RESENHA DE CAVALGADA AMBÍGUA, DE ANTÔNIO CÂNDIDO

Álvares de Azevedo
Álvares de Azevedo

Educação e Pedagogia

17/06/2015

RESENHA DE CAVALGADA AMBÍGUA, DE ANTÔNIO CÂNDIDO

 

Priscila Figueiredo da Mata Medeiros (UEMS)

 

O texto que será objeto de análise é Cavalgada Ambígua, de Antônio Cândido, constante da obra Na Sala de Aula, cuja 8ª edição foi publicada pela Editora Ática. Sobre o autor da obra em exame é importante salientar que Antônio Cândido de Mello e Souza, nascido em 24 de julho de 1918, no Rio de Janeiro, é um renomado literato, responsável por inúmeras críticas no cenário da Literatura Brasileira. Dentre suas produções, constam obras de peso, sobretudo no tocante à questão da formação da literatura no contexto nacional. Ademais, Cândido exerceu papel importante na cadeira acadêmica, tendo lecionado em universidades de São Paulo por um vasto período.

Cavalgada Ambígua, ela está esquematizada em sete partes, cada qual tratando de um determinado elemento da obra de Álvares de Azevedo, Meu Sonho (constante na terceira parte de sua obra Lira dos Vinte Anos).

Inicialmente, Cândido aborda a questão do aparente diálogo entre os dois personagens da obra, quais sejam, o “Eu” e o “Cavaleiro”. O autor aponta para o fato de que o personagem primeiramente tratado como cavaleiro, é, a posteriori, nomeado de “O Fantasma”.

Antônio Cândido prossegue sua exposição apresentando a sequência de fatos trazidos no poema. Nessa oportunidade, o literato relata que, da forma como foi construído o enredo de Meu Sonho, fica a impressão de que o cavaleiro fez algo terrível, levando-se em conta o fato de que ele é seguido por um grito de vingança. O “Eu”, por seu turno, conforme entende Cândido, está desejoso de saber quem é aquele que galopa no vale escuro e o porquê de seu sofrimento.

A primeira hipótese levantada pelo “Eu”, qual seja, que o cavaleiro é o remorso, é sumariamente afastada por Antônio Cândido, ao argumento de que “subsiste no "Eu" o sentimento de estar ante um mistério maior, até que sua pergunta angustiada seja respondida pelo "Fantasma" (...)”  (CÂNDIDO, acesso em 2015).

Repelida essa primeira hipótese, o literato prossegue sua análise de “Meu Sonho”, trazendo à luz a resposta do “Fantasma”: “Sou o sonho de tua esperança, Tua febre que nunca descansa, O delírio que te há de matar!...”  (AZEVEDO, 2007). Nesse momento, o crítico apresenta o primeiro sentido do texto por ele vislumbrado: o “Eu” descreve um sonho, no qual o cavaleiro é a corporificação de suas frustrações.

A análise de Cândido consubstancia-se ainda na questão do tempo da narrativa. Pela percepção do crítico acerca da utilização dos verbos no poema, os fatos desnudados pelo “Eu” não são se tratam de algo pretérito, mas algo que está acontecendo.

Na segunda parte da análise de Cândido, ele trabalha os versos 16 a 18, que segundo afirma, podem ter sido construídos no sentido de registrar o tropel e o clamor. Contudo, pelo fato de ter sido utilizado o ponto de interrogação, surge a impressão de que se está indagando ao “Cavaleiro” se ele corrobora essa impressão.

O crítico, neste tópico de sua análise, se preocupa em mostrar verso a verso, a tonalidade noturna do poema, a simplicidade do vocabulário e da sintaxe do mesmo, bem como a sonoridade que este apresenta:

Outra tratativa encontrada ainda na obra Cavalgada Ambígua é quanto à divisão do poema. O literato se preocupa em apresentar a quantidade de estrofes (quatro), de versos (seis) e o esquema obedecido em “Meu Sonho” (esquema aabccb).

Uma observação bastante salutar do crítico é acerca do corte apresentado na última estrofe [1].  Para Cândido, ao cindir o poema, este corte revela um desequilíbrio, que é compensado, no entanto, pelo elemento rítmico.

   Na fase três da análise crítica de Antônio Cândido (acesso em 2015) o autor assevera que “o ritmo, que além de responsável pela fisionomia geral do poema é também o seu princípio organizador.”

Ele aponta ainda para o fato de que talvez o diálogo entre o “Eu” e o “Fantasma” seja aparente. Seu questionamento é o seguinte: não seria, ao invés de diálogo, um monólogo? Cândido furta-se de responder sua indagação nessa oportunidade, relegando-a a um momento ulterior.

