Breve estudo sobre altas habilidades e superdotação

É um tema que ainda precisa ser muito explorado
É um tema que ainda precisa ser muito explorado

Psicologia

08/10/2014

Altas Habilidades ou Superdotação possui um conceito ainda muito discutido com algumas controversas, por ainda ser considerados uma definição em evolução e constante estudo. Segundo Almeida[1] (2003) o conceito não adota somente a superdotação quanto à inteligência abstrata ou à aprendizagem escolar, mas também ao desempenho elevado quanto ao pensamento criativo ou produtivo, capacidade intelectual geral, talento especial para artes visuais, musicais, dramáticas, capacidade motora, potencialidade na aptidão acadêmica especifica, e capacidade de liderança. Com essa multiplicidade de conceitos, torna-se ainda mais especifica e criteriosa a avaliação destes e o desenvolvimento de procedimentos pedagógicos e psicológicos para os alunos considerados superdotados.


Quando buscamos questões históricas sobre a relação da inserção na educação entre homens e mulheres, por questões políticas e éticas que foram se transformando ao longo dos anos, vemos de certo modo alguns reflexos dessa época como mostra uma pesquisa realizada 2012 na rede pública de Curitiba/ Paraná trouxe que a busca por matricula de pais de meninos (55,5 %) superdotados e maior que de meninas (44,5%), o que não representa uma grande diferença quando se pensa na incidência da mesma em relação ao gênero.


Já a OMS (Organização Mundial da Saúde) expõe índices de 3% a 5% dos brasileiros que apresentam Altas Habilidades. A AGAAHS (Associação Gaúcha de Apoio às Altas habilidades/Superdotação) traz em uma pesquisa sobre a prevalência realizada em 2001, com alunos da Região Metropolitana de Porto Alegre/RS que 7,78% da população de alunos da 7ª e 8ª série do ensino fundamental possuem indícios de Superdotado, sendo nessa pesquisa incluindo as Altas Habilidades na área acadêmica e de produtividade.


Angoff[2] traz em seus estudos que o ser humano possui capacidades em qualquer domínio, sendo essa originada geneticamente (dotação) ou por desenvolvimento. Pensando no desenvolvimento o mesmo vem por dois princípios o da educação formal ou informal, ou a maturação neurofisiológica.


Algumas teorias mais especializadas no assunto mostram que o processo neural possui características que podem analisar as mudanças neurofisiológicas por métodos elétricos ou químicos. Cujos exames de eletrocefalograma(EEG) podem apresentar essas mudanças que ocorrem macroscopicamente ou nas sinapses moleculares. Ainda não se sabe ao certo quais genes são responsáveis por esse processo. Mas é sabido que essa a capacidade neuronal deve ser associada à interação cultural e social. Pois há uma enorme capacidade de plasticidade do cérebro quando correlacionado a estímulos ambientais.


Estudos neurofiológicos mostram os lobos frontais como os responsáveis pelas funções executivas e de coordenar as informações vindas do meio externo, apontando diferenças também na intensidade sináptica. Com isso percebeu-se que o maior uso da atividade pré-frontal tem sido evidenciado em diversas pesquisas em jovens com Altas Habilidades ( Geake, 2004[3]).


A aprendizagem dos AH/SD mostram que esses sujeitos possuem um desempenho que os destacam em relação aos outros, pois esses apresentam maior rapidez em aprender, independência, facilidade, mostrando serem mais autônomos no processo de aprendizagem, ainda é notada uma motivação intrínseca que os levam a aprofundar seus conhecimentos nas áreas de interesse. A relação social não mostra na maioria dos casos dificuldade, principalmente com atividades ligadas ao lado lúdicas, e são pessoas que buscam solucionar seus conflitos de forma cordial, com acordos e conversas.

