Vantagens e Desvantagens do uso da Hipnose na Psicologia Clínica e na Neuropsicologia

Psicologia

29/01/2015

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

CURSO DE PSICOLOGIA

 

 

 

 

Vantagens e Desvantagens do uso da Hipnose na Psicologia Clínica e na Neuropsicologia

 

 

 

 

 

 

RONILSON CORRÊA

 

 

 

 

 

 

 

 

Recife

2009

RONILSON CORRÊA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

VANTAGENS E DESVANTAGENS DO USO DA HIPNOSE NA PSICOLOGIA CLÍNICA E NA NEUROPSICOLOGIA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Monografia apresentada como requisito para conclusão do curso de formação em Psicologia, pela Universidade Católica de Pernambuco, realizada sob a orientação da Profa Dra Iaraci Advíncula.

 

 

DEDICATÓRIA

Dedico esta monografia a todos aqueles que vivenciando os mistérios, as angústias e a alegria da clínica psicológica propõe-se a buscar sentido para dor do outro. Agradeço a uma pessoa em especial, minha esposa Adza de Carvalho, cúmplice do meu esforço em conhecer os mistérios ainda encobertos e companheira incondicional nesta vereda do conhecimento científico.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

AGRADECIMENTOS

 

Em primeiro lugar a Deus pela sua bondade, sua inspiração, seu amor incondicional que proporciona a todos que nele confiam, superar as adversidades, os sofrimentos, as limitações humanas e encontrar em sua gratuidade um exemplo de amor e dedicação.

Aos meus pais, Rovilson Corrêa e Aparecida de Brito Corrêa, sempre presentes em minha vida, embora a distância territorial e geográfica não impeça o desejo de estar presente.  

A minha irmã Rocilda Corrêa, símbolo de fraternidade em minha Jornada.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

RESUMO

 

A Hipnose é entendida como um estado de estreitamento de consciência ou atenção no qual a mente interpreta a imaginação como realidade. Provocado artificialmente e parecido com o sono, mas dele se distingue fisiologicamente pelo aparecimento de uma série de fenômenos espontâneos ou decorrentes de estímulos verbais. Esta técnica apresenta um vertiginoso crescimento, sobretudo na clínica Psicológica, sendo estudada em diversas áreas da saúde. A História da hipnose e sua utilização envolve uma complexidade de discussões a respeito de sua validade cientifica como também divergências e convergências sobre as vantagens e desvantagens desta técnica na clínica psicológica. O Objetivo deste trabalho é apresentar a ação do psicólogo que utiliza a hipnose como tratamento coadjuvante em sua prática clínica. Apresentaremos seu uso na Gestalt-terapia, na TCC e na Psicanálise, como também por profissionais neuropsicólogos. Foi realizada uma profunda pesquisa bibliográfica desde 2009, procurando compreender na prática profissional desses psicólogos como a hipnose pode ser utilizada.

 

Palavras chaves: hipnose, clínica psicológica, neuropsicologia, tratamento coadjuvante

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                                                                      ABSTRACT

Hypnosis is understood by many proponents of its use as a state of narrowing of consciousness or awareness in which the mind interprets the imagination as reality. Caused artificially and like sleep, but it is distinguished physiologically by the appearance of a series of phenomena resulting from spontaneous or stimulus verbal or otherwise, known then as an altered state of consciousness or awareness. It appears that this technique has grown enormously, especially in clinical psychology, and studied in various areas of health, such as medicine, dentistry and sports area. The history of hypnosis and psychotherapy share many aspects, but their use involves a complex discussion about its scientific validity but also differences and the advantages and disadvantages of this technique in clinical psychology. To investigate the action of the clinical psychologist who uses hypnosis as adjunctive therapy in his clinic, we outline the procedures and benefits of hypnosis including how it can be used in conjunction with the theoretical framework of a trader. Therefore, among the various psychological approaches exist, we see the possibility of its use in Gestalt therapy, in CBT and psychoanalysis, as well as by professional neuropsychologists. For this, we performed a literature search, seeking to understand the professional practice of psychologists and hypnosis can be used. In this sense we find different theoretical perspectives on the use of hypnosis in the clinic, as well as those professionals who are in favor and those against.

Keywords: hypnosis, clinical psychology, neuropsychology, adjuvant treatment.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

SUMÁRIO

 

 

Introdução, 8

 

1 - A Hipnose,

 

            1.1 – Apresentação, 11

 

            1.2 - Os Mitos sobre a Hipnose, 12

            1.3 - Aplicações da hipnose, 14

            1.4 - Susceptibilidade hipnótica, 15

            1.5 - Regressão em hipnose, 17

            1.6 - Preparação para a hipnose, 17

            1.7 - Procedimentos de hipnose, 21

 

 

2 – Especificidades que utilizam a hipnose, 23

            2.1 - A Neuropsicologia e a Hipnose, 23

            2.2 – A Psicanálise e a Hipnose, 26

2.2.1 – O Abandono da hipnose pela psicanálise, 27

            2.3 - A Hipnose e a Gestalt-terapia, 28

            2.4 - A Hipnose e a Terapia Cognitiva Comportamental, 32

 

3 – Convergências e Divergências sobre a hipnose, 34

            3.1 Derrubando os Mitos, 34

            3.2 Profissionais que utilizam e os que não utilizam da hipnose, 35

3.3 As criticas as Hipnoses de Exibição e Demonstração, 38

3.4 Estado versus não-Estado, 39

4 – Considerações finais, 41

5 – Referencias Bibliográficas, 43

6 – Anexo, 45

 

 

 

 

 

 

  INTRODUÇÃO

 

 

A história da hipnose e da psicoterapia partilha muitos pontos em comum. Fazendo uma pequena contextualização histórica do surgimento da Hipnose, verificamos na obra de Alexandre de Bertrand (apud ALBUQUERQUE, 1958) que, várias décadas antes de Wundt e Freud, efetivava na França a criação de uma psicologia, criticando o organicismo da medicina da época. Bertrand se proclamava um médico filósofo ou simplesmente psicólogo de modo a traçar os esboços iniciais para a criação de uma ciência psicológica. Esse autor afastou-se da perspectiva de Mesmer, que explicava as curas por meio de um fluido magnético, para se centrar na imaginação, tida aqui como o processo central da eficácia terapêutica, fosse ela física ou psíquica. Além disso, é necessário considerar que as perspectivas de Bertrand influenciaram toda uma geração de pensadores, opositores e simpatizantes, que mantiveram acirrados debates no século XIX sobre este tema (ALBUQUERQUE, 1958).

Contudo, apesar da importância que se pode cogitar seu trabalho, Bertrand não é muito conhecido por muitos dos psicólogos que concebem a origem de sua ciência datando de pelo menos meio século após a publicação inicial de sua obra. Ignora-se, portanto, que foi a partir dos estudos com hipnose desse autor que, provavelmente, começou a cogitar a construção de uma ciência psicológica. Dando continuidade a seu pensamento, Bernheim recusa-se às explicações do magnetismo para compreender a psicoterapia como um processo ligado ao soma e à psique. Bernheim, seguindo as idéias de Bertrand, dava então, continuidade ao pensamento de situar a hipnose como a mãe das terapias. (FARIA, 1959).

Na medida em que a psicoterapia se foi afirmando durante as primeiras décadas do século XX, diferentes modelos surgiram como a psicanálise, psicologia analítica, psicologia individual, Gestalt-terapia, entre outras. Assim, o interesse científico pela hipnose decresceu com a criação de outras estratégias psicoterapêuticas alternativas à hipnose (CHERTOK, 1982), da mesma forma na Medicina, sua utilização como anestésico foi progressivamente abandonada quando da descoberta e desenvolvimento dos anestésicos farmacológicos (SHULTZ, 1966).

Embora demonstrasse declínio de sua utilização por décadas, à hipnose continuou viva através do trabalho de vários psiquiatras como Pierre Janet. Alguns psicólogos como Clark L. Hull, também permaneceram trazendo contribuições na prática clínica tendo como objeto de estudo científico a hipnose, proporcionando o desenvolvimento teórico-prático deste procedimento. Um dos nomes mais importantes para o desenvolvimento da hipnose clínica encontrada no estudo bibliográfico é o psiquiatra Milton H. Erickson (BAUER, 2000; CHERTOK 1982; NEUBERN, 2002). Além desse psiquiatra podemos constatar que dentro do contexto da Neuropsicologia, há profissionais que utilizam de estudos imagiológicos (imagens do córtex cerebral) em indivíduos hipnotizados. Estes estudos podem contribuir para a compreensão de como as sugestões (induções) influenciam os padrões de ativação cerebral.

A hipnose é também um procedimento bastante valorizado hoje em dia por muitos profissionais de saúde como médicos e dentistas, bem como por investigadores na área criminal.  Na clínica, essa técnica vem sendo utilizada para casos de depressão, fobias, ansiedade, perdas, assuntos relacionados a dificuldades sexuais, terapias médicas para o câncer, pacientes aidéticos, casos em que a pessoa não pode receber anestesia e seu uso com crianças tem tido resultados muito positivos principalmente em tratamentos dentários. (CHERTOK 1982; BAUER, 2000; NEUBERN, 2006).

Podemos observar também no contexto atual, a busca cada vez maior por conhecimentos em hipnose. Seu crescimento é verificado entre os profissionais de psicologia que atuam em abordagens como a Gestalt-terapia, Terapia Cognitiva Comportamental, Neuropsicologia, Psicanálise, Abordagem Centrada na Pessoa, entre outras.

Porém, a utilização de hipnose como instrumento de auxílio nas psicoterapias carrega os seus “mal-ditos”, ou seja, sua prática é entendida com certa desconfiança pela academia científica.

Se a hipnose é tida como um das principais bases da origem da Psicoterapia, por que tantas de suas práticas que poderiam trazer reflexões pertinentes para os clínicos atuais, raramente são mencionadas e discutidas nas formações de graduação nas universidades e faculdades? Traria a hipnose mais malefícios do que benefícios para a prática clínica em psicologia? Quais são então, esses malefícios, e os benefícios quando se lança mão deste instrumento em psicologia clínica?

Neste livro buscaremos proporcionar melhor clareza desta técnica para aqueles que desejarem a utiliza-la em suas práticas clínicas como também servir de ferramenta para estudos e pesquisas.

A fim de tranquilizá-los, a prática da Hipnose em Psicologia foi regulamentada pelo Conselho Federal de Psicologia - CFP (Nº. 013/2000), que reconhece o valor da Hipnose como auxílio nas pesquisas, diagnósticos e formas terapêuticas tanto em Psicologia, Neuropsicologia, Psiquiatria, como em outras áreas da prática médica.

            O livro é composto por quatro capítulos. No primeiro é apresentado a hipnose e os mitos que a cercam, como também sua aplicação, a susceptibilidade hipnótica e a preparação para ser hipnotizado. No segundo capitulo são apresentadas as especificidades que utilizam a hipnose. No terceiro capítulo verificamos as convergências e as divergências entre as correntes que utilizam a hipnose e os profissionais que atuam com esta técnica.  Por fim, no quarto capítulo apresentamos sua utilização na parapsicologia. Acredita-se que foi possível compor um corpo teórico que possa ampliar os conhecimentos desta técnica estudada, assim como auxiliar a futuros pesquisadores que desejem compreender melhor estes aspectos aqui abordados.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1 - A HIPNOSE

 

            1.1 – Apresentação

 

A palavra Hipnose vem do grego hypnos, este termo é designado ao deus do sono e pai dos sonhos. Este deus levava o sono aos homens e a outros deuses, inclusive a Zeus. Sua lenda consta que apaixonado por Endimião, teria lhe dado o dom de dormir de olhos abertos, para que pudesse contemplar, sem cessar os olhos de seu amante. Conta à lenda que na frente de seu palácio havia plantas soporíferas e os raios do sol não entravam. Havia também um rio do esquecimento e muitos homens e deuses dormiam no templo de hypnos, onde durante a noite se dava a cura. 

