também sabe que você tem defeitos (afinal, todos temos!), mas sabe que é justamente essa imperfeição que te faz humano.

Quando você se identifica com seu Eu Superior, sua compulsão por repetir os padrões do passado vão se dissipando. E, aos poucos, desaparece. Mas esse é um processo, não é um evento. Não ocorre em dias ou em meses, pode durar de meses a anos.

E por que demora? Por que tem de ser tão sofrido assim?

Outra resposta simples, mas difícil de encarar: Por que você passou anos e anos vivendo assim, repetindo essa ferida. E não é de um dia para o outro que tudo isso se dissipa. Há um processo que se inicia em tornar tudo isso consciente (o que dói), depois encarar essa realidade, trabalhar em cima dela, lutar contra as autossabotagens (pois o Eu Machucado luta ferozmente para se manter ativo e poderoso), reconhecer suas qualidades e defeitos, perceber seu valor e a capacidade de mudar de pequenas a grandes coisas… Enfim, o processo pode demorar. Mas só quem viveu um resultado concreto pode dizer o quanto vale a pena manter-se confiante.

Quando você acorda para a verdade maior do seu Eu Superior, de repente você percebe que essas pessoas “erradas” eram apenas “professores da vida real”. Eles estavam ali, não à toa, para te ensinarem a fazer as pazes com sua Criança Interior.

Sabe aquela frase “A gente cresce no amor e na dor”? Infelizmente, na maioria das vezes, a gente acaba aprendendo na dor. Mas embora seja sofrido, o ponto ao qual devemos nos apegar é justamente o aprendizado, e não a dor do processo.

Esteja certo de que seu Eu Superior está doido para que você lhe dê forças, para que ele possa te mostrar o quanto você tem valor, quem você realmente é, e o que você de fato merece.

Mas recuperar esse amor dentro de você não é um trabalho fácil. Há de se ter persistência para lutar com o Eu Machucado. Por isso sempre digo que é um processo que ocorre de dentro para fora. E não de fora para dentro. Para que isso aconteça, você precisa reconhecer em si um mínimo de valor. Só depois de um “eu mereço” é que você acabará indo em busca de auxílio para ressignificar esses padrões que, hoje, tanto te fazem mal.

Procure e persista. O resultado virá.

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Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Alenne Felizardo da Costa Namba

por Alenne Felizardo da Costa Namba

Eu sou Alenne Namba, Psicanalista formada pela Escola Paulista de Psicanálise e Coach formada pelo Instituto Holos - CEADH. Também é colunista do Portal Educação e do site Mães Amigas de Águas Claras. Ministra cursos e palestras sobre os diversos temas relacionados ao equilíbrio emocional.

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