RELAÇÕES IMERSAS NA ALTERIDADE: REFLETINDO SOBRE GÊNERO RAÇA/ETNIA A PARTIR DE EXPERIÊNCIAS DE SALA DE AULA NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL

Educação e Pedagogia

09/03/2016

RELAÇÕES IMERSAS NA ALTERIDADE: REFLETINDO SOBRE GÊNERO RAÇA/ETNIA A PARTIR DE EXPERIÊNCIAS DE SALA DE AULA NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL

 

 

Núbia Nadja Batista da Silva[1]

Isabelle Sanches Pereira[2]

 

 

RESUMO

 

Este artigo intenta refletir a respeito das impressões dos estudantes do 3º ano do Curso Técnico de Informática do Colégio Estadual Rubem Nogueira da cidade de Serrinha na Bahia, a respeito das identidades sociais de gênero raça/etnia que são (re) construídas na sala de aula de Educação Profissional. Estas reflexões fazem parte do trabalho desenvolvido durante o ano letivo de 2014 no ambiente escolar nos componentes curriculares de Sociologia Organização Social do Trabalho e Filosofia Metodologia do Trabalho Científico, como também em observações realizadas no pátio da escola, em reuniões de AC – Atividade Complementar, em conversa com os pares na sala de professores e coordenação escolar. No que se refere à metodologia, nos valemos de uma etnopesquisa de cunho qualitativo realizado através de um trabalho de campo com métodos de inspiração etnográfica, onde foram feitas entrevistas e utilizados questionários com os alunos e as alunas para entender as percepções dos mesmos sobre relações de gênero e raça/etnia. Os resultados demonstraram que as percepções destes estudantes perpassam por questões de preconceito e discriminação tanto nas relações com colegas e professores como também na perspectiva de atuação na área que estudam. As reflexões aqui realizadas possibilitaram entender que as relações de gênero raça/etnia construídas no ambiente escolar por meio de ideologias e práticas discriminatórias excludentes transcendem esse ambiente e são levadas para a vida em sociedade. Portanto, compreendemos que as reflexões discutidas neste artigo pretendem contribuir para a percepção da importância do debate sobre diversidade a partir da vivencia de sala de aula, visando uma sociedade mais humana e igualitária onde a educação possa estar aberta para a diversidade e promova a formação humana e integral dos sujeitos.

 

PALAVRAS-CHAVE: Gênero; Raça/Etnia; Educação Profissional; Diversidade.

 

IMMERSED IN ALTERITY RELATIONS: REFLECTING ON GENDER AND RACE / ETHNICITY FROM THE EXPERIENCES OF THE CLASSROOM IN VOCATIONAL EDUCATION

 

ABSTRACT

 

This article seeks to reflect about the impressions of the students of the 3rd year of the Course State College of Computer Technician Reuben Nogueira City Serrinha Bahia, about social gender identities race / ethnicity that are (re) constructed in the classroom Professional Education. These reflections are part of the work developed during the 2014 school year in the school environment in curriculum components of Sociology Social Labour Organization and Philosophy Methodology of Scientific Work, as well as on observations made in the schoolyard, in AC meetings - enrichment activity, in conversation with peers in teachers and school guidance office. As regards the methodology, we make use of a qualitative nature of etnopesquisa conducted through field work with ethnographic methods inspiration, where interviews and questionnaires used with the students and the students to understand the perceptions of each other on relations were made gender and race / ethnicity. The results showed that the perceptions of these students rush on prejudice and discrimination issues in relations with peers and teachers as well as the performance of perspective in the area they study. These reflections promoted the understanding that gender relations race / ethnicity built in the school environment through exclusive ideologies and discriminatory practices transcend this environment and are brought to life in society. Therefore, we understand that the reflections discussed in this article are intended to contribute to the perception of the importance of the debate on diversity from the classroom experiences, seeking a more humane and egalitarian society where education may be open to diversity and promote human development and full of the subjects.

 

Key Words: Gender; Race / Ethnicity; Professional Education; Diversity

 

 

  1. 1.    INTRODUÇÃO:

 

Temos o direito a ser iguais sempre que a diferença nos inferioriza; temos o direito a ser diferentes sempre que a igualdade nos descaracteriza. (Boaventura de Souza Santos, 2006, p. 316)

 

Este estudo nasce das experiências vivenciadas em sala de aula no contexto escolar, enquanto professora em atuação no Ensino Médio Integrado á Educação Profissional, percebendo a diversidade dos(as) educandos(as) e a riqueza oriundas das diferenças de cada sujeito, que vivenciamos em todas as dimensões de sua vida, inclusive  no universo escolar.

Nesse sentido, compreendemos que a práxis pedagógica do(a) professor(a) em sala de aula, deve ser voltada para a cidadania, uma vez que, a desvalorização da diversidade humana marca peculiar de nosso país colonizado violentamente do ponto de vista da diversidade cultural e a discriminação devida desse processo, são obstáculos refletidos e, assim, encontrados no contexto educativo, colocando alguns desafios na garantia de uma educação comprometida com valorização ético-culturais dos educandos. Compreendemos que nesse contexto é fundamental discutir o conceito de raça, na concepção de Gomes (2005):

 

(...) podemos compreender que as raças são, na realidade, construções sociais, políticas e culturais produzidas nas relações sociais e de poder ao longo do processo histórico. Não significam, de forma alguma, um dado da natureza. É no contexto da cultura que nós aprendemos a enxergar as raças. Isso significa que, aprendemos a ver negros e brancos como diferentes na forma como somos educados e socializados a ponto de essas ditas diferenças serem introjetadas em nossa forma de ser e ver o outro, na nossa subjetividade, nas relações sociais mais amplas. Aprendemos, na cultura e na sociedade, a perceber as diferenças, a comparar, a classificar. Se as coisas ficassem só nesse plano, não teríamos tantos complicadores. (GOMES, p.49, 2005).

