Climatério e menopausa

A menopausa envolve vários aspectos, não unicamente biológicos, mas também psico
A menopausa envolve vários aspectos, não unicamente biológicos, mas também psico

Psicologia

11/11/2013

O climatério é uma fase biológica da vida e não um processo patológico que compreende a transição entre o período reprodutivo e o não reprodutivo da vida da mulher. A menopausa o último ciclo menstrual, geralmente presente em torno dos 48 aos 50 anos de idade (MS, 2008, p.11).

As diferentes fases na vida da mulher, tais como a primeira menstruação - chamada de menarca- a gestação ou a última menstruação, são passagens marcantes para o corpo e para o psicológico da mulher. Cada cultura apresenta um significado diferenciado para essas passagens. A discriminação de gênero pode afetar direta ou indiretamente as mulheres no climatério e na menopausa, provocando o sentimento de incompetência, de insegurança e incapacidade de desempenhar suas funções habituais ou de envolver-se em projetos futuros (MS, 2008, p. 15).

Em um estudo descritivo-exploratório de Valença e Germano (2010) para identificar o grau de conhecimento das mulheres no climatério em relação aos sinais e sintomas e medidas de autocuidado, foram selecionadas 50 participantes com idade entre os 49 e 59 anos. Após o levantamento de dados notou-se que 84% das mulheres afirmaram já ter ouvido falar sobre o climatério e 94% sobre a menopausa. No entanto, segundo os pesquisadores, a maior parte delas, ou seja, 66% tinham uma visão inconsciente e superficial acerca do climatério e da menopausa, como é demonstrado pelos autores em algumas respostas das entrevistas.

Acerca de climatério relacionado à terceira idade, destaca-se a fala de Joquebede. Não sei o que é climatério, nunca ouvi falar, mas acho que é o início da terceira idade (Joquebede). Frequentemente, o climatério é reportado como sendo o mesmo que menopausa, tal confusão persiste em algumas falas: Climatério é algo sobre a mulher e derivado da menopausa (Marta).

É a fase da menopausa que se chama climatério (Eva). Menopausa para mim é a mesma coisa de climatério (Mara). Quando questionadas acerca do que significa a menopausa, expressaram-se associando esta a uma patologia: Menopausa? Mas eu tenho menopausa, eu não menstruo mais. Eu acho que é uma doença porque quando eu menstruava não sentia nada disso que sinto hoje (Zilá). Menopausa é quando a mulher para de menstruar e aparece todo tipo de doença (Quetura). Foram abordadas ainda outras visões da menopausa como sendo o mesmo que terceira idade ou como fase ou período da vida: É o início da terceira idade, muito prejudicial em todos os sentidos (Hadassa). Menopausa é a fase que a mulher está parando o ciclo menstrual (Zilá). (VALENÇA; GERMANO, 2010, p. 164-165).

Em relação ao perfil das entrevistadas, 64% eram casadas e 14% viúvas, 36% tinham ensino fundamental completo e 30% ensino médio completo, 36% eram donas de casa, 32% trabalhavam como autônomas e 64% tinham renda maior que dois salários mínimos (VALENÇA; GERMANO, 2010, p. 164).

O fim do ciclo reprodutivo, os distúrbios hormonais na terceira idade nas mulheres, é um dos entraves para a qualidade da vida sexual. A falta de oportunidade de relações sexuais para este grupo, como doenças dos seus cônjuges, o desinteresse dos seus parceiros para o sexo, e a viuvez, também são fatores que influenciam na redução da atividade sexual na classe feminina. (BRIGUEIRO, 2000 apud FERNANDES 2009, p. 3).

Em relação ao desinteresse sexual por parte do parceiro, os autores Gradim, Sousa e Lobo (2007, p. 210) trazem no seu estudo um depoimento importante de uma idosa que relata a ausência: “Ele já é mais idoso que eu, então ele já se acomodou. E ele acomodando, eu também me acomodei. O que não é procurado é esquecido. Então, já que ele não tinha esse incentivo para o ato, eu também não incentivei (Maria, 79 anos)”.

