A criança precisa saber que não causou a separação dos pais

Psicoterapia Comportamental
Psicoterapia Comportamental

Psicologia

28/11/2014

A CRIANÇA PRECISA SABER QUE NÃO CAUSOU A SEPARAÇÃO DOS PAIS: PARA EVITAR UMA CULPABILIDADE PREJUDICIAL.



RESUMO
Este artigo refere-se a um trabalho desenvolvido em Psicoterapia Comportamental Infantil, com objetivo de produzir conhecimento em prol de entendimento da queixa de agressividade infantil relacionadas à separação conjugal. Pesquisas revelam que tem aumentado o número de casos trazidos para psicoterapia e, de modo geral, são trazidas pelos próprios “agentes controladores” do comportamento a ser trabalhado, ou seja, os pais.


Segundo o Behaviorismo os comportamentos são selecionados pelas consequências através dos níveis: filogenético, ontogenético e sociogenético, uma parte dos comportamentos é mantida por estímulos verbais estabelecidos pela comunidade. As atitudes agressivas e retraídas podem ser desencadeadas por diversos tipos de situações geradoras de crenças e estados emocionais, inclusive a separação dos pais.



INTRODUÇÃO
O caso trabalhado é um caso típico de filho de pais separados, trazido para psicoterapia por apresentar mudanças no comportamento após a separação. A criança de modo geral pode ficar triste, deprimida, retraída, desobediente e apresentar comportamentos: Agressivo, rebelde, pesadelo, alterações do apetite e dificuldade de concentração, tais atitudes são muitas vezes incompreendidas pelos pais que, deixam de informar seus filhos sobre o processo de separação porque acreditam que não vão entender devido a sua pouca idade. Entretanto, a criança de qualquer idade capta que uma mudança está ocorrendo e percebe o clima cheio de tensão. Começa a emitir comportamentos que sinaliza sua frustração e seu sofrimento, passando a apresentar problemas de conduta, sendo facilmente identificados pelos adultos como rebeldia.


RICO (2005):
As crianças em idade pré-escolar parecem ser as mais atingidas aos efeitos negativos da separação, porque seu desenvolvimento cognitivo ainda não lhes permite compreender o que está acontecendo. Presenciando as atitudes e os comportamentos dos pais, aprendem que os conflitos e problemas devem ser resolvidos com agressividade e intolerância.


O caso trabalhado contribuiu com a produção de conhecimento, por fornecer subsídios que favoreceu entendimento sobre a forma que os agentes usam para controlar comportamentos. A mãe buscou ajuda por temer o futuro da filha, evidenciando insegurança perante a educação a qual estava sendo aplicada, fazia contrato de contingências, dizendo que conversava tudo com a filha para que não ficasse como ela (insegura e dependente, em decorrência de sua rígida educação) ensinava o certo e o errado, educando de maneira flexível, porém, foi possível identificar nos relatos da criança a reprodução da fala da mãe, quer dizer, a mãe achava que estava educando de maneira diferente, mas na verdade apenas modificou a didática de ensino, porque o conteúdo e o modelo eram os mesmos, ou seja, aplicava à mesma educação rígida a filha.


Através da teoria do desenvolvimento, Piaget (apud Catania, 1999) ajuda-nos a entender o processo de desenvolvimento do comportamento infantil, com base na acomodação e assimilação, explica que, a criança ou, o seu comportamento é acomodado às limitações impostas por estruturas ambientais e contingências, mas argumenta que essas estruturas e contingências são a tal ponto assimilado pela criança, que passa a ser incorporadas ao seu comportamento, quer dizer que, a mãe por medo da filha vir a sofrer com apego exagerado a um pai que não poderá retribuir seu afeto em cuidados posto como “normal” (ser presente e não deixar faltar nada aos filhos) por ser um dependente químico, retrata a realidade para a filha, detalhando constantemente os porquês da ausência do pai, de tal forma, que a criança passa a pensar e agir como a mãe, gerando amor e ódio pelo pai, ora dizia que não gostava do pai porque ele não ajudava a mamãe pagar as contas, ora dizia que tinha medo da mamãe proibir o papai de vê-la. Gerando insegurança e ansiedade por não conseguir reconhecer seus sentimentos e por reproduzir as afirmativas do outro.


Wells 1981 (apud, Moura et al,1998) argumenta que a maioria das crianças que são encaminhadas para psicoterapia decorre mais de uma necessidade dos pais do que da própria criança. Segundo pesquisadores no assunto, as mães de crianças que são encaminhadas para terapias, apresentam estado emocional (baixa tolerância ao estresse e pouca habilidade para lidar com suas crianças) diferente das mães de crianças não encaminhadas, outro fator que também influenciam a percepção distorcida da mãe sobre o comportamento do filho é a depressão materna.



