Docente no Ensino Superior com a didática para inclusão dos alunos surdos

Educação e Pedagogia

22/03/2016

Introdução

 O objetivo deste artigo científico é mostrar como está a inclusão dos alunos surdos no ensino superior e contribuir com metodologias aplicadas para o melhor aproveitamento dos estudos desses alunos, no ensino superior.

“O verbo incluir apresenta vários significados, todos eles com o sentido de algo ou alguém inserido entre outras coisas ou pessoas. Em nenhum momento essa definição pressupõe que o ser incluído precisa ser igual ou semelhante aos demais aos quais se agregou. Quando falamos de uma sociedade inclusiva, pensamos naquela que valoriza a diversidade humana e fortalece a aceitação das diferenças individuais. É dentro dela que aprendemos a conviver, contribuir e construir juntos um mundo de oportunidades reais (não obrigatoriamente iguais) para todos. Isso implica numa sociedade onde cada um é responsável pela qualidade de vida do outro, mesmo quando esse outro é muito diferente de nós”. (ADIRON, 2004)

Relatando um pouco sobre a história da surdez no Brasil, os primeiros educadores para surdo de que se tem conhecimento são do século XVI, segundo GOLDFELD.

No Brasil, a primeira fundação para os deficientes auditivos foi o Instituto Santa Terezinha, em 1929, na cidade de Campinas (SP). Em 1933, a Instituição foi transferida para a cidade de São Paulo funcionando como internato apenas para meninas com deficiência auditiva e, em 1970, deixou de ser internato e começou atuar como externado para meninos e meninas.

Em 1951, em São Paulo, o Prefeito Dr. Armando de Arruda Pereira instituiu a Escola Municipal Helen Keller no bairro de Santana e, em 1952, ocorreu o I Núcleo Educacional para Crianças Surdas.

Fundado em 1954, o Instituto Educacional São Paulo, que é uma instituição especializada no ensino de crianças deficientes da audição, iniciou as atividades em 1955 no bairro de Higienópolis, na cidade de São Paulo (SP). Após várias mudanças administrativas e  mudança de região, em 1969, a Instituição foi doada à Fundação São Paulo, entidade mantenedora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUCSP. Com as mudanças internas, passou a ser administrado pelo Centro de Educação e Reabilitação dos Distúrbios da Comunicação – CERDIC, hoje denominado DERDIC – Divisão de Educação e Reabilitação dos Distúrbios da Comunicação, órgão suplementar da PUCSP.

Para estimular a inclusão dos alunos deficientes auditivos e surdos em universidades, foi criada a Lei n° 10.172/2001, que diz que em até cinco anos deve-se ter classes com amplificações sonoras e equipamentos que facilitem a aprendizagem, classes especiais e salas com recursos.

Para haver uma melhor inclusão dos alunos surdos na sociedade, ensino superior, foi firmado  em 2005 o decreto de N° 5626, que  regulamenta a lei N° 10436 e, também, o artigo 18 da lei N° 10098 que informa a inclusão da LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) como disciplina obrigatória para cursos de formação de professores.

O artigo em questão trata a integração professor universitário e aluno surdo. Quando tratamos do magistério superior, para Masetto (2001), “é importante que o professor desenvolva uma atitude de parceria e corresponsabilidade com os alunos, que planejem o curso juntos, usando técnicas em sala de aula que facilitem a participação e considerando os alunos como adultos que podem se corresponsabilizar por seu período de formação profissional”.

Como afirma Goldfeld (2002), para existir a inclusão do aluno surdo é necessário que o professor tenha um breve conhecimento de como é o desenvolvimento cognitivo desse aluno e também conheça um pouco da história das pessoas surdas.

Como aponta em DeafTec é necessário sempre ter material visual para o aluno surdo, mas na programação para computadores por exemplo não é possível sempre ter algo visual, como fazer o aluno capitar e compreender realmente esse conteúdo? 

Como tanto no DeafTec, Saint Joseph’s University dizem que é necessário o professor preparar e ter um material visual preparado para a aula entregar antes para o interprete do aluno, assim facilitando a compreensão do aluno do conteúdo.