O conceito de que hipnose é sono não é mais utilizado. Hoje sabemos que este conceito não é verdadeiro, e a hipnose não tem nenhuma relação com o sono ou dormir. (FARIA, 1959)

O que atualmente se chama de hipnose remonta as mais antigas civilizações, porém a história formal desta técnica se deu por volta de 1765, com os estudos do pesquisador Franz Anton Mesmer. Ele aliviava dores com a aplicação de ímãs na fronte da pessoa por meio da produção de um fluído magnético invisível, a que ele chamou de magnetismo animal. No entanto, um grupo de pesquisadores formados por Benjamim Franklin, o químico Lavoisier e outros descobriram que os efeitos das intervenções de Mesmer provinham da imaginação dos pacientes e não de fluídos magnéticos (BAUER 2002; FERREIRA, 2006).

Hoje em dia, várias definições sobre hipnose são encontradas na literatura, contudo, apresentam um conceito bastante próximo de que a hipnose é um estado alterado de consciência, no qual a mente interpreta a imaginação. A hipnose então pode ser descrita como um estado de elevada percepção e concentração sobre uns poucos estímulos relevantes ao campo perceptivo. (DOWD apud CABALLO, 1999).

Segundo esta verificação na bibliografia utilizada, os instrumentos mais utilizados à indução (sugestão), são de natureza linguística e psíquica. Ou seja, a mente do paciente/cliente interpreta a imaginação como realidade. A hipnose então é de certa forma um tipo de processo interpretativo destas induções.

Porém, podemos observar que há muita descrença e interrogativas acerca de sua utilização, principalmente por parte da academia científica. Faz-se então necessário, para sua compreensão, desmistificarmos o uso da hipnose esclarecendo os mitos que estão envolta de sua história. 

 

1.2 - Os Mitos sobre a Hipnose

 

É pertinente este tópico por se entender que a hipnose está envolta por mitos e “mal-ditos” que comprometem sua aceitação por parte da comprovação científica desta técnica como um recurso que ajuda no tratamento de problemas físicos e psicológicos.

            Durante muito tempo, segundo Faria (1959), a técnica hipnótica foi utilizada de forma errônea por hipnotizadores de palco, fazendo com que ela caísse no descrédito da sociedade e no meio científico e acadêmico. Desta forma, antes de iniciar o processo de tratamento com o cliente é preciso compreender o que ele sabe a respeito da hipnose. Há muitos hipnólogos que não utilizam o nome hipnose, preferindo chamar de técnicas de relaxamento, com o propósito de não assustar os pacientes que temem a hipnose.

O primeiro mito criado a respeito da hipnose é de que ela é o sono. Na indução hipnótica o indivíduo ouve a voz do terapeuta e responde às instruções, o que não se ocorre durante o sono, onde o reflexo patelar é diminuído. No estado de sono, os membros ficam flácidos pela falta de atividade, enquanto que durante a hipnose eles podem se tornar rígidos e firmes. Além disso, os batimentos cardíacos e ritmo respiratório durante o transe (indução) hipnótico estão mais próximos do estado de alerta do que o sono.

O sujeito não ser retirado do transe hipnótico é outro mito mencionado por Faria (1959). Muitos profissionais alegam sentir este medo, mas, segundo este autor, se a pessoa permanecer no estado de transe por muito tempo ela acabará dormindo, e se dorme em algum momento acordará.

Outro mito apontado por Bauer (2002) diz respeito ao fato de apenas pessoas com a “cabeça fraca” podem ser hipnotizáveis. Ao contrário deste rótulo, o autor sugere que os sujeitos que apresentam maior facilidade para entrar em transe são os que possuem maior capacidade de motivação e habilidade de concentrar-se.

Existem outros mitos encontrados na bibliografia que dizem respeito à perda de controle, revelação de segredos, e agir de forma antissocial. São estes medos que muitas vezes, impedem ao pacientes de entrar em um estado hipnótico, pois criam barreiras, defesas, fugas. O medo de que algum segredo seja revelado faz com o que paciente abandone a psicoterapia ou hipnoterapia.

Bauer (2002) e Ferreira (2006) esclarecem que, durante o transe hipnótico, o sujeito não está sob o domínio da vontade do terapeuta e sim completamente ciente do ambiente e totalmente capaz de tomar decisões por conta própria, não apresentando dessa forma, nenhum comportamento que possa ir contra os seus valores morais, éticos, religiosos. Reforçam essa questão, mencionando que se o indivíduo hipnotizado receber uma sugestão imprópria, que vá de contra os seus valores, ou o sujeito (paciente) pode não responder à indução (sugestão), ou sai do estado de transe imediatamente. É importante esclarecer estas questões para os pacientes, a fim de tranquilizá-los para uma sessão de hipnose, esclarecendo todas as dúvidas e retirando todos os medos que o paciente crie a respeito da hipnose.

Por fim, a respeito do mito de que a hipnose pode ser prejudicial, para Bauer (2002), essa técnica não apresenta prejuízo à integridade física ou mental das pessoas, quando utilizada por profissionais qualificados. Ainda nesta reflexão, para a American Psychological Association (APA), a hipnose pode ser definida como um procedimento durante o qual um pesquisador ou profissional de saúde sugere mudanças nas sensações, percepções, pensamentos ou comportamentos sem que haja nenhum tipo de dano/prejuízo a seus clientes/pacientes.

Bauer (2002) define a hipnose como sendo a absorção da atenção do sujeito, ou seja, a atenção seria focalizada através de uma indução ou de uma autoindução, absorvendo a atenção da mente consciente, dando a oportunidade à mente inconsciente de se manifestar através dos fenômenos hipnóticos. Essa autora considera que a hipnose é um estado de consciência diferente do estado de vigília e pode ocorrer no dia a dia, quando se está acordado. No entanto, é diferente de estar simplesmente em vigília. Nesse processo, há uma focalização da atenção voltada para a realidade interna criada pela pessoa.

A hipnose é então, um estado de consciência caracterizado por um aumento de receptividade à sugestão, de capacidade para modificação de percepção e memória e o potencial para o controle sistemático de uma variedade de funções fisiológicas usualmente involuntárias. Sendo assim, os estados alterados de consciência que ocorrem durante o transe hipnótico podem modificar a percepção, a interpretação e a avaliação subjetiva da dor. (Ferreira, 2006).

De acordo com a abordagem ericksoniana, o transe hipnótico é um período quando as limitações conscientes do paciente são parcialmente suspensas, de modo que o indivíduo passa a ser receptivo às associações e meios de funcionamento mental que são facilitadores na solução de problemas (BAUER, 2002). Além disso, o transe hipnótico pode acontecer em diferentes níveis e apresentar distintas características.

Uma pessoa hipnotizada pode entrar em transe leve, médio ou profundo. Durante o transe leve percebe-se sinais como: catalepsia, diminuição dos movimentos, respiração e pulso lentos, e às vezes sinais ideomotores. No transe médio a catalepsia é acentuada, os músculos da face ficam soltos, o movimento de deglutição fica diminuído, há sinais ideomotores, movimentos oculares e respiração lenta. No caso do transe profundo, este é similar ao estágio anterior ao sono, podendo ocorrer movimento rápido dos olhos. É possível abrir os olhos como se estivesse acordado, mas os olhos ficam vidrados e fixos ou permanecem com um olhar vago, podendo falar ou andar, numa atividade semelhante ao sonambulismo.

É através do esclarecimento destes procedimentos que podemos viabilizar as aplicações da hipnose de forma segura e comprovada cientificamente para os tratamentos tanto físicos quanto psíquicos dos clientes/pacientes.

 

 

1.3 - Aplicações da hipnose

 

 

A hipnose pode ser utilizada segundo Ferreira (2006) em experimentos clínicos controlados para o tratamento da dor.  Podemos citar entre tantos benefícios o uso da hipnose em tratamentos de queimaduras, pois a hipnose tem seu efeito através de sugestões de analgesia. A utilização da hipnose está presente também em cirurgias médicas e odontológicas; no tratamento de dores de lombalgia e principalmente fibromialgia. Outras dores como de cabeça e em afecções dermatológicas podem ser amenizadas com a hipnose. A hipnose tem sido utilizada também para tratamentos de depressão, ansiedade generalizada, transtorno compulsivo-obsessivo e fobias. Outras indicações do uso da hipnose servem no tratamento de claustrofobia e agorafobia; em desordens intestinais; na disfunção sexual masculina e feminina; no controle da náusea e vômito em crianças com câncer sob quimioterapia, dentre outras indicações.

A hipnose quando se refere a tratamentos citados acima proporciona melhora na qualidade de vida dos pacientes é eficaz na diminuição da percepção da sensação dolorosa e dos níveis de tolerância à dor.

Neste sentido, há aproximadamente 200 anos iniciou-se o uso da hipnose para o alívio de dor como anestésico durante o tratamento cirúrgico, mas a aplicação das sugestões hipnóticas nos pacientes vem crescendo apenas nos últimos anos devido às pesquisas sobre a dor em geral e sobre as variáveis psicofisiológicas envolvidas na percepção e no manejo da sensação dolorosa (CABALLO, 1999, FERREIRA, 2006).

Podemos verificar em relação à contribuição da Neuropsicofisiologia, especialmente pelos exames PET-SCAN[1] (tomografia por emissão de pósitrons), RMf (imagem funcional por ressonância magnética), MEG (magnetoencefalografia) e PERE (potenciais evocados a eventos) que proporcionam um entendimento mais integrado dos processos cerebrais envolvidos durante o transe hipnótico no alívio da dor.

Como já mencionado, a Hipnose também é utilizada hoje em dia nos esportes, na odontologia, na medicina e no auxílio de profissionais que atuam na área jurídica. Nesta última especificidade, por exemplo, se é verificada sua utilização em casos como traumas de um assalto ou de um estupro, quando é comum a vítima esquecer o rosto de seu agressor. Então, a hipnose entra em cena para ajudar a pessoa se caso essa desejar, recobrar a memória para fazer um retrato auto- falado do agressor.

Segundo relatos de psicólogos jurídicos que utilizam a sessão de hipnose envolvendo episódios violentos demora até 3 horas. Nas sessões a vítima faz um retrato falado do agressor, ou uma testemunha é capaz de recordar a chapa do carro que atropelou alguém, etc. Segundo estes profissionais, a hipnose não deve ser usada na confissão de criminosos, pois eles poderiam alegar inocência fingindo estar em transe. Para tanto se faz necessário outros testes, como também a escala de susceptibilidade hipnótica.

 

1.4 - Escala de Susceptibilidade hipnótica

 

Para a hipnose ser reconhecida como ciência, foi-se necessário criar além das comprovações citadas acima por meio de aparelhos e exames neurorradiológicos, a utilização de escalas de susceptibilidade.  Quando se pretende testar e comprovar a eficácia de uma estratégia de intervenção que utiliza um procedimento hipnótico, torna-se fundamental conhecer previamente o grau de susceptibilidade hipnótica dos participantes (pacientes/clientes).

A avaliação da susceptibilidade hipnótica pode ser feita por meio de exercícios simples. Contudo, num contexto de investigação torna-se imperativo o recurso a técnicas estandardizadas de avaliação. Existem várias escalas para avaliação da susceptibilidade hipnótica, sendo a mais utilizada e considerada como a medida de eleição a Stanford Hypnotic Susceptibility Scale, Form. (CABALLO, 1999).

Praticamente todos hipnólogos ou hipnoterapeutas como são conhecidos, dizem que qualquer um pode ser hipnotizado, desde que queira ser hipnotizado para algum objetivo que o satisfaça, mas, ninguém entra em transe contra a vontade, mesmo que o hipnotizador queira (PASSOS, 1998). No entanto, segundo este autor, mesmo querendo muito, só 10% dos indivíduos alcançam o nível mais profundo da hipnose. Porque segundo ele, a hipnose se divide em cinco níveis.

