A Invenção do Cotidiano

Educação e Pedagogia

18/06/2017

Ficha de leitura

Referência bibliográfica: CERTEAU, Michel de. A Invenção do cotidiano. 3 ed. Trad. Ephraim Ferreira Alves. Petrópolis: Vozes, 1998. Pag. 277 a 291.

 

Breve currículo do autor: Michel Jean de La Barge Certeau, foi um historiador e erudito francês que se dedicou ao estudo da psicanálise, filosofia e ciências sociais. Nasceu em 17 de maio de 1925 em Chambéry/França e faleceu em 09 de janeiro de 1986. Em 1950 ingressa na companhia de Jesus. Formou-se em Filosofia, História, Teologia e Letras Clássicas. Algumas de suas obras foram: A Invenção do Cotidiano, A escrita da história, Cultura no Plural e a Invenção do Cotidiano 2. morar e cozinhar. Informações obtidas junto à Wikipédia.

Palavras chaves: Crença – Religião – Política – Citação – Real

Breve resumo: O autor em seu texto aborda o tema sobre crença no universo da religião e política, como as transformações ocorreram em nossa sociedade, onde crença é o investimento das pessoas em uma proposição, uma afirmação e não seu conteúdo. “Durante séculos supunha-se, que fossem indefinidas as reservas de crença, bastava apenas, no imenso oceano da credulidade, criar ilhas de racionalidade, destacar e garantir as frágeis conquistas de uma crítica.” (p. 279). Observa que em séculos passados a Igreja utilizava-se desse imaginário para captar essa crença, para colocar, ou melhor, transportar aquilo que não era transportável, ou que não havia sido transportado, para a religiosidade cristã, onde superstição tornava-se convicção. “Campanhas e cruzadas consistiam em “colocar” a energia do crer num lugar bom e em objetos bons (de crer).” (p. 279).

 

A Invenção do cotidiano

Com o passar dos séculos essas crenças vão perdendo a credibilidade, pois hoje é necessário analisar sua composição, pois há a pretensão de fabricá-la artificialmente. Ocorre então uma inversão, onde o antigo seria sua autoridade, e com isso supriam a ineficácia de seu aparato técnico ou administrativo. Enquanto nos dias de hoje nossa sociedade vai perdendo credibilidade, dispondo de mais força, onde dispõe de procedimentos bastante finos e fortes, para seu controle. Observa ainda, que hoje em empresas o que mais vigora são os interesses em lugar da crença, e para recuperar essa credibilidade, as mesmas procuram fabricar simulacros. Cita como exemplo a empresa Shell, que produz o credo dos valores que inspiram a direção que os seus empregados devem adotar.

 Descreve que existem valores na religião e política, que podem injetar credibilidade. “Existem duas minas tradicionais, uma política, a outra religiosa; numa, um superdesenvolvimento de suas instâncias administrativas e de seu enquadramento compensa a mobilidade ou o refluxo das convicções nos militantes; na outra, pelo contrário, instituições que estão caindo em ruínas ou fechando-se em si mesmas deixam disseminar-se por toda a parte as crenças que elas durante longo tempo fomentaram, mantiveram e controlaram.” (p. 281). Para realimentar essa credibilidade a religiosidade é mais fácil de ser explorada, através da publicidade, que passa a ter um papel fundamental em sua recuperação nos dias atuais, procurando evitar seu naufrágio, batizando seus serviços como atuais. Quanto às organizações políticas, estas foram tomando o lugar das Igrejas, tornando-se lugares de crenças, onde o religioso deixou de ser autônomo.

Discorre que nos séculos XI e XII a Igreja impõe sua ordem dos poderes civis conflitantes, mas nos séculos seguintes essa ordem vai perdendo poder em benefício dos príncipes. Já a partir do século XVII a Igreja sofre um desgaste em seu poder eclesiástico, que passaram para o político. “A ideia de democracia correspondia à vontade de gerenciar essa multiplicação de convicções que tomaram o lugar da fé, que fundaram uma ordem. Impressionante é que quebrando o sistema antigo, isto é, a credibilidade religiosa do político, o cristianismo afinal de contas comprometeu a fiabilidade desse religioso que ele separou do político, contribuiu para a desvalorização daquilo de que apropriara e a que dera autonomia e, assim possibilitou o refluxo das crenças para autoridades políticas agora privadas (ou libertas?) dessas autoridades espirituais que eram outrora um princípio de relativização e ao mesmo tempo de legitimação.” (p. 283).  Observa ainda que no século XVIII Rosseau opõe uma “religião” do cidadão. “Desta religião espiritual do homem, a social e universal, de La Profession de foi du vicaire savoyard.” (p. 283).

Relata que existe uma relação entre a Igreja e os partidos de esquerda, pois ambos, observados suas características defendem transformações com relação ao mundo. A primeira prescreve um outro mundo, e o segundo, um futuro diferente, onde ideologia e doutrina exercem papeis importantes, que não lhes é dado pelos detentores do poder. “Esta analogia tem razões estruturais, elas não remetem diretamente a uma psicologia da militância ou a uma sociologia crítica das ideologias, mas antes de tudo à lógica de um “lugar” que produz e reproduz, como seus efeitos, as mobilizações militantes, as táticas do “fazer crer” e das instituições eclesiais em uma relação de distância, de competição e de transformação futura em relação aos poderes estabelecidos.” (p. 285). Com isso, pode-se observar traços de crenças religiosas na formação política, onde crer e saber se distribuem de outra forma, sendo que hoje o conteúdo de ambos se definem reciprocamente, quando o real se sobrepõe.

Analisa ainda, que o silêncio das coisas muda através da mídia, pois hoje a informação se faz de todo presente, onde notícias, informações, estatísticas e sondagens apresentam-se como mensageiros do real. “O real contado dita interminavelmente aquilo que se deve fazer.” (p. 287). Com a instituição do real fica mais visível a fabricação de simulacros, onde é possível produzir crentes e portanto praticantes. Nesta visão os meios de comunicação povoam o imaginário do indivíduo ensinando-o o que ele deve ser. “A nossa sociedade ser tornou uma sociedade recitada, e isto num triplo sentido: é definida ao mesmo tempo por relatos (as fábulas de nossas publicidades e de nossas informações), por citações e por sua interminável recitação.” (p. 288). O relato pode mudar o ver num crer, onde a ficção define o campo, o estatuto e os objetos da visão. Hoje a ficção pretende presentificar o real, falar em nome dos fatos. A invisibilidade do real, postulado antigo, cedeu lugar à sua visibilidade, onde sua representatividade torna-se o referente social por meio de sua visibilidade, possibilitando novos saberes e observações. “A crença não repousa mais em uma alteridade invisível, escondida por trás dos signos, mas em cima daquilo que outros grupos, outros campos, ou outras disciplinas supostamente são. O “real” é aquilo que, em cada lugar, a referência a um outro acreditar.” (p. 289). Isto ocorre também nas disciplinas científicas, como também, na política, onde cada partido recebe sua credibilidade daquilo que crê e faz crer a respeito do seu referente ou de seu adversário. Com isso, a citação torna-se a arma do fazer crer, onde citar o outro em seu favor, é portanto, dar credibilidade aos simulacros produzidos num lugar particular. A citação permite aos aparelhos tecnocráticos tornar-se fiáveis a cada um em nome dos outros. 

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Wilson Brasil Júnior

por Wilson Brasil Júnior

Bacharelando em Licenciatura/História

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