Vida e Obra de Carl Gustav Jung

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Psicologia

31/01/2014

Jung (2002) nos fala de suas memórias em Memórias, sonhos e reflexões apresentando o profissional e indivíduo Jung. Este livro é uma fantástica viagem pela rica vida desse personagem da teoria psicológica. Em Hannah (2003) encontramos Jung vida e obra, descrevendo com um olhar observador a trajetória do homem que ousou escrever sobre conteúdos psíquicos.


Carl Gustav Jung nasceu no vilarejo de Kesswill, junto ao lago de Constança, em 26 de julho de 1875. Embora Kesswill situe-se no Cantão da Turgóvia, Jung nasceu como cidadão de Basiléia porque seu pai também o era. Recebe o nome como homenagem ao avô que era professor de medicina. Filho de Johan Paul Achilles Jung (pastor) e Emilie Preiswerk (descendente de uma família tradicional de Basiléia), Jung era um menino solitário que gostava de brincar sozinho. Não gostava de ser perturbado e ficava profundamente concentrado nas brincadeiras irritando-se se alguém ficasse observando ou julgando. Dizem que ele não suportava críticas e nem pessoas que interferissem em suas atividades. De acordo com alguns amigos ele poderia ser considerado um monstro antissocial. (JUNG, 2002)


A irmã de Jung nasce quando ele já contava com nove anos e, embora mais tarde tivesse aprendido a ter grande apreço pela irmã, ela havia chegado tarde demais para que fosse possível qualquer convivência infantil entre os dois, de modo que ambos cresceram mais ou menos como se cada um fosse filho único. (HANNAH, 2003, p. 35).


Sua introversão foi percebida desde a tenra idade, o que perdurou por toda sua vida. De acordo com Hannah (2003, p. 33), Ele era um menino extraordinariamente sisudo que – mesmo antes dos quatro anos – não permitia que qualquer sentimentalismo o influenciasse, em especial no tocante a questões religiosas. Sempre tomava os fatos e os comparava uns com os outros e, a partir dessas comparações, tirava conclusões que o defrontavam, desde a mais tenra idade, com os opostos que existem no destino e na natureza. Isso lhe dava uma extraordinária imagem empírica da vida como ela é. Tal realismo era endossado pela maioria de seus colegas da escola rural, pois ninguém no mundo é mais realista ou pé-no-chão do que o fazendeiro ou o camponês da Suíça. Ele conhecia os pais de muitos de seus colegas, estando, pois, acostumado, desde bem jovem, a ouvir que “pau é pau, e pedra é pedra” Em sua casa, seus pais não tinham muitas relações. Os problemas conjugais foram uma constante. Seu pai era bastante concentrado nos afazeres religiosos e de difícil convívio e sua mãe sofria, frequentemente, de distúrbios emocionais. A convivência com a mãe era mais constante. Ele não entendia muito bem como o pai era, mas possuía vínculos fortes com a mãe por mais que não compreendesse suas mudanças de humor. Segundo ele, a mãe possui mais de uma personalidade. (JUNG, 2002).


O ingresso na escola de Basiléia fez com que Jung tivesse contato com uma realidade que mostrava o quanto seus pais eram pobres, uma vez que seus demais colegas vinham de famílias muito mais abastadas.



Ingressei no grande mundo, naquele mundo de pessoas bem mais poderosas do que meu pai: moravam em casa amplas e imponentes, tinham caleches tiradas a cavalos magníficos e falavam com distinção alemão e francês. Seus filhos, bem vestidos, refinados, traziam bastante dinheiro no bolso e eram meus colegas de classe. [...] Só nessa época compreendi que éramos pobres; meu pai, nada mais do que um pobre pastor luterano de aldeia, e eu – assistindo com os sapatos furados e as meias molhadas seis horas de aulas a fio – o filho ainda mais pobre desse pastor! (JUNG, 2002, p. 36)



Ainda com relação a escola, Jung sempre teve problema com matemática e detestava ginástica, embora ele fosse um aluno original e talentosos nas outras disciplinas.



O colégio me aborrecia. Tomava muito do tempo que eu teria preferido consagrar aos desenhos de batalhas ou a brincar com fogo. [...] A álgebra parecia tão óbvia para o professor, enquanto que para mim os próprios números nada significavam [...] A minha grande confusão era saber que as quantidades podiam ser substituídas por letras – que são sons – de forma que se podia ouvi-las. Para minha surpresa, os outros alunos compreendiam tudo isso com facilidade. (JUNG, 2002, p. 38).
A partir do momento que Jung (2002) ia crescendo suas dúvidas também aumentavam. Em algumas circunstâncias discutia com o pai sobre religião, na esperança de fazê-lo entender algo sobre o ponto de vista religioso. Estas discussões, normalmente, acabavam em brigas e ressentimentos. Na escola, alguns poucos amigos, principalmente jovens tímidos de origem modesta. As notas iam bem, porém, para ele, as competições entre os colegas o irritavam, o trabalho escolar já era bastante aborrecido e não pretendia torná-lo ainda mais penoso, transformando-o em luta e competição, dizia ele. Também de acordo com ele, a maioria dos professores o considerava tolo e desleal, quando algo errado acontecia no colégio as suspeitas recaíam sempre sobre ele. (JUNG, 2002)


