Estratégias em Psicologia Forense: A Entrevista

A entrevista psicológica é um conjunto de técnicas de investigação
A entrevista psicológica é um conjunto de técnicas de investigação

Psicologia

25/02/2013

A entrevista não é uma estratégia que é aplicada apenas no âmbito da Psicologia Forense, ela também faz parte do arsenal da Psicologia clínica, Psicologia Social, Neuropsicologia, Psicologia do Esporte, Psicopedagogia, Psicologia Escolar, Psicologia Organizacional, etc. Contudo, cada uma dessas áreas dará certos contornos que distinguirão a forma e o modo de administração da entrevista.

A entrevista psicológica é um conjunto de técnicas de investigação, com tempo determinado, pautado por conhecimentos psicológicos, que ocorre numa relação profissional, com o objetivo de descrever e avaliar aspectos pessoais, relacionados ou sistêmicos em um processo que busca fazer recomendações, encaminhamentos ou propor algum tipo de intervenção. (TAVARES, 2000).

No contexto da Psicologia Forense, os peritos defrontam-se constantemente com inúmeras tentativas de simulação (criar sintomas) e dissimulação (esconder sintomas) e a entrevista psicológica acaba tendo um importante papel para obter uma grande variedade de informações que vão além das verbalizações, passando pela análise das condutas e das emoções. (ROVINSKY, 2007),

Características da entrevista forense. São elas: contexto coercitivo; falta parcial ou total de sigilo; transmissão das informações a um público leigo; distorção consciente das informações; discordância e verificação; papel de investigador. (MELOY, 1991).

1. Contexto coercitivo –
não há participação voluntária total. O periciado vai ao encontro do psicólogo porque está obrigado judicialmente a fazer isso e, muitas vezes, sente-se invadido. O psicólogo pode identificar os fatores legais e clínicos da entrevista e avaliar o quanto eles interferirão na entrevista. Após, deve planejar meios de minimizar o impacto coercitivo. Exemplo: criar um ambiente neutro; solicitar para o entrevistado não ficar fisicamente contido; perguntar sobre razões de contenção antes de sua remoção; perguntar abertamente ao entrevistado o que ele pensa sobre a entrevista (esse é um bom momento para corrigir distorções, promover o vínculo e gerar motivação à entrevista).

2. Falta parcial ou total de sigilo –
este, em regra, é um ponto que acaba por trazer algum grau de desconforto ao próprio psicólogo, que, na maioria das vezes, faz sua formação acadêmica com foco na Psicologia Clínica. Assim, o perito deve saber de legislação e ética profissional para assimilar o correto exercício profissional forense e dos limites da confidencialidade.

3. Transmissão das informações a um público leigo –
as pessoas que terão contato com os dados apontados no documento do psicólogo, na sua grande maioria, não tem conhecimento sobre a linguagem utilizada em Psicologia. Assim, o perito (além de guardar todos os recursos da avaliação por, no mínimo, cinco anos) deve criar o seu laudo com uma linguagem que seja acessível, precisa e sucinta.

4. Distorção consciente das informações –
em virtude da coerção existente neste processo, os sujeitos periciados podem utilizar tanto da simulação quanto da dissimulação para se preservar do trabalho do psicólogo. O psicólogo deve estar preparado para lidar com essas manifestações. Sugestões: prolongar a entrevista para induzir fadiga; variar o ritmo e velocidade da entrevista, confrontar o entrevistado sobre as suspeitas; repetir as mesmas perguntas (com distorções) depois de algum tempo; sugerir hospitalização de 24 horas para avaliar sinais e sintomas; em fato criminal, avaliar o réu próximo ao delito; evitar perguntas diretas sobre sintomas; misturar sintomas excludentes de vários diagnósticos; induzir estresse (ex.: “não quero que fique tenso com o que vou lhe perguntar agora”). Os dados da entrevista com presença de distorções deveriam ser confirmados por testagens, observação e outras informações (registro de escolas, médicos, hospitais, prisões, processos judiciais, visitas ao entrevistado na sua casa, avaliação do sujeito na sala de espera, etc.).

5. Discordância e verificação –
Os dados gerados pelo psicólogo, em virtude do princípio constitucional federal da ampla defesa, podem ser questionados ao máximo em juízo. Por isso, o profissional deve estar pronto para apresentar o fundamento dos seus achados.

6. Papel de investigador –
o psicólogo perito deve incorporar o papel de um investigador. Ou seja, ter uma atitude imparcial, objetiva, não terapêutica, identificado com o objetivo de compreender e não de mudar a conduta do periciado.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


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