Panorama Atual da Saúde Mental no Brasil

Ainda estamos vivendo no processo de transição
Ainda estamos vivendo no processo de transição

Psicologia

05/02/2013

A Reforma Psiquiátrica é uma proposta relativamente nova embora algumas experiências tenham se iniciado antes mesmo da aprovação da legislação em 2001.

Ainda estamos vivendo no processo de transição do paradigma. E isto faz com que tenhamos tanto serviços substitutivos ao modelo hospitalocêntrico quanto o próprio hospital psiquiátrico em funcionamento concomitantemente. O que gera um confronto de ideologias quando muitos profissionais que trabalham nos hospitais psiquiátricos também trabalham em serviços substitutivos. E ai surge o questionamento: como estes profissionais atuam no seu cotidiano? A partir do modelo hospitalocêntrico ou dos serviços substitutivos? O que estes profissionais buscam com seu trabalho? O que desejam? Esse é um ponto a refletir.

A política de saúde mental ainda está encontrando formas e métodos para transpor os problemas advindos do transtorno mental. É possível perceber com o que foi exposto anteriormente que muitos programas estão em funcionamento, ou pelo menos prontos para serem implantados, abrangendo toda a demanda de saúde mental: psicóticos, neuróticos, moradores de rua com transtornos mentais, egressos de longas internações, dependentes químicos, crianças com transtornos mentais, e também as famílias.

Creio que o caminho traçado é o melhor a ser seguido, mas a caminhada recém iniciou e é bastante longa.

Ainda temos muitas coisas que não funcionam como deveriam e a maior prova disso é o permanente funcionamento de muitos hospitais psiquiátricos no país.

E aí entramos em questões muito delicadas. Por que os novos dispositivos de saúde mental, que visam reinserir o usuário na sociedade não funcionam conforme deveriam funcionar? Posso apenas dizer, na pouca experiência que possuo, que há interesses políticos, político-partidários, econômicos e até sociais envolvidos nesta pergunta.

O interesse varia conforme a posição de quem está olhando. Por exemplo, os proprietários de hospitais psiquiátricos, creio eu, não têm interesse em que a nova política dê certo. Famílias bem sucedidas ou de alto nível social que têm um familiar com transtorno mental e que é morador de uma clínica ou de um hospital também não demonstram interesse em fechar esses locais. Porque também temos este outro lado: internações particulares; onde muda tudo: o tratamento, a acomodação, a alimentação, o atendimento. Também é mais uma questão para refletir.

Enfrentam-se também dificuldades no funcionamento da rede de atenção à saúde mental, conforme prevê a nova política. Em muitos lugares, não há sistema de referência e contra referência, por exemplo. Outro aspecto é que os serviços não mantêm contato, e às vezes um serviço não sabe como o outro funciona (horários, consultas, agenda). Isso também dificulta o andamento deste longo processo.

E com todos os entraves que existem neste percurso, outro ponto é a desestimulação dos profissionais que trabalham na área. Muitos “caem” na saúde mental “de paraquedas”, ou seja, nem ao menos sabiam que iriam trabalhar nesta área. Isso também gera uma barreira. A área da saúde mental envolve muito as pessoas que fazem parte dela, incluindo os profissionais, porque não é somente a doença. Mas é o todo: é o econômico, é o familiar, é o social, é o conjugal; envolve tudo. E muitos profissionais não querem, não gostam ou mesmo não sabem trabalhar com o todo. Assim muitos profissionais iniciam em um serviço de saúde mental e solicitam transferência porque não aguentam mais, e estão até mesmo ficando doentes.

Isso mostra que é preciso ter perfil para trabalhar nesta área, e que os trabalhadores da saúde mental necessitam de suporte (social, psicológico, de trabalho) para que se mantenham na atividade.

É o momento de trabalhar, com força e esperança, para que esta nova política de saúde mental assuma efetivamente o papel de política oficial no país, para que assim os usuários da saúde mental tenham mais oportunidades na vida, com mais autonomia, liberdade de escolha e responsabilidades enquanto cidadão.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


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