Gestão escolar democrática: uma contextualização sobre o tema

Os gestores precisam desenvolver habilidades em planejamento, com  resolução de problemas
Os gestores precisam desenvolver habilidades em planejamento, com resolução de problemas

Educação e Pedagogia

14/03/2016


GESTÃO ESCOLAR DEMOCRÁTICA: UMA CONTEXTUALIZAÇÃO SOBRE O TEMA

De acordo com Luís Carlos Libâneo, a escola é uma organização construída e constitui um empreendimento humano, uma organização histórica, política e culturalmente marcada. Nesse sentido, a compreensão da escola depende da referência a determinado período histórico.


No Brasil, as primeiras escolas foram criadas, a partir de 1549, pelos Jesuítas e, dedicavam-se à educação da elite brasileira. Mas foi somente nas primeiras décadas do século XX, com o processo de industrialização no país, que a educação tornou-se pública. Nesse período, o processo de escolarização centrava-se no atendimento às indústrias, que exigiam trabalhadores instrumentalizados na leitura, na escrita e no cálculo. Hoje, a formação escolar assenta-se na necessidade mercadológica, com o processo de informatização do mundo do trabalho.


Considerando que estamos inseridos em um sistema de economia capitalista, centrado num princípio educativo que prevê preparar recursos humanos adequados à realidade do mundo do trabalho, nossas políticas educacionais, sob esse ideal, defende como necessária, a relação da educação com o modo de produção capitalista. Um exemplo é a LDB que enfoca a formação geral da educação para a inserção no mercado de trabalho, como princípio de qualidade educacional.


É inquestionável que a perspectiva de formação para o trabalho proporciona avanços qualitativos, uma vez que, no contexto atual, torna-se extremamente importante que os educandos sejam preparados para ingressar no mundo do trabalho, centrado no conhecimento e no desenvolvimento tecnológico.


Entretanto, apesar desse avanço atribuído à escola, ao se adequar às exigências do mercado de trabalho, essa concepção de qualidade atrelada à formação para o trabalho precisa assumir compromissos com uma nova compreensão da qualidade escolar, que deve ser entendida como um processo de realização individual e social do educando, comprometida com q humanização do homem a fim de ampliar sua capacidade de interagir e modificar o meio em que vive.


Este, portanto, é compromisso da educação hoje, mas isso não quer dizer que a escola não deva contribuir para formar para o trabalho, ao oferecer aos alunos os conhecimentos sistematizados e historicamente construídos, para que possam interagir no mundo do trabalho e, especialmente, usem este conhecimento para atuarem, de forma crítica e consciente, como agentes de transformação, ao compreenderem as relações de poder que se tecem na sociedade.


Sendo assim, o sistema educacional brasileiro hoje tem dois grandes desafios a serem enfrentados: a educação de qualidade para todos, centrada na reconstrução do conhecimento e no processo de ensino aprendizagem e, a formação cidadã, centrada no princípio de emancipação humana.


A partir do entendimento do contexto sócio- cultural que emerge e se desenvolve sobre a educação, notamos que o pensamento educacional hoje, demanda novas perspectivas, enquanto reconstrução do conhecimento e prática social.

Esse novo paradigma educacional exige a construção de uma educação reinventada, marcada, sobretudo, por uma mudança de consciência e atitude a respeito da realidade e da concepção educacional que temos hoje e da educação que pretendemos construir. Ou seja, necessitamos de uma ética que reside na responsabilidade e no compromisso com a formação dos futuros cidadãos. Todo esse movimento implica colocar a educação a serviço de novas finalidades, a fim de construir um futuro com vistas a um processo de formação de sujeitos autônomos e participativos da sociedade, ao promover a emancipação humana.


Isso significa que a escola, enquanto agência educativa de formação dos futuros cidadãos, é o centro desse desafio, por isso, são demandadas mudanças na escola, a fim de que se garanta formação competente a seus alunos, de modo que sejam capazes de enfrentar criticamente, os problemas cada vez mais complexos da sociedade pós- moderna.


Nesse contexto de mudanças que invadem o cenário educacional, os gestores, então, defrontam- se com a necessidade de desenvolver uma prática que possibilite a transformação do enfoque organizacional, administrativo e pedagógico da escola. No entanto, isso implica que gestores e educadores se apropriem de novos conhecimentos, habilidades e atitudes necessárias para que compreendam, ressignifiquem e cumpram sua função nessa nova realidade socioeducativa.


