A criação do modelo: Eu, Tu e Nós

Cada criança tem um espaço próprio
Cada criança tem um espaço próprio

Psicologia

22/02/2013

Virginia Satir (1991) equaciona este aspecto afirmando que “todo o par tem três partes: tu, eu e nós; duas pessoas, três partes, cada uma delas significativa, cada uma delas com vida própria. Cada parte torna mais possível a outra. Desse modo, eu torno-te mais possível a ti, tu tornas-me mais possível a mim, eu torno mais possível a nós, tu tornas mais possível a nós e, juntos, nós tornamos mais possível um e outro”.

A criação do modelo é a representação funcional destas três partes. A relação é possível quando cada uma delas tem um espaço próprio, sem que nenhuma domine as outras. Dessa conjugação de três elementos na primeira e segunda pessoa do singular e na primeira pessoa do plural resulta o sentimento de autoestima individual e também um sentimento de pertença.

Esse sentimento permite, por exemplo, que se tomem em conjunto decisões sobre coisas que anteriormente se resolviam de maneira independente (tempos de lazer, questões econômicas, alimentação, etc.), sem que isso signifique que se abdicou daquilo que cada qual entende como mais adequado (Relvas, 2004).

Sejamos realistas: a formação do casal implica alguma perda em individualidade e um ganho em sentimento de pertença e em complementaridade, o que não significa a perda do respeito pelo outro ou pelas suas opiniões, não contrariando, portanto, o que atrás se disse (Relvas, 2004).

Minuchin (1990) é bastante claro a este propósito, explicitando que esta transição do indivíduo para o casal se faz por meio da negociação e do estabelecimento de normas, de modo mais ou menos formal, mais ou menos consciente, a fim de se definir uma estrutura base das interações conjugais que integre e articule as normas herdadas da cada família de origem, bem como as expectativas e valores de cada um dos indivíduos.

Desde a hora e o local em que se toma o pequeno almoço, passando pela organização ou confecção das refeições, até a hora de deitar e ao lado da cama em que cada um dorme tudo tem que ser negociado e definido de modo mais ou menos explícito, como já se afirmou. Há, assim, todo um conjunto de rotinas e funções diárias, que sofrem por parte do casal um ajustamento necessário a construção de uma vida em comum (Relvas, 2004).

Esses pequenos pormenores não têm um valor menor na constituição do modelo, pois são eles que expressam e concretizam o sentimento de pertença, articulando aspectos aparentemente mais importantes, como a negociação de papéis e estatutos dos elementos do casal na própria relação, a tomada de decisões, o ajustamento sexual, a divisão de trabalho, o controle e gestão das finanças familiares (Relvas, 2004)...

É fácil notar que o tempo de namoro que aparentemente é uma antecipação da relação de casados funciona, neste aspecto, muito pouco como tal. No namoro, o que o par basicamente procura é uma organização das suas vidas de modo a que possam ter o máximo de tempo livre um para o outro.

Para cada um, o outro é o “centro da existência”; para cada um, o outro é o único VIP. Isto está de tal maneira presente na relação que muitas vezes parece que se esquecem de que ambos têm família, amigos pessoais, projetos de futuro profissional, outros compromissos. No tempo que estão juntos basta-se a eles próprios, parecendo que todo o resto é secundário, senão quase inexistente (Relvas, 2004).        
                                                     
Com o casamento tudo isto se altera substancialmente: aquele tempo encarado como uma preparação para, como um tempo de aprendizagem em simulação da relação pós-casamento, revela-se afinal enganador, artificial e ilusório.

Encontramos casais que com todas as suas forças lutaram contra a oposição a sua união por parte das famílias ou do meio em geral, mas que logo a seguir “descobre” como a mãe dele interfere na vida do casal ou como o pai dela se distanciou de tudo o que lhes diz respeito, “descobrindo” ainda, com maior espanto, que não conseguem tolerar esse estado de coisas (Relvas, 2004).

No seu provérbio, a sabedoria popular alerta os terceiros para as dificuldades que isto provoca no casal, aconselhando a que “entre homem e mulher nunca metas a colher”.

Muitas vezes, esses terceiros não podem ou não querem seguir a recomendação popular, até porque, algumas situações, são direta ou indiretamente solicitadas pelos elementos do par, quando esses não conseguem gerir o mais autonomamente possível a sua relação.

E de VIP, de uma relação de quase exclusividade, passa-se a situação de VIP entre VIPs, de partilha de afetos, responsabilidades e compromissos.

“Descobre-se” que, embora de forma diferente, também o amam ou dele necessitam! E, muitas vezes, é no início do casamento, quantas vezes logo na lua de mel, que esse desencanto e essa desilusão surgem. Depois, a única resposta adequada é mesmo a “acomodação” que, como se viu, é impossível de concretizar neste sentido específico antes do casamento (Relvas, 2004).

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


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