A base psicológica da entrevista

O bom entrevistador sabe motivar seu entrevistado
O bom entrevistador sabe motivar seu entrevistado

Psicologia

06/05/2015

Algumas escolas e cursos profissionalizantes costumam ensinar seus alunos a exercerem entrevistas de emprego baseadas em um manual de regras e perguntas padronizadas como se fosse uma simples receita de bolo.

Esses futuros entrevistadores levam consigo a falsa ideia que uma entrevista é composta por uma pessoa que pergunta e outra que tem a obrigação apenas de responder seus questionamentos. Essa seria a visão teórica de um processo de entrevista de emprego, não é? Com certeza. Mas uma visão mecânica e funcional.

Quando o entrevistador entende a necessidade da estrutura psicológica que obrigatoriamente deverá envolver todo o processo de sua entrevista, ele conseguirá alcançar o êxito em seu objetivo. Esse entrevistador conseguirá entender que a importância de seu papel no processo de entrevista vai muito além de um mero formulador de perguntas, ele será um motivador.

O bom entrevistador sabe motivar seu entrevistado e assim proporcionar que sua entrevista perca o aspecto mecânico e todos os bloqueios psicológicos sejam derrubados.

É muito complicado para um entrevistador saber separar o comportamento racional do emocional de um entrevistado no curso de uma entrevista de emprego, porque esses comportamentos se completam entre si. Conseguindo separar o aspecto racional do emocional, o entrevistador compreenderá de maneira mais eficaz o comportamento do entrevistado.

O comportamento racional dos entrevistados acontece quando suas respostas e decisões elevam ao máximo seus interesses pessoais. Por exemplo: um indivíduo quer comprar um carro e tudo o que precisa saber é o preço e se tem condições de pagar por ele.

Já o comportamento emocional é o resultado de forças psicológicas que ocasionam alguns conflitos e exercem pressões no entrevistado, podendo ocasionar algumas mudanças de direções durante o andamento da entrevista. Por exemplo, o indivíduo que quer comprar um carro e tem o dinheiro para comprá-lo, mas esbarra em algumas questões pessoais, tais como: será que é o momento certo de comprar um carro novo? Será que uma reforma da casa não seria o mais indicado agora? Será que não seria melhor investir esse dinheiro em uma viagem?

Durante uma entrevista de emprego, o entrevistador que atuar sob o ponto de vista psicológico pode motivar o entrevistado a não se basear somente no comportamento racional ou no emocional e desta forma conseguir suas preciosas informações, pois:

Comportamento racional

O entrevistado pode vir preparado para uma entrevista puramente técnica em que responderá às perguntas do entrevistador de maneira extremamente profissional. Ponto Positivo: é um comportamento ideal em se tratando de uma entrevista técnica. Ponto negativo: dificilmente proporciona ao entrevistador traçar um perfil pessoal desse entrevistado.

Comportamento emocional

O entrevistado se apresenta à entrevista sem ansiedades e consegue deixar fluir uma conversa aberta e que diz muito de sua personalidade e atitude. Ponto Positivo: o entrevistador pode detectar seu perfil pessoal mais facilmente e avaliar se é o perfil idealizado para a vaga. Ponto negativo: o entrevistado se baseia demais nas questões emocionais e acaba por não revelar suas qualidades e experiências profissionais.

Portanto, como em ambos os comportamentos apresentamos pontos negativos e positivos, o ideal então é que o entrevistador valorize muito esses aspectos psicológicos em suas entrevistas e consiga motivar seus entrevistados a revelarem tanto o comportamento racional quanto o emocional no decorrer de uma entrevista, logicamente que apresentados nos momentos certos e oportunos.

O entrevistador deve ainda psicologicamente se preparar para enfrentar uma batalha com o entrevistado. No processo de uma entrevista de emprego, o entrevistado chega com uma meta pessoal, com o objetivo de conseguir o emprego e satisfazer todas as suas necessidades e a afirmação de sua autoestima. Por outro lado, ele enxerga na figura do entrevistador aquele obstáculo que pode impedi-lo de alcançar seu tão sonhado objetivo. Isso poderá fazer com que o entrevistado assuma uma posição defensiva e às vezes hostil com o entrevistador, e assim tenha receio de se abrir emocionalmente na entrevista.

Nesse caso, o entrevistador deve perceber essa atitude do entrevistado já no início da entrevista e quebrar essa barreira, demonstrando ao entrevistado que ele não está diante de alguém que quer lhe prejudicar e sim diante de uma pessoa que pode ser uma porta fácil de abrir e que dará acesso ao seu objetivo.

Ou seja, uma troca de sentimentos deve ocorrer neste momento. O entrevistador demonstra que não é uma ameaça e o entrevistado desenvolve confiança na figura do entrevistador. Tudo depende da criação de uma boa atmosfera no momento da entrevista.

Segundo o autor Carl R. Rogers (1942), existem três características que produzem uma boa atmosfera para uma entrevista.

Calor e responsabilidade: O entrevistador exprime um genuíno interesse pelo candidato e o aceita como pessoa.

Permissão de expressão de sentimento: O entrevistador não assume nenhuma atitude moral e o entrevistado percebe que pode expressar tudo o que sente sem reações desfavoráveis.

Ausência de qualquer tipo de coerção: O entrevistador se abstém de introduzir sua própria vontade, suas reações ou seus preconceitos na entrevista.

Essa boa atmosfera deve ser considerada no decorrer de todo o processo da entrevista. Esse esforço deve ser feito tanto pelo lado do entrevistador quanto pelo lado do entrevistado. E ainda deve ser levado em consideração que apenas uma pergunta mal colocada ou uma resposta inadequada podem gerar algum mal-estar e romper a boa atmosfera da entrevista.

Podemos então concluir que o relacionamento entre entrevistador e entrevistado nunca pode ser mecânico e baseado em formulários padronizados, que muitas escolas e cursos insistem em passar a seus alunos.

Estamos lidando com pessoas com sentimentos e personalidades diferentes, buscando um objetivo e afirmação de sua autoestima e devendo então tratar cada pessoa como única e diferente. Cabe ao entrevistador essa atitude de conduzir a entrevista sempre atento aos aspectos psicológicos que a acompanham.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


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