O primeiro é um relaxamento profundo. No segundo, o relaxamento é mais intenso, só que ele perde a validade se o sujeito abre os olhos no meio da sessão. No terceiro estágio, os pacientes podem deixar de sentir dor. Somente 25% das pessoas chegam ao quarto estágio, quando podem até conversar e abrir os olhos. No quinto e último estágio, se o processo não for conduzido por um terapeuta responsável, o indivíduo poderá ter alucinações. (PASSOS, 1998). Outros autores como Erickson, falam em três estágios, já Dowd (apud CABALLO, 1999), fala de quatro estágios.

Neves (2003) ressalta sobre este assunto, que a diferença de um indivíduo acordado para o indivíduo hipnotizado é de natureza quantitativa, não qualitativa, portanto uma diferença de grau, não de natureza. Sob o efeito do transe hipnótico na personalidade humana, cada pessoa reage à sua maneira, de acordo com sua própria dinâmica e estruturação psíquica. Segundo ele, é possível verificar que certos sintomas têm uma função para a organização da psique, isto faz lembrar a Gestalt-terapia com o conceito de adaptação criativa. Adaptação criativa se faz quando o sujeito utiliza de mecanismos de defesa como forma criativa para lidar com suas angústias e sofrimentos.

Porém, não são em todos os casos que ocorre o sintoma como organização da psique, muitos sintomas podem consistir em aprendizados ao longo da história de vida do paciente. Estes sintomas podem ser modificados através da terapia cognitiva comportamental somada ao uso da hipnose. Portanto, muitos casos de remoção de sintoma não viriam a resultar na substituição por outro, pois haveria através da cognição uma redefinição das causas do sintoma, eliminando, portanto, uma perspectiva determinista.

Outra questão relacionada aos efeitos da hipnose, como já mencionado no capítulo anterior, está relacionada ao tratamento e manejo da dor. Os benefícios da hipnose quanto ao alívio da dor, são proporcionais ao grau de suscetibilidade hipnótica dos indivíduos, entretanto, isso não quer dizer que quem não alcança transe hipnótico mais profundo, também não recebe benefícios. Mesmo em vigília, se utilizamos da hipnose para transmitir sugestões para nossa mente e aceitamos as sugestões, poderemos verificar os benefícios deste instrumento para nossa saúde mental. 

Verificam-se também nos estudos sobre a utilização da hipnose, que há vários profissionais que recorrem à técnica para fazer uma regressão à infância do cliente/paciente. Esta é mais uma forma de colocar a técnica a serviço da psicologia.

 

 

1.5 Regressões em hipnose

 

 

Dentro dos assuntos referentes ao tema hipnose, este é sem dúvida o que mais é polemizado, pois envolve desde a regressão de idade para trabalhar repressões, conflitos e outros sofrimentos, como também, aqueles que acreditam em regressão de vidas passadas, fazendo uma mistura de crenças e ciência. Ou seja, a hipnose neste sentido, passa a ser de um âmbito não só cientifico psicológico, mas psicoparanormal, pois vai além do humano físico para o humano espiritual.

Dowd (apud CABALLO, 1999) fala que para entrar neste estado de regressão só é possível desde que haja um nível maior de profundidade do transe. Segundo ele, uma pessoa em transe leve não conseguiria entrar neste estado de regressão.

Relata também que existem quatro fases do transe, são eles: o hipnoidal, o transe ligeiro, o transe médio e o transe profundo. O intuito de se utilizar a hipnose como regressão seria a de vencer as barreiras criadas (repressões) a fim de que o cliente pudesse entrar em contato com aquilo que tentou esquecer e que lhe causa forte sofrimento sem estar totalmente consciente de suas causas. Em relação aos que acredita em regressão de vida, a proposta tem a mesma finalidade e é muito diversificada em seguidores espíritas.

Independente das crenças ou motivos para entrar em um transe hipnótico, se faz necessário toda uma preparação, seja do ambiente, seja dos esclarecimentos que envolvem a técnica para o próprio cliente/paciente.

 

1.6 - Preparações para a hipnose

 

Fábio Puentes, autor conhecido principalmente por se apresentar em programas de auditório de grandes emissoras de televisão, fala em seu livro sobre auto-hipnose, que para um bom hipnólogo se é necessário falar de forma diferente do costume local (linguagem cultural) utilizando de um sotaque e “ar” misterioso. Diferentemente de sua opinião, Dowd (apud CABALLO, 1999), diz que não a necessidade destes artifícios. Porém, ambos são da mesma opinião quando defendem a necessidade da preparação do ambiente e do cliente/paciente para esta atividade.

Para tanto, elencam passos que devem ser seguidos como:

1)      A preparação do paciente, 2) a indução hipnótica, 3) o aprofundamento da hipnose, 4) o emprego do transe hipnótico para fins terapêuticos e 5) a finalização.

1 - No caso da preparação do paciente é preciso primeiramente estabelecer um bom rapport e esclarecer as dúvidas e os mal-ditos (mal falados) desta técnica para que o mesmo não se sinta ameaçado por seu próprio medo e dúvida.

Tanto no vídeo e no livro de Fábio Puentes como também em Dowd (apud CABALLO, 1999), alguns testes podem servir para verificação inicial, a que chamamos de susceptibilidade hipnótica, se os pacientes estão hipnotizados e em que fase. Alguns deles envolvem exercícios como o de levitação e peso das mãos e dos braços e o balanço do corpo enquanto este se encontra de pé. Muitos hipnólogos não utilizam estes testes, pois acreditam que possam criar suas próprias induções.

2 - Quanto à indução hipnótica, existem várias técnicas que podem ser utilizadas. A criatividade do psicólogo, que utiliza a hipnose como instrumento de apoio, ajudá-lo-á a construir embasado em sua experiência a melhor estratégia de ação, lembrando que a hipnose é um processo de atenção elevada.

Dentre as técnicas mais usadas pelos profissionais que utilizam da hipnose, podemos citar: o relaxamento progressivo, principalmente para aqueles que têm medo da hipnose.

Ressalto que esta tem sido a minha principal forma de atuar, pois acredito que o relaxamento gradual, ajuda o paciente a ir confiando e se entregando pouco a pouco a técnica da hipnose. Outra técnica muito utilizada é a fixação dos olhos em um pendulo; anel; vela acesa ou até mesmo a um ponto escolhido pelo paciente na parede ou canto da sala. O importante é que os olhos fiquem fixos em determinado local, olhando um pouco acima da linha normal do seu olhar, o que fará que através da indução o terapeuta possa sugerir que o cliente está ficando cada vez mais com os olhos pesados e assim que ele fechar os olhos estará em transe. Eu prefiro pedir ao paciente que feche os olhos assim que iniciar a indução hipnótica. Procuro não olhar fixamente para o paciente, pois se ele abrir os olhos e notar que está sendo analisado fisicamente pode construir barreiras associadas a sentimentos de inferioridade. Desta forma, busco fazer a indução hipnótica olhando para um dos lados da sala, ou até mesmo de olhos fechados, deixando o cliente bem tranquilo e relaxado.

Para os hipnólogos que utilizam da técnica em pedir ao cliente que fixe os olhos sem piscar em determinado local/objeto, acreditam que com o passar do tempo os olhos estarão muito pesados e o próprio cliente não resistirá ao esforço de permanecer com eles abertos e fechará seus olhos. A partir desta ação, os pacientes começarão a acreditar que isto ocorreu pela hipnose e começará a entrar em transe.

3 - Em se tratando do aprofundamento no transe é importante distinguir que este aprofundamento tenha algo a ver com o sono. Neste caso é de suma importância o esclarecimento de que este aprofundamento no transe se dá de forma progressiva, ou seja, alguns clientes entram com mais facilidade, outros demoram um pouco mais até atingir mais confiança no terapeuta e na eficácia da técnica, mas nos dois casos, o transe será feito, seja de menos intensidade (transe leve), ou maior profundidade (transe profundo).

Para atingir estes níveis citados acima, tanto Dowd (apud Caballo, 1999) quanto Fábio Puentes, sugerem alguns procedimentos para conseguir este objetivo. Dentre eles citamos:

1) a técnica da escada: está técnica consiste em pedir ao paciente que imagine (visualize) que a cada degrau que o cliente desce da escada, vai sendo sugerido que este paciente está entrando cada vez mais em transe,

2) a técnica do mergulho, onde se é pedido que o paciente se imagine mergulhando cada vez mais no mar. Deve-se observar, no entanto, que algumas pessoas têm medo de água, no caso, deve-se substituir a técnica ou trabalhar primeiramente este medo com outra técnica de transe,

3) Técnicas de levitação dos braços, pede-se ao cliente que imagine que em uma das mãos (indica-o qual) está a um cordão amarrado com vários balões que fazem com que este braço fique cada vez mais leve, enquanto o outro braço há um peso em sua outra mão, cada vez mais pesado, esta técnica consiste em medir a profundidade do transe,

4) a técnica de contar de traz para frente é sugerida por Puentes. Pode-se pedir ao cliente que calmamente conte de 100 até 1, e a cada número, ele vai entrando cada vez mais em transe.

Dowd (apud CABALLO, 2009) acredita que não se devem utilizar contagens longas, indica que se deva contar de 1 a 10, sugerindo que a cada número, o cliente vai entrando em transe cada vez mais, o mesmo processo se dá para sair do transe,

5) Leveza do corpo. Esta técnica está associada ao cliente acreditar que o corpo esta tão leve que pode a te flutuar, a cada vez que sente o corpo mais leve e relaxado, mais vai entrando em transe,

6) Na respiração, o cliente pode acreditar através da imaginação que a cada vez que respira, mais vai entrando em transe. Está é a minha preferida, pois a respiração pode ser associada ao relaxamento mais facilmente.

Como já mencionado anteriormente, a criatividade do terapeuta é essencial, pois pode seguir estas técnicas já mencionadas ou adaptar e até mesmo criar novas técnicas conforme sua necessidade e adaptação.

No emprego do transe hipnótico, não há só a mudança de comportamentos e eliminação dos sintomas. Há na indução hipnótica, instruções construtivas e sugestões de pensamentos positivos empregado pela imaginação que leva o cliente a um nível de vida mais satisfatório e sensação de bem estar mais prolongado. Quando o cliente/paciente percebe que a terapia está o ajudando a resolver seus conflitos, o próprio paciente permite crescer com mais liberdade tomando consciência das repressões, angústias, e de seus comportamentos, além das crenças negativas que tinha a respeito de si-mesmo.

Para conseguir atingir estes objetivos, através da indução hipnótica, ao invés de dizer ao paciente, por exemplo, que este não vai mais fumar, seria interessante e mais positivo fazer afirmações como: você deixará de fumar e viverá de forma mais saudável e feliz. A fala do terapeuta, mais o desejo do paciente são essenciais para o bom resultado da terapia. Dentre das várias sugestões na indução, é importante acompanhar o progresso do cliente e ajudá-lo para que não se sinta fracassado se não conseguir cumprir e desenvolver-se no processo terapêutico. (BAUER, 2002; FERREIRA 2006).

Muitos pacientes acreditam que bastará uma única sessão para resolver seus conflitos, transtornos, fobias. É necessário explicar que dependerá do processo de assimilação e integração na hipnose. Na maioria dos casos, será necessário fazer um número mínimo de 5 sessões. Normalmente, utilizo de 5 a 20 sessões de hipnose além da psicoterapia.

Segundo Ferreira (2006), durante o processo de intervenção, distintos fenômenos causados pela hipnose podem ocorrer como: rapport, catalepsia (imobilização e/ou ausência da vontade de se mover), dissociação (pensamento e sensação de serem duas pessoas numa só), analgesia (diminuição da intensidade da sensibilidade à dor), anestesia (não sentir partes do corpo), regressão de idade (recordação de algo como se estivesse vivendo aquilo pela primeira vez), progressão de idade (ver-se no futuro realizando coisas), distorção do tempo (falta de percepção do tempo cronológico), alucinação positiva (ter a percepção de algum dos cinco sentidos de que algo não está presente), alucinação negativa (falta de percepção de algum dos cinco sentidos de algo que está presente), amnésia (não lembranças de parte ou de tudo o que aconteceu), hipermnésia (lembrança aguçada de algo), atividade deossensória/ideomotora (sinalizações com o corpo em resposta a algum comando), e por fim a sugestão pós-hipnótica (execução pós-transe de algo pedido durante o transe).

