Educar é coisa de outro mundo? Ou é arte e reflexão...

E como atuar neste Espetáculo ímpar que é educar?
E como atuar neste Espetáculo ímpar que é educar?

Educação e Pedagogia

29/03/2016

1. INTRODUÇÃO

Os problemas educacionais neste país residem em fatos inúmeros e reincidentes e que se desenrolam desde o início da educação formal neste pais.


Há controvérsias em se tratando do tema: Formação docente e reflexão, o cabedal de leis e decretos que acercam o histórico do processo ensino-aprendizagem no ciclo educativo redunda em desequilíbrio ao ato artístico de educar- Abarcando uma série de sentimentos que se refletem em uma insofismática dualidade.


E como atuar neste Espetáculo ímpar que é educar? Ser engolido pelo monstro ou desvendar, ser engolido pelo monstro significa a aceitação do sistema vigente, com suas políticas mecânicas e irrefletidas...


Quem alcança seu ideal vai além dele, assim dizia o filósofo alemão Friedrich Nietzsche: o professor o pedagogo () tendo alcançado seu ideal de estar educador vai muito além, e isso em hipótese alguma deveria gerar qualquer prática irrefletidamente tecnicista.


Ainda no campo filosófico que sustenta e alimenta o ato de ensinar (ou assim o deveria) o escritor Oscar Wilde imprimi valor ilimitado às definições do mundo em sua célebre frase: Definir é limitar.


Reflete-se que os meandros educacionais ainda encontram-se repletos de atitudes fragmentárias por parte dos docentes e isso reflete no discente em seu papel social.


A consolidação do aprender a aprender gera um ciclo benéfico no processo de ensino e a visão holística quando alcançada pelos atores envolvidos neste ato: Torna a sala de aula um espaço solidário que considera a criticidade e toda a prontidão que cada educando e envolve a comunidade nessa construção organizada dos saberes.


O fenômeno educacional inclui uma educação de qualidade e para que isto ocorra todos os atores sociais envolvidos nesta trama precisam mobilizar esforços pela transformação ou porque não dizer revolução cultural e antropológica nos parâmetros educacionais.


Educar é o verbo, e educar é uma arte milenar, que vem sendo realizada desde a pré-história, o homem primitivo já trazia uma semente a florescer: Instituindo o fogo como produto de sua investigativa busca por descobertas que lhe pudessem trazer conforto, e seu campo mental adaptado cada vez mais às mudanças do meio ambiente, avança na pele de Homo sapiens – arte/educador.

2. DESENVOLVIMENTO

Através do prisma estético o educador encontra o instrumento da valorização humana integral.


A visão do mundo é engessada pelo cotidiano e a irreflexão; e a arte, com uma subversão tem o poder transformador.


Ao nos referirmos à atividade estética da educação significa buscar na arte o seu elemento educativo da sensibilidade como modo de conhecimento que acata o imprevisível, a alegria, o humor, a invenção, contrapondo o prazer à rigidez do útil e equilibrando inteligência e sentimento (ARANHA, 2006, p. 184).


A investigação a respeito dos valores estéticos e a preocupação em desenvolver no educando a percepção e a imaginação é importante até para servir de contraponto, à maneira pela qual a moral e a política lidam com as ações e paixões humanas. Não é exagero dizer que a postura estética ajuda a evitar as formas petrificadas, rígidas e intransigentes do moralismo ou do fanatismo político.


Talvez porque a arte esteja na dimensão do “sonho acordado”, da utópica expressão da esperança. Os governos autocráticos possuem um comprometimento precípuo de censura e perseguição às artes; primando pela exclusão da fruição deste bem à maioria dos cidadãos.


O que é, pois, a liberdade? Nascer é ao mesmo tempo nascer do mundo e nascer no mundo. O mundo já está constituído, mas também nunca completamente constituído. Sob a primeira relação somos solicitados, sob a segunda somos abertos a uma infinidade de possíveis, porém está análise é ainda abstrata, porque existimos sob as duas relações ao mesmo tempo. Não há nunca, pois determinismo e nunca escolha absoluta, nunca sou coisa e nunc consciência nua. (Merleau-Ponty).


Ser indolente em relação aos sistemas vigentes constitui uma sensação de acriticidade e tecnicismo. O que seria artistar em relação ao docente em seu habitat? Seria o exercer de seus saberes ao lado da atuação mais livre e repleta de inovações e criatividade na lida com o ofício de forma assaz dinâmica e ressignificada sempre.


Como ator social que é o professor, dentro do contexto educacional, ele está ora em posição de coadjuvante, ora de protagonista, na cena sociocultural; e como tal ele necessita ser multifacetado e reflexivo em sua formação contínua e permanente na práxis educativa.


