Educação e Pedagogia

18/06/2017

FICHA DE LEITURA

Referência bibliográfica: FERREIRA, Marieta de Moraes. História, tempo presente e História oral. Topoi. Rio de Janeiro, dezembro/2012.

Breve currículo do autor: Marieta de Moraes Ferreira, possui Doutorado pela Universidade Federal Fluminense (1991) e Pós-doutorado pela École des Hautes em Scienses Sociales (1997) e Pós-doutorado pela Universidade de São Paulo (201). Professora associada (4) do Instituto de História da UFRJ. Coordenadora Nacional do Mestrado Profissional em Ensino de História (2013 até o momento); Pesquisadora e professora titular do CPDOC/FGV (1978/2012) e editora da revista Estudos Históricos (1992/1998). Atualmente é coordenadora do Programa de livros didáticos da Fundação Getúlio Vargas-RJ, membro do conselho editorial de diversas revistas nacionais e internacionais, Diretora Executiva da Editora FGV. Tem experiência na área de História com ênfase em História do Brasil República, atuando principalmente nas seguintes áreas: historiografia, História oral, História política, História do Rio de Janeiro, ensino de História, entre outros.  Dados certificados pelo autor em 10/02/2015.

Palavras chaves: História oral, memória, História Contemporânea e transformações.

Breve resumo: Neste texto História, tempo presente e História oral, a autora procura demonstrar as transformações, que marcaram o debate histórico a partir da metade do século XIX até os dias de hoje, procurando demonstrar como a História oral foi inserida e aceita por segmentos de historiadores modernos, com suas crítica a favor e contra.

 

Sua análise inicia na segunda metade do século XIX, quando a História torna-se disciplina universitária. Nesse período, em especial na França a História era uma disciplina dominada pela literatura e filosofia. As mudanças começaram a ocorrer quando houve alterações com o surgimento de historiadores profissionais, iniciando um processo para fazer uma História científica: a visão retrospectiva. Acreditava-se que só um historiador profissional poderia interpretar os fatos do passado, quando não mais existissem testemunhos vivos dos mundos estudados. Dois expoentes desse período foram: Charles Seignobos e Charles Langlois, autores de Introducion aux Études Historiques, publicado em 1898, no qual pregavam que a prática científica da História era restrita ao Ensino Superior, dedicadas aos períodos passados, e não a História contemporânea. Os historiadores das Universidades do período eram especializados em Antiguidade e Idade Média, eram avessos a História recente, desqualificando os testemunhos diretos. “Os que se interessavam pelo contemporâneo na verdade concebiam a pesquisa histórica como um meio de ação política.” (p. 316).

Depois de um período onde a concepção de História defendida pelos historiadores profissionais teve seu apogeu, começa a sofrer um processo de declínio com a fundação na primeira metade do século XX, na França da Revista dos Annales, em 1926, e da École Pratique de Hantes Études, em 1948, que dão um grande impulso na transformação do estudo de História. A Escola dos Annales defendia uma nova concepção, em que o econômico e o social ocupavam um lugar privilegiado, questionando os estudos até então. Nos Annales as estruturas são mais duráveis e determinantes do que os acidentes de conjuntura. Mas essa nova postura de fazer História não alterou contudo a postura anterior no que diz respeito ao período de interesse e as fontes, sendo que, os períodos mais estudados foram o Medieval e Moderno. O risco de cair no puro relato jornalístico foi colocado como empecilho para o estudo da História Contemporânea. O contemporâneo podia ser matéria de Ciências Sociais, mas não de História. Não foram valorizados pelos historiadores dos Annales os testemunhos diretos e as fontes orais.

Uma nova mudança ocorre na segunda metade do século XX, com transformações importantes nos diferentes campos da pesquisa. Houve uma valorização na análise qualitativa e das experiências individuais, mudando-se o interesse para as situações vividas. A História cultural ganha impulso e incorpora-se à História o estudo do contemporâneo. Inicia-se a expansão dos debates sobre a memória e suas relações com a História, o que oferece uma nova visão do passado. São inseridos neste contexto os estudos da cultura popular, a vida familiar, os hábitos locais e a religiosidade. “A valorização de uma História das representações do imaginário social e da compreensão dos usos políticos do passado pelo presente promoveu uma reavaliação das relações entre História e memória e permitiu aos historiadores repensar as relações entre passado e presente e definir para a História do tempo presente o estudo dos usos do passado.” (p. 321).

Muitas transformações ocorreram, permitindo que os estudos dos períodos recentes fossem aceitos. Com essas transformações a História oral ganha um grande impulso, afirmando-se como instrumento de construção de identidade de grupos e de transformação social.  Mas com grande resistência por boa parte dos historiadores. Na Inglaterra e EUA a História oral teve maior aceitação que em outras comunidades, em especial a França, em razão da forte presença da École des Annales. “No entanto, as transformações recentes ocorridas no campo da História em geral, e na História do século XX, em particular geraram uma nova discussão sobre o papel das fontes históricas, permitindo que a História oral ocupe um novo espaço nos debates historiográficos atuais.” (p. 323).

Muitas transformações que ocorreram no século XX, propiciaram ao historiador a cada vez mais fazer uso da História oral, pois com o advento de novas tecnologias, impulsionando e possibilitando ao historiador utilizar registros sonoros contidos em arquivos. Mas muitos desafios ainda se opõem a uma maior legitimidade da História oral no universo dos historiadores. Um grande empecilho é a utilização da memória como fonte comercial, o que banaliza tanto as comemorações e exposições em museus, pois se dá mais importância para a festa do que está sendo lembrado, criando um conflito entre História e memória. Propícia à criação do History Maker, que escrevem sobre o passado sem fazer uso das regras estabelecidas pela comunidade acadêmica, ou que recolhem depoimentos orais como verdade exclusiva. Apesar das dificuldades que a História tem de reconhecimento, a mesma, possui um enorme potencial de pesquisa e que deve ser bem aproveitado. Pode-se trabalhar os depoimentos orais, que preencham as lacunas das fontes escritas. Podendo ser utilizada tanto para a recuperação dos excluídos, como também para os estudos das elites e das políticas públicas, buscando sempre garantir o máximo de veracidade e de objetividade aos depoimentos orais produzidos. Outro Fator é o que privilegia o estudo das representações com atribuição das relações entre memória e História.

 

Conclusão:  As transformações no campo da História abrindo espaço para o contemporâneo, para o político e cultural, onde é reincorporado o papel do indivíduo no processo, tem favorecido o uso das fontes orais.

Apesar de poucos estudos metodológicos mais consistentes, à História oral utilizada como método de pesquisa, tem se revelado um instrumento importante no sentido de uma melhor compreensão de ações e representações de grupos e indivíduos.