Lembro-me de em certa hipnoterapia dar a sugestão a uma paciente, que sofria por sua obesidade, de todas as vezes que sentisse muita fome, substituísse o alimento por água, mas apenas nos casos que sentisse muita fome, ou seja, uma compulsão em se alimentar. Uma sessão apenas foi utilizada e a paciente 3 meses depois ainda continuava a seguir a sugestão de beber agua ao invés de comer quando sentisse muita fome. Nestes 3 meses a cliente perdeu 5 quilos sem ter feito uso de qualquer regime alimentar. É claro que muitos podem questionar este fato porque em um regime ela poderia ter perdido mais peso, mas é bom esclarecer que a paciente não aceitava qualquer tipo de regime, academia, etc. Por isso, utilizei a hipnose em uma sessão.

 

1.7 - Procedimentos de hipnose.

 

Mas, o que acontece em uma sessão de hipnose? Em uma sessão de hipnose se é pedido para o cliente, que ele fique sentado ou deitado e em uma posição bem confortável, se possível com as mãos em cima das pernas (cochas). Para aqueles que utilizam o divã, seus pacientes podem deitar e relaxar.

Para deixar o paciente em transe, é preciso repetir um estímulo. No passado, os terapeutas usavam estímulos visuais, como um pêndulo balançando. Hoje os especialistas consideram sons repetitivos, como o tique-taque de um relógio. A maioria dos profissionais usa a própria voz, falando frases ou palavras sem parar, em um tom monótono. O resultado é melhor quando pronunciada palavras associadas a relaxamento, sono, calma. Como já citei anteriormente, este é meu procedimento, pois acredito que dá o melhor resultado.

Segundo o psicoterapeuta Carlos Laganá, presidente da Sociedade Brasileira de Hipnose, uma sessão completa não ultrapassa meia hora, mas não é possível prever a duração de um tratamento baseado em hipnose, pois, pode levar meses ou anos. (PASSOS, 1998). Em minhas sessões levo de 30 a 45 minutos, pois utilizo também a psicoterapia junto aos pacientes.

Neste sentido, na prática clínica, muitos profissionais psicólogos vêm utilizando como tratamento coadjuvante a psicoterapia a técnica da hipnose. Estes profissionais pertencem as mais variadas abordagens.

Estaremos apresentando neste livro mais especificamente a atuação de neuropsicólogos, psicanalistas, gestalt-terapeutas e terapeutas cognitivos comportamentais. Os psicólogos que atendem com outras abordagens como a Abordagem Centrada na Pessoa (no cliente), a abordagem Sistêmica, a Bioenergética, a terapia de Reich e outras como a analítica e grupal, não foram contempladas neste livro, mas acredito que o conhecimento aqui proposto pode lucidar as dúvidas em relação a seus referenciais teóricos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

2 – ESPECIFICIDADES QUE UTILIZAM A HIPNOSE.

 

            Neste capítulo serão apresentadas as especificidades que utilizam a hipnose. A proposta deste livro, no entanto, restringirá mais sua atenção à Neuropsicologia e as abordagens psicológicas da Gestalt-terapia, Terapia Cognitiva Comportamental e Psicanálise.

 

 

2.1 - A Neuropsicologia e a Hipnose

 

 

 

A Neuropsicologia tem por objetivo o diagnóstico e a reabilitação dos distúrbios cognitivos e emocionais, bem como o estudo dos distúrbios de personalidade provocados por lesões do cérebro (NEVES, 2003). A avaliação neuropsicológica envolve: atenção, memória, percepção visual e auditiva, motricidade e inteligência.

            Os objetivos da Neuropsicologia segundo este autor são reconhecer e explicar as relações entre comportamentos humanos e substrato neural; definir e explicar as relações mútuas subjacentes entre comportamentos e processos cognitivos e estabelecer correlações entre bases biológicas e psicológicas do comportamento humano.  

            O histórico da Neuropsicologia iniciou-se com os estudos da linguagem. As alterações da linguagem e o seu conhecimento neurológico foi o ponto de partida para Paul Broca. Em 1861, este cientista identificou alterações da linguagem e relacionou-as a lugares específicos no cérebro. Assim, estudiosos propuseram para análise e interpretação de alterações funcionais, teorias localizacionistas e associacionistas considerando o cérebro como um mosaico de centros, cada qual responsável por uma determinada função complexa. Conceito muitas vezes reformulado e contestado na época atual.

            Ainda segundo Neves (2003), a linguagem é um complexo e dinâmico sistema de símbolos convencionais que é utilizado de vários modos para o pensamento e a comunicação. O aprendizado da linguagem e seu uso são determinados pela interação de fatores biológicos, cognitivos, psicossociais e ambientais.

É pertinente o conhecimento destes conceitos para verificar a utilização da hipnose como técnica por profissionais neste campo de estudo para o alivio da dor utilizando a linguagem como meio de atingir centros específicos no córtex cerebral.

Diante estes fatos, esta especificidade (a Neuropsicologia), busca cientificamente comprovar a eficácia através de estudos imagiológicos em indivíduos hipnotizados e contribuir para a compreensão de como as sugestões influenciam nos padrões de ativação cerebral. Existem também, testes que comprovam (através de exames que registram áreas cerebrais que são ativadas durante o transe) a eficácia desta técnica, considerando-a como um instrumento prático e valioso para o exercício deste profissional. Ou seja, o neuropsicólogo pode fazer uma indução hipnótica e ao mesmo tempo observar através de aparelhos de exames PET-SCAN (tomografia por emissão de pósitrons), como as áreas no córtex cerebral que estão sendo atingidas e tratadas e seus avanços na comunicação e melhora do paciente.

Neste sentido, segundo o psiquiatra Fernando Portela Câmara, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PASSOS, 1998, p. 108), “a formação reticular controla a vigília e o sono e ainda seleciona em que informações devem-se concentrar”.

A tese mais aceita pelos neuropsicólogos é a de que as palavras do hipnotizador, daí o porquê das explicações sobre a linguagem, são processadas pelo nervo auditivo, alcançam a ponta dessa rede, na base do cérebro, e se espalham por toda a massa cinzenta. Por se tratar de estímulos repetitivos na indução, quando eles chegam ao lobo frontal, a atenção do paciente fica concentrado em um único foco, inibindo tudo o que está ao redor (PASSOS, 1998). Se o indivíduo estivesse em um estado próximo do sono, o que não ocorre na hipnose, o mapa cerebral visualizado nos testes imagiológicos seria completamente diferente, com outras áreas ativadas.

Segundo Ferreira (2006), entre as fases da indução e o estado hipnótico, pode-se perceber que a hipnose provoca um extremo relaxamento e isso diminui a dor crescendo os níveis do neurotransmissor serotonina. Este nível de serotonina vai se concentrar nas áreas cerebrais encarregadas de processar as mensagens químicas da dor, atenuando a sua intensidade. Além disso, diminui o cortisol do stress, que poderia intensificar os sinais dolorosos nos nervos espalhados pelo corpo.

O hipnotismo também estimularia a produção de moléculas chamadas de moduladores imunológicos que se ligam às células de defesa regulando a sua ação. Assim, eles evitariam que as defesas comprassem briga contra tecidos do próprio corpo. “As células imunológicas do sangue se tornariam mais eficientes sem o cortisol, já que a dosagem da substância pelo efeito da hipnose diminui. Isso poderia explicar por que o hipnotismo tem ajudado no tratamento de pacientes imunodeprimidos por causa do câncer ou da AIDS”. (FERREIRA, 2006, p. 403).

Segundo este autor, em vários países como Estados Unidos, Canadá, França, entre outros, várias pesquisas estão sendo realizadas. Para serem reconhecidas sua característica científica, tecnologias avançadas como Brain Mapping (BM); Potencias Evocado (PE) e Tomografia por emissão de Pósitrons (PET-SCAN), buscam compreender os mecanismos neuropsicofisiológicos ativados pela hipnose.

Ferreira (2006) defende ainda que a anestesia hipnótica têm um aumento de serotonina nos locais do encéfalo responsáveis pela percepção consciente da sensação dolorosa e assim se é verificado a diminuição dos níveis de cortisol (níveis de estresse) no sangue. Estas constatações podem ser evidenciadas em estudos experimentais em pessoas hipnotizadas submetidas ao exame de tomografia por emissão de pósitrons.

            Ainda, na tentativa de compreender como essa técnica pode atuar no controle e diminuição da dor, Schulz-Stübner (apud FERREIRA 2006) conduziu um estudo que pretendia identificar por meio de ressonância magnética funcional as áreas cerebrais que são ativadas durante o transe hipnótico e verificar o que acontece quando um estímulo térmico doloroso é aplicado em indivíduos hipnotizados e não hipnotizados. Os resultados em testes de ressonância magnética em pacientes hipnotizados demonstraram que os indivíduos com o efeito desta técnica apresentam menos ativação no córtex sensorial primário, no giro do cingulado médio e no córtex visual, enquanto uma ativação aumentada foi vista no gânglio basal anterior e no córtex anterior cingulado esquerdo. Tais resultados indicam que a hipnose pode impedir que as entradas nociceptivas alcançassem as estruturas corticais mais elevadas responsáveis pela percepção da dor no cérebro.

Nesta mesma perspectiva Faymonville (apud FERREIRA, 2006) com o intuito de verificar a eficácia da hipnose desenvolveu um estudo que comparou a percepção de dor e o funcionamento cerebral de pessoas em estados hipnóticos, de imaginação e descanso durante uma condição experimental de estímulo doloroso aplicado na mão. O grupo de indivíduos que foi submetido à hipnose apresentou 50% de diminuição da percepção da dor se comparado aos grupos de imaginação mental e de descanso.

Outro aspecto que também pode colaborar para melhor compreensão a respeito do mecanismo de ação da hipnose no cérebro pode estar relacionado à diminuição da ativação nas regiões frontais. Segundo Mello (apud FERREIRA, 2006), utilizando o mapeamento cerebral por EEG Digital, observa-se que o traçado no estado hipnótico é bastante semelhante ao estado de vigília. Com o aprofundamento (transe profundo já citado no capítulo anterior) da hipnose é possível detectar uma lentificação progressiva. No entanto, o efeito analgésico da hipnose parece estar associado não apenas a mecanismos de ação do sistema nervoso central como também do sistema periférico.

A respeito destes estudos verifica-se que a técnica de hipnose para estes profissionais, além da comprovação científica demonstrada, tem um valor fundamental para pacientes que demonstram reações alérgicas a anestesias. Sendo assim, “a hipnose traz a estes beneficiados uma sensação de relaxamento através da indução hipnótica com a diminuição do cortisol e a ativação da serotonina que pode ser produzida pelos neurotransmissores na região no córtex próximo ao hipocampo” (FERREIRA, 2006, p. 362). 

No entanto, estes estudos são recentes e ainda necessitam de maior aprofundamento. Porem, a discussão que envolve a hipnose consta desde o surgimento da psicanálise, o que poderemos observar posteriormente.

 

2.2 – A Psicanálise e a Hipnose

Quando nos referimos a este assunto (psicanálise e hipnose) não podemos deixar de associá-lo as experiências do fundador desta abordagem. A análise dos textos referentes de Freud (CHERTOK, 1982) no período de 1887 a 1896 indica que o método psicanalítico foi construído gradualmente, através das experiências que este psiquiatra teve na clínica. O método inicialmente usado por ele era o método catártico de Josef Breuer (1842-1925), baseado na hipnose, para ampliar-lhes o campo da memória, possibilitando assim o tratamento de seus pacientes.

No método catártico de Freud, o paciente era hipnotizado e levado a lembrar-se da história do desenvolvimento de sua doença. Era então, reconduzido até o momento das primeiras manifestações de seu sofrimento, ou seja, até a cena traumática. Este paciente era incentivado a reviver a cena traumática de forma adequada, liberando a reação afetiva que na época da vivência do trauma, por algum motivo, não fora efetivada. Esse método foi sendo gradualmente modificado até que Freud desenvolveu o método de associação livre.

