A INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS E SUA RELAÇÃO COM A SAÚDE PSICOLÓGICA

Mulher deitada, dormindo - Felix Vallotton.
Mulher deitada, dormindo - Felix Vallotton.

Psicologia

20/12/2015

A INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS E SUA RELAÇÃO COM A SAÚDE PSICOLÓGICA: A COMPREENSÃO DE SUJEITOS DE UMA CIDADE DE PEQUENO PORTE[1]

JUNHO/2015

NOGUEIRA, Gelci[2]

SANDER, Lucilene [3]


Faculdade de Pato Branco, Pato Branco, PR – Junho/2015.

Psicóloga Especialista Clínica, Especialista em Avaliação Escritora e Palestrante, Brasil e Portugal. Livros: Vivências, Sonhos e Reflexões -2010; O despertar da vida afetiva saudável aos 81 anos com Alzheimer -2012, em: www.amazon.com; www.biblioteca24horas.com; www.sinopsedolivro.com


E-mail de contato:

gelcinogueira@hotmail.com


RESUMO

O presente artigo teve por objetivo verificar se, para pessoas com idade de 20 a 45 anos e residentes em São Jorge D’ Oeste – PR, a interpretação dos sonhos contribui para a saúde psicológica e se há correlação entre a compreensão destes sujeitos e os resultados psicoterápicos da intervenção com interpretação de sonhos. A pesquisa que é aqui apresentada foi desenvolvida a partir da análise de nove prontuários de pacientes clínicos de psicoterapia, atendidos pela pesquisadora, e que haviam tido alta de seus acompanhamentos. Além disso, foi aplicado um questionário aberto, entre a população de São Jorge D’Oeste – PR, com faixa etária de 20 a 45 anos, tanto de contexto urbano quanto rural. Houve uma ampla divulgação da realização da pesquisa por meio de panfletos e anúncios na rádio local como convite à população para participar, no entanto, apenas 20 sujeitos se dispuseram a tal. Desta feita, embora composta de uma amostra não representativa em relação ao questionário, discute-se a respeito dos dados encontrados. O levantamento bibliográfico teve como enfoque teórico a abordagem Cognitivo-Comportamental, por se tratar da abordagem de formação da pesquisadora. Para análise de tratamento das respostas dos questionários, serviu-se da técnica de Análise de Conteúdo, na perspectiva de Bardin, por tratar-se de um método que envolve o tratamento da mensagem comunicativa, ser usual em pesquisas e, portanto, referendada. Com relação à análise dos prontuários, serviu-se da técnica de entrevista de Delaney, por tratar-se de método que envolve o tratamento dos conteúdos, conforme a abordagem Cognitivo-Comportamental, visando a explicitação de significados dos atendimentos. Os resultados revelam que, a população pesquisada considera relevante a interpretação dos sonhos em processos psicoterápicos e, nos acompanhamentos as intervenções psicoterápicas realizadas demonstram que compreender cientificamente os sonhos contribui para a saúde psicológica dos sujeitos. O cruzamento dos dados clínicos com as respostas do questionário com 20 sujeitos, confirmam as hipóteses em 98%, no entanto, pela amostra pequena entre a população dos questionários, não se pode fazer a generalização para a população que se pretendia estudar.

Palavras-Chave: Interpretação de sonhos. Conteúdo onírico. Saúde psicológica.


ABSTRACT


This article aims was to determine whether, for people aged 20-45 years and living in São Jorge D'Oeste - PR, dream interpretation contributes to the psychological health and whether there is correlation between the understanding of these subjects and psychotherapeutic intervention results with interpretation of dreams. The research that is presented here was developed from the analysis of nine clinical records of patients in psychotherapy, attended by the researcher, and who had been discharged from their accompaniments. In addition, an open questionnaire was administered among the population of St. George D'Oeste - PR, aged 20-45 years, both urban and rural context. There was a wide dissemination of conducting the survey and inviting the population to participate, however, only 20 subjects were willing to do so. This time, though composed of a non-representative sample regarding the questionnaire, we discuss about the data found. As the methodological resources there was a process of disclosure and call to participate in the survey, were distributed leaflets and made announcements on local radio, but only 20 subjects volunteered for local prevention issues such as year-end festivities and strikes. The literature had as theoretical approach to cognitive-behavioral approach, because it is the training approach of the researcher and common to all approaches procedures, which seeks to identify dysfunctional psychological content from relevant questions to the clinical context. For analytical treatment of the questionnaire responses, we have used the content analysis technique with a view to Bardin, because it is a method that involves the treatment of communicative message and be usual and therefore endorsed. Regarding the analysis of medical records, poured from Gayle interview technique (2002) because it is a method that involves treating content as a cognitive-behavioral approach, aimed at clarification of meanings of care. The results show that the population surveyed considers relevant to the interpretation of dreams in psychotherapy process and the accompaniments psychotherapeutic interventions demonstrate that scientifically understand the dreams contributes to the psychological health of the subjects. The comparison of clinical data with the questionnaire answers with 20 subjects, confirm the hypothesis in 98%, however, the small sample of the population of the questionnaires, you can not make a generalization for the people it was intended to study.

Keywords:
Dreams Interpretation. Dream content. Psychological health.


1 INTRODUÇÃO


Whitmonte (1995), Manning (2005), Souza e Carvalho (2003), Fonseca, Souza e Lucas (2006), Costa e Leal (2008) e Nogueira (2012) enfatizam a necessidade de busca de informação, controle dessa informação, modificação cognitiva e comportamental de estados psicológico que comprometem a saúde, o aprendizado, convívio familiar, laboral e social. Considerando o que propõe a Organização Mundial da Saúde (SOUZA; CARVALHO, 2003, p.516), em que trata a saúde como:

Uma natureza multifatorial da qualidade de vida, refere-se a esse conceito a partir de cinco dimensões: (1) saúde física, (2) saúde psicológica, (3) nível de independência (em aspectos de mobilidade, atividades diárias, dependência de medicamentos e cuidados médicos e capacidade laboral), (4) relações sociais e (5) meio ambiente. Trata-se de visão global, que considera as várias dimensões do ser humano na determinação dos níveis de qualidade de vida de cada indivíduo.

Ribeiro (1994, p. 179) retrata a saúde psicológica como fator determinante para a qualidade de vida, nestes termos:

Conceptualizar, avaliar, intervir na melhoria da Qualidade de vida, na Promoção da Saúde, implica recurso à pressupostos radicalmente diferentes dos que tradicionalmente, têm sido utilizados, tanto na Psicologia como na Medicina. [...] A relação entre QDV e saúde pode ser assim expressa: a QDV é o objetivo da Psicologia da Saúde enquanto a Saúde é o objeto.
No mesmo sentido da qualidade de vida, o comportamento humano é complexo e muitos fatores interagem para causar fenômenos psicológicos perturbadores, entre eles os sonhos, através do sono paradoxal. É deste, de acordo com Doron e Parot (2001), por onde emergem experiências mentais, geralmente sob a forma de sequência de ideias, imagens e acontecimentos, em que, o sujeito sonhador acorda visivelmente alterado em suas funções eletrocardiológicas, como aceleração de ritmo cardíaco, hipertensão arterial, sudação, dilatação das pupilas, diminuição do tônus muscular, entre outros.

Machado e Alves (2014) afirmam que, em relação à interpretação dos sonhos em psicoterapia, há três principais abordagens psicológicas: a Freudiana, a Junguiana e a Cognitivo Comportamental. As autoras destacam, os fenômenos oníricos e sua importância para o contexto clínico. Revelam que a abordagem cognitivo comportamental tem como característica principal no tratamento dos sonhos, compreender padrões de comportamentos observáveis que contém informações valiosas acerca de processos cognitivos vinculados à gênese do sujeito.

Vandenberg e Pitanga (2007), citado por Machado e Alves (2014, p. 408) afirmam que:

O sonho é um produto da pessoa que sonha, o material particular que ela coloca no seu sonho vem de suas experiências anteriores e das suas crenças atuais. Por isso, o material do sonho pode ser usado nas intervenções de reestruturação cognitiva como os pensamentos automáticos.

