A adolescência escrita no século XXI

A escrita é relevante na constituição como pessoa
A escrita é relevante na constituição como pessoa

Psicologia

29/11/2011

A adolescência escrita no século XXI

Objetivo

O objetivo será embasado na importância que a escrita perfaz no adolescente do século XXI. Trazendo para nossa compreensão também que, não só para o adolescente, mas, para qualquer idade da vida. Compreender a sua estrutura no sentido dinâmico do sujeito. Entender que, a escrita é relevante na constituição como pessoa e como, também, é essencial para a aprendizagem não apenas didática, mas uma aprendizagem específica, a interior.

Justificativa
Na leitura completa deste trabalho o leitor ira perceber que a composição da escrita no adolescente funda-se como um papel essencial. Trago, através dos autores, a importância de compreensão que o escrever - não apenas na fase da adolescente - fornece para o indivíduo na sua constituição como sujeito. Nessa perspectiva entra o ponto crucial de minha justificativa.

Método
O tema foi abordado por meio de uma revisão de literatura que teve como ponto de partida legado de Freud sobre a escrita, seguindo até psicanalistas atuais, revistas, sites contemporâneos que pesquisam sobre esta temática, além dos debates realizados em sala de aula em encontros semanais.

Os autores utilizados para sustentação teórica deste trabalho, tais como Freud, Ernest Becker e psicanalistas atuais como Birman, Costa, Kehl e Calligaris que irão oferecer subsídios para reflexões sobre o mundo da escrita no adolescente. Introdução
Em 1977, A OMS definiu como adolescência a etapa da vida compreendida entre os 10 e 20 anos de idade. Contudo, atualmente, a tendência é situá-la entre os 15 e os 24 anos, idade em que uma parte expressiva dos filhos ainda reside com os pais e deles dependem economicamente.

Em épocas como a em que vivemos existe uma grande pressão para adolescência do século XXI. O consumismo, a tecnologia e a desestrutura ampliada que observamos nas famílias hodiernas.

É nessa que entra a proposta do meu trabalho: estender o conhecimento e o conforto que a escrita traz para o adolescente do século XXI. É na adolescência que se começa a conhecer o mundo, a fazer amigos, a descobrir as verdades. Então, nada mais comum que ali ocorra o escrever em papéis e mais atualmente, em telas virtuais.

Desde a sua vinda na terra, é notório que a primeira necessidade vital do ser humano é de se comunicar. Além desta condição, existem outros fatores, por exemplo, o modo como este 'se expressa' funda-se no adolescente em forma subjetiva e objetiva. A junção do que é objetivo e do que é pessoal, torna-se o enlace que caracteriza, no sujeito, o que chamamos de linguagem.

A revolução eletrônica e a Internet têm possibilidade, além de novas formas de comunicação, meios de expressão e produção da subjetividade. O interesse no suporte de papel e a tela do computador principiam a especificidade do trajeto deste trabalho. A escrita, desde sempre, trouxe benefícios à comunidade, à identidade científica, ao ensino e aprendizagem.

Na adolescência, a expressão e o escrever são primordiais para o esclarecimento do patamar de onde a Psicologia quer elevar-se no entendimento da idade jovem. A porta que o adolescente do século XXI utiliza para se comunicar através da escrita, a composição e a utilização dos meios mais tecnológicos e mais incultos. O surgimento destas necessidades no indivíduo, e também, como isso pode ajudá-lo em sua formação como sujeito, torna-se, assim, o cerne espaçoso neste trabalho. Discussão
A Escrita em Freud Na psicanálise, o que a tornou sua investigação de grande relevância, foi à escrita. Nos escritos freudianos sobre a sua clínica, os casos eram expostos na forma narrativa da cena analítica, na qual o sujeito estava no centro da questão ao invés de se tratar de um simples relato de enfermidade (Birman, 2001), isso outorgou ao escrito psicanalítico, desde o seu nascimento, o suporte da escrita.