Ainda seguindo o pensamento de Chertok (1982), ao trabalhar com o método catártico, Freud deparou-se com alguns problemas como o fato de que nem todos os seus pacientes eram hipnotizáveis, encontrando assim, dificuldades em obter as curas efetivas que ele buscava, já que o método catártico lidava apenas com os sintomas, e não com a neurose.  

Depois de abandonar a hipnose, Freud passou a utilizar a técnica da pressão, que consistia em pressionar a testa do paciente e solicitar que de olhos fechados o paciente se concentrasse a fim de recuperar a lembrança perdida. Essa técnica simulava o estado hipnótico, que naquele momento da teorização freudiana era visto como uma expansão da consciência. Assim, a construção do método psicanalítico se deu a partir da adoção e modificação do método catártico, passando pelas técnicas da pressão e concentração, até a descoberta da associação livre.

O método utilizado anteriormente a associação livre ainda apresentava limitações, e as pessoas que não eram hipnotizáveis ou tinham forte resistência à hipnose não podiam ser tratadas pelo método catártico.

            Como já citado na introdução, um dos grandes colaboradores na história da hipnose foi Hyppollite Bernheim, que segundo Chertok (1982) serviu como uma das fontes de inspiração para Freud avançar na construção de um novo método. Isto ocorreu quando Freud passou a testar até onde ia à capacidade de memória dos seus pacientes sem a hipnose. De início, encontrava forte resistência de seus pacientes, mas aos poucos os pacientes começavam a lembrar-se do passado. Para isto, Freud pedia que o paciente se deitasse e fechasse os olhos (simulando uma hipnose), alegando que isto o ajudaria a concentrar-se melhor. Aos poucos percebeu que a resistência apresentada pelos pacientes tinha a mesma origem da própria neurose. Tornou-se claro um processo de defesa, que ocorria devido ao sofrimento psíquico que estas lembranças esquecidas traziam para a consciência.

Freud que anteriormente era inspirado em Bernheim abandona então a técnica da pressão na testa. Esta funcionava da seguinte forma: pressionando a testa do paciente, pede a este que lhe relate a idéia ou imagem que lhe ocorre descrevendo-a seja qual for. Segundo Freud, este método nunca falhou, sempre apontando um caminho para desenvolver a investigação sobre a patologia. A pressão distraia o paciente de reflexões conscientes, já que a associação com os fatores patogênicos parecia estar sempre à mão (pressão na testa). Segundo Freud, só era preciso retirar do caminho os obstáculos (CHERTOK, 1982).

Ao promover alterações no método catártico, Freud percebe que a hipnose não era mais necessária no tratamento de seus pacientes abandonando a técnica da hipnose e da pressão na testa, pois mesmo sem elas, ele conseguia avançar sobre a memória do paciente, atingindo as cenas traumáticas.  Foi assim que este psiquiatra criou o método da associação livre abandonando o uso da hipnose em seus atendimentos.

 

2.2.1 - Abandono da hipnose pela psicanálise

 

É preciso lembrar, antes de qualquer coisa, a despeito de todas as polêmicas que possam surgir em torno da questão das relações entre a hipnose e a psicanálise, o fato que historicamente ficou registrado é que a psicanálise de Freud se funda, entre outras coisas, no abandono do emprego da técnica hipnótica.

Estes argumentos apresentados acima sustentam a incompatibilidade teórica e prática entre o conhecimento psicanalítico e o uso da hipnose, seja como técnica, seja como processo. Por outro lado, há também muitos argumentos contrários a esta visão, que defendem a plena possibilidade de associação entre esses dois saberes.

Apesar do fato de Freud ter abandonado o uso da hipnose ao criar as bases epistemológicas da psicanálise, observa-se pela literatura atual, que muitos profissionais que trabalham com esta abordagem psicanalítica, utilizam da hipnose em seus consultórios. A estes profissionais psicanalistas ficou denominado o nome de hipnoanálise, ou seja, a psicanálise praticada com a hipnose.

Neste sentido, podemos verificar que tanto a hipnose quanto a psicanálise utilizam das influências das palavras que afetam os sujeitos e fazem uma análise das recordações conflitantes. Entretanto, há também algo de fundamentalmente distinto, entre estas duas formas de cura através da palavra. Evidentemente não será feita um estudo profundo da psicanálise, pois não é este o objetivo do livro. Mas, podemos observar que na psicanálise, não há um procedimento específico e necessário de interferência no estado de consciência do sujeito como faz a hipnose, como pré-requisito para que o tratamento e a técnica psicanalítica possam ser iniciados. Por outro lado, na hipnose, qualquer que seja a técnica de indução que se utilize (olhar técnicas no capítulo sobre hipnose), é parte integrante e necessária do próprio processo que o sujeito, através de uma intervenção proposital em seu estado de consciência por parte do hipnotizador, seja colocado sob o chamado estado hipnótico.

Independentemente da teoria utilizada para tentar explicar este processo, o fato é que o transe é um pressuposto em qualquer forma de hipnose. A hipnose é um estado que não se confunde nem com o sono e nem com a vigília, enquanto a prática psicanalítica ocorre, em estado de vigília, isto é mais que suficiente para entendermos, que há aqui, essa diferença fundamental embora as duas perspectivas atuem sobre o inconsciente do paciente.

 

 

2.3 A Hipnose e a Gestalt-terapia.

 

Hypnosis and Gestalt TherapyIf you are wanting to change yourself, to reconstruct yourself into a new way of being that is happy and at peace, the next best thing to hypnosis is psyThe historical antecedents of Gestalt therapy are the experiences of its co-founder, F

Para fazermos uma relação do uso da técnica da hipnose com abordagem Gestalt-terapia faz-se necessário compreendemos que Having briefly outlined the core of Gestalt therapy it is necessary to consider some of the techniques that Gestalt therapists use in order to consider how they might be incorporated into hAn important part of this relationship is that the therapist is acting to guide the client towards greater self-awareness, responsibility and ownership of emotions, thoughts, sensations etc in order to complete any 'unfinished business' so that s/he may move smoothly through cycles of exesta abordagem visa orientar o cliente para uma maior autoconsciência, ou seja, tornar-se consciente de suas fronteiras de contato, sua responsabilidade e apropriação das emoções, pensamentos, sensações, etc. A este tornar-se consciente no aqui e agora chamamos de awareness.

A fim de alcançar este objetivo, a Gestalt-terapia baseia-se em uma riqueza de técnicas e habilidades. A Gestalt-terapia é uma abordagem fenomenológica e existencial e traz em seu bojo e referencial teórico uma visão holística do homem. Como utiliza de técnicas e experimentos em sua prática psicoterapêutica This essence of Gestalt therapy allies it more closely with cognitive behavioural approaches than typical psychodynamic methods because it relies less on interpretation of the client and more on their active participation.It is perhaps this that makes it possible to incorporate aspects of Gestalt therapy into hypno-therapeutic practorna-se possível incorporar a seu arsenal criativo, práticas hipnóticas terapêuticas. Diante estas observações poderíamos pensar a hipnose como uma técnica a mais, como um instrumento coadjuvante a um Interestingly Levendula (1963) suggests the view that a Gestalt therapist would be in a more advantageous position if he would combine his approach with hGestalt-terapeuta em suas sessões.

Ainda referindo-se a teoria da Gestalt-terapia, Zinker (2008) explica que muitas das vezes o cliente desenvolvendo ajustamentos criativos para interagir com o meio utiliza de vários mecanismos de defesa ou de evitação do contato que podem ser saudáveis ou patológicos, ou seja, muitas vezes o sintoma é na verdade a forma mais criativa encontrada para enfrentar o problema naquele momento. Neste sentido, poderíamos questionar se o uso da hipnose não iria à contramão da teoria da Gestalt-terapia para estes casos específicos. Daí a importância de um terapeuta ser experiente em avaliar o momento e a necessidade do uso da técnica da hipnose e em que casos seriam mais úteis.

Yontef (1998) nos apresenta em relação ao trabalho em Gestalt-terapia que esta teoria de relação é baseada no Existencialismo Dialógico, na metodologia de awareness baseada na Fenomenologia e na teoria científica de Campo. Neste sentido, é preciso estabelecer entre cliente (paciente) e o psicoterapeuta uma relação baseada em ajuda mútua. De forma fenomenológica, trabalhando na perspectiva do aqui e agora, naquilo que surge e que emerge.

As intervenções em Gestalt-terapia chamam a atenção sobre aspectos que façam o cliente entrar em contato com seus sentimentos, amplificando sua capacidade de perceber suas sensações. Daí o grande valor da Gestalt-terapia em proporcionar (através de experimentos ou simplesmente do contato dialógico) a possibilidade do cliente (paciente) ampliar suas fronteiras de contato.

            Em resumo, sobre o referencial teórico da Gestalt-terapia, o acúmulo de necessidades interrompidas ou Gestalten inacabadas para o organismo se repete na busca de completar o que está inacabado ou interrompido e fechar a Gestalt, ou seja, este interrompimento se daria ao fato do self ter perdido a função de promover um ajustamento criativo.  

Mas, como pode a hipnose atuar como tratamento coadjuvante por um Gestalt-terapeuta? Pode-se pensar nesta possibilidade, desde que o terapeuta possa ajudar o cliente a focalizar sua atenção na sensação de sua percepção ou memória, enquanto o resto do campo perceptivo diminui em um fundo. A hipnose privilegiaria aspectos profundos que o paciente insiste em não dar um fechamento. Traria a consciência suas resistências, conflitos. Enviaria através de sugestões positivas, soluções para fechar a gestalt interrompida. Por exemplo: um paciente que ao ser demitido do emprego sofre por não ter sido um melhor funcionário e se culpa pelo fato. Em uma psicoterapia, trabalhar-se-ia esta culpa ampliando sua awareness de sentir-se fracassado.

Mas, e nos casos em que o cliente consciente de sua não-culpa, ou mesmo de sua responsabilidade, ainda sofrer pela perda do emprego e estar esperando que esta gestalt-inacabada retorne para acertar seus erros em uma outra oportunidade neste mesmo emprego? Neste caso, para que a pessoa não fique presa a seu passado, pode-se utilizar a hipnose como forma de sugestão para o cliente superar a perda e focalizar em um novo emprego. Esta seria uma forma muito indicada de superação do trauma em uma psicoterapia gestáltica com o uso da hipnoterapia de autoajuda.

Para Freda Morris (1991), The hypnotic state itself corresponds to the Gestalt-background principle, and the Gestalt formation becomes more or less an automatic function of experimentos de Fritz Perls como a cadeira vazia, se aproximam muito de um estado hipnótico, pois permite que o cliente através da imaginação entre em um tipo de transe hipnótico. Para explicar melhor como se dá este experimento da cadeira vazia, ele funciona da seguinte forma: um paciente se imagina em uma cadeira vazia ou uma outra pessoa sentada a sua frente e faz um diálogo com ela. Consegue através da imaginação, perceber o que sente por aquela figura projetando a ela seus sentimentos e sensações. Na percepção de suas sensações, suas experiências que não foram elaboradas, podem auxiliar aos clientes a entrarem em contato com suas gestalts abertas (inacabadas) e ampliarem suas fronteiras de contato, para que seu organismo entre em homeostase (equilíbrio) com seu self (id, ego e personalidade) e possam diante a awareness produzida fechar sua gestalt. A hipnose funcionaria nestes casos como sugestão.

From this it is clear that Gestaltists are being advised to incorporate hypnotherapy into their practice.            A partir destas considerações, muitos Gestaltistas estão incorporando a hipnose em sua prática, principalmente nos Estados Unidos. Desde o surgimento da Gestalt-terapia com Fritz Perls, as oficinas de workshops em Gestalt-terapia e hipnose nos Estados Unidos se ampliaram buscando propor a hipnose como mais uma ferramenta a serviço do Gestalt-terapeutaOne of the central tenets of Gestalt therapy is that clients experience events in the present, that is they re-enact past events in the  (GINGER, 1987).