 

 

 Nesse sentido, abarcamos que a educação é de suma importância para formação integral dos educandos, sendo esta um canal importante de como a sociedade lida com a diversidade. A escola torna-se cenário fundamental no universo da sociedade e exerce um papel crucial na vida dos sujeitos, agindo como formadora de valores, tendo a capacidade e a responsabilidade de mudar mentalidades, sendo capaz inclusive de enfrentar preconceitos.

É dentro desse espaço, que os educandos são capazes de criar e recriar emoções, separar, agrupar e classificar o mundo, de pensar sobre o que está a sua volta, atribuindo significados a sua realidade construindo seu conhecimento, esse conhecimento organizado, comunicado e comparado com os dos seus semelhantes por meio da interação social.  Portanto, o recorte a cerca da concepção de etnia torna se preponderante para compreender as relações tecidas no ambiente escolar. Na concepção de Cashmore (2000) etnia vem a ser:

 

Um grupo possuidor de algum grau de coerência e solidariedade, composto por pessoas conscientes, pelo menos em forma latente, de terem origens e interesses comuns. Um grupo étnico não é mero agrupamento de pessoas ou de um setor da população, mas uma agregação consciente de pessoas unidas ou proximamente relacionadas por experiências compartilhadas (CASHMORE, 2000: 196).

 

 

Portanto, a escola se caracteriza num espaço potencialmente de (re)-construção do conhecimento, plural, capaz de refletir a história e cultura de todos os sujeitos envolvidos, e (re) construi identidades dos educandos. Todavia dentro deste espaço há também práticas que divide, separa discrimina, e mecanismo de heraquização a exemplo de classificação baseadas em gênero raça/etnia.

Entretanto, para garantir por meio da educação o trabalho com a diversidade na práxis educativa, a escola deve traçar em seu plano de ação, ou seja, no currículo integrado construir uma proposta pedagógica que atenda as necessidades e anseios de seus educandos, fazendo uma mediação entre sujeito aprendente, adjunto ao papel do currículo escolar que visa assegurar na suas dimensões sociológicas, epistemológicas e psicopedagógica uma educação contextualizada e de qualidade, que tenha como motriz as relações com vista para a alteridade, a singularidade dos sujeitos, como nos alerta Fleuri (2003) que:

 

A busca pela inserção da alteridade como objetivo educacional que presume uma convivência democrática e igualitária entre diferentes grupos, recebeu denominações plurais também nas diferentes partes do globo, tais como: no mundo anglo-saxão – educação multicultural; na Europa – pedagogia do acolhimento, educação para a diversidade, educação intercultural. (FLEURI, 2003, p. 497).

 

 

Assim, as necessidades impostas pela sociedade, acionam a função da escola como produtora de conhecimento e mediadora dos conflitos, sendo que em sua própria estrutura têm-se exemplos em pequena escala das profundidades dessas tensões, seja entre alunos, pais e/ou professores. Dessa forma, o aprofundamento da noção de alteridade surge para os educadores como necessário e inevitável para o apaziguamento e, principalmente, para o convívio com a diferença.

Todavia, percebemos que neste contexto de transformação e construção de valores e conhecimento, constrído de forma colaborativa, se faz presente, divisão de grupos, seleção e direcionamento de escolhas, privilegios a algums, e exclusão e disseminação de preconceito e discriminação dentro deste espaço educativo. Deste modo, nos inquietou analisar qual o trato pedagógico que a escola tem dado para as diferenças? De que forma podemos garantir uma educação como um direito social que possibilite o trabalho com as diferenças dentro desse espaço?

A partir desses questionamentos, traçamos os objetivos deste estudo que é refletir sobre gênero raça/etnia na educação profissional, como também analisar como a relação da produção currículo integrado da Educação Profissional e a formação do professor estando atento para diversidade, podem implicar em novas práticas pedagógicas em sala de aula.

Nesta perspectiva, este estudo volta-se para o campo educacional, visando solidificar o conhecimento, compreendendo a educação como desenvolvimento humano, onde a escola se encontra como um lugar privilegiado tornando-se possível o encontro das diferenças que se tranforma em riqueza para o trato pedagógico que os profissionais da educação venham utilizar como direcionamento da sua práxis de sala de aula na busca de concretizar a proposta de currículo integrado e formação humana dos educandos.

 

 

  1. AS RELAÇÕES DE GÊNERO E RAÇA/ETNIA EM SALA DE AULA DOS JOVENS ESTUDANTES DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL

 

É chegada a hora da reeducação de alguém

Do Pai do Filho do Espírito Santo, amém

O certo é louco tomar eletrochoque

O certo é saber que o certo é certo

O macho adulto branco sempre no comando

E o resto ao resto, o sexo é o corte, o sexo

Reconhecer o valor necessário do ato hipócrita

Riscar os índios, nada esperar dos pretos [...]