Os Superdotados são vistos como questionadores, que gostam de explorar e buscar conhecimento principalmente sobre assuntos que mais lhe agradam. Demonstram ser pessoas que buscam mais clareza durante um dialogo e que sabe respeitar o tempo do outro, sabendo expressar seus pensamentos e escutar os dos pares durante uma conversa. Possuem uma atenção e concentração, bem como memória de trabalho e na execução de tarefas mais elevada, o que ajuda no processo de potencializar suas descobertas e desenvolvimentos.


Sabe-se que nem todos os AH/SD possuem as mesmas características, pois essas podem variar quando aos estímulos expostos e processo sináptico. Porém algumas características é bem comum como:
• Curiosidade e vivacidade mental
• Comportamento criativo
• Persistência na área de seu talento
• Facilidade de compreensão e percepção da realidade
• Motivação intrínseca
• Capacidade de resolver problemas
• Rápida compreensão entre causa-efeito
• Memoria bem desenvolvida
• Possui conhecimento sobre vários assuntos
• Tem vocabulários visivelmente avançado para idade, com riqueza de expressão, elaboração e fluência.
• Energia
• Sensibilidade
• Habilidade em assumir riscos
• Pensamento original e divergente
• Organização


Ao se pensar em todas essas questões exposta até aqui nota-se a dificuldade, mas também importância do diagnóstico. Esse processo deve ser dotado de instrumento validado e técnico mais especializado. Além dos exames neurológicos que devem ser feitos como colocados ao longo desse texto, existem também outros possessos para se chegar a uma identificação. Sendo esses processos divididos em fases.


A primeira é a fase de conhecimento em que o sujeito é submetido a testes coletivos e gerais com pessoas AH/SD e as tidas como típicas. Passado essa primeira fase busca-se afunilar, separando aqueles que tiveram maior destaque, cujos esses passaram pela fase da identificação onde são aplicados testes individualmente, em que esses são instrumentos mais específicos, como escalas de desenvolvimento e inteligência, testes acadêmicos e avaliações de profissionais especializados em talentos específicos. Assim, a próxima fase é analisar individualmente as características pessoais e especificas de cada um, buscando seus interesses, áreas de maior e menos potencialidade. Dessa forma posteriormente a essas fases busca-se a implantação de currículos acadêmicos destinados a alunos com Altas Habilidades, aceleração escolar, enriquecimento do conteúdo acadêmico.
De acordo com o Artigo 5º da Resolução CNE/CEB n. 2/01 (Brasil, 2002, citado em Pérez, 2006) é necessário que seja disponibilizado aos superdotados uma organização pedagógica e psicológica de avaliação, bem como o direito a matrícula na série compatível ao seu desempenho e maturidade socioemocional. Sempre oferecendo atendimento e ensino complementar e específicos à necessidade destes.


Dessa forma como ainda os meios de diagnósticos e informações confiáveis são precárias, se faz importante à parceria de escolas principalmente da Educação Básica com instituições de ensino superior em pedagogia e psicologia, pois assim, se estará estimulando tanto os alunos como os professores dessas instituições de educação a desenvolverem e buscar conhecimento científico, de modo a auxiliar na identificação, atendimento, formação e capacitação.


Mais especificamente o papel do psicólogo com AH/SD, principalmente os da área educacional é de potencializar o processo de aprendizagem e ensino geral nas redes de escolas. Por meio de serviços como atendimento individual, familiar, grupo e nas organizações, desenvolvendo a personalidade e aquisição de conhecimento do sujeito Superdotado e de seus pares.


Nota-se a grande importância e responsabilidade do psicólogo e sua atuação, pois são rodeados por vários desafios, para que o mesmo consiga desenvolver seu papel dotando-se de múltiplas habilidades, pois o psicólogo se depara em um processo de atuação e intervenção eu necessita de continua busca de conhecimento, pois para que seja aceito pela comunidade é preciso que sua atuação seja acessível economicamente, culturalmente e ideologicamente. Devemos nos atentar a questões que influenciam direta ou indiretamente o papel do psicólogo como o investimento na educação, pois sua atuação é conjunta com o corpo diretivo e professores da escola.