Em pesquisas científicas (Comportamentais, Cognitivo-comportamentais) as abordagens empíricas enfatizam as observações diretas ou indiretas e as experimentações como meio de responder uma pergunta, em que se buscam explicar e compreender um fenômeno (KNAPP; BECK, 2008). Em se tratando do universo onírico, muito se tem explorado, teorizado e cada vez mais evidencias comprovam a pertinência do tratamento científico dos conteúdos, cenários e mensagens dos sonhos (SPRINGER; DEUTSCH, 1998; HOBSON, 1996).

Este artigo tem a pretensão de mostrar um pouco do que foi evidenciado na pesquisa com as questões que envolvem a interpretação dos sonhos, o sonhador e sua saúde psicológica. Com a questão central: “O que uma faixa da população de São Jorge D’ Oeste compreende sobre a interpretação dos sonhos e sua relação com a saúde psicológica e como isso se relaciona com a aplicação psicoterápica de interpretação de sonhos”.

Segundo Fromm (1962), citado por Nogueira (2010, p. 07):

As opiniões sustentadas a respeito dos sonhos variam através dos séculos e das culturas. Todavia, não há controvérsias quanto a uma ideia: a de os sonhos serem significativos e importantes. Sonhar é uma expressão significativa de qualquer gênero de atividade mental durante o sono. Não sonhamos nada que não seja relevante de nossa vida interior, e todos os sonhos podem ser entendidos, se dispusermos da chave: a interpretação dos sonhos.

Historicamente a psicologia tem vinculado a emoção à experiências subjetivas, que por sua vez define-a como emoção inconsciente[4]. Neste contexto, insere-se a discussão de que os conteúdos dos sonhos, se interpretados em psicoterapia, possibilitam expressar a emoção inconsciente.
Segundo Cordioli (2008, p. 490) as investigações dos eventos traumáticos conquistaram um grande avanço:

“Sabe-se que severas alterações neuropsicológicas decorrentes de situações estressantes, é sentida pelo sujeito exposto ao evento traumático, não apenas na estrutura neural, mas também em seus efeitos funcionais, como nas cognições formadas a partir do evento traumático, nas impressões afetivas, nos comportamentos e nas reações fisiológicas.”

Entretanto, apresenta-se uma crítica às Abordagens atuais em Psicoterapia, tendo a frente Cordioli (2008, p. 549), ao abordar a temática da insônia (CIDS-2) como transtorno do sono,

“É definida como queixa do cliente em ‘iniciar o sono e mantê-lo e, o despertar precocemente, com sono de baixa qualidade’, sabe-se que uma noite insone, pode vir a comprometer a saúde psicológica do sujeito em seu cotidiano, principalmente no trabalho, em baixo desempenho laboral, mente distraída ou divagando, humor alterado”.

Hobson (1996), referindo-se a ciência dos sonhos, em O Cérebro Sonhador, fala das tradições do ato de interpretar com base predominante subjetiva, destaca que durante o sono, o cérebro está mais ativo nos sonhos, utilizando-se de vestígios de experiências guardados na memória, o que abre caminhos para discutir esse assunto em termos de benefícios para a saúde psicológica das pessoas; que é o objetivo central dessa pesquisa.

Os estudos eletrofisiológicos do sujeito dormidor identificaram certo tipo de sono, chamado sono paradoxal, que surge cada noite quatro ou cinco vezes (DAMÁSIO, 1996; HOBSON, 1996; MANNING, 2005). Sono paradoxal (REM - rapid eye movement, movimentos oculares rápidos), designa-se paradoxal por se tratar de um sono profundo acompanhado de aceleração de ritmo cardíaco, hipertensão arterial, sudação, dilatação das pupilas, diminuição do tónus muscular e ereção (Hobson, 1996). É nesta fase que ocorrem os sonhos (DAVIDOFF, 1983, citado por BATCHOLD). O que revelam os sujeitos dessa pesquisa, através dos prontuários clínicos, em seus relatos oníricos, durante o tratamento psicoterápico.

É o trabalho da consciência onírica, ou seja, consciência do sonho, que de algum modo contribui com o desenvolvimento psicológico da pessoa, Nogueira (2010, p. 191). Interpretar e compreender o que revela o cenário, as imagens e os personagens do sonho revela-se como um ponto crucial na busca pela saúde psicológica do sujeito, Nogueira (2010, p. 217):

Despertei assustada com a imagem, sentindo uma sensação de desconforto nas minhas costas, exatamente como vi na imagem onírica, da cintura para cima; revendo a imagem, ri da cena, [...], como se segurasse algo para não deixar cair, ou para não rever, temendo não suportar a dor.

No que refere Guattari (2003), citado por Job (2010), uma interpretação pode gerar uma interessante intimidade onírica, em que os signos nos sonho sejam libertos de significação a priori em que fomentam uma experimentação criativa tão poética. De modo que o trabalho com os sonhos deixam de ser uma interpretose para vir a instruir futuros, multiplicar reais, recuperar outro passado, engendrando outras dimensões (JOB, 2010).

HOBSON (1996), MELO e SILVA (2014) e MACHADO e ALVES (2014) identificam que as memórias inconscientes envolvem um grande leque de diferentes capacidades de memória que compartilham: ‘a notável característica de serem normalmente inacessíveis à mente’, Damásio (1996).

A evocação destes tipos de memória é completamente inconsciente tendo o sonho, a função de tornar explicito o que contém essas memórias, de acordo com Squire e Kandel (2003), citados por Cordioli (2008).

Assim, o presente estudo teve por objetivo verificar se, para pessoas com idade de 20 a 45 anos e residentes em São Jorge D’ Oeste – PR, a interpretação dos sonhos contribui para a saúde psicológica e se há correlação entre a compreensão destes sujeitos e os resultados psicoterápicos da intervenção com interpretação de sonhos. Com os objetivos específicos pretendeu-se perceber como essa população vê e entende os conteúdos de seus sonhos e, em que é que a interpretação dos sonhos pode vir a contribuir para a qualidade de suas vidas. Para tanto, realizou-se a aplicação de um questionário com questões abertas entre sujeitos com idades entre 20 e 45 anos e residentes em São Jorge D’ Oeste e, além disso, analisou-se nove prontuários de sujeitos atendidos em psicoterapia, que tiveram alta e que, em seus acompanhamentos, trabalharam demandas relacionadas a sonhos.

Nestes contexto insere-se os procedimentos de compreensão e interpretação dos conteúdos e imagens dos sonhos, abrangendo o tratamento do sujeito/cliente em sua funcionalidade noturna, a qualidade do sono, de onde emergem o cenário dos sonhos.

Para cada caso lançou-se mão de técnicas atuais, segundo Cordioli (2008), com foco na abordagem Terapia Cognitivo Comportamental, priorizando o universo onírico com introdução de técnicas, como questionamentos e autoquestionamentos que visam a explicitação do conteúdo. Para análise desses materiais, utilizou-se a técnica de entrevista de interpretação de sonhos de Delaney (2002). Trata-se de um roteiro de questões feitas ao sujeito sonhador e que permite a este reorganizar os conteúdo oníricos, rever os cenários dos sonhos, ampliar o contexto e formar uma síntese clarificadora do que revela o seu sonho.

Em relação aos questionários orientou-se os voluntários para que se sentissem a vontade para responderem as questões; a maioria se mostrou curioso, fazendo comentários, demonstrando muito interesse e preocupando-se com as respostas.

Em referência à população pesquisada, de acordo com dados IBGE (2014) o número é de 9.307, com relação a população total. Se localiza na região sudoeste do Paraná, economia voltada para pequenos produtores, em grande maioria leiteiros, tendo o município a densidade demográfica de 24,54.

