Bulimia nervosa

Os pacientes com bulimia nervosa podem jejuar por um dia ou mais
Os pacientes com bulimia nervosa podem jejuar por um dia ou mais

Psicologia

30/01/2013

As características essenciais da Bulimia Nervosa consistem de compulsões periódicas e métodos compensatórios inadequados para evitar ganho de peso. Além disso, a auto avaliação dos pacientes com Bulimia Nervosa é excessivamente influenciada pela forma e peso do corpo, tal como ocorre na Anorexia Nervosa.

Uma compulsão periódica é definida pela ingestão, num período limitado de tempo, de uma quantidade de alimentos definitivamente maior do que a maioria dos pacientes consumiria sob circunstâncias similares. Um “período limitado de tempo” refere-se a um período definido, geralmente durando menos de 2 horas (LOPES, 1997).

Embora varie o tipo de alimento consumido durante os ataques de hiperfagia (comer muito), ele tipicamente inclui doces e alimentos com alto teor calórico, tais como sorvetes ou bolos. Entretanto, as compulsões periódicas parecem caracterizar-se mais por uma anormalidade na quantidade de alimentos consumidos do que por uma avidez por determinados nutrientes, como carboidratos (CORDÁS, 1995).

Outra característica essencial da Bulimia Nervosa é o uso recorrente de comportamentos compensatórios inadequados para prevenir o aumento de peso. Muitos pacientes com Bulimia Nervosa empregam diversos métodos em suas tentativas de. compensarem a compulsão periódica. A técnica compensatória mais comum é a indução de vômito após um episódio de compulsão periódica (LOPES, 1997).

De acordo com o trabalho de Lopes (1997), esse método purgativo é empregado por 80 a 90% dos pacientes com Bulimia Nervosa que se apresentam para tratamento em clínicas de transtornos alimentares. Os efeitos imediatos do vômito incluem alívio do desconforto físico e redução do medo de ganhar peso. Em alguns casos, o vômito torna-se um objetivo em si mesmo, de modo que a pessoa come em excesso para vomitar ou vomita após ingerir uma pequena quantidade de alimento. Os pacientes com Bulimia Nervosa podem usar uma variedade de métodos para a indução de vômitos, incluindo o uso dos dedos ou instrumentos para estimular o reflexo de vômito.

Os pacientes em geral se tornam hábeis na indução de vômitos e por fim são capazes de vomitar quando querem. Outros comportamentos purgativos incluem o uso indevido de laxantes e diuréticos. Aproximadamente um terço dos pacientes com Bulimia Nervosa utiliza laxantes após um ataque de hiperfagia. Raramente, os pacientes com esse transtorno utilizam enemas (introdução de medicamentos pelo reto), após os episódios compulsivos (CORDÁS, 1995).

Os pacientes com Bulimia Nervosa podem jejuar por um dia ou mais ou exercitar-se excessivamente na tentativa de compensar o comer compulsivo. Exercícios podem ser considerados excessivos quando interferem significativamente em atividades importantes, quando ocorrem em momentos ou contextos inadequados ou quando o paciente continua se exercitando apesar de lesionado ou de outras complicações médicas.

Pouco se conhece a respeito das causas da Bulimia Nervosa. Possivelmente exista um modelo onde múltiplas causas devem interagir para o surgimento da doença, incluindo aspectos socioculturais, psicológicos, individuais e familiares, neuroquímicos e genéticos.

Influência cultural tem sido apontada, atualmente, como um forte desencadeante; o corpo magro é encarado como símbolo de beleza, poder, autocontrole e modernidade. Desta forma a propaganda dos regimes convence o público de que o corpo pode ser moldado. Assim, a busca pelo corpo perfeito tem se manifestado em três áreas: nutrição/dieta, atividade física e cirurgia plástica.

Distúrbio da interação familiar, eventos estressantes relacionados à sexualidade e formação da identidade pessoal são apontados como fatores desencadeantes ou mantenedores da Bulimia. Postula-se que alterações de diferentes neurotransmissores podem contribuir para o complexo sintomático, notadamente dos mesmos neurotransmissores envolvidos na depressão emocional.

Os pacientes com Bulimia Nervosa tipicamente estão dentro da faixa de peso normal, embora alguns possam estar com um peso levemente acima ou abaixo do normal. O transtorno ocorre, mas é incomum, entre pacientes moderada e morbidamente obesos. Há indícios de que, antes do início do Transtorno Alimentar, os pacientes com Bulimia Nervosa estão mais propensos ao excesso de peso do que seus pares.

Entre os episódios compulsivos, os pacientes com o transtorno tipicamente restringem seu consumo calórico total e selecionam preferencialmente alimentos com baixas calorias (diet) evitando alimentos que percebem como “engordantes” ou que provavelmente ativarão um ataque de hiperfagia (CORDÁS, 1995).