As correspondências de Freud para seu amigo Wilhelme Fliess, que o colocou como um ouvinte crítico de suas ideias. O escrever para Freud permitiu um esclarecimento de sua metapsicologia. Fliess foi um grande contribuinte para o nascer da Psicanálise. Noutro momento, em 'Notas sobre o bloco mágico', Freud (1925) propôs um enorme enlace entre o aparelho psíquico e a escrita. Nesse texto, apresentou um modelo de aparelho psíquico e relacionou-a com a memória.

Freud comparou este mecanismo do bloco mágico com sua hipótese a respeito do funcionamento do aparelho perceptivo. Freud (1908) em 'Escritores criativos e devaneios' demonstrou curiosidade a respeito de escrever e manifestou um grande fascínio pelo trabalho criativo dos escritores relacionando o brincar infantil à criação poética.

Mais adiante sugeriu que uma determinada vivência no presente do escritor poderia lhe despertar lembranças de fatos testemunhados na infância. Portanto, vemos que tudo que embasou nos estudos de Freud e, principalmente na sua Psicanálise teve como auxilio e escrita. Pelo meu conhecimento, Freud, pelo fim da noite, sempre escrevia o que tinha adquirido nos discursos neuróticos de seus pacientes durante um longo dia de trabalho. Se percebermos, uma tática usada que [sem dúvidas] teve substratos para vermos o que a Psicanálise se tornou hoje. O Escrever e o Transmitir em sua semelhança
Na Pré-História o homem buscou se comunicar através de desenhos feitos na paredes das cavernas. Através deste tipo de representação (pintura rupestre), trocavam mensagens, passavam ideias e transmitiam desejos e necessidades. Hoje não é muito diferente em seu sentido. O recurso à escrita, ao longo da história da humanidade, tem se apresentado como um suporte importante para transmissão da experiência. Nas palavras de Kehl (2001) "é no ato de testemunhar, ou de narrar, ato ou fala endereçada a outro, que o vivido se constitui como experiência". A escrita carrega restos não assimiláveis por parte daqueles que escreve.

Costa (2001) argumenta que na tentativa de transmissão de algo por meio do escrever, aquele que escreve pode produzir um ato que possui o valor de um registro, ou seja, a escrita produziria efeitos no autor para além daquilo que ele se percebe escrevendo. A escrita de diários íntimos, assim como de autobiografias pode significar a invenção de um novo sentido, como bem apontou Calligaris (1997). Pode ser a saída encontrada por alguém que se encontra em uma "encruzilhada íntima" para confessar verdades que, de outro modo, não conseguiria revelar.

O 'desconhecer-se' e o 'conhecer-se' podem acontecer tanto mediante a experiência psicanalítica quanto por meio da escrita. Como demonstra Teixeira, em seu estudo sobre escrita autobiográfica e construção da subjetividade, através de relatos autobiográficos, o sujeito estaria buscando dar conta de questões sobre sua própria existência. Deste modo, através do escrever pode-se vivenciar uma experiência de construção de si mesmo (Teixeira, 2003).

Seguindo esta ideia, identifica-se que a escrita possui resíduos não assimilados por quem escreve. Sendo assim, por meio do escrever, o sujeito busca dar conta de algo que não tem registro, isto é, faz um ato que possua o valor de um registro. Na adolescência, a escrita pode funcionar como suplência, e o adolescente buscaria através por meio dela, comunicar o que se apresenta como incomunicável (Costa, 2001).


A importância do escrever
Desde que o homem começou a organizar o pensamento por meio de registros, a escrita foi se desenvolvendo e ganhando extrema relevância nas relações sociais, na difusão de ideias e informações. O homem tem "uma paixão extrema pelo reconhecimento" e "quer ser governado por uma força irrestrita". O adolescente do século XXI unifica muito bem esta formativa. Como diz o jornalista Roberto Pompeu de Toledo, ela [escrita] até ficou ameaçada com o advindo do telefone, da televisão e do cinema, mas logo recuperou sua força.