A pesquisadora, em sua trajetória clínica de vinte anos centrada nas questões que envolvem sono e sonhos, sentiu-se motivada a ir a campo ouvir as pessoas sobre sonhos, até porque, são elas que vem à clínica psicológica transtornadas com sonhos tidos como pesadelos, a fim de levantar mais informações e entendimentos do ponto de vista racional e/ou intelectual de cada um. Os anos de experiência e observações clínicas com sujeitos, cujos sonhos revelaram eventos traumáticos da vida do sonhador, e que, por meio da compreensão dos mesmos por parte do sonhador, pode vir a reorganizar os pensamentos e a restaurar o sono, contribuiu para justificar o interesse da pesquisadora em aprofundar questões relacionadas aos sonhos e justificam a realização do estudo.

Os sonhos já deram mostras de que tem uma função importante na trajetória evolutiva humana, uma função de limpeza cognitivo-afetiva reparadora do universo subjetivo (HOBSON, 1996). E por que, não?

A seguir, apresenta-se a metodologia aplicada, os resultados alcançados e discute-se os mesmos teoricamente.


2. MÉTODO

A pesquisa aqui apresentada foi desenvolvida em duas etapas de coleta de dados. Os métodos e as técnicas referem-se a um plano cronológico e epistemológico abordando a análise das comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição das mensagens.

Na primeira etapa, fez-se o levantamento de prontuários de casos atendidos psicoterapeuticamente pela pesquisadora. Selecionou-se, por idade uma mostra significativa para este estudo, em que do ponto de vista do sujeito do sonho, foi importante para solução de alguns de seus conflitos. A escolha da amostra onírica dos prontuários, priorizou sujeitos que em seu acompanhamento psicoterápico apresentaram pelo menos um sonho que, segundo o cliente foi importante para o processo, manifestando no cenário dos sonhos os sentimentos que os perturbavam, com a percepção clara das reações fisiológicas e mudança cognitiva, a sensação de alívio, de ter se libertado de algo ruim.

Trata-se de uma clientela atendida entre Setembro/2011 e Julho/2014, e que autorizou a análise de seus prontuários e mostrou-se interessada no resultado da pesquisa. Trata-se de uma população relativamente jovem, dois do sexo masculino com idades de 12 anos, queixa principal de medos e, 32 anos com queixa principal de crise no casamento; as demais são do sexo feminino com faixa etária entre 16 a 50 anos, com queixas principais de dores generalizadas no corpo, insegurança e indecisão, ansiedade e falta de ar, traição no namoro, noites sem dormir, ansiedade e tremor, tudo o que como me faz mal.

O contato com a amostra dessa população se efetivou por telefone e posterior presença no consultório para esclarecimentos e assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido.

Procedeu-se a tarefa de processamento e análise dos dados coletados na análise dos prontuários de casos clínicos com sonhos segundo o método de entrevistas de Delaney (2002), com breve introdução da historicidade dos sujeitos. Esse método preconiza três eixos fundamentais no tratamento da clientela do Estudo de Caso Clínico, a cerca dos sonhos: anamnese do sujeito, compreensão dos sonhos e amostra de um sonho de cada prontuário pesquisado. Além disso, utilizou-se o procedimento de análise descrito em Nogueira (2010), que contempla os vínculos afetivos na compreensão do conteúdo dos sonhos. Em cada prontuário foram registrados os conteúdos dos sonhos, segundo a narrativa de cada cliente, durante o percurso psicoterápico, com os comentários e interpretações pertinentes feitos pela psicoterapeuta.

Na realização desta etapa do trabalho foram encontradas muitas dificuldades em relação à localização dos clientes dos prontuários, através de telefonemas, informações com amigos e por fim o agendamento de uma entrevista para a assinatura do livre consentimento. O que se revelou numa oportunidade de reencontro Psicoterapeuta e Cliente, um resgate afetivo prazeroso. Alguns se mostraram interessados em atualizar seus conteúdos psicológicos e também no resultado da pesquisa.

A segunda etapa da coleta de dados se deu a partir da aplicação de questionários, compostos por vinte e duas questões abertas. Estes tinham como público alvo a população de São Jorge D’Oeste, da cidade e zona rural, com idade entre 20 e 45 anos. Esta população, de acordo com o censo de 2010, é de aproximadamente 4000 pessoas (IBGE, 2010). Com esta população, pretendeu-se abranger um universo populacional não influenciado por conhecimentos teóricos e técnicos da psicologia e da intervenção com interpretação dos sonhos.

Para a aplicação, fez-se convite através de divulgação por meio de panfletos distribuídos no comércio e entrevista na Rádio Difusora de São Jorge D’Oeste. No entanto, apenas 20 sujeitos dispuseram-se a participar desta etapa da pesquisa. Para estes, também foi entregue, lido e assinado o termo de consentimento livre e esclarecido.

Com relação aos voluntários do questionário, considera-se que houve interferências circunstanciais preocupantes, como o atraso da liberação do Protocolo do Comitê de Ética, os feriados de fim de ano, o carnaval e as greves dos caminhoneiros, impossibilitando a participação de alguns voluntários. Entre os voluntários que responderam o questionário três são do sexo masculino, com idades de 20 a 21 anos e escolaridade cursando superior. Os demais são do sexo feminino com faixa etária de 20 a 44 anos, sendo uma com escolaridade 1º grau, seis com escolaridade de Ensino Médio, duas cursando o Ensino Superior, seis com o Ensino Superior completo, e duas Pós-graduadas.

Quanto aos métodos e técnicas no tratamento das informações coletadas a partir dos questionários, utilizou-se a análise de conteúdo de Laurence Bardin, por tratar-se de uma obra consistente no rigor metodológico. Nessa técnica, de acordo com Bardin (1977) os resultados brutos são tratados de maneira a serem significativos e válidos. Trata-se de um conjunto de técnicas de análise das comunicações, que visa obter por procedimentos sistemáticos e objetivos, através da descrição do conteúdo das mensagens e indicadores quantitativos ou não, que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens (Bardin 1977).



3. RESULTADOS

Discute-se os resultados de acordo com os prontuários clínicos selecionados considerando os nomes fictícios para diferenciar da metodologia do estudo com os questionários. Na análise dos prontuários, selecionou-se um sonho de cada paciente, os quais, de acordo com Resolução 196/96, são identificados com nomes fictícios. Aborda-se um breve histórico e apresentação de um sonho, considerado significativo pelo sujeito. Na sequência segue os resultados dos questionários.

Os casos apropriados para a amostra dos prontuários foram de um pré-adolescente de 12 anos, sexo masculino, denominado Capitão, no 7º ano escolar, boas notas, 1º filho de uma prole de dois, diferença de 9 anos entre ambos. Pais comerciantes. Ele vem a consulta acompanhado pela mãe. Na entrevista, mantém-se calado, com postura levemente curvada para frente. Portador de doença crônica, diagnosticada em agosto/2012, com sintomas de dores abdominais, enjoos, e dores de cabeça. Após exames, passou por uma cirurgia, com sequelas e permanência de dois drenos.

Aos sete anos perdeu a pessoa mais querida de sua vida, o avô paterno. Para ele essa perda foi penosa e triste, ficou se sentido sozinho e isolado. Costumava ter pesadelos noturnos, um leão o perseguia nos sonhos. Os pais costumavam brigar, ralhar, quando ele falava do leão; sentia mais medo e, passou a dormir no quarto dos pais, junto com eles. Antes do sonho que descreve como libertador, ele tinha dificuldades para falar do conteúdo dos sonhos, dizia que teve um pesadelo que acordava e não conseguia mais dormir.

O sonho que o libertou, descrito por ele:

Me vi num navio grande de piratas – era o capitão, vieram uns homens maus e tentaram roubar o navio, prenderam os companheiros e amarraram num lugar escuro; os homens mau não viram que eu estava do outro lado vendo tudo, fiquei com raiva daqueles homens, dei um pulo e consegui chegar onde os homens maus estavam, ataquei eles com uma grande espada de nome Catan; os homens maus foram embora e consegui libertar os companheiros.

Acordou assustado, tremendo, mas se sentindo vencedor, segundo ele, porque conseguiu defender os companheiros. Por fim, foi perguntado o que entendia de seu sonho:

Não sei dizer, mas acho que o sonho me ajudou a me sentir mais forte, já me acostumei com a doença, não me incomodo mais na escola e ajudo meu pai no serviço dele no computador; fui eu que fiz os desenhos para 300 panfletos de um serviço que ele pegou e, ficou muito bom.

