As Alterações da Imagem Corporal em Pacientes com Câncer de Cabeça e Pescoço

O suporte psicológico permite ao paciente reencontrar-se
O suporte psicológico permite ao paciente reencontrar-se

Psicologia

14/08/2014

Entre todos os tipos de câncer, o de cabeça e pescoço apresenta uma peculiaridade que difere radicalmente dos demais tipos de câncer, pois os tumores se localizam na face, afetando a região do rosto, que é de suma importância para os contatos interpessoais, sociais e para a elaboração da imagem corporal do indivíduo (REDKO, 1994).


A experiência do adoecimento por câncer de cabeça e pescoço toca em elementos fundamentais da vida do paciente no que se refere à sua imagem corporal, à sua identidade, às suas referências, à sua história.


Para Lorencetti e Simonetti (2005), o câncer já é uma doença que traz muitas alterações físicas e psicológicas para quem passa por essa experiência. As alterações físicas e emocionais apresentam-se dentro de um contexto entendido pela sociedade como sinônimo de sofrimento e morte.


O indivíduo acometido por um tumor de cabeça e pescoço, muitas vezes, perde a capacidade de falar e, com ela, perde o sentimento de pertinência à comunidade humana. Pode ainda sofrer mutilações devastadoras e consequentemente alterações da imagem corporal (TEIXEIRA, 2009).


De acordo com Pasoline (2011) o câncer de cabeça e pescoço é motivo de procedimentos cirúrgicos que prejudicam a imagem do paciente, chegando a fazê-lo perder a sua forma original e muitas vezes levando-o a mutilação, ficando irreconhecível.


O tratamento prejudica de forma intensa a relação que o paciente tem com a imagem do seu próprio corpo, com a confiança e a estima que sente por si mesmo, deixando de gostar e de confiar no seu corpo, renunciando a mostrá-lo, a utilizá-lo com liberdade e a reconhecê-lo como seu. Geralmente questiona sobre a sua existência: um corpo doente, um ser incapacitado, uma pessoa comprometida, um futuro incerto (TEIXEIRA, 2009).


O paciente é confrontado com questões novas e complexas, sendo necessária a reorganização e reestruturação da imagem corporal alterada.


O paciente diante de uma mutilação na região da cabeça e pescoço pode sofrer com uma importante baixa da autoestima, visto ser o rosto o nosso “cartão de visita”, a parte do corpo que permite que alguém seja reconhecido e identificado.


Tendo, portanto, importância fundamental tanto pessoal quanto socialmente. E, sendo uma vivência dolorosa, é grande o desconforto de procurar uma imagem e não encontrá-la como era antes.


O ser humano é um ser estético na maneira de ser, sendo que muitas vezes os conceitos de beleza adotados são produzidos segundo a moda em voga. Por isso, é fundamental considerar a influência do papel da mídia que atualmente produz e veicula os padrões de belo e saudável que são seguidos pela ampla maioria das pessoas, influenciando comportamentos, hábitos e atitudes.


A imagem corporal é extremamente importante na vida do indivíduo, pois a luta pelo aperfeiçoamento ou a manutenção de sua integridade é uma poderosa arma para a motivação pessoal. Atualmente, fala-se em boa aparência, ter um corpo perfeito, um rosto harmônico, sem imperfeições.

Segundo Penna (1989) o corpo ideal é uma abstração, um clichê aprendido e incorporado, e certas regiões do corpo podem ficar mais sujeitas a críticas por se afastarem do ideal esperado.


Uma imagem corporal alterada pode causar infinitos transtornos que serão intensificados quando esse corpo apresentar algum tipo de mutilação, como é o caso de pacientes acometidos por câncer de cabeça e pescoço. A imagem corporal envolve a percepção do indivíduo e os seus anseios. É um componente importante em todo o complexo mecanismo de identidade pessoal. As alterações da imagem corporal podem abalar a autoconfiança do indivíduo, inabilitando-o a uma vida social satisfatória.


As transformações provocadas pela doença e ou pelo tratamento prejudicam de forma intensa a relação que o paciente tem com a sua imagem corporal, com a confiança e a estima que sente por si mesmo. Em geral, os pacientes com câncer sofrem alguma alteração na imagem corporal ocasionada pelas sequelas do câncer e ou pelo próprio tratamento, gerando sentimentos de baixa autoestima, isolamento social e dificuldades nos relacionamentos sociais.


Rodin (1982) afirma que uma pessoa mutilada está feia, precisa ser reintegrada a si mesma e ao conjunto das coisas, está malfeita, tem um defeito. Nos casos de uma mutilação ocorrida em decorrência de um câncer, as inseguranças e medos despertam preconceitos introjetados, tais como: a rejeição e exclusão social que podem ser vivenciadas com um intenso sofrimento pelo indivíduo.


Por tudo isso, ao seu rosto “estranho” impõe-se elaborações psíquicas, incluindo um trabalho de luto e ressignificações. O suporte psicológico permite ao paciente reencontrar-se, reestruturar-se em relação à sua própria imagem corporal e com a sua nova realidade de vida.


A atuação da Psicologia deve se adequar à demanda que lhe é feita, traçando intervenções que possam ter efeitos positivos no enfrentamento da doença e dos tratamentos. Sua prática visa possibilitar a paciente com câncer uma melhor qualidade de vida.


Os pacientes com câncer na região da face e pescoço podem se beneficiar do acompanhamento psicológico, já que a desfiguração numa parte tão visível e importante do corpo humano é um fator de intenso sofrimento e ansiedade, sendo crucial o acolhimento e a oferta de um espaço para refletir e elaborar o evento traumático ocorrido.


Brandão et al. (2004) pontuam que acontecem alterações na imagem corporal dos indivíduos principalmente em situações de crise, como, por exemplo, doenças. Neste sentido, compreende-se que o adoecer de câncer, em especial o de cabeça e pescoço, atinge o paciente em sua integralidade, sendo, portanto, essencial à possibilidade de acompanhamento psicológico a esses pacientes.


Ainda assim, Bittencourt et al. (2009) evidenciam a falta de estudos científicos relacionados à temática da imagem corporal e câncer. Dessa forma, a escassez de trabalhos, possibilita um amplo campo de investigação para a Psicologia.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Raphael Zanchetta Alencar

por Raphael Zanchetta Alencar

Possui graduação em Psicologia pela Universidade Estácio de Sá (2009). Especialização em Saúde da Família pela Universidade Estácio de Sá (2011). Residência Multiprofissional em Oncologia pelo Instituto Nacional de Câncer (2013). Especialização em Docência no Ensino Superior pela Universidade Estácio de Sá (em andamento). Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em Psicologia Oncológica.

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