Apesar da relação social dos AH/SD ser aparentemente normal, muitos são vitimas de exclusão no grupo de amigos, ou de desinteresse pela escola e aula, por não serem compreendidos em suas necessidades, o que gera angústias, em alguns casos depressão, por também serem apontados como rebeldes, inquietos, devido a um diagnóstico errôneo, ou como dito uma má compreensão de seus interesses. Com isso o papel do psicólogo no somente no ambiente escolar é também de considerar principalmente a subjetividade e reflexões desse sujeito, pois o mesmo é um ser pensante dotado de emoções e sentimentos, não podendo ser visto somente na condição cognitiva.


Dessa forma o papel do psicólogo é também de ajuda-lo a compreender e dar significado do por que suas atividades são diferentes dos demais, ou mesmo o motivo pelo qual seus interesses de conhecimento e pratica é diferente dos seus pares.


Trabalhando a experiência individual de forma reflexiva sobre como elas influenciam o seu processo de socialização e de reconhecimento e desenvolvimento de si e de sua personalidade. Pois mesmo sendo superdotado ele possui o direito de criar sua historia como homem, criando e modificando o mundo ao passo de se torna um ser inteiro, com um devir-mulher em que o sujeito juntamente do psicólogo irá trabalhar que o mesmo não é o detentor do falo, mas de um ser que participa da construção da sociedade e não somente faz parte dela, assim ele passará ser visto não mais como um detentor do poder, que o faz ser diferente ou excluído, mas que seu papel pode ser igual à de seu grupo de convívio, em uma reflexão de affectio, em que um corpo afeta e é afetado pelo outro, mesmo com suas diferenciações.

REFERÊNCIAS:

ALENCAR, E. S. Criatividade, expressão e desenvolvimento. Petrópolis: Vozes, 1994.


____. Criatividade e Educação de Superdotados. Petrópolis: Vozes, 2001.


ALMEIDA, L. S. et al. A investigação na área sobredotação em Portugal: Projectos e Resultados. Sobredotação, v. 4, n. 1, p. 7-27, 2003.


ANGOFF, W. H.The nature-nurture debate, aptitudes, and group diferences. America Psychologist, n. 41, 1998, p. 713-720.


GEAKE, J. G. Neuroimagem del cérebro superdotado. In: ALONSO, J. A,; RENZULLI, J. S.; BENITO, Y (Eds.). Manual Internacional de Superdotados. Madrid: Editorial EOS, 2004, p. 25-32.


PÉREZ, S. G. P. B. Mitos e Crenças sobre as Pessoas com Altas Habilidades: alguns aspectos que dificultam o seu atendimento. Cadernos, n. 22, p. 20-28, 2003.


SIMONETTI, D. C. Alunos com alta capacidade intelectual: Indicadores Neuropsicológicos. Revista FACEVV, n. 6, p. 31- 45, 2001.



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[1]ALMEIDA, L. S. et al. A investigação na área sobredotação em Portugal: Projectos e Resultados. Sobredtação, v. 4, n. 1, p. 7-27, 2003.

[2] ANGOFF, W. H.The nature-nurture debate, aptitudes, and group diferences. America Psychologist, n. 41, 1998, p. 713-720.

[3]GEAKE, J. G. Neuroimagem del cérebro superdotado. In: ALONSO, J. A,; RENZULLI, J. S.; BENITO, Y (Eds.). Manual Internacional de Superdotados. Madrid: Editorial EOS, 2004, p. 25-32.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Rayaneda Silva Marques

por Rayaneda Silva Marques

Formada em Psicologia, Especialista em Avaliação e Diagnóstico Psicológico e Prevenção e Tratamento de Álcool e outras Drogas. Atua na clínica e com ministração de palestras.

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