(Caetano Veloso, O estrangeiro, 1989) [3]

 

 

O Colégio Estadual Rubem Nogueira siituado no munícipio de Serrinha no território do sisal, não difere de outras escolas públicas, que nos últimos anos, tem enfrentado grandes desafios, devido às transformações sociais ocorridas nas últimas décadas. São desafios de todas as ordens sociais, econômicos, culturais, éticos, morais (entre outros). Dentre esses desafios  nos é posto a proposta de garantir a formação humana do educandos por meio da concretização do currículo integrado no ambiente de sala de aula na Educação Profissional.

No que se refere à Educação Profissional, mas especificamente no Curso Técnico de Informática, esse processo de garantir a formação integral dos estudantes é ainda mais complexo porque exige que se passe de uma realidade dada como conhecida e certa para o desconhecido, para o imprevisível. Pressupõe, portanto, a substituição da concepção de educação referenciada como produto acabado e finito por um processo contínuo, orientado por outros paradigmas, principalmente pelos paradigmas tecnológicos e aberto para o trabalho com a diversidade em sala de aula.

Nesse contexto, sendo professora de Filosofia Metodologia do Trabalho Científico e Sociologia Organização Social do Trabalho do Curso Técnico de Informática, vislumbramos durante o ano letivo nas experiências de sala de aula na turma do 3º ano de Educação Profissional, um espaço rico para trabalhar a temática de gênero raça/etnia, devido ao grande número de mulheres negras e em sua maioria residente da zona rural, presente no curso de supremacia e grande atuação masculina no mercado de trabalho. Nesse sentido, tornou-se necessário traçar uma metodologia para realizar este trabalho durante as quatros aulas que lecionava no decorrer da semana nestas turmas.

Para realizar o processo metodologico, nos valemos de uma etnopesquisa de cunho qualitativo realizado através de um trabalho de campo com métodos de inspiração etnográfica, de forma que, realizamos oficina no dia da Mulher, exibição de filme Vista Minha Pele e Xadrez das Cores, construção do projeto de vida, entre outras atividades que teve uma maior abrangência na comunidade escolar como a realização do II Desfile da Beleza Negra do CERN 2014, como também foram feitas entrevistas e utilizados questionários com os alunos e as alunas para entender as percepções dos mesmos sobre relações de gênero e raça/etnia no ambiente escolar.

Nesse sentido, Macedo (2000)[4], concebe a etnopesquisa crítica como uma pesquisa de natureza qualitativa, visando compreender e explicitar a realidade humana tal qual como é vivida pelos atores sociais em todas as perspectivas possíveis. A etnopesquisa crítica direciona seu interesse para compreender as ordens socioculturais em organização, constituída por sujeitos intersubjetivamente edificados e edificantes, preocupando-se com os processos que constituem o ser humano em sociedade e em cultura.

 Para atingir as atividades proposta, inicialmente realizamos no mês de março dia 8 em comemoração ao dia da mulher uma oficina intitulada: Mais mulher na política e no espaço de poder e decisão, pela palestrante: Kátia Regina Bispo – representante da Secretaria de Desenvolvimento Social de Serrinha. Durante a oficina ficou visível o desconforto dos garotos ao discutir a temática proposta, num entanto no decorrer do debate ficou evidente nas falas dos estudantes o poder de dessiminação e preconceito pela família ao discutir e trabalhar questões de gênero desde infância com seus filhos no ambiente familiar. Tais comportamentos de separação do universo feminino do masculino se expandiram para o ambiente escolar, quando durante entrevista realizada com os alunos, solicitando que eles descrevessem a turma de 3º ano a qual estudam e se há divisão de grupos estes responderam:

 

Aluna1: No 3º ano Técnico de Informática existe muita desigualdade entre os alunos. Os garotos não se misturam com as meninas da zona rural, eles se acham melhor, não existe união na sala.

Aluno2: São divididos em os com cultura e os sem cultura.

Aluna3: Uma sala com pessoas muito desunida, que não se mistura não sei se é preconceito.

 

Como alerta nas falas dos estudantes a separação entre meninos e maninas, a inteligência e a cultuta de ums sobrepondo ou sendo melhor que outra, nesse camindo de divisão é importante falar sobre alteridade dentro ambiente escolar para um trabalho aberto á diversidades dos sujeitos. Ou seja, a alteridade é a concepção de que todos os indivíduos interagem e criam relações de interdependência com outros indivíduos, nessa interação com o outro deixo um pouco de mim e levo um pouco do outro numa troca rica e simultânea.

Abrangemos que o conceito de gênero também reconhece as diferenças existentes entre as mulheres e os homens a partir de características étnicas, raciais, de classe, etc. A combinação dos conceitos “gênero e raça”, permitem avançar a compreensão sobre as desigualdades sociais, ainda que não sejam estas as únicas dimensões que as explicam. Todavia, ainda vivenciamos discurso e comportamento que exclui discrimina e gera o preconceito entre os estudantes, visto que durante entrevista e no debate após a exibição dos filmes “vista minha pele” e “xadrez das cores”, ao questionar os educandos sobre sua cor, ou como as pessoas lhe ver, estes falaram dessa forma:

 

Aluna1: Sou negra, mais muitas pessoas parece que não aceita isso, pois para eles eu não sou a “NEGRA” e sim a moreninha. No Brasil ser branco significa ser superior aos demais, principalmente aos negros pobres da periferia. As pessoas se deixa levar pela cor da pele dos outros, independente da cor para julgar, humilhar, ridicularizar uns aos outros, sendo que somos todos iguais.