Em cerca de um terço dos pacientes com Bulimia Nervosa ocorre Abuso ou Dependência de Substâncias, particularmente envolvendo álcool e estimulantes. O uso de estimulantes frequentemente começa na tentativa de controlar o apetite e o peso. É provável que 30 a 50% dos pacientes com Bulimia Nervosa também tenham características de personalidade que satisfaçam os critérios para um ou mais Transtornos da Personalidade. A Bulimia Nervosa ocorre, conforme relatado para a Anorexia Nervosa, com frequência aproximadamente similar na maioria dos países industrializados, incluindo os Estados Unidos, Canadá, Europa, Austrália, Japão, Nova Zelândia e África do Sul. Poucos estudos examinaram a prevalência da Bulimia Nervosa em outras culturas.

Em estudos clínicos da Bulimia Nervosa nos Estados Unidos, os pacientes com esse transtorno eram principalmente brancos, mas o transtorno também foi relatado entre outros grupos étnicos. Em amostras clínicas e populacionais, pelo menos 90% dos pacientes com Bulimia Nervosa são mulheres, como também ocorre na Anorexia Nervosa (CEDI, 2009).

A Bulimia Nervosa começa ao final da adolescência ou início da idade adulta. A compulsão periódica frequentemente começa durante ou após um episódio de dieta. O comportamento alimentar perturbado persiste por pelo menos vários anos, em uma alta porcentagem das amostras clínicas. O curso pode ser crônico ou intermitente, com alternância de períodos de remissão e recorrência de ataques de hiperfagia.

A taxa de prevalência da Bulimia Nervosa é de 2 a 4% entre mulheres adolescentes e adultas jovens. A grande maioria dos pacientes com Bulimia Nervosa é do sexo feminino, na proporção de 9:1. O início dos sintomas vai dos últimos anos da adolescência até os 40 anos com idade média de início por volta dos 20 anos (BOCK , 2002).

Algumas profissões em particular parecem apresentar maior risco, como é o caso dos jóqueis, atletas, manequins e pessoas ligadas à moda em geral, onde o rigor com o controle do peso é maior do que na população geral. Semelhante à Anorexia Nervosa, aspectos socioculturais são importantes na medida em que a doença parece também mais comum em classes econômicas mais elevadas.

Toda essa obsessão com alimentos e calorias, embora doentia, tem importante reforço em nossa cultura. Atualmente, a sociedade é obsessivamente preocupada com tudo o que diga respeito ao peso, gordura, calorias.

A quantidade de revistas que tratam exclusivamente da “boa forma” e das dietas e alimentações pretensamente balanceadas, reforçam a preocupação doentia das pessoas com esses transtornos alimentares.

Não é raro que a Bulimia se dê concomitante com a Anorexia. Nesse caso, além da recusa alimentar, caso haja ingestão de comida (em qualquer quantidade) haverá provocação de vômito. De qualquer forma, associada ou não à Anorexia, a Bulimia é um quadro grave e de difícil tratamento. Segundo estatísticas, das pessoas que sofrem de Anorexia e Bulimia, apenas um terço consegue se recuperar e cerca de 20% morrem em função do estado agudo de desnutrição.

A magreza excessiva provoca complicações renais, hormonais e gástricas e até parada cardíaca. A bulimia ocorre quase que exclusivamente em mulheres jovens. Menos de 10% dos pacientes são homens (BOCK, 2002).

Segundo Gannon e Mitchell (1986), a melhor opção terapêutica para normalizar o comportamento alimentar dos pacientes com bulimia nervosa pode ser oferecida por equipes com psiquiatras e nutricionistas.

Para o tratamento efetivo dessa patologia, recomenda-se a presença de uma equipe multiprofissional, onde outros profissionais estejam também inseridos (psicólogos, terapeutas, educadores físicos, enfermeiros, clínicos), com caráter interdisciplinar de atenção ao paciente. Diversas abordagens psicoterápicas têm sido utilizadas no tratamento da bulimia nervosa.

A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), de acordo com a literatura, é o tratamento mais eficaz para redução de sintomas de bulimia nervosa, como modificação de atitudes disfuncionais em relação à forma, ao peso, à dieta, e dos comportamentos purgativos em curto prazo (FAIRBURN e col., 1991, APA, 1993). Um modelo de aconselhamento nutricional e técnicas cognitivo-comportamentais apresentam-se como o tratamento que parece ter melhores resultados.

Assim como na anorexia nervosa, para o tratamento da bulimia nervosa, as psicoterapias individual e familiar são indicadas (APA, 1994; CORDÁS, 1994).

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