Há a necessidade de que os gestores estejam capacitados para o enfrentamento de tais desafios, por isso, entendemos, que nesse contexto, a formação continuada de gestores ganha relevância, por ser entendida como instrumento teórico-metodológico fundamental para o desenvolvimento de conhecimentos, competências, valores e atitudes que o qualifique como coordenador e facilitador do processo educacional, ao estabelecer metodologias de ação e propostas de ensino que possibilitem mudanças efetivas que contribuam para a melhoria e qualidade educacional.


Para tanto, uma formação que contemple concepções como descentralização, autonomia e gestão participativa e colegiada é imprescindível e fundamental para que o gestor amplie suas experiências e concepções sobre a educação e para a melhoria da qualidade numa expectativa de formação cidadã.


A partir da apreensão dessas concepções, o gestor passa a compreender seu trabalho a partir de uma lógica de competência coletiva, coordenando e liderando pelo diálogo, o processo de mudanças na escola e de inovações a partir de teorias pedagógicas e administrativas, associadas à demanda por qualidade educacional.


O processo de tomada de decisão na escola passa, assim, a ser entendido como um processo coletivo e participativo, que exige corresponsabilidade, compartilhamento, decisão e participação dos atores envolvidos no processo de ensino- aprendizagem.


Nesse sentido, podemos considerar que o envolvimento é determinante no que se refere à promoção da transformação da prática da prática que se realiza no cotidiano escolar, em que diretores e comunidade escolar trabalhem juntos num processo de responsabilização, no qual cada um se reconhece como agente de transformação do processo ao assumir responsabilidades por suas ações, criando condições necessárias para que o ensino- aprendizagem mais eficaz, ao reconstruir diariamente o processo de trabalho pedagógico e administrativo.


No entanto, esse processo de responsabilização necessita de vontade política, atitude crítica e reflexiva dos autores escolares sobre o processo educativo, em que a qualidade do ensino- aprendizagem promova a identidade que se pretende construir na escola. Nesse sentido, a mudança é planejada a partir de um processo de tomada de decisão, que requer planejamento, execução e avaliação das ações, para que as mudanças sejam efetivas em nome de uma educação de qualidade para todos os alunos.


Para tanto, os gestores precisam desenvolver habilidades em planejamento, com identificação e resolução de problemas, pois, assim, o planejamento passa a ser entendido como um exercício de autonomia e democratização dos espaços educativos, e um instrumento de reflexão e de participação coletiva na tomada de decisão na construção e reconstrução da prática- pedagógica e administrativa da escola no desenvolvimento da qualidade do processo educacional, mediante a organização do projeto político- pedagógico e do regimento escolar.


Evidencia-se assim, que as escolas devem planejar suas ações e adequar seus procedimentos e práticas visando abrir espaço para o planejamento participativo, para a elaboração do regimento escolar e do projeto político- pedagógico, ações, essas, que podem contribuir, de dentro da escola, no que se refere à definição de Políticas Educacionais.
Bibliografia

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GANDIN, Danilo. Planejamento como prática educativa. 19. ed. São Paulo: LOYOLA EDICOES, 2011.


LIBÂNEO, José Carlos, OLIVEIRA João Ferreira e TOSCHI, Mirza Seabra. Educação escolar: políticas, estrutura e organização. 10. ed. São Paulo: Cortez, 2012.


MURAMOTO, Helenice Maria Sbrogio. Ação, reflexão e diálogo: o caminhar transformador. Série Idéias n. 24. São Paulo: FDE, 1994.


OLIVEIRA, Dalila Andrade (Org.). Gestão democrática da educação: desafios contemporâneos. 10. ed., Petrópolis: Vozes, 2013.


PADILHA, Paulo Roberto. Planejamento dialógico: como construir o projeto político-pedagógico da escola. 2. ed., São Paulo: Cortez; Instituto Paulo Freire, 2002.


VEIGA, Ilma Passos Alencastro (Org.). Projeto Político Pedagógico da escola: uma construção possível. Coleção Magistério. 29. ed. Campinas, SP: Papirus, 2011.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Elizandra Sabino Marques Tavares

por Elizandra Sabino Marques Tavares

Graduação I - Letras (FIO). Graduação II- Pedagogia (UNINOVE). Título de Especialista I - Língua Portuguesa e Literatura (UENP). Título de Especialista II- Gestão Escolar: Administração e Supervisão (UNOESTE). Extensão Universitária - Estratégias de Leitura e Produção de Texto/ Estudos Linguísticos e Literários (UENP). Linguística Aplicada (FIO). Ética (USP).

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