            Through hypnotic age regression, working with dreams etc clients can re-experience events that have occurred at some other time as if they were happening in tIt is clear that the Gestalt concern with realistic, present, re-experiencing of events is an important aspect of hFazendo um link com a utilização de técnicas como a cadeira vaziaHere we can envisage that the client can be asked to imagine a dialogue, or in the case of multiple actors in the re-lived scenario, a conversation, where they can concentrate on aspects of themselves or others that are blocking their ability to resolve past issues., podemos prever que o cliente ao imaginar um diálogo, reviver um cenário, uma conversa, concentra-se em aspectos de si próprios que estavam bloqueando a sua capacidade de resolver questões do passado. A imaginação expositiva (na cadeira vazia) e o diálogo com a pessoa ou situação imaginada ajudam a antecipar ou reviver sentimentos que o cliente não conseguia elaborar. Esta técnica coloca o cliente em condições de enfrentar numa exposição ao vivo seus conflitos e até mesmo responder a questões que podem fechar gestalts inacabadas.

Relacionando com a Hypnosis, by inducing an altered state of consciousness, may be able to circumvent these strategies, allowing the client to explore options in a safe fantasy world that is experienced as vivid anhipnose, esta técnica faz com que o cliente volte-se mais profundamente a si mesmo. O Hipnoterapeuta gestático pode ser capaz de contornar certas estratégias utilizadas (mecanismos de defesa), permitindo a este explorar certas opções que não seria possível se não estivesse em um estado hipnótico. As suggested earlier, this active participation of clients is not common, but there is no reason why clients who have strong powers of visualisation cannot be directed under hypnosis to engage in experimeNaturalmente os clientes também podem ser direcionados para prestar muita atenção aos detalhes dessas novas experiências, para que possa ser vividamente lembradas pós-hipnose, o que ocorre de forma semelhante quando na técnica da cadeira vazia, o cliente passa a entrar em contato com as sensações provocadas pela imaginação, visando ajudar os clientes a entrarem em contato com suas experiências e produzir a partir desta awareness o crescimento do cliente.

            There are many examples in the literature noting this similarity between Gestalt and hypnosis. Na literatura pesquisada consta-se num diálogo de Freda Morris, a well-known hypnotherapist reports on a conversation with Fritz Pe Freda Morris (um conhecido hipnoterapeuta americano) sobre Fritz Perls que este acredita que a atuação do co-fundador da Gestalt-terapia tem um efeito hipnótico em seu trabalho terapêutico.

 

…the hypnotic state cannot always be readily recognized. ... “O estado hipnótico nem sempre pode ser facilmente reconhecido. I once said to the founder of Gestalt therapy, Fritz Perls, about his therapeutic work, “Of course, it’s all done with hypnosis.” He answered with a knowing smile, “As a matter of fact, it is.” Perls was a remarkably effective therapist. Eu conversei uma vez com o fundador da Gestalt terapia, Fritz Perls, sobre seu trabalho terapêutico dizendo: “tudo é feito com a hipnose.” Ele respondeu com um sorriso: “Por uma questão de fato, é”. Perls foi um extraordinário e eficaz terapeuta. He hypnotized his patients and then used the hypnotic state to find and help them change their neuroses. Ele hipnotizava seus pacientes e, em seguida, utilizava o estado hipnótico para com o cliente encontrar e ajudá-los a mudar suas neuroses. Many of his followers are less effective, at least partly because they do not know the role hypnosis plays. Muitos de seus seguidores são menos eficazes, pelo menos em parte porque eles não sabem o papel que desempenha a hipnose”. (Morris 1979, page 3). (MORRIS apud DUFF, 1979, p. 3).

 

            Segundo este autor, Most of the techniques in different types of psychotherapy are nothing more than hypnotic phenomenaa maioria das técnicas em diferentes tipos de psicoterapia não é nada mais do que fenômenos hipnóticos.When you look at an empty chair and start talking to your mother, that’sa “deep trance phenomenon” called “positive auditory and visual hallucination”. “Quando você olha para uma cadeira vazia e começa a falar com sua mãe, aquele fenômeno é chamado alucinações positivas, auditivas e visuais.” It’s one of the deep trance phenomena that defines somnambulism. (MORRIS apud DUFF, 1979, Página 11).

Referring to the three phase induction process described at the start of this essay, we find that Gestalt employs that induction process.            Ainda no sentido de pensarmos o uso da hipnose por gestalt-terapeutas, pode-se observar que os princípios dos processos de experimento da cadeira vazia como também as técnicas de relaxamento são semelhantes as três fazes da hipnose empregada na abordagem ericksoniana.

O cliente pode ser encorajado a falar dos aspectos conflituosos que entrou em contato após a awareness da experiência da cadeira vazia. Neste sentido, a hipnose produz no cliente a consciência das sensações percebidas de seus traumas no momento presente para que possam entrar em contato com questões inacabadas e trabalhá-las na terapia dialógica da Gestalt-terapia.

The idea is to help the patient integrate lost aspects of themselves.The patient could try being a number of different parts of the dream and say how it felt being that part.As we know inhibitions are reduced in hypnosis, and it could be easier and more comfortable to try this in hypnosis than if wide awake.Como sabemos as inibições são reduzidas quando o cliente está hipnotizado. É claro que não se pretende substituir a capacidade do gestalt-terapeuta. Este procedimento seria indicado apenas quando o cliente mesmo desejando não conseguisse lembrar ou vivenciar questões que acreditam serem importantes para o processo terapêutico. Daí a necessidade da avaliação do terapeuta de quando e como usar a hipnose caso ache necessária. Podemos pensar num caso em que o cliente, não entendendo porque mesmo aware (conciente) dos motivos que o fazem sentir-se muito ansioso, os conflitos neuróticos deste sintoma ainda permanecem. Neste caso a hipnose, seria mais uma ferramenta a disposição do terapeuta a fim de elevar os níveis de relaxamento, reduzir o stress e produzir como um ansiolítico natural um melhor bem estar ao cliente.

Gestalt therapy deals with the whole person but particularly the emotional side of human nature.            The patient might be encouraged to talk as one part in the dream to another part to discover lost aspects of themselves and integrate the emotions accompanying them.Evidentemente EEvidentemente estas suposições necessitam de embasamento prático na clinica em gestalt-terapia o que venho fazendo em minha prática psicológica. Como na Gestalt-terapia há também profissionais de outras abordagens que vêm utilizando da técnica da hipnose em suas práticas psicoterapêuticas. Dentre estas podemos citar a Terapia Cognitiva Comportamental. Working with dreams in this way might help where other analytical techniques simply provide further frustration and inability to express underlying feelings. 

 

By working in the 'here and now' it becomes very difficult for the patient to avoid what unresolved feeling there may be, to feel them, express, release and 'integrate' them.

2.4 – A Hipnose e a Terapia Cognitiva Comportamental

 

Primeiramente para início deste tópico se faz necessário uma pequena contextualização desta abordagem. A substituição de pensamentos negativos e destrutivos por pensamentos mais flexíveis, construtivos e pautados na interação entre indivíduo e seu ambiente é o principal objetivo desta abordagem criada por Beck em um processo psicoterápico. “Atualmente é uma das abordagens mais reconhecidas no mundo por sua eficácia e segurança”. (NEVES, 2003, p. 49).

A combinação de outras estratégias terapêuticas no tratamento com a Terapia Cognitivo Comportamental vem sendo apoiada por diversas correntes desta abordagem, ampliando os limites da terapia para abranger as emoções e demais respostas psicofisiológicas. Seu trabalho destina-se a ajudar os Pacientes/clientes a aprenderem a controlar seus pensamentos examinando suas crenças, assim podem se sair melhor do que aqueles que ainda não o fazem.

Verifica-se que há dentro desta abordagem a utilização de várias técnicas, exercícios e até experimentos o que faz nos lembrar da Gestalt-terapia. Uma técnica que vem sendo muito utilizada em terapia Comportamental é a Hipnose, que através de seus procedimentos são orientados para a solução de problemas psicológicos.

É pertinente esclarecer que a hipnose não é uma terapia por si mesma, mas uma técnica especializada que pode ser incorporada a situações terapêuticas particulares. Assim confirma-se a possibilidade de seu uso por Terapeutas Cognitivos Comportamentais.

A prática da hipnose em Psicologia como citada na introdução foi regulamentada pelo CFP (Nº. 013/2000). A Hipnose consiste de um estado de estreitamento de consciência provocado artificialmente, diferente do sono, com alterações da atenção, memória, motricidade e das sensações (NEVES, 2003).

Segundo Dowd (apud CABALLO, 1996), a hipnose deveria ser utilizada unicamente por profissionais bem treinados na prática de sua própria profissão. Este terapeuta comportamental relata inclusive que tais profissionais não deveriam empregá-la como seu único tratamento. Assim, ressalta este autor, é incorreto falar de hipnotizador ou de hipnoterapeuta. Para ele o certo seria falar de um psicólogo, de um terapeuta ou de um médico que estão bem treinados em usar a hipnose. Ainda segundo este autor, aHypnosis is also useful in intensifying aspects of an experience, by directing the client to pay closer attention to particular details. Hipnose é útil na intensificação dos aspectos de uma experiência, orientando o cliente a prestar mais atenção a certos detalhes.For example, someone who wishes to stop smoking might be asked to strongly feel the sense of relief and strength from being able to take deep breaths of fresh, clean air. Por exemplo, alguém que deseja parar de fumar pode ser convidado a se sentir fortemente o sentimento de alívio esclarecendo os benefícios e levando-o a se imaginar como mais feliz e saudável. Através da indução, o cliente passa a sentir-se livre, confiante e capaz pelos avanços que pode perceber a cada dia.

Verificando a utilização da hipnose como coadjuvante nos tratamentos médicos, ela aumenta significativamente o bem estar psicológico, reduz o stress e melhora as taxas de recuperação dos pacientes sujeitos a esses tratamentos. A eficácia da hipnose vem sendo comprovada como importante ferramenta terapêutica quando combinada com intervenções cognitivo-comportamentais, nas perturbações depressivas, da ansiedade, do sono, condições psicossomáticas, tabagismo, obesidade, controle da dor, depressão entre outras.

Como podemos observar sobre cada abordagem discutida neste livro, a hipnose pode ser integrada como uma ferramenta a disposição do profissional psicólogo, como também em outras áreas de atuação, seja médica, jurídica, odontológica entre outras.

Há, no entanto, aqueles que defendem e os que são contra o uso da hipnose em psicoterapias. Portanto, nada mais saudável que uma discussão sobre as divergências e convergências destas opiniões a respeito da hipnose para podermos abrir um campo fértil de reflexões que possam favorecer principalmente aqueles que dela necessitam.

 

 

 

3 CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS SOBRE A HIPNOSE

 

 

            3.1 Derrubando os Mitos

 

            Para adentrarmos nas convergências e divergências sobre a hipnose, precisamos refletir primeiramente que a hipnose foi associada durante séculos à perda da consciência e o controle voluntário das ações do cliente, um estado onde o hipnotizador poderia manipular o hipnotizado a fazer o que ele quisesse inclusive revelar os segredos mais profundos do paciente. Isto talvez seja um dos pontos que mais causam divergências entre os que defendem e os que são contra a hipnose, pois fez surgir em alguns profissionais e também a uma grande parte dos pacientes o medo de um controle e manipulação, tirando do cliente sua autonomia e capacidade de crescimento individual, dependendo unicamente das sugestões de um hipnotizador.

            Neste sentido, vários profissionais buscam derrubar os mitos criados acerca da hipnose ao alegarem que esta técnica só funciona com o desejo do cliente. Além do que, qualquer ameaça aos valores morais deste cliente, faria com que este saísse do transe hipnótico quase que imediatamente.