A parte quatro da análise inicia-se com uma explanação acerca de uma peculiaridade do Romantismo, que é o lado noturno. Segundo Cândido (acesso em 2015), “a noite parece mais ajustada a uma corrente que valoriza o mistério, respeita o inexplicável e aprecia os sentimentos indefiníveis.” O autor salienta ainda que “Incrustado na noite, o sonho passa então a modelo de poesia e narrativa: escrever como em sonho; descrever estados e ambientes de sonho; até propor o sonho como realidade, ou a realidade como sonho, mediados pela noite.” (CÂNDIDO, acesso em 2015).

Diante da exposição supra, verifica-se que Cândido dedicou parte de sua análise para evidenciar o simbolismo da noite para a corrente romântica. O intento do autor, nesse momento da análise, é demonstrar o porquê Álvares de Azevedo é considerado o poeta da noite. Para tanto, Cândido entabula algumas obras de Azevedo em que essa característica é bem marcada.

A conclusão trazida por Antônio é que, para Álvares de Azevedo o sono e sonho são situações que favorecem a expressão, haja vista estes estados darem vazão ao macabro e fantástico, que são peculiaridades do Romantismo.

No ponto cinco da crítica encetada por Antônio, o autor classifica o poema de Azevedo como balada. Para melhor elucidar sua assertiva, o literato passa a exemplificar algumas baladas, frisando o fato de elas conterem, na maioria, elementos sobrenaturais e macabros.

Após divagar acerca das características elementares da balada, o crítico acentua que o poema objeto de exame contém características da balada alemã e, salienta que esse “Meu Sonho” possui algumas singularidades, como por exemplo, o fato de ser uma narrativa interior.

O autor, no tópico seis, prossegue sua análise de “Meu Sonho” aduzindo que “a declaração d'"O Fantasma" pode encobrir a verdadeira razão do dilaceramento (expresso como "sonho", "febre", "delírio", nos versos 22-24).” (CÂNDIDO, acesso em 2015).

Após a ponderação acima, Antônio prossegue asseverando que o cavalo é símbolo da força viril e o “Eu”, que o vê desenfreado, sente arrependimento, pois deseja praticar (ou está praticando) um ato impuro e, portanto, condenável. Enfim, o ato reprovável é o sexo.

Para que Cândido chegue a esta conclusão, ele apresenta uma sequência de versos que, a seu ver, sugerem a conotação sexual. O autor cita outras obras para reforçar sua tese, além de se remeter aos “traços de auto-erotismo”, constantes na obra de Azevedo.

Por toda essa exposição, Antônio conclui que a resposta do “Fantasma” nada mais é que a resposta de um sentimento de contrição por ocasião do forte desejo sexual (tido como pecado).

Por derradeiro, o crítico, na parte sete de Cavalgada Ambígua, salienta que sua análise visa trazer à luz os elementos escondidos dispostos em “Meu Sonho”, tendo como agente norteador o ritmo.

A obra Cavalgada Ambígua é relevante, pois além de ter sido elaborada por um conceituado literato, como é o caso de Antônio Cândido, ela foi construída com consolidada fundamentação e clareza. Pelas características constantes na mesma é recomendada a estudiosos e apreciadores da Literatura.

 

REFERÊNCIAS

 

AZEVEDO, Álvares. Meu Sonho. In Lira dos Vinte Anos. São Paulo: Ciranda Cultural, 2007.

CÂNDIDO, Antônio. Cavalgada Ambígua. In Na Sala de Aula – Caderno de Análise Literária. São Paulo: Ática, 8. ed. Disponível em https://fundbras.files.wordpress.com/2013/04/antonio-candido-na-sala-de-aula-livro.pdf. Acesso em 15 de junho de 2015.



[1] “Esse corte cinde o poema em duas partes, correspondentes, as falas de modo que o desequilíbrio é grande, pois uma parte tem 21 versos e a outra apenas 3”. (CÂNDIDO, Antônio. Cavalgada Ambígua. In Na Sala de Aula – Caderno de Análise Literária. São Paulo: Ática, 8. ed. Disponível em https://fundbras.files.wordpress.com/2013/04/antonio-candido-na-sala-de-aula-livro.pdf. Acesso em 15 de junho de 2015).

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Priscila Figueiredo da Mata Medeiros

por Priscila Figueiredo da Mata Medeiros

Especialista em Educação a Distância -- UCDB e Portal Educação. Bacharel em Ciências Jurídicas - UCDB. Acadêmica de Letras - UEMS. Inglês Básico; Curso de Latim - NEL/UEMS; Curso de Espanhol - NEL/UEMS; Curso de Língua Brasileira de Sinais - (Nível I); Curso de Extensão em Biodireito; Curso "Como Produzir um Curso a Distância".

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