Blonsky (1991) era também um antigo defensor da opinião de que as atividades tecnológicas das pessoas é uma chave de sua constituição psicológica. O que aconteceu com a expressão escrita é uma coisa curiosa. Ela parecia agonizante. Eis que surge a internet, e-mail, o blog, o twitter, e a escrita recupera-se do estado agônico de modo inesperado e espetacular. “Quem insiste em prescindir dela está fora do mundo”, opina o jornalista e colunista da revista Veja.

Nem é preciso que pais, ou professores venham a incentivar os alunos. O aparato tecnológico que os cerca fala por si. Podemos afirmar que 'a escrita do adolescente do século XXI' divulga-se em mais número pela tecnologia'. Isso ocorre com os adventos e criações e sites de relacionamentos, em especial, o BLOG.

Jorge Miguel Marinho, escritor, roteirista e professor universitário de Literatura Brasileira, defende que, no fundo, todos querem escrever porque a escrita resulta de uma motivação natural de fazer com que a experiência individual de cada um se torne um meio de comunicação com o mundo. Só é preciso um incentivo, um ‘empurrãozinho’, que precisa vir, sobretudo, de pais e educadores. "Acredito que crianças, jovens e mesmo adultos que vivem com pessoas que valorizam e são entusiasmadas com o mundo dos livros e da escrita têm mais oportunidade de viver a sensibilidade das palavras enquanto leitores, escritores e até criadores e isto, mais do que um hábito torna-se um componente absolutamente necessário e imprescindível para a vida", argumenta Marinho, que acaba de lançar o livro “A convite das palavras: motivações para ler, escrever e criar”.

O que contrapõe esta discussão é que, caso o jovem não tenha acesso ao âmbito familiar, escola ou na sociedade, a tecnologia toma a frente fazendo o papel de "aprovador" de seus ideários. A ênfase pertinente é que, os grupos externos tornam-se mais satisfatório e garantido para o adolescente sentir-se integrado na sociedade, utilizando-se da tecnologia.
Como assinalou Wertsch (1991), "considera-se que o adolescente cria e entra em contato com suas circunstâncias bem como consigo próprio através das ações em que se empenha [escrita]". A contestação da palavra dos pais e a saída do lar familiar rumo ao laço social, levam a necessidade de encontrar outras referências além das parentais, ou seja, fazem exigência a uma nova construção identificatória.

Neste momento, os adolescentes contemporâneos lançam mão de algumas estratégias como forma de assegurar uma marca de identificação. É neste contexto que podemos situar a escrita como uma nova língua para a circulação (Lima, 2003; Rassial, 1997).

Considerações Finais
A adolescência cria uma série de paradigmas que permitem confrontar o ontem, o hoje e o amanhã do processo através das gerações. Com todas as dificuldades que implica em observar o próprio adolescente (que não podemos negar que éramos). Sobre adolescência: passamos de um discurso, muitas vezes teóricas, a experimentar uma prática muito "sentida", gratificante em alguns momentos e caótica em outros.

É interessante ler uma frase de Clarice Lispector sobre a necessidade que tem o autor em escrever "escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador". Quando começo a escrever, inevitavelmente, percebo que campos da experiência se superpõem e dão direção ás associações e ao perfil que o texto vai adquirindo, aos poucos, em minha mente: minha própria vida, ao que quero fazer, o meu futuro e as leituras que faço.

Francamente, a importância deste trabalho é observar a era de hiperespecialização, onde perdemos a expectativa desse tipo de ótica: onde a escrita do adolescente pode estar em um mundo de emoções controladas. Emoções fornecidas por um fio condutor do consumismo.

A tecnologia proporcionou para o jovem uma configuração de se comunicar, o que antes no papel, não era diferente. Creio que o escrever sempre será um "amigo" para o adolescente. Uma passagem amistosa nas dificuldades de sua idade. E, que esta idade se atrela muito nas fantasias e abstração.