            Ferreira (2006) em relação ao mito de que a hipnose pode ser prejudicial, defende que a hipnose é um fenômeno científico válido, que pode ajudar pessoas a superar seus traumas, conflitos emocionais e problemas psicológicos. A hipnose já foi e ainda é usada por milhares de pessoas, e não se consta em sua história sinais de prejuízo à integridade física ou psicológica dessas pessoas. Segundo este mesmo autor, nos momentos em que um indivíduo hipnotizado recebe uma sugestão imprópria que não condiga com seus valores, ou o indivíduo não responde à sugestão, ou o estado em que se encontrava pela indução, acaba voluntariamente pelo cliente.

            Dentre as classes profissionais habilitadas ao uso do recurso da Hipnose nos respectivos conselhos nacionais e regionais (medicina, odontologia, psicologia, fonoaudiologia, neuropsicologia entre outras especificidades), são os psicólogos os que mais efetivamente têm atuado com o uso da Hipnose. Podemos observar que, embora as fundamentações teóricas da Psicanálise, da Gestalt-terapia, Terapia Cognitiva Comportamental e outras abordagens psicológicas tenham referenciais teóricos diferentes, no entanto, é cada vez mais frequente nos consultórios de psicologia a utilização desta técnica, que tem assegurado processos mais breves de terapia, com resultados bastante positivos e seguros para vários tratamentos.

 

            3.2 Profissionais que utilizam e os que não utilizam da hipnose

 

            Dentre as divergências entre os profissionais que utilizam e os que não utilizam a hipnose, podemos citar o questionamento de que a hipnose seria uma técnica apenas superficial sem aprofundar nos aspectos mais relevantes do sofrimento psíquico do cliente. Quanto a esta dúvida, os defensores do uso da hipnose reafirmam que sua utilização não impede que a terapia possa acontecer. Esclarecendo melhor, a hipnose só seria utilizada em determinado tempo e ocasião na terapia dependendo da necessidade e da vontade do cliente, não abdicando, porém da continuidade da terapia seguindo a abordagem da qual o profissional utiliza (analítica, gestalt-terapêutica, cognitivo-comportamental, etc.). Então, para que a técnica da hipnose pudesse ser usada no setting terapêutico, necessitaria primeiramente o esclarecimento ao cliente de suas vantagens, respeitando o desejo do cliente em aceitar ou não esta proposta tendo sua permissão verbal ou por escrita.

            Na hipnose ericksoniana (ERICKSON, 1995) o hipnotista (como é assim chamado por ele), permite que o paciente faça as suas escolhas, ou seja, qualquer pessoa pode ser induzida ao transe desde que deseje e permita as induções do terapeuta. No entanto, para isto ocorrer busca-se encontrar um meio que faça com que a pessoa responda à indução de forma tranquila para poder ser hipnotizada. Na abordagem ericksoniana o terapeuta utiliza o que a pessoa já traz como pedido de intervenção. Assim, seu uso na terapia é chamado de Abordagem da Utilização. O terapeuta na indução do transe hipnótico dá sugestões onde o cliente tem a escolha de permitir fazer ou não, sentir ou não a indução (sugestão). Erickson denominava suas técnicas de hipnose de naturalistas, pois acreditava que as pessoas têm dentro de si as aptidões necessárias para superar dificuldades, resolver problemas, entrar em transe e experenciar todos os fenômenos que este possa proporcionar.

            Buscando estabelecer as convergências entre a psicologia clinica e a hipnose, podemos verificar esta técnica como forma de tratamento coadjuvante observando os benefícios que ela produz para o cliente. Ferreira (2006) faz um levantamento minucioso das intervenções hipnóticas numa psicoterapia tendo como referencial sua prática clínica e de outros colegas profissionais. Elenca o uso desta técnica atuando como tratamento coadjuvante numa psicoterapia em casos de depressão, controle ou diminuição da ansiedade e do stress em síndrome do pânico, estresse pós-traumático, fobias e traumas psicológicos. Sendo que nestes casos de traumas o processo indicado em hipnose pode ser pela regressão para se descobrir onde o trauma se originou. É por meio de sugestões (induções) que se tenta modificar o significado desse fato e assim mudar o comportamento não inibindo simplesmente a fobia.

            A hipnose também é utilizada em casos de transtornos sexuais masculinos e femininos, casos de timidez excessiva, no tratamento de impulsos ou compulsões de condutas dependentes como o jogo patológico e outros impulsos suicidas e as alterações de comportamento alimentar (obesidade, anorexia e bulimia).

            Lembro também que em muitos casos destes citados acima, se é recomendado além da psicoterapia que utiliza a hipnose, o acompanhamento de profissionais psiquiatras na indicação de medicamentos apropriados. Outra contribuição desta técnica na psicoterapia é o aumento da auto-estima e a autoconfiança através do trabalho hipnótico. É possível, portanto na condução do relaxamento e através da linguagem, facilitar ao cliente a descoberta de novas opções na vida e a quebra de padrões de sentimentos e comportamento indesejáveis como complexos de inferioridade por exemplo.

            Segundo Ferreira (2006), muitos pacientes procuram hoje em dia a hipnose conjuntamente com a psicoterapia na crença e desejo que esta possa ajudá-los (ou a algum membro da família) nos casos de distúrbios da aprendizagem ou até mesmo para melhorar na concentração e propor alívio do nervosismo na hora de provas em concursos e vestibulares.

            Como se pode observar a utilização da hipnose como tratamento coadjuvante em psicoterapia é das mais diversas, pois vai desde a terapia infantil em casos de hiperatividade e para crianças autistas até como auxílio nos conflitos do relacionamento conjugal e familiar, nas perdas emocionais (luto, rompimentos); em casos psicopatológicos.

            Quanto às críticas ao uso da hipnose que deixaria o paciente/cliente em um estado de completa passividade, sem direito ao questionamento e de certa forma conduzido à vontade do terapeuta. Ferreira (2006) afirma neste sentido que muitos pacientes/clientes quando chegam ao consultório para uma sessão de hipnose ficam temerosos, achando que a hipnose é algo sobrenatural, fincando inclusive nas mãos e na vontade do hipnotizador. O autor ressalta que este  é um dos conceitos mais equivocados existentes em relação à hipnose. Para ele quem hipnotiza não é o hipnotizador, pois ele apenas dará dentro de seu conhecimento científico sugestões de relaxamento que produzirá (se aceita pelo paciente/cliente) uma auto-hipnose, ou seja, requer do cliente/paciente, o desejo, vontade, entrega e confiança naquele que o conduzirá  a este relaxamento. É diante a resposta do cliente/paciente que o psicólogo (hipnoterapeuta) o ajudará a ressignificar seus conflitos obtendo a ajuda que veio buscar.  Somente com a aceitação o processo de hipnose funciona, caso contrário sua resistência impedirá entrar em um estado chamado por muitos de transe o que pode resultar por parte do cliente/paciente a falsa impressão que ninguém pode hipnotizá-lo.

            Outra divergência entre os profissionais que utilizam a hipnose está no medo de que ao fazer o cliente/paciente entrar em transe ou numa regressão, o profissional possa não conseguir fazer com que ele retorne ao estado normal. É necessário esclarecer as dúvidas e conhecer bem os procedimentos da hipnose para acalmar com boa argumentação a seus pacientes/clientes. É preciso compreender que se a pessoa entrar em um transe muito profundo, uma hora vai dormir e se dorme também acorda. De uma forma geral, tudo o que se tem dito e escrito a respeito dos perigos da hipnose pertence ao reino da fantasia segundo Ferreira (2006). Os efeitos adversos sejam fisiológicos ou psicológicos, não são comuns, e na maioria das vezes, são de curta duração.

            Ainda neste sentido, embora haja autores que defendem não haver nenhuma contradição quanto ao uso da hipnose, há, no entanto, profissionais que temem utiliza – lá principalmente em casos que envolvem fazer regressão. Estes profissionais acreditam que o cliente/paciente pode entrar em um período traumatizante da infância e por algum motivo repressor não conseguir mais voltar a sua idade cronológica e mental. Ferreira (2006) ressalta que isto é apenas mais um medo criado para atingir a credibilidade desta técnica, pois nunca ficou provado que alguém ficasse fixado em uma fase de vida sem voltar a sua realidade. Testes neurorradiológicos demonstram esta impossibilidade fisiológica atentando-se para o cuidado em casos de demência que naturalmente sem a hipnose, é típico de regressão de idade ficando em alguns casos fixado na infância. Estes casos estão mais associados aos distúrbios da memória do que a um dano causado pela hipnose.

Outros casos de contraindicação do uso da hipnose por alguns profissionais estão relacionados às situações que removam sintomas como a febre e a dor de cabeça, por que servem para alertar o organismo de uma infecção ou objeto estranho a sua natureza. Faz-se necessário uma avaliação médica nestes casos. Outra condição onde o uso da hipnose não é recomendado é em estados emocionais que o paciente percebe uma agitação mental e emocional, como a esquizofrenia e transtornos bipolares, pois o efeito da hipnose pode alterar estes estados amplificando os sintomas.

 Uma atenção importante se é dado quando no atendimento de mulheres grávidas especialmente nos últimos meses de gestação. É recomendado por alguns profissionais que não se utilize a hipnose, porém verifica-se que há profissionais que a utilizam na prática do parto sem dor, recomendando o uso da hipnose desde o início da gravidez. Supõe-se que o transe induzido apenas em fase final do período possa trazer algum tipo de confusão para o bebê no útero, devido às alterações metabólicas introduzidas pelo processo.

Ainda dentre as divergências observadas, alguns profissionais alertam ao fato de que se requer certo cuidado ao lidar com pacientes cardíacos e hipertensos, pois eventuais emoções fortes vividas durante o transe podem prejudicar mais que ajudar. Por outro lado os que defendem o uso da hipnose em qualquer situação, diz que em tais casos, podem-se usar as sugestões hipnóticas para auxiliar na manutenção da pressão fazendo com que esta fique o mais próximo possível dos níveis normais, não requerendo então, receio de tratar pessoas com problemas de pressão. Há ainda aqueles profissionais que admitem que em psicoses latentes, taras e perversões, estas possam vir à tona e tornarem-se efetivas em virtude da ação hipnótica. Para Ferreira (2006) é um perigo tão remoto que a literatura específica carece de dados estatísticos a esse respeito. Ainda neste sentido, uma das críticas verificadas feitas ao uso da Hipnose é a de que ela mobiliza a erotização. No entanto, ela pode aumentar qualquer coisa que seja policiada e reprimida.

 

 

3.3 As criticas as Hipnoses de Exibição e Demonstração

 

 

A convergência principal encontrada entre a maioria dos profissionais que utilizam a hipnose como também aqueles que não a utilizam estão nas consequências que ocorrem na denominada hipnose de entretenimento. Há alguns hipnólogos que ao fazerem uso deste tipo de demonstração, esquecem que por não fazerem uma anamnese da pessoa que esta sendo exposta, pode trazer dela profundos traumas e piorar seus sofrimentos. Imaginemos por exemplo numa demonstração que sugestione o expectador a não ter mais medo de nada, ou que não sentirá mais triste, ou a ficar sorrindo por muito tempo até o hipnotizador pedir que pare. Este tipo de demonstração pública da hipnose causou entre outras coisas um medo profundo entre as pessoas e muitos profissionais por acreditarem que suas vidas poderão estar sendo expostas, além do que, com o exagero anunciado de que a hipnose tenha um controle absoluto sobre a pessoa, cria-se um medo de que o terapeuta possa em algum momento utilizar do cliente/paciente para usá-lo de forma imprópria.

Em geral devido à inexperiência clínica de seus operadores, os mecanismos psíquicos acionados no palco, não são devidamente trabalhados como quando acionados na clínica. Num tratamento psicoterapêutico há um acompanhamento histórico e social do cliente. Muitas vezes os hipnólogos de palco se deparam com questões psicopatologias crônicas, ataques, estupor, episódios espontâneos de dissociação e ressurgimento de lembranças de traumas anteriores. Devido a estas possibilidades, os profissionais competentes na prática clínica alertam pedindo para que este tipo de exibição não ocorra mais, sendo usada apenas por profissionais experientes e treinados para uma atuação clínica.