Sim a identidade do novo professor, ou melhor, dizendo do professor do século XXI está atrelada aos melhores pressupostos: Da reafirmação de políticas consagradas culturalmente e que permanecem significativas; das práticas que resistem às inovações, porque repleto de saberes válidos quanto às necessidades da realidade; do confronto entre as teorias e as práticas, da análise sistemática das práticas a luz das teorias existentes da constituição de novas teorias; constrói-se pelo significado que cada professor, como ator e autor, confere a atividade docente ao seu cotidiano, com base em seus valores, seu modo de situar-se no mundo, sua história de vida, suas representações, sues saberes, suas angústias e seus anseios, no sentido que tem em sua vida ao ser professor, assim como baseados em sua rede de relações com outros professores, sindicatos, agrupamentos.


Esta “receita” repleta de sentimentos, aqueles sentimentos (astheisis) se fazem presentes nos pressupostos acima citados, e isso corrobora com a necessidade de uma educação/arte’ e uma educação/arte reflexiva: E isso traz à tona a INTUIÇÃO, o SENTIMENTO, e a IMAGINAÇÃO, que sob a luz de todos os avanços ditos tecnológicos ocupa lugar secundário na prática docente implementada pela maioria dos educadores brasileiros.

Sentimento, intuição e imaginação são ingredientes necessários para que se fermente e desenvolva o bolo mais saboroso – Com os salpicos de senso crítico e a qualificação. A metodologia ideal nesta construção de um bolo ideal, aquele que irá nutrir (qualidade) e não só alimentar (quantidade) de saberes férteis para cada célula de cada aluno predisposto a aprender a aprender.


O sentimento é uma reação cognitiva e com isso: reconhecimento de certas estruturas do mundo, Desse modo “a emoção é uma resposta, é uma maneira de lidarmos com o sentimento. A alegria expressa pelo riso, por exemplo, é o modo pelo qual lidamos com o sentimento de ameaça. O sentimento, portanto, é conhecimento porque esclarece o que motiva a emoção; esse reconhecimento é sentimento porque é irrefletido e supõe certa disponibilidade para acolher o afetivo, disponibilidade para a empatia, ou seja, sentir como se estivéssemos no lugar do outro”. Assim, a arte nos faz conhecer a realidade, o outro e a nós mesmos, porque ela sempre desencadeia uma reflexão, por analogia com a experiência estética. (ARANHA, 2006, pag.183).


Comprovadamente a experiência estética equilibra nossas faculdades intelectivas e emocionais – pois como função cognitiva ou pedagógica faz e inventa caminhos inimagináveis para o saber.


Os saberes e os fazeres estão contidos e circulantes nesse Momentum educativo, Em seu artigo 22 a LDB frisa que A educação básica tem por finalidade desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhes meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores. Em seu artigo 24, inciso II, (...) O sistema de ensino regulamenta a matéria, a escola avalia o grau de desenvolvimento e a experiência do candidato, mas este incorpora o patrimônio de conhecimento construído nos esquemas informais da escola. Esta possibilidade representa um marco importante para o resgate da pedagogia de alternância.


Eis aí a Lei de diretrizes e bases da educação com sua filosofia que apregoa meios de progressão e resgate, e esta mesma Lei que em seu artigo quinto inciso III informa (...) A pobreza crônica de milhões de famílias segundo o relatório sobre desenvolvimento humano no Brasil – 2003 (PNUD). Uma vez que o Brasil tem trinta milhões de pessoas consideradas em estado de pobreza absoluta, contribui para desresponsabilizar os pais quanto à educação dos filhos (...).


O que aflige em termos de legislação a todos os seguimentos e sujeitos envolvidos no processo educativo, em serem estes dados astronômicos de pessoas na miséria: E esta miséria gera desencanto, deseducação e crime.


Em estatísticas mais recentes verifica-se que os professores realmente necessitam de serem mais que atores neste malabarismo social que ocupar este nicho. O subdesenvolvimento é uma gravíssima questão social, é causa da mortalidade infantil e fome de multidões. Foi no mundo subdesenvolvido que nasceu na década de sessenta, a teoria da dependência.


Para artistar a infância e sua educação, torna-se necessário fazer uma docência à altura, isto é uma docência artística. Modificar a formação do intelectual da educação, constituindo-o menos como pedagogo (escravo que levava ás crianças à escola – em grego), e mais como analista da cultura, como um artista cultural, que já tem condições de pensar, e fazer algo diferente.


Docência artística, portanto, que nos convoca a trabalhar na materialidade da cultura. Educar artistando. Diferenciar arriscando-se, expulsando o conservadorismo, usufruindo o prazer de criar.