DESENVOLVIMENTO

Magri (2008) enfatiza que o behaviorismo não trabalha propriamente com o comportamento, mas sim com as contingências comportamentais, com o comportar-se dentro de contextos, quer dizer, “o ser humano interage com a natureza, com seus semelhantes e sofre os efeitos dessa ação”. Esta afirmativa nos ajuda a compreender e avaliar o comportamento de resistência à frustração, trazido pela criança assistida; desde seu primeiro contato, evitava falar de suas particularidades, muitas de suas falas sinalizavam a presença de encadeamento de respostas -“Uma resposta pode produzir ou alterar algumas das variáveis que controlam outras respostas” (Skinner, 2003). Emitia comportamento retraído (não gostava de conversar sobre assuntos relacionados à perda do pai) para evitar a aproximação do estímulo aversivo que sinalizava para ela perdas de sentimentos (relacionada ao pai), como não conversava sobre suas frustrações, passou a emitir respostas (ansiedade) que fomentou a hipótese de problemas de rebeldia, por estar apresentando comportamento mal-educado em uma família que preservava a educação baseada em princípios conservadores. Passou a evitar diálogo com a mãe, dando extinção a toda situação de repreensão, não sabendo discriminar a maneira correta de se comportar (formas de tratamento) na interação com o outro. Como era reforçada pela família (problemas de rebeldia) passou a sentir-se culpada por entender que não era a filha perfeita que seus pais gostariam de ter, passando a se responsabilizar pelos problemas dos pais, gerando intolerância e agressividade por não conseguir discriminar seus verdadeiros sentimentos perante a disputa dos pais em querer mostrar-lhe de quem era a culpa da separação.
Dr Ginott (1998)
Quando os pais brigam as crianças sentem-se ansiosas e culpadas, ansiosas porque o seu lar está ameaçado e, culpada devido ao seu real ou imaginário papel no atrito familiar. As crianças não permanecem neutras, elas tomam o partido do pai ou da mãe, as consequências são danosas tanto para o desenvolvimento psicossocial quanto para o caráter da criança.


A intervenção da clínica ocorre após o diagnóstico; com intuito de obter mudanças comportamentais e /ou o bem estar daquele que busca apoio psicológico (adulto ou criança). O psicólogo clínico comportamental define seu trabalho através de sua interação com o cliente e age com base no processo de análise funcional. A avaliação comportamental não esta relacionada apenas as técnicas observáveis, mas também supõe ações voltadas para as três facetas do comportamento (motor, cognitivo e afetivo). Devido ao fato do cliente necessitar de experiências que lhe permite reaprendizagem de respostas, o terapeuta ocupa a postura de professor ou é muitas vezes tomado como modelo.


Através da coleta de dados sobre a história de vida da criança e, a relação estabelecida durante o período de atendimento, foi possível ampliar a compreensão da mudança de comportamento da cliente. Mudança essa que se encontra diretamente emaranhada com a emissão de comportamentos inadequados dos pais, decorrentes de processos de identificações e/ou de expressões de seus respectivos sentimentos, dando-nos clareza para perceber que numa situação de separação a interação estabelecida por ambos é na verdade uma relação de mão dupla, que leva pais e filhos a se comportarem de maneira confusa, sob controle de variáveis de ordem biológica, social, emocional e interacional.



CONCLUSÃO


Perante constatação teórica que enfatiza a influência do ambiente como reforçador na implantação e manutenção do comportamento, fica evidente a hipótese de que a criança é o reflexo (denuncia) “de que o ambiente esta doente”, pois refletem diretamente os problemas dos pais. No exemplo em pauta, a separação dos pais da criança, parecia ser resultante de conflitos relacionados a princípios. A mãe alicerçada a uma educação rígida procurava educar seus filhos de acordo com seus princípios e, o pai de procedência parental problemática vivia em meio aos vícios (drogas, álcool e jogos).


Depois de identificado o sentimento de culpa como sendo o sinalizador do comportamento agressivo, foi aplicado técnicas que ajudaram a criança a reconhecer seus sentimentos e, trabalhá-los, passando a apresentar comportamentos mais adequados e coerentes com a sua realidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BARROS, P. e SILVA, N. F. B. Origem e manutenção do comportamento agressivo na infância e adolescência. Rev. bras.ter. cogn., jun. 200666 vol.2, no.1, p.55-66. ISSN 1808-5687.Disponível:http://pepsic.bvspsi.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-56872006000100006&lng=pt&nrm= Acesso: 14 de janeiro de 2009.


GINOTTI, Hain G. 1985. Pais e Filhos – Novas soluções para velhos problemas. Ed. Bloch Educação. Rio de Janeiro. 1985.


JAÍDE, A. R. Nalin. 1993. O uso da fantasia como instrumento na psicoterapia infantil. Universidade de Mogi das Cruzes e Universidade São Francisco.


A. D.; Yamada, N. S. ; Mello, e. l. de. Respostas agressivas de uma criança: Redirecionamento a partir de novas regras. 7ª Jornada de Análise do comportamento – UFSCar. 2008.


MOURA, C. B. de, Grossi R.. 1998. Quando os pais precisam de psicoterapia, mas encaminham seus filhos, o que fazer? Universidade Estadual de Londrina. Estudos de Psicologia.


OTERO, L. R. V.. 1993. O sentimento na Psicoterapia Comportamental Infantil: Envolvimento dos pais e da criança. Ortec. Ribeirão preto.


RICO, Ana Maria Morateli da Silva. Separação dos pais. 2005.
Disponível: http://www.pailegal.net/forum/viewtopic.php?t=6539&sid=2bf064dd961e95bf4592332ee0957f57. Acesso: 14 de janeiro de 2009. as 11h30.


RANGÉ, Bernard, Erthal, T. C. D. A Relação Terapêutica na Abordagem Comportamental. Cap. 3.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Terezinha Rodrigues

por Terezinha Rodrigues

Terezinha Rodrigues. Psicóloga Cognitiva CRP 06/97499, Especialista em Neuropsicologia, Gestora Neurocoach, Autora dos Programas Neurocoaching (Neuroplasticidade, Reestruturação Cognitiva e Mudança de Comportamento). Atuação: Assessoria Neuropsicológica e consultoria Comportamental.

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