Uma coisa que pretendi expor neste trabalho é que a escrita do adolescente do século XXI pode, com sua formativa, estabelecer um espaço ativamente autoquestionador. Por mais erudito/rudimentar ou avançado/tecnológico que seja a utilização da escrita, ela serve como uma linha tênue para sua subjetividade. Para tanto, nesta perspectiva é importante buscar responder posteriormente aos seguintes questionamentos: que função, no processo de constituição do sujeito adolescente, possui a escrita lançada no espaço futuro? De que forma pode-se pensar as condições de endereçamento na inter-relação singular/ coletivo? O que representam os comentários, deixados por aqueles que leem os blogs, os quais os adolescentes tanto esperam e solicitam?

O jovem que desfruta dela pode sim constituir um espectro mais perfeito do planeta em que se vive. Nas palavras de Becker (1973) "a grande perplexidade e agitação de nossa época está na percepção do adolescente - sabe lá quais as consequências - de uma grande verdade sócia histórica: assim como há autosacrifícios inúteis em cada idade, também existe uma ignóbil atividade perversamente destruidora ou o simples degradante e tolo da aquisição de bens de consumo, esquecendo um bom argumento [escrita] privilegiado num papel, ao fechar os olhos e adquirir acúmulos de dinheiros que, agora caracteriza sistemas de vida interior, tanto capitalista como soviéticos".

Referências Bibliográficas

1. Becker, E. A Negação da Morte. Rio de Janeiro: Ed, Nova Fronteira, 1976.
2. Bernardino J. Por que é importante escrever bem. Site: Educar para crescer. São Paulo 13/05/2010 18:07. [Acesso em 03/10/2011]; 1 tela. Disponível em http://educarparacrescer.abril.com.br/comportamento/importancia-escrita-559518.shtml.
3. Birman J. A escrita em Psicanálise. In Batucci G. (Org), Psicanálise Literatura e estéticas de subjetivação, Rio de janeiro: Imago; 2001. p. 185-196.
4. Blonsky P.P. Studies in Scientific Psychology Moscou. Stade Publishing House; 1911.
5. Calligaris C. Verdades de autobiografias e diários íntimos. Recuperado em 05/05/2006, disponível em http://www.cpdoc.fgv.br/revista/arq/236.pdf.
6. Costa A. M. Corpo e escrita: relações entre memória e transmissão de experiência. Rio de janeiro. Relume Damará; 2001.
7. Freud S. Escritores criativos e devaneios. In Strachey J. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago; 1980. Vol. 9, p. 147-158.
8. Freud S. Uma nota sobre o Bloco Mágico. In Strachey J. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago; 1925. Vol. 19, p. 283-290.
9. Kehl M. R. O espetáculo como meio de subjetivação. In Bucci E, Kehl M. R, Videologias. São Paulo: Bointempo; 2004. p. 43-62.
10. Lima, M.C. Corpo em escrita: considerações acerca da linguagem alegórica como dispositivo de construção do sujeito adolescente. In I. Costa, A. Holanda, F. Martins, & M. Tafuru (Orgs.), Ética, linguagem e sofrimento, (pp. 65-73). Brasília: ABRAFIPP; 2003.
11. Quinet P. Os limites no final da Adolescência. Rev. Ciência e Vida Psique 2011 Ago. 15(3): 8-11.
12. Rassial J.J. A Passagem Adolescente: da família ao laço social. Porto Alegre: Artes e Ofício; 1997.
13. Wertsch J.V. Voices of the Mind. Cambridge. Havard University; 1985.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Nicholas Teobaldo da Silva

por Nicholas Teobaldo da Silva

Nicholas Teobaldo da Silva Brasileiro, 21 anos (11) 35922326 (Residencial) (11) 8735-4085 (Celular) Nicolas.teo@hotmail.com Formação / Escolaridade  Formação Superior (cursando 3° período). Graduação PSICOLOGIA, UNINOVE - Universidade Nove de Julho (até primeiro semestre /2015).  TERCEIRO SETOR/ RESPONSABILIDADE SOCIAL/TRABALHO VOLUNTÁRIADO, (ONG)-HORIZONTES (outubro/2007) - concluído.

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