Esse sonho revelou à ele “homens maus”, evocou sentimentos de “raiva quando vi os homens maus atacando os companheiros”.

O prontuário de Vitória revela, costureira com 25 anos de idade, 1º ano do Ensino Médio. Penúltima filha de uma prole de 14 filhos, ficou órfã de mãe aos 7 anos. Vivendo com o companheiro há 10 meses, vem à clínica com queixas múltiplas, destacando nervosismo, ansiedade e falta de ar, com sérios conflitos no trabalho e pesadelos noturnos, noites insones, com medo de dormir. Sua história de vida foi marcada por privações afetivas e materiais. Considerou este seu sonho mais significativo.

Assim relata o sonho:

Eu estava subindo um morro, ao olhar para baixo vi uma pessoa que se transformava e dizia eu para continuar subindo, ao olhar ao redor um pouco receosa, vi muita água, árvores, tinha que caminhar na ponta dos pés, e de um lado vi muita gente enterrada (túmulos), percebi que era um cemitério, nesta altura eu sentia um pouco de medo, mas continuei a subir o morro, ao chegar ao topo, me deparo com muita gente viva e alegre, respirei aliviada sentindo-me feliz por ter conseguido chegar ali.

Questionada sobre o que revelou este sonho “acho que o medo que eu sentia depois que perdi a mãe vivia sempre me escondendo, com receio de tudo; mas parece que eu criei coragem para seguir enfrente, apesar do medo”.

O prontuário do Karlos, 32 anos, 3º filho de uma prole de quatro, pais comerciante, 3º grau, casado a 3 anos, sem filhos. Revela queixas e problemas referentes ao casamento, com repercussões no trabalho. Ao perguntar-lhe: qual sua maior dificuldade? “Lidar com meus sentimentos e os apegos à minha família”. Os sonhos eram muitos, em cenas infantis, crianças, animais, espelhos e sombras, que na sua fala eram fantasmas. Mas que sentimentos te mobilizam e como se sente, “uma sensação de sufocação no peito, cabeça confusa e um medo que me faz ficar assustado”. Karlos escolhe este sonho:

Eu me vi na margem de um rio, dentro de um casarão de madeira escuro, fugindo, queria me esconder, alguém me perseguia, era uma sombra, entrei num labirinto correndo no interior da casa e consegui sair do outro lado da casa, de repente senti a sombra me envolver, já era num parque, corri em direção a um carro parado com uma pessoa do lado e, quando cheguei perto a pessoa sumiu; a sombra me perseguia e tentava me pegar, eu fazia força para de defender, continuei correndo, apareceu pessoas conhecidas e não conhecidas, como se fossem zumbis, tentaram me agarrar, eu me sentia preso quase imobilizado, lutei, fiz força, corri muito, consegui me livrar. Em seu relato, Karlos salienta que:

Acordei desse sonho, suado sem poder se mexer na cama, assustado, me sentia paralisado, consegui ver o relógio no braço, era 1h15, tentei acordar minha esposa, mas não conseguia me mexer, mentalmente pedia ajuda, ai me lembrei de suas técnicas de relaxamento, que era praticar respiração profunda e lenta varias vezes, assim fiz, senti seu corpo reagir, levantei num pulo só, sentei a beira da cama, vi que minha esposa dormia, era 1h45, fui beber água pensando no sonho, na situação, então fui ao computador e escrevi tudo, conforme está ai no papel que lhe entreguei; voltei pra cama e consegui dormir naturalmente.

No prontuário de Luna, com 35 anos de idade, solteira, professora pós-graduada, primeira filha de uma prole de dois filhos, de pais agricultores, ainda a viver com os pais, apresenta queixas de traição, brigas, desconfianças. Desesperada pede ajuda, descobriu que o namorado, é seu grande amor. Teve graves problemas de saúde, desde bebe fora hospitalizada com problemas na bexiga, em suas palavras: “vivia sempre ansiosa”. Seus sonhos eram abundantes, fluídos e cheios de imagens violentas, perseguições, água suja, tempestades, no início do tratamento, mas aos poucos os cenários oníricos mudaram. O sonho escolhido foi:

Uma amiga me convidou para uma festa no bosque, falei que não ia de repente me vi no bosque, um amigo estava comigo, falei: nossa você veio tão rápido, ele disse: vim buscar a minha certidão de nascimento e vou voltar; juntos saímos por uma trilha, para chegar mais rápido, ele falou: acho que vou vender aquela casa; de repente me vi em cima de uma moto com alguém me perseguindo, corri pelo meio de uma plantação de trigo, recém colhido, vi que era um casal de velhos me perseguindo dentro de um carro velho, dei uma volta e vi que eles caíram num penhasco se acidentando, eu pensei em socorrer, mas vi pessoas se aproximando, me disseram que eles estavam vivos. Acordei com sensação de sufoco, era madrugada, levantei fui ao banheiro, treinei a respirei lenta e profunda, voltei a dormir; tive este sonho antes do amanhecer: “meu irmão me convidou para ir ao ginásio jogar vôlei, mas eu não tinha forças nos braços para sacar a bola, sentei, de repente vi o ginásio cheio de gente, era um campeonato; sai a pé pela rua, um cara se aproximou de mim e mexia nos meus cabelos, mas ele tava com a esposa, pensei: o que esse cara quer, continuei caminhando, na frente vi um túnel cheio de doces, entrei, havia pessoas ali pegando doces, atravessei o túnel observando, e no fim peguei uns docinhos, mas senti vontade de voltar e pegar mais, mas algo me dizia pra não voltar, segui enfrente, vi uma igreja entrei, estava vazia, mas ia acontecer algo, tinha um Padre ajeitando bancos em semicírculo, fiquei ali olhando, as pessoas chegaram, era uma missa, eu me aproximei de Nossa Senhora Aparecida que estava numa cruz, mexi na imagem, caiu da cruz e eu não conseguia colocar no lugar, percebi que a cruz era de Jesus cristo, mas era ela que ali estava, e não consegui mais por ela no lugar. Acordei.

Foi perguntado a ela se esse sonho lembrava alguma coisa, relata que “lembra os medos que sentia, em relação às atitudes de minha mãe, quando deitava na cama dizendo que ia se matar ou ia embora” e, a raiva que “eu sentia do modo como meu pai nos tratava, não suportava, me trancava no quarto assustada, chorando”.

O prontuário da Estrelinha, com 23 anos, do lar, ensino médio, segunda filha de uma prole de três, pais agricultores, casada três anos e meio, grávida a seis meses de um menino revela que, veio em busca de ajuda psicológica porque via seu marido indo para a lavoura e não podia ir junto. Seu pensamento era: “não sirvo para nada, passo o dia chorando”; insegura e indecisa. Teve ameaça de aborto antes dos 3 meses. Sono perturbado com muitos sonhos, ultimamente não dormia, sonhava e acordava falando que não aguenta mais pressão. Recorda em prantos: “fui espancada pela mãe até ficar de cama dias e dias, era a vovó (mãe do pai) que cuidava de mim, eu sentia vergonha e raiva ao mesmo tempo”. Aos 13/14 anos, não queria sair de casa e nem do sofá, o discurso do pai era que a filha não dava lucro na roça, sentia-se rejeitada, e, aos 15 anos teve gastrite nervosa.

Desde a infância teve terríveis pesadelos, sonhava com rugas pretas peludas e aranhas; acordava gritando, mesmo dormindo gritava dizendo à mãe que tinha rugas. A atitude da mãe era xingar, e sempre dizer que ela era doente, fraquinha, uma coitadinha.

Nas interpretações entendia que manifestava os conteúdos afetivos reprimidos, engolidos, ao longo de suas vivências em família; depois de expressar os sentimentos em prantos, ela sentia-se aliviada. O sonho que ela escolheu para ser apresentado aqui revela seu conflito parental.

