INCLUSÃO E INTERAÇÃO: PERSPECTIVAS

Educação Inclusiva.
Educação Inclusiva.

Educação e Pedagogia

21/10/2015

INTRODUÇÃO

Apesar do MEC ter lançado alguns programas em prol da inclusão como o Programa Educação Inclusiva: direito à diversidade (2003 a 2007), o Programa de formação continuada de professores na educação especial – modalidade à distância, (2010) (MELLO, 2011) e o Programa de Implantação de Salas de Recursos Multifuncionais que disponibilizou (2005 a 2008); de publicações como Diretrizes para a educação especial na educação básica (2001) Orientação e Mobilidade: Conhecimentos básicos para a inclusão do deficiente visual (MACHADO et al. 2003); e de livros como Ensaios pedagógicos: construindo escolas inclusivas (BRASIL, 2005, 2006a); Saberes e Práticas da inclusão (BRASIL, 2006c) ao trazer orientações para os docentes de diversas disciplinas, especificamente para a comunidade cega ou de baixa visão, permanece uma lacuna legal e científica para um bom trabalho com a língua estrangeira (DANTAS, no prelo, p.15).

Podemos perceber, portanto, que há um movimento governamental a favor da implementação do novo paradigma de inclusão nas escolas, mesmo que, na prática, toda iniciativa desse ideal ainda dependa de investimentos e ações concretas dentro da sala de aula, especialmente dentro das de línguas estrangeiras. Sabemos também que, embora haja indicações em documentos, tais como Declaração de Salamanca, Convenção de Guatemala e LDB, para que incluamos, nos cursos de licenciaturas, disciplinas que contribuam para a formação de professores no que diz respeito aos novos saberes com relação inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais e novas práticas profissionais, ainda há poucos espaços também em nível superior.

Por questões como estas necessitamos de investigações na área de ensino/aprendizagem e tecnologia, especialmente com a população de deficientes visuais para que possamos não somente incluí-los, com sucesso, nas escolas, mas para aumentar e melhorar seu capital social para que eles possam ser bem sucedidos em uma economia global baseada em informação (GIBSON, 2011, p. 2).


Inclusão

A visão de Inclusão, que hoje é um movimento mundial caracterizado por processos de mudanças étnicas, sociais e educacionais, vigora desde meados da década de 80, Sassaki (1999) conceitua a inclusão social da seguinte maneira:

(...) como o processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir, em seus sistemas sociais gerais, pessoas com necessidades especiais e, simultaneamente, estas se preparam para assumir seus papéis na sociedade. A inclusão social constitui, então, um processo bilateral no qual, as pessoas, ainda excluídas e a sociedade buscam, em parceria equacionar problemas, decidir sobre soluções e efetivar a equiparação de oportunidades para todos. SASSAKI (1999, p.41)

Um breve resgate histórico aponta já nas décadas de 50 e 60, nos EUA, os alunos eram aceitos pelas escolas regulares, ao menos por meio período, devido ao esforço dos pais que organizaram associações dando inicio a ações legais e reivindicando pela educação aos seus filhos. A partir destas conquistas, mesmo que “pequenas” aparentemente, a inserção das pessoas portadoras de deficiência trilhou um caminho em que essas pequenas conquistas tornavam-se e tornaram-se importantes para as mudanças de hoje.
Na década de 70, alunos com deficiências começaram a ser integrados nas escolas regulares, caracterizando então um momento de mudanças nos paradigmas da sociedade. Foi então que a partir da década de 80 houve o surgimento de lutas pelos direitos das pessoas portadoras de deficiências.

O mundo, por bastante tempo estava fechado para mudanças, então, a partir de 1981, a ONU (Organização das Nações Unidas) decretou neste ano, o Ano Internacional das Pessoas Portadoras de Deficiências (AIPPD), nesta época que começou a se perceber que as pessoas portadoras de alguma necessidade especial também mereciam os mesmos direitos que asseguravam qualquer outro cidadão.