Aluno2: Considero-me negro, mas as pessoas querem forçar ser o que eu não sou.  Algumas pessoas se aceitam como é, mas tem muita gente que ainda não aprendeu ou não querem realmente respeitar a cor do outro.

Aluna3: Sou negra e tenho orgulho de minha cor, eles dizem com sou morena, moreninha, mas me considero negra. Todos devem receber os mesmo direitos e serem tratados da mesma forma independente de sua cor ou raça, ou seja, respeitar os outros aceitar o que a pessoa é, suas diferenças, sua cultura.

Aluna4: Sou negra, mas as pessoas falam que sou morena, me elogiam nunca sofri preconceito. O racismo infelizmente ainda existe hoje em dia, e precisa ser combatido, pois é crime e a pessoa que sofre racismo pode se tornar odiosa por sofrer tais atos.

 

 

A combinação entre gênero e etnia e a disseminação do preconceito em todos os ambientes inclusive na escola tem gerado a desigualdade de oportunidades entre os estudantes, eliminar as práticas discriminatória é reconhecer a diversidade dos sujeitos, ou seja, o combate as prática que excluem por gênero raça/etnia no ambientes escolar pode ser um ponta pé inicial para mudanças no seio da sociedade referentes às essas questões.

Entretanto, encontramos muito preconceito e discriminação na sociedade e no ambiente escolar, por meio de falas, brincadeiras, apelidos e até atitudes é disseminado o preconceito entre os jovens estudantes. Ao questionar os alunos sobre a zoação de escola e se eles já sofreram ou conhecem colegas que já sofreu algum tipo de preconceito ou discriminação, elas responderam:

 

Aluna1: Já fui rejeitada por outra turma da escola, eu penso que foi pela minha cor e também por ser da zona rural, as pessoas que moram no campo sofrem rejeição pelos demais.

Aluna5: Eles não falam, mas demonstram pelo olhar, pelos gestos e tudo mais, eu acho isso uma bobagem.

Aluno6: Já aconteceu uma brincadeira em relação ao estilo do meu cabelo, colocaram apelidos.

Aluna7: No Brasil o negro é desgraçado, tudo que acontece de ruim eles falam que é por causa dos negros que não tem valor. Os meninos da turma falam que nós meninas negras e da zona rural estamos colocando a turma num baixo nível de conhecimento.

 

 

Tal comportamento reforça a divisão da turma, a exclusão de meninas negras residentes da zona rural, preconceito de todas as formas dentro da sala de aula, num ambiente educativo.  Conforme afirma Louro[5], as práticas rotineiras e comuns, os gestos, as palavras banalizadas precisam ser alvo das atenções e da desconfiança, ou seja, daquilo que é tomado como “natural”. Questionar não só o conteúdo ensinado, mas também a forma como é ensinado e qual é o sentido que os/as alunos/as dão ao que aprendem atentar para o uso da linguagem, procurando identificar o sexismo, o racismo e o etnocentrismo que frequentemente a linguagem carrega e institui constituem tarefas essenciais da escola e de seus educadores/as e estudantes.

Entretanto na realização do II desfile da Beleza Negra do CERN, com grande número de estudantes participando, vislumbramos durante este evento o prazer e satisfação dos alunos em serem aplaudidos e homenageados pela escola e recebidos com torcidas no desfile pela platéia, esse trabalho com a diversidade mesmo de forma esporádica enaltece e faz estudantes negros ver possibilidades de serem vistos na suas diferenças com as suas qualidades, grandezas, virtudes e valorização da sua cultura.

Para abordar as questões referentes às relações de gênero e as perspectiva para o futuro e escolhas profissionais dos educandos do Curso Técnico de Informática, realizaram o Projeto de Vida dos Estudantes nas aulas de sociologia durante a III Unidade. Conhecer suas perspectiva de vida e suas escolhas profissionais foi de suma importância para o trabalho de sala de aula. No projeto de vida de algums alunos ao questionar sobre as perpectivas profissionais eles descreveram dessa forma:

 

Aluna8: É um pouco complicado decidi, pois faço o Curso Técnico de Informática, não tive experiência ainda nessa área. Fui selecionada pelas minhas notas a participar de uma entrevista de estágio na UNEB, mas fui eliminada antes de chegar lá, os professores da área técnica disseram que só selecionam menino e foi bem assim mesmo, achei um absurdo, por isso quero fazer DIRETO ser juiza.

Aluna9: Fiz meu estágio numa empresa de comunicação visual, fazia arte gráfica de banner, cartaz, gostei da experiência, mas será que no mercado de trabalho acho vaga nessa área, vejo mais homens trabalhando.

Aluno10: Acho que os professores da área técnica dão preferência e vez para os garotos. Nunca consegui estágio estou preocupada ano que vem faço o 4º ano, sei que não irei continuar nessa área.

Aluna11: Vou fazer faculdade de Psicologia acho Informática um campo pouco atuado por mulheres.

 

 

É marcante na falas desses alunos a presença acentuada da figura masculina e sua eternização pelo mercado de trabalho em alguns ramos inclusive na área de informática, outras possibilidades de inserção feminina devem iniciar no ambiente de educação profissional aberto para diversidade em parceiras com instutições que venha ofertar estágio levando em considerção as questões de gênero à capacidade de atuação feminina em qualquer área. Segundo as Convenções 100 e 111 adotadas pela Organização Internacional do Trabalho - OIT, respectivamente, em 1953 e 1960, recomendam que:

 

(...) O padrão cultural sexista, racista e etnocêntrico cria mecanismos que as exclui até mesmo das mais recentes conquistas das mulheres brasileiras. As negras e indígenas estão invisíveis, por exemplo, nas profissões consideradas de prestígio – seja porque foram discriminadas ou não foram estimuladas a seguirem essas carreiras, seja por não corresponderem ao padrão estético eurocêntrico que prevalece na mídia. Cada grupo exibe suas singularidades no enfrentamento à discriminação de gênero, raça e etnia no mercado de trabalho. (BASTHI, p.19, 2011).