Me vi numa cama, tinha que dormir com um homem, eu tava ali obrigada; um homem parecido com o pai, velho, magro, sujo, desdentado, numa cama de solteiro, me sentia com medo, - na hora de dormir ele deitou e se encostou me agarrando, pensei: tenho que inventar uma desculpa, - eu pensava comigo: sou casada e to tentando engravidar; – pedi que se afastasse de mim, ele aceitou, mas ficou tentando me agarrar – eu sentia muito nojo; - logo nos vi numa feira, ele foi para um lado e eu pro outro, vi uma loja cheia de coisas novas, fiquei olhando admirada, me afastei dali e vi o homem que dormiu comigo com cachorros, sai dali sem ele me ver, pensando na casa suja, com um monte de quartos e camas, tudo contaminado, entrei na casa, duas camas com roupas sujas, eu olhava e pensava: será que eu tiro isso, me dá até coceira”. Acordei enjoada e me coçando.

Estrelinha entendeu esse sonho da seguinte forma:

Acho que apareceu os ressentimentos contra as atitudes de minha mãe, o nojo que eu sentia em ser obrigada a fazer o que eu não gostava, ter de deixar meu quarto para dormir com ela na cama dela, e o meu pai era que ia dormir na minha cama. Parece que o sonho revelou como eu me sentia, às vezes com raiva e nojo, mas sempre sozinha tentando inventar uma desculpa ou um jeito de sair daquela situação. Mas também parece que mostrou aquele meu jeito compulsivo de limpeza, lavar cortinas, de ver tudo sujo e ter de limpar varias vezes a mesma coisa, pensando que ainda estava sujo; os velhos ressentimentos de meus pais – imposição, obrigação, culpa. O prontuário da Guerreira, revela-se com 50 anos, ensino médio, divorciada há 20 anos, sem vínculo afetivo. Mãe de três filhos adultos. É a quinta filha de uma prole de 9. Chegou a consulta queixando-se da comida, com expressão facial cansada, olhar fundo opaco, corpo muito magro, nestes termos: “tudo o que como me faz mal, durmo mal a várias noites, um amigo me sugeriu procurar uma psicóloga; meu problema principal é não cuidar de mim, sou uma pessoa mal tratada”. Seu histórico de vida revela muito sofrimento psicológico desde pequena.

Casou-se aos 17 anos e, aos 19 anos teve o primeiro filho. Nessa época iniciou as torturas psicológicas, brigavam demais, eram ciumentos e violentos, separam-se. Tivera muitos sonhos terríveis, acordava suando, sufocada, com falta de ar; por vezes passava a noite acordada trabalhando, para não ter aqueles pesadelos.

A maioria das cenas de seus sonhos era com crianças doentes, abandonadas e sofridas, tanques cheios de roupas sujas, varal de roupa quebrado, e gente perseguindo-a. Entende que compreender as mensagens dos sonhos, a levou a ultrapassar a auto imagem negativa de si mesma, relatando o sonho escolhido como:

Eu estava num lugar aberto, tinha que sair dali e ir a outro lugar, mas o único caminho era um paredão de pedras para subir, com degraus e cordas soltas dos lados, tinha que pisar cada degrau e subir com os três filhos pequenos, tinha que ir lá fazer alguma coisa, não sabia o quê, mas era o caminho que tinha que fazer, olhei e pensei: eu não vou conseguir subir, estou com medo, mas avancei passo a passo e, quando lá cheguei, pensei: nossa não era tão difícil como eu havia pensado.

Por fim, foi perguntado como ela entende esse sonho:

Parece que o sonho me mostrou que sou capaz de superar qualquer barreira, se precisar subir num paredão, sou capaz. É como se eu tivesse num buraco e tinha que sair de lá, e, as crianças parte de eu mesma que fui resgatar, e, quando cheguei ao topo, descobri surpresa que eu era capaz de ultrapassar aquele obstáculo; é como me sinto hoje, capaz de conversar com os filhos, sem me impor e sem me deixar envolver pelos problemas deles.

Nestes termos revela-se: “sinto-se melhor a cada dia, depois dos sonhos interpretados me sinto leve, parece que algo se abre no meu peito, sinto-me muito bem”.

No prontuário de Mira, tem 41 anos, emerge este relato, tem ensino fundamental, dois anos de magistério, casada há 17 anos, três filhos, caçula, fora do casamento, breve separação de um ano e meio. De uma prole de 13 irmãos, onze vivo, é a caçula.

Mira vem a consulta psicológica, encaminhada pela patroa, com múltiplas queixas, vestida de preto da cabeça aos pés. Estado depressivo, dependente de auxílio doença a 14 anos, muito internamento, só conseguia dormir se tomasse remédio. Corpo está fraco, sente dores em todas as juntas; passou por várias cirurgias. Seus sonhos eram assustadores, temia dormir, pois tinha pesadelos, acordava tremendo, acreditando que as cenas do sonho eram reais e que podia acontecer no dia seguinte; não saia de casa, não queria ver ninguém. Sua infância e adolescência foi marcada por violência, agressões físicas e verbais.

Através dos sonhos emergiu os seus conflitos psicológicos de ressentimentos familiares, ameaças à integridade física (de morte), e seu terrível sentimento de culpa, em cenas de morte, perseguição e violência. Mira, interiormente, sentia-se culposa na relação familiar, perante a igreja havia cometido pecado e, nos seus sonhos as cobras representavam, em seu sentimento, ameaça à sua integridade física; por vezes pensava em morrer, mas também pensava na filha. Escolheu este sonho como aquele que melhor a representa.

Me vi indo com meus filhos para uma cidade, fui mostrar um lugar, porque meu filho mais velho queria ir lá morar, mas de repente nos vimos numa estrada tão ruim, cheia de pedreiras, lugar feio mesmo, dizia pro meu filho: aqui é ruim, não tem academia; e ai, meu filho disse: não mãe, se é assim não vou; apareceu um curva e logo um rio, cada um tinha uma mochila nas costas, tinham que passar pulando por cima das pedras, ao entrarem na água uma atrás do outro, as crianças caíram na água, eu olhando pra trás, desesperada, gritava com eles: soltem as mochilas e se agarrem um no outro, venha, me sigam, assim conseguiram sair do outro lado sem nada, eu respirei aliviada quando vi todos eles perto de mim.

Mira disse “entendo que este sonho mostra a parte de mim, um passado que saiu, a água que lava, um peso que deixei pra trás, que saiu com as mochilas. E evocaram os sentimentos de “desespero, foi como me senti ao ver as crianças sendo levado pela água, meu grito, no sonho foi de desespero; era como me sentia quando meu pai gritava em casa, sem ter pra onde ir”.

Relata o entendimento do sonho, nestes termos:

Eu sinto e me vejo a cada dia que passa, mais forte, feliz e com saúde; eu conquistei mais coisas, fiz um curso de mulheres atuais, que me abriu os olhos, me fez enxergar minhas qualidades, fiz novas amizades, cresci como pessoa e mulher; se eu tivesse naquela vida eu já teria ido, morrido e a minha filha ficado sem mãe; eu posso contar que eu venci, gastava muito em médicos e cirurgias e não adiantava nada, mas da metade de 2014 para cá me libertei, assumi que tenho saúde, assinando a desistência do auxílio doença, me sentia mal com aquele dinheiro, sei que posso trabalhar; descobri o prazer de viver a minha própria vida, me harmonizei com meu esposo e filhos e voltei a trabalhar.

O prontuário da Deusa revela-se, com 46 anos, pós graduada, é a mais velha de uma prole de 3 filhos biológicos (uma perda na 3ª gestação de 6 meses) e dois adotivos. Vive com um companheiro há 16 anos. Sua queixa era de ansiedade, tremor, insegurança, os ombros quase sempre doloridos, o corpo cansado. Teve uma infância muito precária, pobreza. Com a mãe teve uma relação distante, o controle materno foi rígido.