Assim, ressalta Ferreira (2006), os profissionais clínicos que utilizam a hipnose devem buscar conquistar seu espaço de confiança que fora abalado pela exposição na mídia e nos palcos, seguindo a rigor e adotando sempre uma conduta ética e de respeito aos direitos humanos junto aos clientes observando os critérios das resoluções de seus Conselhos Federais de Ética. Segundo este mesmo autor, diante os malefícios que as exposições em hipnose de exibição fizeram surgir entre as pessoas, pesquisas tem demonstrado que se é mais eficaz para os clientes não utilizar palavras como transe hipnótico, sugestão hipnótica e até mesmo hipnose. Sugere que para os clientes sentirem-se mais confortáveis, pode-se utilizar de palavras que evitem pré-contatos com os vários mitos em volta da hipnose, ou seja, poderíamos chamar a hipnose de relaxamento profundo, relaxamento saudável, etc.

No caso dos clientes perceberem o estratagema, se é então necessário desmistificar os medos que envolvem a palavra hipnose antes de começar a utilizá-la junto ao cliente. Dentre este panorama é imprescindível também que as discussões do estado hipnótico convirjam no mesmo rumo, pois quando os clientes tomam contato com as explicações do terapeuta sobre a hipnose, pode haver diferentes explicações da técnica, confundindo o cliente e colocando em risco a confiabilidade no terapeuta.

Existem várias teorias a respeito da hipnose. Neste livro falaremos um pouco sobre as correntes teóricas Estado e não-Estado.     

             

 3.4 Estado versus não-Estado

 

            A divergência entre considerar ou não a hipnose como um estado alterado da consciência se é chamada pelos teóricos de estado versus não-estado. A corrente teórica chamada Estado são aqueles que defendem que o estado hipnótico se dá através da alteração da consciência da mente. A corrente teórica do não-Estado são os profissionais de uma posição sócio-cognitiva que explicam os comportamentos em hipnose como o resultado de uma complexa matriz de influências envolvendo desde as expectativas dos participantes, às suas atitudes e crenças em relação à hipnose, bem como as suas interpretações das sugestões e de outros aspectos do contexto hipnótico. Embora haja esta divergência, novas investigações no campo da neuropsicologia têm vindo-lhes dar argumentos que podem ser utilizados por ambas as partes (MELIKIAN apud FERREIRA, 2006). Segundo ainda esta autora, vários estudos têm demonstrado que indivíduos altamente sugestionáveis têm padrões de atividade cerebral específicos durante a situação de hipnose.

            Estes resultados têm sido utilizados pelos defensores da ideia de que a hipnose é um estado alterado de consciência para defender a sua posição. Contudo, é importante notar que estes mesmos resultados demonstram que é mais útil ver a hipnose a partir de uma perspectiva

dinâmica de padrões cerebrais complexos que se sucedem e que se transformam do que tentar

procurar um local estático que caracterize o estado de transe.

            Melikian (2008) defende que chegou o momento de transcender esta discussão de estado versus não-estado e optar para uma perspectiva mais construtiva que permita integrar os aspectos válidos das teorias existentes sobre a hipnose.

            Todas estas discussões em volta das teorias e conceitos da hipnose geradoras de convergências e divergências são no intuito de pensar em como utiliza-lás como técnica coadjuvante na clínica psicológica, pois construir ciência é construir visões de mundo (Figueiredo, 1999), é realizar novas descobertas, compartilhar, cada qual com seu referencial teórico, seus métodos e discuti-los. Faz parte natural do modo de ser ciência da psicologia ter posicionamentos contra e a favor. Pensamos por exemplo, como na história da filosofia e por seguinte da psicologia, o conhecimento se dá numa construção e desconstrução de teorias. Numa relação tanto dialética (tese-antítese-síntese), como também dialógica. Entendo, portanto, que se faz necessário as diferenças de idéias, pois são as discussões que promovem um maior conhecimento sobre a temática discutida. Tudo isso creio, apenas credibiliza através de comprovações, o uso da hipnose na clinica psicológica.

 

 

 

 

 

 

 

 

4 CONSIDERAÇÕS FINAIS

 

            Dentre os estudos feitos para a elaboração deste livro chego à conclusão de que a Hipnose é basicamente um processo e um procedimento de intervenção psíquica no que visa à saúde do cliente, ou seja, ao equilíbrio das funções psíquicas e orgânicas do ser humano. Esta técnica tem um processo histórico de uma longa e complexa série de acontecimentos e desenvolvimentos, que foram utilizados e manipulados por inúmeras civilizações há milhares de anos até o momento atual. Este conhecimento já foi, ao longo do tempo, considerado de origem mística, divina ou demoníaca e em tempos modernos, científico.

            Ainda hoje, há quem não acredite na verdade deste conhecimento, assim como há quem creia cegamente. Entretanto, há inúmeros relatos, pesquisas e infindáveis casos descritos que demonstram os benefícios efetivos desse saber.

             Ao investigar a utilização desta técnica por profissionais que trabalham em abordagens psicológicas como a Gestalt-terapia, a TCC, a Psicanálise e a Neuropsicologia, verifiquei que a hipnose é de grande contribuição para aqueles que se especializaram nela como tratamento coadjuvante na clínica.  Mesmo encontrando divergências entre a teoria das abordagens em relação ao uso da hipnose, isto não impede que os profissionais adaptem em seu trabalho prático a utilização da hipnose como mais uma ferramenta a serviço do cliente.    Em relação aos estudos de neuropsicólogo, verifica-se através de testes neurorradiológicos a validação científica investida na hipnose, conferindo-a credibilidade para seu uso. Outro dado relevante é a apreciação da hipnose pelos Conselhos Nacionais de várias especificidades como a Medicina a Psicologia entre outras.

            Ao investigar a utilização da Hipnose na Psicologia Clínica, me propus através deste livro, tirar várias dúvidas e estimular a curiosidade sobre a hipnose tanto a nível teórico como prático.

Concluo diante isto que atualmente não existe um consenso sobre qual é a teoria que melhor explica a hipnose e os fenômenos a ela associados, não impedido, porém, o desenvolvimento de vasta investigação que têm vindo a fornecer confirmação empírica para o tratamento de perturbações quer no âmbito da Medicina, quer na Psicologia.

Acrescento ainda o fato de que graças às interligações que continuam a ocorrer entre a hipnose, a psicoterapia, e a investigação em psicologia científica, bem como os avanços nas técnicas de imagiologia cerebral pela neuropsicologia, podemos esperar novos desenvolvimentos de interesse no futuro próximo.

Na área da neuropsicologia os estudos imagiológicos em indivíduos hipnotizados podem também contribuir para a compreensão de como as sugestões influenciam os padrões de ativação cerebral. Finalmente, todos estes avanços poderão ajudar a construir novas e mais satisfatórias teorias sobre a hipnose.

            Com o intuito de chamar a atenção para as divergências e convergências relacionadas à temática e conhecendo os benefícios e contra indicações da técnica, acredito que a falta de informação e as crenças negativas criaram um afastamento e medo da hipnose quando se fala em utilizá-la na clínica psicológica. Posso estar equivocado, porém percebo que ao se falar de hipnose para profissionais de psicologia causam-lhes o temor de perder campo de trabalho caso não estejam preparados para o uso da técnica da hipnose. Outro medo é o fato de que a hipnose possa garantir resultados mais rápidos e práticos e ser usada por qualquer pessoa sem ter a formação apropriada em psicologia. A estes receios, acredito que o livro foi de essencial importância, devido ao fato que explica que o uso na clínica deve ser feito por profissionais qualificados como também seguir as normas estabelecidas da ética e dos conselhos federais de suas especificidades.

            Finalizo, portanto este livro na confiança de ter atingido os objetivos esperados, porém acrescento que se necessita de mais estudos e pesquisas sobre esta temática a fim de atingir credibilidade maior entre os profissionais da academia científica. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

 

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MENDES, E. C. Parapsicologia Clínica: psicotranse: terapia dos distúrbios mentais e psicossomáticos. São Paulo: Pensamento, 1980.

 

NEVES. N. A. R. A importância da avaliação neuropsicológica para a prática psicoterapêutica: estudo de caso. São Paulo: Esetec, 2003.

 

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NEUBERN, M. Hipnose e psicologia clínica. Retomando a história não contada. Brasília: Psicologia Reflexão e Crítica, 2006.

 

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PASSOS, A. C. M. Aspectos Atuais da HIPNOLOGIA. São Paulo: Linográfica, 1961.

 

_______________. Hipnose: Considerações Atuais. São Paulo: Atheneu, 1998.

 

PUENTES, F. Guia da Auto Hipnose Intensivo: Manual do usuário. Rio de Janeiro, Cena Um, 2001.

 

SHULTZ, J. H. Técnica da Hipnose: instruções práticas para médicos. Trad. de Lycurgo Gomes da Motta. São Paulo: Mestre Jou. 1966.

Anexo 1

 

RESOLUÇÃO CFP N.º 013/00

DE 20 DE DEZEMBRO DE 2000

Aprova e regulamenta o uso da Hipnose como recurso auxiliar de trabalho do Psicólogo.

 

O CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, no uso de suas atribuições legais e regimentais, que lhe são conferidas pela Lei nº 5.766, de 20 de dezembro de 1971 e;

 

CONSIDERANDO o valor histórico da utilização da Hipnose como técnica de recurso auxiliar no trabalho do psicólogo e;

 

CONSIDERANDO as possibilidades técnicas do ponto de vista terapêutico como recurso coadjuvante e;

 

CONSIDERANDO o avanço da Hipnose, a exemplo da Escola Ericksoniana no campo psicológico, de aplicação prática e de valor científico e;

 

CONSIDERANDO que a Hipnose é reconhecida na área de saúde, como um recurso técnico capaz de contribuir nas resoluções de problemas físicos e psicológicos e;

 

CONSIDERANDO ser a Hipnose reconhecida pela Comunidade Científica Internacional e Nacional como campo de formação e prática de psicólogos,

 

RESOLVE:

 

Art. 1º – O uso da Hipnose inclui-se como recurso auxiliar de trabalho do psicólogo, quando se fizer necessário, dentro dos padrões éticos, garantidos a segurança e o bem estar da pessoa atendida;

 

Art. 2º - O psicólogo poderá recorrer a Hipnose, dentro do seu campo de atuação, desde que possa comprovar capacitação adequada, de acordo com o disposto na alínea “a” do artigo 1º do Código de Ética Profissional do Psicólogo.

 

Art. 3º - É vedado ao psicólogo a utilização da Hipnose como instrumento de mera demonstração fútil ou de caráter sensacionalista ou que crie situações constrangedoras às pessoas que estão se submetendo ao processo hipnótico.

 

Art. 4° - Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.

 

Art. 5° - Revogam-se as disposições em contrário.

 

Brasília (DF), 20 de dezembro de 2000

ANA MERCÊS BAHIA BOCK

Conselheira-Presidente

 

 



[1] Estes exames aplicados por neurorradiologistas estão referidos na Dissertação de mestrado em psicologia da saúde, na Universidade Metodista de São Paulo no ano de 2000 pelo psicólogo Paulo de Mello que aborda por meio de revisão de literatura os aspectos neuropsicológicos da hipnose. Para tanto utilizou de um livro embasado em evidências científicas que reúne estudos internacionais as possibilidades de intervenção hipnótica aplicada a diversas situações desenvolvidas pelo neurorradiologista Marlus Vinícius Costa da Ferreira, editado em 2006 pela editora Atheneu. 

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Ronilson Correa

por Ronilson Correa

Especialista em Psicologia Clínica, Especialista em Intervenção Psicossocial no Âmbito Jurídico e Especialista em Saúde Mental. Psicologo clínico no CAPS II, professor de pós-graduação e parecerista (auxiliar técnico) Psicologia Forense. Vários cursos de aperfeiçoamento: psicologia clínica; psicodiagnóstico; saúde da família; psicologia forense; psicologia hospitalar; psicologia organizacional.

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