Já na década de 90, os movimentos de inclusão tornaram-se de grande impulso. Consolidando este marco importante, aconteceu a Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais, em Salamanca, na Espanha, quatro anos depois em 1994, foi reafirmado o compromisso com a Educação para Todos, onde foi reconhecida a necessidade e a urgência, entre diversos direitos, da iniciativa de uma educação inclusiva, baseada em lei e em politica, visando que todas as crianças independentes de suas necessidades especiais, fossem matriculadas em escolas regulares.

A princípio, através de rampas, também uma forma de acessibilidade, eles foram ganhando liberdade e acesso às escolas, bares, teatros, igrejas, restaurantes, cinemas, transporte público etc. O mundo foi se adequando para dar oportunidade a eles. Mesmo a nossa cultura tendo uma pequena experiência em relação à inclusão social, como se vê nas pessoas que ainda criticam a igualdade de direitos e não cooperam com aqueles que “fogem dos padrões” estabelecidos por um determinado grupo. E diante destes olhos que não cooperam, nós pessoas que nos importamos, também somos mal vistos, também somos diferentes. Para ser incluído temos que incluir e as pessoas que são excluídas têm tanta ou mais capacidade quanto as que excluem, - talvez por uma questão inconsciente psicológica ou medo, as pessoas excluam as que têm mais capacidades para não se sentirem inferiores por uma pessoa, principalmente por quem tem alguma deficiência e sabe mais do que quem não tem problema algum, o refuta – principalmente ao se tratar de deficientes.


Interação e Processo de Inclusão: Revendo Metodologias


Temos, para Piaget, que visa uma reflexão construtivista sobre a aprendizagem e o desenvolvimento, sendo a aprendizagem a alavanca para o desenvolvimento. Essa perspectiva é considerada maturacionista, visto que aborda o desenvolvimento das funções biológicas com base na aprendizagem.

Já para Vygotsky temos a perspectiva sócio-interacionista, sócio-cultural ou sócio-histórica, onde a relação entre aprendizagem e o desenvolvimento estão ligadas devido ao ser humano viver em um meio social, sendo essa a principal alavanca para estes dois processos. Sem dúvidas a aprendizagem e o desenvolvimento andam juntos mesmo que não em paralelo. Ao contrario de Piaget, Vygotsky tece a respeito do desenvolvimento como dependente da aprendizagem, na medida em que se dá o processo de internalização dos conceitos, ora promovidos pelo fator social, principalmente no meio escolar. Para Vygotsky o fator biológico da espécie não é suficiente para realização de atividades sem a participação de ambientes e práticas específicas que proporcionam a aprendizagem. A ideia de que um indivíduo se desenvolva com o tempo, é refutada. O indivíduo é reconhecido como um ser pensante, que vincula sua ação ao mundo que o constitui culturalmente. Sendo então, a escola um espaço e um tempo onde este processo é vivenciado, onde o processo de ensino-aprendizagem envolve diretamente a interação entre sujeitos.

A interação e a imbricação destes processos de ensino e aprendizagem podem ser compreendidos quando falamos da Zona de Desenvolvimento Proximal, ou ZDP, que, segundo Vygotsky (1996) seria a distancia entre o nível de desenvolvimento real - determinado pela capacidade de resolver problemas independentemente - e o nível de desenvolvimento proximal - demarcado pela capacidade de solucionar problemas com ajuda de um parceiro mais experiente.

Seria a aprendizagem que ocorre na ZPD fazendo com que o individuo se desenvolva ainda mais - desenvolvimento com aprendizagem na ZDP leva a mais desenvolvimento, por isso dizemos que, para Vygotsky, tais processos são indissociáveis. É justamente na zona de desenvolvimento proximal que ocorre a aprendizagem. A função do professor seria então, a de favorecer esta aprendizagem, sendo mediador entre o indivíduo e o mundo.