Nestes anos, diminui também seu interesse por religião e outros interesses começam a aflorar, sobretudo filosofia. A filosofia coloca ele em contato com novas partes de si, suas dúvidas e inquietações começam a encontrar respostas. Todavia, sua solidão e questões que envolviam a totalidade das coisas continuavam. Dessa forma, ele busca continuamente o auxílio e companhia dos livros.



O período que compreende a entrada de Jung (2002) na universidade é repleto de dúvidas sobre o que fazer. Jung possuía interesse por tudo. Conseguia pensar, minimamente, em quatro campos que lhe chamavam a atenção. Ciência, história, filosofia e arqueologia são as principais áreas de seu interesse.


Em uma entrevista ele comenta que, na realidade, originalmente, eu queria ser um arqueólogo, assiriologia, egiptologia ou coisa assim. Depois, o meu segundo amor pertenceu à natureza, sobretudo a zoologia, e quando iniciei os meus estudos matriculei-me na chamada Faculdade de Filosofia Dois, que significava ciência naturais. Mas não levei muito tempo em perceber que a carreira que me esperava seria a de mestre-escola. Nunca pensei que tivesse qualquer possibilidade de ir mais longe do que isso, porque não tínhamos dinheiro. (McGUIRE & HULL, s/d, pg. 375).


Aos 19 anos Jung ingressa na universidade como estudante de medicina. Uma escolha difícil, considerando os vários caminhos que Jung já havia pensado. Ele tinha adquirido interesse por filosofia, arqueologia, etc. Para ele medicina tem ligação com o avô, também médico, e talvez em virtude disso não tenha pensado antes. Para ele, a medicina não aparece como opção anteriormente por ele não querer fazer o que já fizeram. Segundo ele, estava evitando imitar o avô. (HANNAH, 2003)
Aos 20 anos, em virtude do falecimento de seu pai, Jung viu-se com a responsabilidade de cuidar de sua mãe e irmã, além de continuar a custear suas despesas com a universidade. Alguns parentes de sua mãe aconselharam-no a simplesmente abandonar os estudos e arrumar um emprego. Ele sabia que essa não era a solução, que de algum modo tinha de achar um meio de continuar com seus estudos e de providenciar o sustento da mãe e da irmã. Nesta situação entram alguns outros parentes que contribuem com a ajuda financeira necessária para Jung manter a família e terminar seus estudos.



A vida na universidade corre bem. Jung consegue levar seus estudos e ainda ler filosofia. Neste período, também se interessa por um conhecimento que descrevesse condições mais misteriosas. Algumas experiências sem explicação causal ocorrem em sua vida e ele começa a ler livros de ocultismo e frequentar sessões espíritas. Seu interesse pelos fenômenos ocultos nunca diminuiu, vemos isso através do primeiro volume de suas Obras Completas. Neste volume, que também é sua tese de doutoramento, ele nos apresenta uma descrição de sua investigação sobre o comportamento de uma médium. (JUNG, 2002)



Esse trabalho teve por título Psicologia e patologia dos fenômenos ditos ocultos. Trata-se do estudo do caso de uma jovem médium espírita. Jung, em 1902, interpreta os numerosos espíritos manifestados como personificações de aspectos diferente e até opostos da própria médium e classifica-os em dois grupos: o tipo grave-religioso e o tipo alegre-libertino. ( SILVEIRA, 1997, pg. 13).