O sonho que libertou deusa de seu passado triste, em sua própria narrativa:

Eu estava num velório um pouco triste, uma amiga morreu e a minha mãe do lado dela, rezava junto com outra amiga; de repente saio dali e entro numa casa, vou a um quarto e vejo essa amiga numa cama deitada com um líquido escuro preto escorrendo no chão, -olhei com certa repugnância e pensei: será que ninguém viu isso, será que eu vou ter que limpar, mas de repente chegou as irmãs dela, pensei: ainda bem que não vou precisar limpar, decerto elas vão limpar; no que me viro e, volto a olhar para cama vejo que é a minha mãe que tava lá deitada, falei: a mãe ta viva, se mexeu.” Acordei assustada com sensação de medo e nojo.

Nesse cenário Deusa diz que “não me faz bem, mas lembra de muita coisa ruim que não gosto de lembrar”, como assim “as vezes que apanhava da mãe, que era criticada pelos meninos na escola, que era forçada a ficar na casa da vizinha morando e trabalhando de doméstica e cuidando de duas crianças pequenas”.

Entende esse sonho como:

Parece que saiu muita coisa suja, velório me dá a ideia de fim, talvez morte de uma parte de meu passado, o modo como eu me sentia quando a mãe me mal tratava, a minha revolta. A tristeza que sentia, da relação confusa com minha mãe, depois que a minha irmã nasceu. Em suas palavras: “parece que tudo está acontecendo muito rápido”. Redescobriu-se praticando outras atividades, voltando a estudar, viajando e até arriscando-se a escrever um artigo. “O que eu sinto mesmo é que depois que compreendi o significado do sonho passei a me sentir melhor comigo mesma e com a minha mãe, também não discuto mais com o pai”.

O prontuário da Flor do Campo revela uma jovem de 16 anos, cursando 2º ano do Ensino Médio, terceira de uma prole de três vivas e um aborto. Tinha pesadelos, acordava assustada e não lembrava, é como se vivesse numa escuridão só. Apresentou crises, cujas reações corporais eram manifestas em desmaios seguidos de torções nervosas.

Quando tinha onze anos, a mãe teve aborto, em prantos expressa, nestes termos: “me dói saber que ele não nasceu, parece que foi um pedaço de mim que tiraram, fui eu a culpada da mãe ter perdido o bebe”. Seus sonhos eram perturbadores, tinha muitos pesadelos, cenas com pessoas e crianças morrendo, sendo perseguidas.

Em seus relatos fala dos assédios sexuais que sofreu desde pequena, por parte de pessoas próximas, da família. Em sua fala:

Tenho muitas dúvidas, medos, tudo explodiu, foi nesse momento que as crise nervosas seguida de desmaios ficaram mais fortes; a crítica das pessoas me doía; tem vezes que já nem sei o que estou vivendo, onde estou, porque isso aconteceu comigo –certas coisas que não aceito, que não acho justo, eu choro e sinto que aquele choro tem algum significado, algum motivo, parece que to saindo de uma dor imensa de dentro de mim; e, eu me pergunto: por que não estou feliz? o que está acontecendo? Mas sei que se cheguei até aqui, não posso desistir, tenho que lutar, saber que a vida continua; mas para eu seguir minha vida, muitas coisas tem que mudar, eu tenho que deixar muitas coisas para trás, deixar todo aquele sentimento doloroso, que com o tempo ele vai cicatrizar; nem a música muitas vezes posso ouvir porque ela toca em mim, me faz lembrar as coisas. Eu quero saber o que eu estou fazendo nesse mundo?

Escolheu o este sonho:

Eu estava com uma amiga na aula, quando voltamos para casa, fomos ao porão de minha casa trocar o uniforme da escola, eu sabia que ela estava grávida, e ali conversando e trocando o uniforme vi que ela estava magra, perguntei, o que havia acontecido com a barriga que estava magra, ela me falou: perdi o bebe, eu fiquei triste, mas vi que ela estava bem. Saímos dali para ir num lugar ver um emprego e a pessoa implicou que o pai tinha o CPF sujo, eu pedia o que era, mas a pessoa não dizia, fiquei com raiva, eu não sabia o que era, de repente o celular, toca era a minha irmã e o namorado, eu me estressei e joguei o celular no chão”. Acordei irritada, me sentindo sufocada.

Por fim, foi perguntado como entendia seu sonho:

Como é que eu entendo meu sonho, bem este sonho me fez ver algumas coisas que eu rejeitava, parece que o fato de saber alguma coisa negativa de meu pai, que no sonho me incomodou muito, me levou a perceber o quanto eu era revoltada com as atitudes dele; entendo que a barriga de grávida que a minha amiga perdeu, tem a ver com a situação confusa em que eu vivia, que me fazia desmaiar, na verdade é eu mesma, to mudando de atitude; a bem da verdade é que meu pai fez coisa errada, tem um filho com outra, acho que o sonho mostrou isso, o quanto eu não aceitava, hoje até gosto da criança, até brinco com ele, trato ele, quando vem lá em casa.

Revelou que esse sonho para ela “era como eu me sentia em casa, sempre perdendo, me vendo rejeitada, a mãe dando mais atenção pras minhas irmãs”, evocando os sentimentos de “rejeição e raiva”.

Os trabalhos realizados com a interpretação dos sonhos na clínica psicológica foram descritos fidedignamente a partir dos prontuários e de acordo com o que foi vivenciado e narrado pelos clientes, considerando sua historicidade de vida afetiva e familiar.

Em relação ao estudo com o questionário, a partir da aplicação dos questionários, os dados foram compilados, organizados e analisados. Assim, na análise delineou-se a seguinte categorização de sonhos como: conflitos passados (N[5]=8), desperta interesse (N=6), aumenta a curiosidade (N=5), resolve problemas (N=4), é inconsciente (N=3), uma revelação (N=2), confuso (N=2), intrigante (N=2), oculto (N=1), presságio (N=1).

Quanto às reações afetivas, 80 % dos sujeitos consideraram que sonho desencadeia sentimentos de medos inconscientes, raivas, tristezas, infância sofrida, angústias, desespero, choro incontido, vontade de gritar. Estas reações afetivas manifestam comportamentos agitados, mau humor, desânimo, indecisão, irritação, comportamento impulsivo, reações agressivas nos gestos e palavras.

Em relação às crenças e expectativas dos sujeitos da pesquisa, os questionários revelaram que os sonhos evocam ou provocam medos (N=12), ansiedade (N=5), sustos (N=3), tensão (N=2), inquietação (N=2), imaginação (N=2), fantasias (N=1), irrealidade (N=1), sem explicação (N=1), com reações comportamentais de expectativas de que o que aconteceu no sonho (conteúdos e imagens) pode vir acontecer de verdade na realidade, com sensações recorrentes ruins por dias a fio, desencadeando atitudes desconfiadas ao sair rua, não dormir a noite para não ter aquele sonho outra vez.

Segundo os voluntários que responderam os questionários, as influências negativas dos sonhos surgem como sensações desagradáveis (N=5), preocupações (N=4), angústia (N=3), nervosismo (N=2), mau humor (N=2), doença de câncer (N=2), pânico (N=1). E com relação as influencias positivas estas aparecem como boas vibrações (N=5), prosperidade (N=4), ânimo (N=3), alívio (N=2), mente cheia de vida (N=1), cujas reações afetivas desencadeiam coragem, alegria, felicidade, manifestando-se em comportamentos de vontade de sair pulando de alegria, casar, ter família, inventar algo novo.

No tocante à compreensão dos sonhos por parte dos sujeitos da pesquisa, revelam que se trata de lembranças (N=6), mostra como pensamos (N=4), preparação para perdas (N=3), sonhar e recordar é bom (N=2), relatos de fatos passado (N=2), desencadeando reações afetivas de vivencias passadas, sentimentos ruins, afastamento e distanciamento dos outros, receios de intimidade, com comportamentos manifestos de isolamento, sem vontade de trabalhar, querer só dormir.

Na categorização quanto a importância para a saúde psicológica dos sujeitos, destacam-se: podemos viver melhor (N=6), bem-estar/contribui para a saúde psicológica (N=4), revelação (N=2), mostra um caminho (N=2), é um alerta (N=1), com reações afetivas de bons sentimentos, sensação de felicidade, mostra que podemos ser melhores através de comportamentos com bons pensamentos, certeza de que viver vale a pena, manifestando criatividade.