Fernandez, Gir e Hayashida (2005, p. 129), com objetivo de identificar os aspectos positivos e negativos na atividade sexual de mulheres no climatério, realizaram um estudo descritivo com 45 mulheres nesta fase de transição, atendidas em um Serviço de Ginecologia e Obstetrícia. Do total dessas mulheres entrevistadas, segundo a pesquisa, 86 situações foram mencionadas por este grupo e posteriormente classificadas em três situações pelos pesquisadores como sendo as mais abrangentes: o relacionamento a dois, o ato sexual e a mulher como ser social. Os resultados desses dados demonstraram que deste grupo, 41 (47,7%) consideravam positivas essas situações e 45 (52,3%) negativas.

Já a menopausa envolve vários aspectos, não unicamente biológicos, mas também psicológicos e socioculturais. Segundo Serrão (2007, p 12), no seu estudo relacionado a representações sociais na menopausa, as mulheres mais velhas declaravam sentimento mais otimista quando comparado às mulheres mais jovens. Porém, os sentimentos ou atitudes negativas seriam decorrentes dos sintomas relacionados à menopausa, como por exemplo, irritabilidade e os suores noturnos.

O ciclo menstrual ainda permanece idealizado, servindo como uma referência para a identidade feminina ou sendo um sinal de saúde, de juventude, de prova de sua grandeza quanto ao “ser mulher”, ou também garantia de igualdade perante o restante da sua classe.

Quando eu entrei [...] eu senti [...] uma tristeza e senti assim uma grande perda, como uma pessoa perde assim a beleza e a juventude de momento. Mas depois eu acordei, falei que não era, pensei assim que todo mundo passa, todo mundo passa por isso [...]. Eu sou o que eu sou hoje, eu acho normal (Juliana, 72 anos). (GRADIM, SOUSA e LOBO 2007, p. 209).

Em relação a essas convicções do parágrafo anterior, Serrão (2007, p. 12) faz uma importante abordagem referente à representação para a mulher quando é chegado o fim do seu ciclo menstrual, o autor explica que além de alguns sinais de irritabilidade, impaciência, depressão, esta fase surge também como um discurso generalizado com algum tipo de preconceito, como, “Está na menopausa!” ou “Está na meia-idade!”.

A maturidade na mulher é vivenciada com pavor e medo entre as sociedades que valorizam a juventude, sobretudo pelas perdas da capacidade reprodutiva. Em algumas culturas, a mulher que chega ao climatério ou à menopausa é vista como sábia e madura, como alguém que possui a capacidade de assumir novos papéis na sociedade (FERNANDEZ; GIR; HAYASHIDA, 2005, p.135).

Alguns estudos revelam que a menopausa apresenta diversas representações quando referenciada por mulheres nesta fase, sendo o envelhecimento e a infertilidade umas das representações mais destacadas pela a classe feminina. Delanoe (1997 apud SERRÃO, 2007, p.13) faz uma importante classificação da representação social em relação à menopausa, classificando as mulheres nesta fase da seguinte forma:

(a) Negativas: as mulheres com esta representação caracterizam a menopausa como uma mudança problemática ligada à perda de feminilidade, ao final da capacidade de sedução, ao início do envelhecimento e à passagem ao papel de avó;

(b) Ambivalentes, caracterizadas por uma representação social negativa, paradoxal a uma experiência pessoal neutra;

(c) Neutras, as mulheres com esta representação são mais jovens e para elas a menopausa é pouco referida como perda de feminilidade ou como velhice e a amenorreia é sentida como alívio; e,

(d) Positivas, este tipo de representação é encontrado em mulheres mais velhas, pós-menopáusicas, que consideram que a menopausa não constitui uma ameaça à sua feminilidade e sedução (DELANOE, 1997 apud SERRÃO, 2007, p.13).