 

 

Portanto, obrservamos que o trabalho com as questões de gênero no ambiente escolar devem ser trabalhadas com mais veemência para garantir a oportunidade dos estudantes independente do sexo e cor, ou seja, tratar do componente diversidade, procurando assegurar o aprimoramento das diretrizes de igualdade de oportunidades na educação profissional com foco em gênero e raça/etnia, e ampliando, ao mesmo tempo, a noção de diversidade e igualdade de direitos para demais segmentos da sociedade, alvo de discriminação como no ambiente trabalho. Todavia, compreendemos que para contemplar o trabalho atento á diversidade no contexto escolar torna-se necessário a concretização do currículo integrado no ambiente da sala de sala de educação profissional.

 

 

 

  1. EDUCAR PARA DIVERSIDADE: O CURRÍCULO INTEGRADO NA SALA DE AULA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL

 

 

A educação é um fator primordial na formação dos indivíduos para a obtenção do conhecimento e para sua vivencia em sociedade. Portanto, é tarefa da escola levar os educandos a compreender questões relativas à democracia, aos direitos humanos e a participação social com a finalidade de tornar-los protagonista de sua historia, ou seja, ator principal e mobilizador frente das questões sociais, não se tornando indiferente diante dos problemas de seu ambiente de vivencia. Segundo Delors (1996):

 

“A educação deve contribuir para o desenvolvimento total da pessoa – espírito e corpo, inteligência, sensibilidade, sentido estético, responsabilidade social, espiritualidade. Todo ser humano deve ser preparado especialmente graças à educação que recebe na juventude, para elaborar pensamentos autônomos e críticos e para formular seus próprios juízos de valor, de modo a poder decidir por si mesmo nas diferentes circunstâncias da vida.”(DELORES, p.29, 1996).

 

 

Abarcamos desta forma, que é importante o envolvimento dos jovens em atividades direcionadas à solução de problemas reais, atuando como fonte de iniciativa, liberdade e compromisso, cujo cerne da ação educativa é a participação ativa e construtiva do jovem na vida da escola e da comunidade. Sendo um dos principios da Educação Profissional da Bahia a “ampliação do acesso à educação integral e fortalecer a inclusão educacional”, nesse sentido, compreendemos que a buca pelo trabalho com a diversidade em sala de aula de educação profissional seja um dos caminhos para garantir de fato o currículo integrado e a formação humana:

 

(...) a proposição de um ensino médio que articule trabalho, ciência, tecnologia e cultura não pode ser homogeneizada e padronizada por parâmetros e prescrições curriculares. Entretanto, é preciso assegurar que um conjunto de conhecimentos e saberes científicos, éticos e estéticos seja garantido no ensino médio a partir da diversidade dos seus sujeitos.(BRASIL, p.21, 2013).

 

 

 

 A escola de ensino médio que se quer ser integradora e fazer parte do movimento interno da sociedade discute o que acontece fora de seus muros com seus agentes: uma escola que saiba lidar com as diferenças, levando os alunos a respeitá-las; que construa valores, como a tolerância e a solidariedade; que integra os jovens de maneira a desenvolver sua autoestima.

Uma escola que acolhe e realiza, ao mesmo tempo, sua função de desenvolver competências e de construir conhecimentos, estando aberto para a diferença, construindo experiêincias e crítica social, formando cidadãos. Para Abramowicz[6] (2006) “diversidade pode significar variedade, diferença e multiplicidade. A diferença é qualidade do que é diferente; o que distingue uma coisa de outra, a falta de igualdade ou de semelhança”. Nesse sentido, podemos afirmar que onde há diversidade existe diferença.

No entanto, os questionamentos, os anseios e a aplicação das mais variadas metodologias de ensino nas últimas décadas, compõem um cenário complexo na educação e nos fazem repensar acerca das novas possibilidades de aprendizagem e de conhecimento, que fomentarão o senso crítico e contribuirão na formação cidadã do educando no mundo contemporâneo.

Na concepção de Gomes (2012)[7] é necessário descolonizar os currículos é mais um desafio para a educação escolar. Muito já denunciamos sobre a rigidez das grades curriculares, o empobrecimento do caráter conteudista dos currículos, a necessidade de diálogo entre escola, currículo e realidade social, a necessidade de formar professores e professoras reflexivos e sobre as culturas negadas e silenciadas nos currículos. Todavia, compreender o processo de dualidade existente na educação brasileira, conduzirá as políticas educacionais para integração do ensino médio de educação profissional com vista para a inclusão e permanência de uma gama de jovens no espaço escolar. Segundo, Frigotto (2004).

 

 

(...) A integração da educação profissional com o ensino médio é uma questão de concepção. Refere-se à visão de formação para o trabalho e educação para vida, para a cidadania efetivamente. O dualismo ocorre quando se prioriza a questão técnica. Assim como o foco das políticas nacionais era o desenvolvimento econômico, nessa concepção o desenvolvimento social é fundamental, um não estaria separado do outro. Romper com a dualidade estrutural é equação complexa e não se resolve com reformas só no campo da educação, mas será significativo se resultar de mudanças estruturais na ordem social, econômica e cultural da sociedade. (FRIGOTTO, p.34, 2004).