Se nos basearmos na teoria Vygotskyana vemos que esse processo acontece sem a linguagem visual, trazendo esta teoria ao ensino de Língua estrangeira, doravante LE, para os surdos, vemos que eles, são tanto quanto capaz de adquirirem uma LE como qualquer outro indivíduo que tenha alguma deficiência visual ou física. Claro que esses são alguns dos pontos a serem analisados e que existe muito mais por trás da aquisição da linguagem em deficientes visuais que uma simples hipótese.

Falamos aqui de deficientes visuais adultos, mas todo o processo de aquisição começa enquanto criança onde depende de vários fatores para que realmente a aquisição se faça. Uma variável como o comportamento materno na infância e o ambiente familiar em que o indivíduo está inserido, o fator socioeconômico, pode influenciar de modo significativo nesse processo. Esses aspectos foram pesquisados por Dote-kwan, Hughes e Taylor (1997) que visaram avaliar o desenvolvimento das crianças com deficiência visual. A conclusão foi de que o comportamento materno é fundamental no desenvolvimento da criança, podendo produzir ambientes estimuladores para essas crianças propiciando impactos significativos no que se refere ao desenvolvimento da linguagem.

O processo de aquisição da linguagem é de fato complexo, devido a estar intrinsecamente relacionado com o desenvolvimento global do indivíduo. Por isso, para que seja efetivo, é necessário que os padrões motores, cognitivos e sensoriais estejam funcionando de maneira satisfatória e integrada, de modo que o sistema motor possa agir sobre a articulação dos sons, o cognitivo capacite o indivíduo a compreender as relações entre os acontecimentos e os objetos e finalmente o sistema sensorial faça com que o indivíduo perceba os estímulos do ambiente oferecendo condições para que ele possa agir sobre estes (CUNHA, 1997). Considerações Finais

No paradigma da Inclusão, a busca do potencial nas identidades individuais deve seguir um novo caminho, caminho este que deve partir dos professores, profissionais da saúde, familiares, terapeutas, e não menos da sociedade. Precisamos fazer uso alguns princípios na vida, como o empoderamento da autodeterminação e autodefesa, da vida independente, da autonomia, do modelo social da deficiência, da equiparação de oportunidades, da rejeição zero, da cooperação e colaboração, da diversidade humana e das diferenças individuais.

Nos dias atuais, nas instituições, lares e etc. existem diversas pessoas com deficiências que ainda são vistos, bem menos do que antes, como incapazes de aprender ou produzir. Antigamente isso era aceito através de diagnósticos e prognósticos que nossos instrumentais avaliativos e nossos referenciais teóricos mais avançados nos indicavam.

Hoje, pelo paradigma da Inclusão devido às descobertas e tendo a disposição a teoria das inteligências múltiplas, não temos mais o consentimento das próprias pessoas com deficiência e de outras pessoas socialmente excluídas para continuarmos adotando os critérios de avaliação, as metodologias didáticas e demais recursos educacionais que não mais atendem aos interesses, às aspirações e às necessidades e, acima de tudo, ao potencial até então ignorado de tantas e tantas identidades individuais.

Como afirma Parish (1989, Inclusion News), “Não há dúvida: as escolas precisam adaptar-se aos alunos e não o inverso”.

O potencial existe em cada pessoa, não importa o grau de severidade da sua condição. Helen Keller, cuja produção foi imensa e muito contribuiu para melhorar a vida das pessoas, escreveu a seguinte frase: “Eu sou apenas uma. Não posso fazer tudo, mas posso fazer algo. Eu não me recusarei a fazer o algo que posso fazer.“ (In Inclusion News)


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Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Sweder Souza

por Sweder Souza

Discente do Curso de Letras - Português e Inglês, licenciatura da Universidade Tecnológica Federal do Paraná. É membro dos Grupos de Pesquisa em: Estudos da Linguagem; Discurso, Tecnologia e Identidades; e Estudos dos Sons da Fala.

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