Além das diversas representações da menopausa na classe feminina, como foram apresentadas anteriormente, a disfunção sexual nesta fase também é um dos problemas vivenciados por mulheres com idade avançada. As disfunções sexuais ainda são encaradas pela maioria da sociedade como um problema mais presente na classe masculina, devido à antiga concepção que ainda permanece em relação ao homem, o qual é visto como principal agente dominante e responsável no ato sexual.

Segundo o Manual de Atenção à Mulher no Climatério/Menopausa do Ministério da Saúde (2008, p. 25), há muitos anos o modelo de sexualidade dominante, considerado normal e aceito socialmente, corresponde à sexualidade masculina. A sexualidade da mulher, principalmente no climatério, já é notada com preconceitos e tabus como refere o MS neste manual, onde o mesmo justifica os mitos sobre esse período feminino como uma ajuda para reforçar a ideia da incapacidade da mulher em manter uma atividade sexual ativa.

Em uma avaliação da atividade sexual da mulher, Abdo (2009, p. 89) enfatiza que as disfunções acometem ambos os sexos. O autor caracteriza no seu estudo que a disfunções podem ser por falta, excesso, desconforto e/dor no decorrer da resposta sexual, prejudicando assim o desejo, excitação e/ou orgasmo.

Várias alterações fisiológicas e anatômicas acontecem no aparelho feminino da mulher idosa de uma maneira geral nesta classe, porém proporcionalmente diferente em cada mulher, ou seja, mais intenso em algumas e menos intenso em outras.

Essas mudanças fisiológicas e anatômicas acontecem principalmente pela queda dos níveis de hormônios sexuais, como o estrogênio. A redução deste hormônio provoca vários desiquilíbrios no órgão sexual feminino, como, a diminuição progressiva de tamanho dos ovários, a regressão do útero para antiga fase quando em puberdade, a atrofia do endométrio e da mucosa do colo uterino, o encurtamento e a perda da elasticidade da vagina, perda da lubrificação etc. Mesmo com essas alterações fisiológicas, é possível que a mulher idosa mantenha sua atividade sexual até o final da vida (FERREIRA, et al., 2009, p. 183).

Para Gradim, Sousa e Lobo (2007, p. 205) além das lentas mudanças da idade, a mulher experimenta a redução do hormônio sexual, o estrogênio no momento da menopausa, passando por períodos de extremo desconforto.

Um dos sintomas mais incômodos relatados pelas mulheres nessa fase da vida, como refere o Ministério da Saúde (2008, p. 28), é a fragilidade da mucosa vaginal, com sensação de ardor e prurido. Esses fatores podem ser tratados com outros meios a não ser os hormonais quando indicado para o caso, como uso de lubrificantes antes da penetração.

Para a mulher em climatério ou menopausa, o estímulo sexual passa a ter uma necessidade mais prolongada e as carícias também necessitam de mais delicadeza pelo fato da fragilidade e sensibilidade da mucosa e do clitóris estar mais presente. Nesta fase da vida da mulher é importante a atuação profissional, que deve ser integrada para a atenção à saúde desse público, levando em questão uma escuta ativa, atitude positiva, com uma atenção humanizada e qualificada no atendimento e acompanhamento (MS, 2008, p. 29).

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Colunista Portal - Saúde

por Colunista Portal - Saúde

O Portal Educação possui uma equipe focada no trabalho de curadoria de conteúdo. Artigos em diversas áreas do conhecimento são produzidos e disponibilizados para profissionais, acadêmicos e interessados em adquirir conhecimento qualificado. O departamento de Conteúdo e Comunicação leva ao leitor informações de alto nível, recebidas e publicadas de colunistas externos e internos.

Portal Educação

UOL CURSOS TECNOLOGIA EDUCACIONAL LTDA, com sede na cidade de São Paulo, SP, na Alameda Barão de Limeira, 425, 7º andar - Santa Cecília CEP 01202-001 CNPJ: 17.543.049/0001-93