 

 

 

Portanto, é notório que o processo desigual de escolarização dos indivíduos desde primórdios da introdução de escolas no Brasil alerta para mudanças na estrutura social, que venha garantir o direito á educação e permeância dos jovens numa escola unitária e integral. Entretanto, é necessária a realização de mudanças que estejam atentas para a diversidade dos individuos suas diferenças que se faz presente na vida em sociedade, no convivio com familiares e não pode passar despercebida no ambiente escolar, espaço este que se ocupa com a educação e formação humana e igualitária dos estudantes que aparesenta presença singular neste espaço. Como nos alerta Gusmão (2003) que:

 

 

O desafio da escola e dos projetos educativos que orientam nossa prática está no fato de que, para compreender a cultura de um grupo ou de um indivíduo que dela faz parte, é necessário olhar a sociedade onde o grupo ou o indivíduo estão e vivem. É aqui que as diferenças ganham sentido e expressão como realidade e definem o papel da alteridade nas relações entre os homens. (Gusmão, p. 92, 2003).

 

 

 

Nesta perceptiva, a valorização e organização curricular pautada na integração das disciplinas por meio da interdisciplinaridade, como meio do atender as necessidades do cotidiano dos educandos, sua identidade, o momento histórico, político e cultural que a sociedade vem passando, através da articulação das disciplinas tal proposta busca inovar os conteúdos para garantis um ensino/ aprendizagem integrado. Portanto, compreendemos que uma ação pedagógica realmente pautada na diversidade deve ter como principio uma proposta curricular integral com vista para:

 

Formação humana integral também se refere à compreensão dos indivíduos em sua inteireza, isto é, a tomar os educandos em suas múltiplas dimensões intelectual, afetiva, social, corpórea, com vistas a propiciar um itinerário formativo que potencialize o desenvolvimento humano em sua plenitude, que se realiza pelo desenvolvimento da autonomia intelectual e moral. (BRASIL, p.33, 2013).

 

 

 

Nesta perspectiva o trabalho do professor em sala de aula, precisa não ser visto como obrigação de ir além das benevolentes declarações de boa vontade para com a diferença, currículo integrado coloca em seu centro uma teoria que permita não só reconhecer e celebrar a diferença, mas também questioná-la, a fim de perceber como ela discursivamente está constituída e deve ser trabalhada no ambiente da sala de aula de educação profissional.

Compartilhando da opinião de Peter McLaren (1997)[8], somente um currículo e uma prática pedagógica emancipatórias podem guiar ao aprofundamento da alteridade nas relações educacionais. Assim, novas perspectivas de compreensão das diferenças, de olhar para o “outro” com suas distinções tanto aparentes como a etnia, quanto interiorizadas como a cultura, devem ser objeto de reflexão no campo pedagógico. Nesse cenário de mudanças que parte da proposta de um currículo integrado e tem como ênfase o trabalho do educador em sala de aula, abrangemos que a formação continuada dos professores seja de suma importância para garantir o trabalho comas diferenças em sala de aula da educação profissional.

 

 

 

  1. FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORAS (ES) PARA DIVERSIDADE: RESSIGNIFICANDO A PRÁTICA PEDAGÓGICA

 

 

A sociedade vem passando por várias transformações, sendo um dos fatores causadores de várias mudanças, como a inserção das tecnologias atrelada aos meios de comunicação e informação, demarcando dessa forma, a modificação na sociedade, a escola por se configurar num espaço social, necessita acompanhar essas transformações, buscando inovar o ensino oferecido aos educandos. Nesse sentido, para que as instituições de ensino possam promover a qualidade educativa é imprescindível garantir aos educadores a atualização da sua prática por meio da formação continuada atentos para questões de gênero, raça/etnia no ambiente escolar:

Para reeducar as relações étnico-raciais, no Brasil, é necessário fazer emergir as dores e os medos que têm sido gerados. É preciso entender que o sucesso de uns tem o preço da marginalização e da desigualdade imposta a outros. E então decidir que sociedade queremos daqui para frente (BRASIL, p. 5, 2004).

                                                       

Nesta perspectiva, a formação continuada procura garantir aos educadores novas formas de atualizar seu conhecimento, metodologias de ensino e inovação dos conteúdos, buscando atender as necessidades apresentadas na realidade do educando, ampliando o olhar do(a) docente para os acontecimentos no plano nacional e internacional. Todavia, se torna preponderante que haja uma consonância entre o que se ensina na escola e o que vem acontecendo na sociedade, para que desta forma, o educando possa pensar e fazer a interpretação dos acontecimentos e redescobrir o mundo, tornando-se percussor da transformação de sua realidade. Contudo, Moreira (1996) ressalta que:

 

Tomar a prática vivida pelos alunos como o ponto inicial do planejamento e da implementação do currículo e do ensino parece, assim, ser feito, e bem-feito, pelos professores de nossas escolas. Embora tal principio esteja sempre presente no discurso acadêmico, sua aplicação nas salas de aula ainda é insatisfatória: alguns professores continuam a ignorá-lo, outros não o entendem suficientemente bem, e outros ainda, não conseguiram operacionalizá-lo com sucesso (MOREIRA, p.39, 1996).