Quanto à relação dos sonhos com o futuro, os sujeitos da pesquisa destacam que é importante compreender (N=12), é bom para resolver problemas (N=2), prevenir doenças (N=2), desapegar do passado (N=2), ligação com destino (N=1), planejar (N=1); entender o que diz as imagens e conteúdos pode ajudar nas relações, com comportamentos de entendimento que pode mudar para viver melhor no presente, onde o sonho pode revelar a solução de um problema real. 4. DISCUSSÃO/CONCLUSÃO

Talvez um dos pontos críticos a ser considerado é que os chamados pesadelos, segundo a fala dos sujeitos referenciados neste artigo, provocam sensações desagradáveis e até mesmo o medo de dormir, por parte de muitos sujeitos, como revelou o trabalho efetuado com os prontuários, neste estudo.

Os sonhos são uma abertura para esse universo desconhecido do próprio sujeito que sonha, cuja interpretação leiga, reage acreditando que o que vivenciou no sonho, pode realmente vir acontecer na sua vida diária.

Desta feita, os casos analisados por meio de seus prontuários, esclarecem que a interpretação de sonhos em processos psicoterápicos atua como possibilidade de resgate da saúde e equilíbrio psicológico das pessoas, uma vez que em 100% do casos dessa pesquisa, observa-se que a interpretação dos sonhos contribuiu para os processos psicoterápicos. Isso responde parte do problema de pesquisa proposto.

Os estudos eletrofisiológicos do sono (HOBSON, 1996; MANNING, 2005; SPRINGER; DEUTSCH, 1998), ao longo dessa pesquisa citados, corroboram com o que os sujeitos relataram, durante seu acompanhamento psicoterápico, nas suas vivências oníricas. As reações neurofisiológicas, alteradas com a sensação de medo, susto, sudorese, taquicardia, entre outras, são comuns a quase todos os sujeitos dessa pesquisa.

O que se tem repensado é: qual é a verdadeira função do sonho, no sistema funcional do sono? Há fortes indícios credíveis, segundo estudiosos (MANNING, 2005; HOBSON, 1996; SPRINGER; DEUTSCH, 1998; DAMÁSIO, 1996; KNAPP; BECK, 1998), de que os sonhos são uma importante ferramenta para tratar dos conteúdos psicológicos abordados nas cenas oníricos, em que pacientes depressivos sentem e manifestam em diferentes queixas e sintomas, com alterações do sono e da saúde, restaurando o sono saudável.

O que os investigadores do universo do sono e dos sonhos (HOBSON, 1996; DÁMASIO, 1996; MELO; SILVA, 2014; WHITMONT, 1995; NOGUEIRA, 2012) identificam e tornam credíveis com as pesquisas, reforça o trabalho clínico e a convicção de que os sonhos contribuem para a qualidade de vida das pessoas. Resgatar através do cenário onírico questões psicológicas cotidianas do passado vivido em família, pode servir de prevenção à doenças de cunho depressivo, Nogueira (2012, p. 109):

Delimita-se aqui, o campo de atuação do psicólogo clínico – o psicoterapeuta por excelência, treinado na escuta seletiva, na sensibilidade empática e na interpretação simbólica (conteúdos oníricos, discursos confusos), descortinando tudo para além do que se manifesta.

Trata-se de tratar os sentimentos vinculares da família, conteúdos cognitivos inconscientes, que emergem nos sonhos em diferentes cenários, imagens e conteúdos. Entendo estes conteúdos como distorções cognitivas das falhas de comunicação explicitas e implícitas parentais, durante o percurso do desenvolvimento infantil e adolescente dos filhos, repetidos na vida adulta.

Ao se tratar na clínica psicológica, os fenômenos oriundos dos sonhos, evidencia-se a mudança de atitude psicológica do sujeito em relação aos seus conteúdos cognitivos e afetivos. Observa-se, tanto nos relatos dos clientes bem como em suas fisionomias, mais serenidade e compreensão de seu cotidiano. Passam a produzir outros sonhos, cenas com imagens e conteúdos favoráveis a uma saúde psicológica com possibilidades de abertura a um futuro mais aprazível, com sentimentos bons, favorecendo convívios e experiências pessoais mais responsáveis e desprendidos.

O trabalho, a que este estudo se propôs, foi de encontro às necessidades da população local (São Jorge D’Oeste - PR), isto porque, a procura pela psicóloga no hospital Dr. Júlio Zavala Barrientos, em grande parte, era para falar de um sonho terrível (a partir do momento em que a população ouviu algumas entrevistas na Rádio Difusora em meados de 2012, em que a pesquisadora comentou sobre a importância da compreensão dos sonhos), com conteúdos e imagens perturbadores, a ponto de, na maioria das vezes, a pessoa que teve um sonho com imagens violentas ou cenário de morte acreditar que, o que vivenciou no sonho, poderia acontecer na realidade, causando-lhe mais sofrimentos psicológicos de expectativas ruins, o que de fato revelou o questionário aplicado aos voluntários da pesquisa.

O que realmente é importante destacar é a função que a compreensão e a interpretação tem, por parte do terapeuta, ao auxiliar o cliente a utilizar o material verbal para melhorar o autoconhecimento. O que de fato se observa na literatura sobre o contexto dos sonhos são fissuras que revelam pouca pratica e vivências clínicas, com um universo desconhecido, porém fascinante ao longo da história da humanidade. As pesquisas e opiniões divergem, entretanto sutilmente, alguns pesquisadores mais ousados e persistentes, sinalizam a veracidade do universo onírico como fonte de saúde psicológica.

Em relação os resultados dos questionários, estes corroboram com as evidencias advindas de pesquisas clínicas psicológicas (MANNING, 1996; WHITMONT, 1995; HOBSON, 1996; JOB, 2010; MACHADO; ALVES, 2014; KNAPP; BECK, 1998), a nível de comportamentos manifestos com sonhos tidos, na visão dos sujeito como desagradáveis, ruins, perturbadores, desencadeando pensamentos catastróficos, com sensações físicas de alterações de humor, irritabilidade, medo de voltar a dormir para não ter pesadelos, expectativas de que pode vir acontecer na realidade o que se revelou no sonho.

De acordo com Furnham e Argyle (2000), conflitos emocionais, sejam relacionais ou financeiros, interferem na qualidade do sono provocam ou estimulam, sonhos desagradáveis como expectativas e sensações de que pode acontecer na realidade. Essa relação foi identificada nas respostas de alguns voluntários da pesquisa com questionário (questão “Como se sente com a ideia de ter um sonho onde se vê perdendo muito dinheiro ou ganhando?” S04: 'Desagradável; S08: 'Perdendo, nervosismo; S15: 'Se perdendo desespero; S16: 'Perdendo: algo como derrota; S19: 'Se for perdendo sentiria tristeza, angustia.), relataram temer com pensamentos catastróficos, como escreveram Furnham e Argyle (2000, p. 262/3):

A patologia monetária está intimamente ligada a questões morais e políticas. Pensamentos derrotista caracterizam-se pela autocensura e baixa autoestima, são distorcidos, incluindo generalizações excessivas, conclusões arbitrárias e o pensamento a preto e branco( ou tudo ou nada). Uma vez mais se afirma que o conhecimento de si próprio e a perspicácia são a melhor das curas.