Metodologia

No mês de agosto de 2015 foi realizada, em algumas instituições privadas do ensino superior da cidade de São Paulo, uma pesquisa com 30 docentes de vários cursos e 11 discentes surdos que estão cursando o ensino superior ou que já terminaram o curso superior, também de vários cursos.

Metodologia é uma palavra derivada de “método”, do Latim “methodus” cujo significado é “caminho ou a via para a realização de algo”. Método é o processo para se atingir um determinado fim ou para se chegar ao conhecimento. Metodologia é o campo em que se estuda os melhores métodos praticados em determinada área para a produção do conhecimento. (??,  Significado)

Desses 30 docentes, 11 já tiveram ou têm alunos surdos. Grande parte dos docentes que trabalhou com alunos surdos são de cursos da área de humanas, tecnologia e exatas. A maioria dos professores demonstra preocupação em como os alunos surdos compreendem o conteúdo ministrado; porém, apenas 06 deles demonstraram interesse em conhecer a LIBRAS, língua oficial dos surdos. Em contrapartida, quase todos procuram conhecer um pouco mais sobre como é o pensamento e como o surdo estrutura uma frase. Apenas 01 docente diz que toda a responsabilidade do aprendizado é do aluno e que o docente não deve mudar ou atualizar a sua didática para a inclusão.

Os docentes que nunca tiveram contato com alunos surdos em sala de aula, 10 professores, pretendem conhecer a LIBRAS. Mesmo os docentes que nunca tiveram contato com alunos surdos dizem que é necessária a mudança e a preocupação do entendimento dos conteúdos da matéria para os alunos surdos.

Dos 11 discentes que responderam ao questionário, 08 dizem que os professores não se preocupam em entender como é a deficiência e desses 08, 05 dizem que os professores não procuram saber como é o raciocínio e a escrita de um aluno surdo. A maioria diz que a didática aplicada pelos professores é suficiente para a compreensão da matéria, porém responderam que os professores não tentam conhecer a LIBRAS. E, pelos discentes, o que necessita para ter o melhor aproveitamento das aulas é o interesse do docente em conhecer um pouco mais sobre os alunos surdos e o interesse dos professores em tentar se comunicar diretamente com eles pela LIBRAS. Referem que falta também o suporte maior das instituições  disponibilizando intérpretes de LIBRAS em sala de aula.

Como aponta a pesquisa realizada, a maioria dos docentes concorda que para haver uma real inclusão dos alunos surdos em uma sala onde existem vários alunos com deficiência ou não é necessário mudar a didática, assim, favorecendo, a compreensão do conteúdo ministrado.

A pesquisa mostrou que a fundamentação quanto às questões que envolvem alunos surdos e professores universitários, foi a não metodologia adequada ou a não adequação do processo pedagógico havendo uma exclusão ao invés de uma inclusão dentro da sala de aula.

Para o problema supracitado foi levantada as seguintes hipóteses:

Professores despreparados para receber alunos surdos e a resistência dos docentes de aprenderem como trabalhar com os alunos surdos.

Para realização desta pesquisa foi utilizado um estudo in loco em instituições privadas na cidade de São Paulo com questionários aplicados para docentes e discentes de diversos cursos com o objetivo de verificar metodologias utilizadas para inclusão desses alunos surdos.

Considerações finais

A partir desta pesquisa, pude perceber que ainda existem docentes resistentes a mudanças e firmes em seu propósito de ensino tradicional. Um ensino que faz com que o aluno surdo seja responsável pela total compreensão da matéria e o docente se isenta dessa responsabilidade. A resposta de um professor ao questionário justifica minha percepção “Como eu posso me responsabilizar por uma sala de 100 alunos?”.

Existem também os docentes que têm o cuidado para que o discente realmente compreenda o que foi passado em sala de aula e se emprenham para que os alunos surdos saiam da sua aula compreendendo o conceito principal passado naquele dia, mas também cobram que o aluno se esforce e procure, pesquise sobre o assunto, pois somente assim o aluno terá a compreensão maior do conteúdo.

Mesmo com toda a dificuldade que o aluno surdo tem, o docente pode fazer da sua aula um espetáculo com artifícios e práticas pedagógicas inovadoras como também pode fazer com que sua aula seja monótona e sem sentido para o aluno surdo. 