 

Entretanto, para que a formação torne-se expressiva na prática educativa docente, deverá proporcionar a inovação das atividades escolares para que estas passem a ser mais significativas, abordando os conteúdos interligados com os fatos da atualidade comunicando os conhecimentos por meio de metodologias, técnicas, instrumentos e materiais pedagógicos diversificados que motivem, instiguem e levantem o prazer do educando em estar atento e interessado na promoção, construção e exploração de seu conhecimento. No entanto, Costa (2011) analisa que:

 

A construção de uma escola que promova a equidade e a democracia passa, necessariamente, pela qualificação do seu “motor”: os (as) professores (as). É preciso, portanto, levar os/as profissionais da educação a refletir sobre a sua condição de “formadores (as) de almas”, conscientizando-os (as) sobre o papel da escola, e da Educação de forma geral, enquanto transmissora de valores, atitudes, comportamentos e idéias que justificam e legitimam a discriminação e preconceitos baseados no sexo (sexismo), na geração, na classe, na raça/etnia (racismo) entre outros. (COSTA, p.9, 2011).

 

 

Abrangermos que por meio da formação continuada de qualidade, os educadores modificam a prática educativa apresentando a capacidade de inovar a educação, visto que, enquanto o docente o ensina também aprende, ao educar se educa, numa relação recíproca e sadia de troca de saberes compartilhados mutuamente dentro do espaço escolar. Nesta perspectiva, verificamos que o educador é um ser em construção que constrói sua educação e partilha com seus educandos. No entanto, o professor precisa buscar na pesquisa o que necessita para melhorar e adequar sua formação, atentando para as questões trazidas pelos teóricos da atualidade para subsidia e qualificar sua prática. Em função disso, Freire (1996) alerta que:

 

Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que-fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indago e mim indago. Pesquiso para constatar, constando, intervenho intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade (FREIRE, p.29, 1996).

 

 

Nesse sentido, a (o) docente precisa articular a bagagem teórica metodológica adquirida na sua formação e sua identidade, ao seu modo de estar e ver o mundo, a diversidade. Nesta perspectiva, a formação continuada necessita contemplar as dimensões dos conteúdos, inovados por meio de pesquisas, para que o educador possa dominar um conhecimento amplo das áreas do saber e usar na ação educativa, rever sua execução nas metodologias, mas conjuntamente a uma dinâmica epistemológica de pensar, ver, e interagir com o seu próprio mundo, incluindo aí seus preconceitos e dificuldades lidar com a história e cultura numa perspectiva da diversidade.  Nesse sentido, ressalta Vasconcellos (2003) quando salienta que:

A efetiva mudança da prática pedagógica não pode ser como simples alteração de técnicas ou recursos: pega-se uma e deixa-se outra; entendemos que o caminho transformador é diferente: trata-se de uma (re) construção, que, como tal deve partir do que o sujeito tem de história pessoal e profissional (em se tratando do sujeito coletivo, há que se levar em conta também à história institucional e social). Somente assim haverá possibilidade de uma nova postura (VASCONCELLOS, 2003, p.170).

 

Deste modo, a(o) educador(a) na busca incessante mudança da sua prática, precisa rever o processo de avaliação adotado nas escolas, pois este apresenta a lógica seletiva e desumana de quantificar a aprendizagem por meio de provas, teste e notas que visam medir o grau de capacidade dos educandos, sem leva em consideração as especificidade e necessidades educativas de aprendizagem de cada um. Nesse sentido, é imprescindível considerar a diversidade na condução da educação, visto que, os educandos e educadores apresentam características de vida, história, cultura e condições sociais específicas que necessitam ser consideradas e abordadas significamente no processo educativo.

O trabalho do educador com os conceitos de gênero, raça e etnia ao serem trabalhados na sala de aula em uma perspectiva da valorização da(s) identidade(s) dos múltiplos sujeitos que convivem no mesmo espaço da escola deve ter um posicionamento político, a fim de desconstruir os esteriótipos e os estigmas que foram atribuídos historicamente a alguns grupos sociais.

Portanto, percebemos que as influências adquiridas nas experiências cotidianas tais como, as angústias, problemas, ideais e sentimentos que regem á vida humana não devem estar dissociados da vida profissional da(o) educador(a), as características de cada ser, ou seja, seu projeto de vida, sua visão política, opção cultural, posicionamento ideológico frente às relações interpessoais vivenciadas no contexto social também, aparece como fator importante na qualificação da prática pedagógica do professor. Podemos inferir, com Freire (1996) ao ressaltar que:

 

A experiência histórica, política, cultural e social dos homens e das mulheres jamais pode se dar “virgem” do conflito entre as forças que obstaculizam a busca da assunção de si por parte dos indivíduos e dos grupos e das forçam que trabalham em favor daquela assunção. A formação docente que se julgue superior a essas “intrigas” não faz outra coisa senão trabalhar a favor dos obstáculos (FREIRE, p.42, 1996).

 

Neste sentido, percebemos que o espaço da reunião pedagógica através do resgate do conhecimento coletivo e do saber do educador da área que atua, conjuntamente ao saber da ciência, garantido por meio de pesquisas, debates e estudos propostos nas temáticas da reunião pedagógica, torna este espaço-tempo em um local de formação e construção do conhecimento, onde o docente poderá fazer um entrelaçamento de saberes na troca constante de experiências com os demais professores. Segundo, (Nóvoa, 2002, p.26) as experiências e partilhas de saberes se consolidam espaços de formação mútua, nas quais cada professor é chamado a desempenhar, simultaneamente o papel de formador e de formando. No entanto Nóvoa (2002) alerta que:

 

É preciso valorizar o confronto entre estratégias distintas, no sentido de estimular a gênese de uma cultura da formação continuada de professores. Qualquer tentativa de impor um figurino único, extensivo ao conjunto do país, contém os germes de um empobrecimento conceptual e praticas reprodutora. Vale à pena reproduzir um esforço de criatividade e de invenção de modalidades “não-formais” e “não-escolarizadas” de formação continuada (NÓVOA, p. 63, 2002).