O que reforça aqui a tese acerca da função dos sonhos, a partir da interpretação científica de seus conteúdos e imagens, como uma ferramenta psicológica capaz de reparar os danos do sono (HOBSON, 1996; DAMÁSIO, 1996; WHITMONT, 1995; MACHADO; ALVES, 2014; JOB, 2010). Um dos aspectos positivos do presente estudos ao correlacionar o resultados dos questionários com os resultados encontrados a partir dos prontuários; foi o de que os sujeitos dos prontuário revelaram os benefícios que conquistaram em suas vidas com a compreensão científica de seus sonhos, e os sujeitos dos questionários revelaram anseios com certo grau de entendimento, de que é importante compreender o que revelam os sonhos (Questão de nºs 21- Como poderia, os sonhos interpretados cientificamente, contribuir para com a minha saúde psicológica? S05: 'Em muita coisa, como me preparar para as perdas'; S14: ‘Sim, é importante compreender. Como vem de dentro de nós, se interpretar vai nos fazer refletir, buscar os porquês e para que da cada imagem, sensação do sonho e provavelmente resolver conflitos passados; S15: 'Acho que sim, traz uma explicação, uma certa luz que te faz entender o que aquilo queria dizer'; S16: 'Sim; organizar os conflitos pessoais e profissionais'; S17: 'Sim, vivemos através de sonhos, se não der certo, afeta muito a saúde em geral'; S19: 'Sim; se realmente puderem ser interpretados poderia cuidar de algo que não vai bem, assim melhorando minha saúde').

Em termos do conteúdo da comunicação, 8 dos 20 sujeitos (a maioria) relacionaram os conteúdos do sonhos como o lixo psicológico dos conflitos passados, ou seja, que emerge na cena onírica as situações agressivas ou traumáticas vividas em idades anteriores da história de vida do sujeito do sonho; 6 dos 20 sujeitos relacionaram os sonhos como interessantes e até assustadores, por ser em grande maioria, como se fossem reais mobilizando fortes sensações fisiológicas; 5 dos 20 sujeitos relacionaram os sonhos com uma possível solução de problemas, em que surgiu através de um sonho, uma solução para um problema.

De fato verificou-se no estudos dos prontuários, alívio, ponderação entre a realidade noturna e a de vigília, facilitando o resgate do sono saudável e possíveis soluções de problemas nas vivências da vida de vigília.

Reafirma-se que os resultados dos questionários não representam a população por serem poucos os sujeitos que responderam, mas que não deixam de dar aspectos sobre a temática. A pesquisa se revelou interessante à maioria dos voluntários, alguns demonstrando muito mais interesse e curiosidade acerca dos sonhos e sua compreensão científica.

Este trabalho com estudo de casos clínicos e questionário de perguntas abertas acerca dos sonhos, revela-se na prática clínica de abordagem psicológica interessante e operacional, com resultados satisfatórios à clientela envolvida. Considera-se que o problema de pesquisa foi respondido uma vez tanto o resultado dos prontuários quanto dos questionários se revelaram complementares e despertaram mais interesse da população envolvida.


REFERÊNCIAS


BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa /Portugal: Edições 70, 1977.

BACHTOLD, L. Os sonhos na terapia comportamental. Interação, Curitiba, v. 3, p. 21 a 34, jan./dez., 1999. Disponível no site: : http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs/index.php/psicologia/article/viewFile/7658/5461. Acesso em 25/12/2015.

CORDIOLI, A. V. Psicoterapias: abordagens atuais. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008.

COSTA, E. S.; LEAL, I. Um olhar sobre a saúde psicológica dos estudantes do ensino superior: Avaliar para intervir. VII Congresso Saúde, p. 213 a 216, 2008.

DAMÁSIO, R. A. O Erro de Descartes: Emoção, Razão e Cérebro humano. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

DELANEY, G. Tudo sobre os sonhos. Mem-Martins: Publicações Europa-América, 2002.

DIJKSTERHUI, E. El inconsciente desde la perspectiva cognitiva: construcción del concepto. AMA Sánchez. Revista Electrónica Psyconex, 2008. Disponível no site: aprendeenlinea.udea.edu.com. Acesso em 27/01/2015.

DORON, R.; PAROT, F.. Dicionário de Psicologia. Lisboa: CLIMEPSI Editores, 2001.

FROMM, E. A Linguagem Esquecida. Rio de Janeiro: Zahar, 1962. FURNHAM, A.; ARGYLE, M. A Psicologia do dinheiro. Lisboa: Sinais de Fogo Publicações, 2000.

HOBSON, J. A. O Cérebro sonhador. Lisboa: Instituto Piaget, 1996.

IBGE. Instituto brasileiro de Geografia e Estatística. Prefeitura Municipal de São Jorge D’Oeste PR, 2014. Disponível em www.pmsjorge.pr.gov.br/. Acesso em 16/05/2015.

JOB, N. Ontologia Onírica: rumo a um estatuto de realidade dos sonhos. 2010. Disponível em www.scielo.com.br. Acesso em 27/01/2015.

KILSTROM, N.; HUNTER, R.S. Breaking the cycle in abusive families. The American journal of psychiatry, 1979 - doi.apa.org

KNAPP, P.; BECK, A. Fundamentos, modelos conceituais, aplicações e pesquisa da terapia cognitiva. Revista Brasileira de Psiquiatria. 30 (Supl II), 2008. Disponível no site: http://www.scielo.br/pdf/rbp/v30s2/a02v30s2.pdf. Acesso em 15/12/2014.

KRIPPNER, S. Os primeiros curadores da humanidade: abordagens psicológicas e psiquiátricas sobre os xamãs e o xamanismo. Rev Psiq Clín, Vol. 34, supl. I, 2007.

MACHADO, F. L. F. S.; ALVES, M. C. L. O uso da interpretação dos sonhos em psicoterapia. Disponível em: http://legacy.unifacef.com.br/novo/iv_congresso_de_iniciacao_cientifica/Trabalhos/Inicia%C3%A7%C3%A3o/Laura%20Machado.pdf. Acesso em 28/12/2014.

MANNING, L. A Neuropsicologia Clínica: Uma abordagem cognitiva. Lisboa: Instituto Piaget, 2005.

NOGUEIRA, G. Vivências, Sonho e Reflexões. Vols. I e II. São Paulo: Virtual Biblioteca 24 horas, Abril 2010.

RIBEIRO, J. L. P. A importância da qualidade de vida para a psicologia da saúde. Análise Psicológica. 2-3 (XII), p. 179-191, 1994

SOUZA, R.A.; CARVALHO, A. M. Programa de Saúde da Família e qualidade de vida: Um olhar da Psicologia. Estudos de Psicologia, Natal, v. 8, n. 3, p. 515-523, 2003.

SQUIRE, R.L.; KANDEL, E.R. Memória: da mente às moléculas. Porto Alegre: Artmed, 2003.

WHITMONT, E. C. Sonhos, um portal para a fonte. São Paulo: Summus, 1995.



________________________________________

[1] Artigo apresentado para obtenção do Título de Especialista em Avaliação Psicológica no curso de Pós-graduação em Avaliação Psicológica, da Faculdade de Pato Branco - PR. Maio, 2015.

[2] Graduada em Psicologia clínica, Escolar e Organizacional. Especialista em Psicologia do Trânsito. Especialista em Psicologia Clínica. Equivalência em Licenciatura em Psicologia pela Universidade do Porto, Portugal; membro efetivo correspondente da OPP-11310-, 2015.

[3] Orientadora: Mestrado em Mestrado em Desenvolvimento Regional pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Brasil (2012). CLT da Faculdade de Pato Branco , Brasil.

[4] Damásio (1996), refere-se à emoção inconsciente como presença de um estado emocional do qual a pessoa não é consciente.

[5]
N refere-se ao número de indivíduos que apresentaram respostas condizentes para cada categoria.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Gelci Nogueira

por Gelci Nogueira

Sou Psicóloga Clínica com experiência prática quotidiana a 15 anos, entre Brasil e Portugal, com registro no CRP-14/01118-0 MS-MT -fevereiro de 1995, hoje CRP-18/00214, de onde pedi transferência para o CRP-08/16985 e, Equivalência Universidade do Porto, OPP nº 11310 PT. Actualmente atendendo clinicamente no Hospital Dr. Júlio Zavala Barrientos -Av. Iguaçú -489, -São Jorge D'Oeste Pr.

Portal Educação

UOL CURSOS TECNOLOGIA EDUCACIONAL LTDA, com sede na cidade de São Paulo, SP, na Alameda Barão de Limeira, 425, 7º andar - Santa Cecília CEP 01202-001 CNPJ: 17.543.049/0001-93