Como apostolado que é a Educação ocupa lugar de destaque no mundo, no Planeta, e no Universo, e o ser humano não é apenas razão, também é afetividade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sentimentos, intuição e imaginação são os ingredientes que devem ser utilizados por um docente que norteia sua prática educativa através de um exercício constante de cidadania através de atos políticos que transformem a educação.


Sabe-se que a emoção é uma resposta, é uma maneira de lidarmos com o sentimento. A alegria expressa pelo riso, por exemplo, é o modo pelo qual lidamos com o sentimento do cômico; o medo é uma resposta ao sentimento de ameaça. O sentimento é conhecimento, pois desvenda o que motiva a emoção, e é irrefletido, e supõe certa disponibilidade para acolher o afetivo, e utilizar a empatia, uma maneira de nos colocarmos no lugar do outro.


Assim a arte nos faz conhecer a realidade, o outro e a nós mesmos, porque ela sempre desencadeia uma reflexão, por analogia com a experiência estética.


Poucas pessoas percebem que a verdadeira educação da emoção não é o “condicionamento” efetuado pela aprovação e desaprovação sociais, mas o contato, pessoal, iluminador, com símbolos de sentimento.


Estar sujeito consciente de uma ação com prática holística, e artística, onde impere a emoção que advém do sentimento, ao lidar com os valores culturais da vida humana traz e faz reflexão no âmago de docentes e de qualquer outro ator social que se permita viver, não somente existir.


Os riscos de manipulação da agência vigente, ou seja, dos sistemas políticos contaminados pela pequenez em termos educacionais sem sombra de dúvidas são e serão aniquilados diante do senso crítico e da atitude política de qualidade por parte de docentes que detenham sua práxis rumo ao artistar instituído.


Toda violência instituída, que aqueles que já militam dentro desse intrincado sistema educacionais vivenciam. Em seu cotidiano. Advém – infelizmente, de posturas irrefletidas e porque não dizer arbitrárias por parte de professores que refletem todo o modelo político que rege os parâmetros educacionais.


Cita-se como exemplo um professor de sociologia que rasgou um trabalho/levantamento que uma aluna representante de turma colhia para projeto de biologia, aula anterior à dele, num Colégio Estadual de Petrópolis – no corrente ano. Isso demonstra que toda a formação conteudista deste “elemento social e agente educativo” é abalroada por ausência de valores estéticos.


Por difusão simples de valores mecânicos, os docentes que aterrissam no Sistema – Deixam seus juízos de valor e absorvem às práticas padronizadas, e repetitivas de forma a fragmentar os saberes; passando ao largo da organização de um trabalho pedagógico através de ação comunicativa entre si e o mundo vivido.


Infelizmente nota-se através de observações críticas que impera uma relação senhorial entre professor e aluno, diretor e professor, coordenador e professor e que do ponto de vista de relevância dos aspectos cognitivos, emocionais e morais – estes atores sucumbem em seu papel principal de difusores de saber. Ademais vale a pena fazer lembrança de que os baixos salários nesse âmbito cooperam veementemente para toda a corrupção desse sistema.


“Não basta querer para mudar o mundo. Querer é fundamental, mas não é suficiente. É preciso também saber querer, aprender, a saber, querer, o que implica aprender, a saber, lutar politicamente com táticas adequadas e coerentes com os nossos sonhos estratégicos” (Paulo Freire).





REFERÊNCIAS:


1) ARANHA, Maria Lúcia de Arruda, 3ª ed. – São Paulo, Moderna, 2006.

2) LAGO, Samuel Ramos, Curso de Sociologia e Política – Petrópolis, RJ: Vozes, 1996.

3) BRASIL, História – João VI 1808 – 1821 – Planeta do Brasil, 2008.

4) FUSTEL DE COULANGES, Numa Dennis, 1830 – 1889, A cidade Antiga – Estudo sobre o culto o direito e as instituições da Grécia e da Roma - São Paulo, Martin Claret, 2009.

5) NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm, 1844 -1900 – Além do Bem e do Mal: Prelúdio a uma filosofia do futuro, São Paulo, Companhia das Letras, 2005.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Valéria Sá Guerra de Araujo

por Valéria Sá Guerra de Araujo

Professora de História e Biologia. Escritora, poeta, atriz, com várias peças escritas e encenadas, livros publicados, Antologias poéticas e prêmios em ambas as áreas. Atualmente dirige o Grupo teatral "Os Atemporais" na cidade de Petrópolis, na Cidade de Petrópolis, onde reside. Ocupa a Cadeira 56 da Academia Nacional de Letras do Portal do Poeta Brasileiro. Cursa cinema também.

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