O aluno surdo, diferente de um aluno que não tem essa deficiência, tem o aprendizado  100% visual e prático. Diante dessa constatação, me questiono “como fazer um aluno surdo compreender algo que é realmente 100% abstrato e que não é possível transformar para o mundo visual?”.

A pesquisa em questão pretende contribuir para que professores universitários tenham um olhar maior para os alunos surdos no intuito de haver realmente uma inclusão e não apenas  ficar na “imaginação” de todos que está havendo inclusão. Não digo para ter uma aula especial para o aluno surdo em uma sala onde há outros alunos com outras deficiências ou não, mas sim de haver realmente uma melhor metodologia para que haja a possibilidade de o aluno surdo compreender o conteúdo passado e, a partir daí, começar a caminhar e estudar por conta própria. É necessário que a responsabilidade no ensino-aprendizagem seja mútua e não responsabilidade unilateral.

Muitos dizem sobre a inclusão, mas poucos agem realmente para que aconteça essa inclusão de alunos surdos em uma sala de aula de ensino superior onde há diversidade de alunos.

Referências bibliográficas

Livros:

BIANCHETTI, Lucídio e FREIRE, Ida Mara (Org.). Um olhar sobre a diferença: Interação, trabalho e cidadania. Campinas. Editora Papirus, 2012.

FIGUEIRA, Emílio. O que é Educação Inclusiva. São Paulo. Editora Brasiliense, 2011.

FONSECA, Vera Regina J. R. M. (Org.). Surdez e Deficiência Auditiva: a trajetória da infância à idade adulta. São Paulo. Casa do Psicólogo, 2001.

GOLDFELD, Marcia. A Criança Surda – Linguagem e Cognição numa Perspectiva Sociointeracionista. São Paulo. Editora Plexus, 2002.

MACHADO, Rosângela. Educação Especial na escola inclusiva: Políticas, Paradigmas e práticas. São Paulo. Editora Cortez, 2009.

MASETTO, Marcos (Org.). T. Docência na universidade. Campinas. Editora Papirus, 2001.

MAZZOTTA, Marcos J.S. Educação Especial no Brasil – História e políticas públicas. São Paulo. Editora Cortez, 2003.

PICCHI, Magali Bussab. Parceiros da inclusão escolar. São Paulo. Arte & Ciência, 2002.

SÁ, Nídia Regina L. de. Cultura, Poder e Educação de Surdos. Manaus. Editora da Federal do Amazonas, 2002.

SOUZA, Neusa Maria M. de e ESPINDOLA, Ana Lucia (Org.). Apoio Pedagógico na Busca da Inclusão. Campo Grande. Editora UFMS, 2008.

STAINBACK, Susan e STAINBACK, William. Inclusão: Um guia para educadores. Porto Alegre. Artmed, 1999.

Sites:

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ADIRON, Fabio. O que é Inclusão? (2004) Disponível em http://saci.org.br/?modulo=akemi&parametro=11531 Acesso em: 10/09/2015.

ANSAY, Noemi Nascimento. INCLUSÃO DE ALUNOS SURDOS NO ENSINO SUPERIOR. Disponível em: http://www.fap.pr.gov.br/arquivos/File/7-A_INCLUSAO_DE_ALUNOS_SURDOS_NO_ENSINO_SUPERIOR.pdf. Acesso em 23/06/2015.

BRUNO, Marilda Moraes Garcia. POLÍTICAS AFIRMATIVAS PARA A INCLUSÃO DO SURDO NO ENISNO SUPERIOR: ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE O ACESSO, A PERMANÊNCIA E A CULTURA UNIVERSITÁRIA. Disponível em:  http://rbep.inep.gov.br/index.php/RBEP/article/viewFile/1941/1732. Acesso em 23/06/2015.

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Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Rafael Guem Murakami

por Rafael Guem Murakami

Formado em Sistemas de Informação, especialização em Logística Empresarial e Especialização em Formação Docente para o Ensino Superior. Atualmente professor universitário e tutor EAD em instituições privadas.

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