 

Nesta perspectiva o espaço de formação do professor se caracteriza na dimensão coletiva profissional e organizacional, ocorrendo nos ambiente que a educação aconteça, seja de Carter formal ou não-formal, concretiza-se então na necessidade de valorizar e aproveitar as contribuições significativas destes contextos para formação docente na busca de novas práticas e estratégias de ensino, que necessitam serem contempladas na proposta curricular educativa.

Todavia, a garantia da atualização da prática docente promovida em cursos, reuniões pedagógicas, na troca de experiência entre professores e nos demais espaço da formação humana, precisa levar em consideração que a vida profissional e pessoal do educador neste tempo-espaço de construção, deve estar articulada a dimensão humana que apresenta características próprias de sentir, falar, concentrar, memorizar, imaginar e interagir por meio de ações e intervenções no seu convívio social e sua atuação em sala de aula de educação profissional.

 

 

5.    CONSIDERAÇÕES FINAIS:

 

 

 

Na reflexão sobre gênero raça/etnia nas experiências de sala de aula, nos alertou para que percebesse a importância da diversidade e sua inserção no currículo integrado da Educação Profissional, tornado-se temas extremamente importantes para enrriquecer a prática do professor em sala de aula. Contudo, essa prioridade ainda não foi incorporada de forma estrutural no espaço educativo pelos profissionais da educação: professores, coordenadores e gestores.

No decorre do estudo verificamos que por meio da educação vem se propagando a desigualdade, preconceito, discriminaqação e injustiça presente quando prevalecem à hegemonia e dominação de um determinado grupo ou classe social, ou seja, a educação é um invento que não contempla a realidade daqueles que a criam, nem mesmo suas necessidades e anseios de mudança sócio-cultural e étnico, que vise à democracia para todos os indivíduos e acesso aos bens sociais na tessitura da sociedade.

No entanto, torna-se preponderante que periodicamente os educadores e o demais profissionais da educação, a comunidade e educandos, façam críticas significativas a respeito da viabilização, eficácia, e a abrangência das práticas educativas, ou seja, como vem ocorrendo a integração da proposta curricular na escola, mas precisamente na sala de aula de educação profissional.  Analisar, rever e avaliar significa avançar na mudança da qualidade da educação bem como, na busca democrática de acesso aos bens culturais, políticos e sócio-educativos, promovido pelo conhecimento adquirido no processo educacional, a participação da comunidade escolar é um das formas de promoção da diversidade na escola.

Nesse sentido, compreendemos que a questão tecida sobre as relações de gêro raça/etinia e a reorganização do currículo integrado atento para diversidade, necessita ser expandido para as escolas dentro dos espaços de sala de aula, sendo este de real lugar de interesse e utilização nas práticas educativas, estando atentos e valorizando o trabalho cotidiano com as diferenças que contribuir para enriquecer a aprendizagem dos educandos e favorecer a igualdade de oportunidades, direitos de todos os presentes neste ambiente educativo.

 

 

 

ReferênciaS

 

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[1] Pós-Graduanda em Metodologia de Ensino para Educação Profissional. UNEB – Universidade do Estado da Bahia – Campus XI.

E-mail: nubianadja@yahoo. com.br

 

[2] Professora Orientadora da disciplina Oficinas 1 - Construção coletiva de práticas pedagógicas para Educação Profissional. UNEB – Universidade do Estado da Bahia – Campus XI.

E-mail: bellauneb@gmail.com

E-mail:bellauneb@gmail.com

[3] http://prosaempoema.wordpress.com/tag/hermeto-pascoal/ (acessado em 20 dezembro 2014).

[4] MACEDO, Roberto Sidnei.  A etnopesquisa critica e multirreferencial. Salvador: UFBA, 2000.

[5] LOURO, Guacira L. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-estruturalista. 8.ed. Petrópolis, Rj: Vozes, 1997.

[6] ABRAMOWICZ. Anete. Trabalhando a diferença na educação infantil. São Paulo: Moderna, 2006.

 

[7] GOMES, Nilma Lino. Relações étnico-raciais, educação e descolonização dos currículos. Currículo sem fronteiras, v.12, n.1.p. 98-109, jan./abr. 2012. Disponível em: http://www.curriculosemfronteiras.org/articles. htm>. Acesso em: 26 dezembro. 2014

[8] MCLAREN, Peter. A Vida nas Escolas: uma introdução à pedagogia crítica nos fundamentos da educação. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.

 

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Núbia Nadja Batista da Silva

por Núbia Nadja Batista da Silva

NÚBIA NADJA BATISTA DA SILVA FORMAÇÃO Graduada em Pedagogia. UNEB - Universidade do Estado da Bahia, conclusão em 2008. Pós-graduação em Pedagogia Social. Faculdade FINOM Paracatu - MG - Instituto Pró Saber, conclusão em 2011. Pós-graduada em Metodologia de Ensino para a Educação Profissional da UNEB - Bahia (2015). Educadora.

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