No decorrer deste anos, Jung (2002) também teve que prestar seus exames finais. Antes dos exames foi-lhe oferecido um cargo atraente em Munique, como assistente de Friedrich Von Muller, um cargo irrecusável para um jovem médico recém formado. Jung poderia ter optado pela clínica médica, apesar de sua indecisão sobre qual ramo da medicina seguir. Foi então que na última hora ele conseguiu dominar sua resistência em relação a psiquiatria e leu o manual de psiquiatria de Krafft-Ebing. A decisão, tornar-se psiquiatra, foi um choque em vários sentidos. Naquele tempo era inaceitável que alguém quisesse tornar-se psiquiatra, especialmente se, como no caso de Jung, houvesse recebido uma oferta de trabalho que representava uma porta de entrada para uma brilhante carreira. Em 10 de dezembro de 1900 Jung passa a ocupar o posto de assistente no hospital de Burghölzli, o principal hospital psiquiátrico de Zurique. Morando dentro do hospital para dedicar-se mais aos seus estudos e gastar o mínimo possível de seu salário. (JUNG, 2002)
Em certo sentido, foi a experiência de Jung (JUNG, 2002) com os chamados fenômenos ocultos e sua relação com os vários conhecimentos que havia adquirido no decorrer da vida que o levaram para a psicologia. O encontro com o manual de psiquiatria foi o que faltava para que ele começasse a montar em sua consciência o quebra cabeças que era a mente humana. No hospital, teve a oportunidade de trabalhar ao lado de Eugen Bleuler, reconhecido profissionalmente pelo seu trabalho com as psicoses e por ter desenvolvido o conceito de esquizofrenia. Jung fez o possível para se familiarizar com a profissão escolhida e com o ambiente de trabalho. Nessa época, também, aprofundou seus estudos gerais o que o fez ter contato com algumas obras de Freude e Breuer. (JUNG 2002; HANNAH, 2003).



No Burgholzli, Jung trabalhou incansavelmente como colaborador de Bleuler e como pesquisador original. Marcaram época suas experiências sobre as associações de verbais. Essas experiências, iniciadas com o intento de trazer esclarecimentos concernentes à estrutura psicológica da esquizofrenia, em breve transformavam-se, nas mãos do jovem pesquisador, num método de exploração do inconsciente. Conduziram-no à descoberta dos complexos afetivos. A conceituação de complexo, juntamente com a técnica para detectá-lo, foi a primeira contribuição de Jung para a psicologia moderna. (SILVEIRA, 1997, pg. 14).



No ano de 1903 casa-se com Emma Rauschenbach, esposa e colaborado até a morte. Emma era uma companheira devotada, solidária e muito interessada pelos problemas de psicologia. Dedicou-se durante longos anos a pesquisas sobre a legenda do Graal, morrendo, porém, antes de concluir sua obra (1955). Seu livro Interpretação psicológica da legenda do Graal, levado a termo pela Dra. Marie Louise von Franz, foi publicado em 1960. (SILVEIRA, 1997, pg. 15).



Em 1905, Jung tornou-se médico chefe do hospital de Burghölzli e, no mesmo ano, tornou-se professor de psiquiatria na universidade de Zurique. Jung referia-se aos anos que passou no hospital com anos de aprendizado, tendo em vista que a decisão de tornar-se psiquiatra foi tomada somente às vésperas dos exames finais. Ele chegou ao hospital praticamente sem conhecimento algum sobre o assunto, seus estudos de medicina havia se concentrado no corpo. Mesmo depois de ler sobre os variados assuntos que envolviam a psiquiatria ele ficava muitas vezes vagando de uma incerteza à outra, pois as suas leituras e a experiência junto aos demais psiquiatras convenceram-no de que a especialidade em si tinha ainda muito a aprender. (JUNG, 2002)
Durante o período de saída do hospital Jung (2002) já contava com sua clínica particular que lhe exigia muita atenção. Ele transitava entre a clínica e o hospital com suas pesquisas em psicologia.



Quando chegou ao hospital, Jung (2002) estava com 25 anos e ainda era solteiro. Durante o período que lá esteve, casou-se com Emma Rauschenback (em 1903), e teve duas filhas e um filho. Quando de lá saiu, Jung estava com 34 anos, estava iniciando sua clínica particular.



Carl Gustav Jung morreu a 6 de junho de 1961, aos 86 anos, em sua casa à beira do lago de Zurique, em Küshacht após longa vida produtiva que marcou – e tudo leva a crer que ainda marcará mais – a psicologia, a antropologia e a sociologia.
Jung foi médico, psiquiatra, psicanalista, professor, escritor, escreveu vários artigos sobre crítica social, artigos sobre como estavam se desenvolvendo os movimentos sociais. Construiu uma teoria que abarca uma grande número de temas que envolvem o humano e a sociedade. Mas, sobretudo, Jung foi um pesquisador e profissional interessado na psique humana. Em suas obras (muitas ainda não publicadas) visualizamos discussões que nos remetem ao lado individual e coletivo do ser, um jogo de opostos que estrutura ou desestrutura o sujeito humano. (HANNAH, 2003)



Seu conhecimento se torna importante haja vista que ele vai além do que é observado concretamente. Seus estudos sobre simbolismo e religiões, por exemplo, não se encerram apenas nos estudos psicológicos, sendo aproveitados por outras áreas do conhecimento como sociologia, antropologia, história, etc. Sua intenção de tentar conhecer o máximo possível sobre o que é humano o torna um dos grandes pensadores da história. (HANNAH, 2003; SILVEIRA, 1997)

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Colunista Portal - Saúde

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