O Vulnerável e a Reprovação: representação do sonho americano em Albee e Miller

Albee e Miller
Albee e Miller

Educação e Pedagogia

08/11/2014

Os textos dramáticos, naturalmente, nos propiciam um olhar mais aproximado das particularidades das personagens.  Em A Morte do Caixeiro Viajante, de Miller e Quem Tem Medo de Virginia Woolf?, de Albee percebemos que a construção das personagens e do enredo estão muito além do esperado, o que pode ser uma boa explicação para o sucesso de público e crítica que apresentaram. 


Miller, por exemplo, consegue observar de forma bastante incisiva, a partir de sua notável preocupação com questões sociais, as precariedades do sonho americano. Proporciona, também, uma reflexão ainda mais abrangente ao mostrar, no desfecho da narrativa, as consequências que afetam o meio, bem como as que afetam o indivíduo.


A personagem principal, Willy acredita que pode obter êxito a partir de seu trabalho e esforço pessoal, no entanto, com o passar do tempo percebe que o sonho americano, não pode alcançar a todos.


Miller retrata os anseios da personagem fundamentando-os a partir de elementos que figuram a realidade, como por exemplo, a máxima proposta pelo capitalismo, que expõe a importância da aprovação social e a necessidade de se chegar ao topo, o que é, notadamente, criticado pelo autor, algo que fica bastante evidente nos momentos mais marcantes da peça, ou seja, quando Willy decide colocar fim em sua própria vida para que sua família possa receber o dinheiro do seguro.


É perceptível, também, por meio dos flashbacks que proporcionam ao leitor alguma sensação de loucura, o estado emocional da personagem. Porém, a crítica de Miller não fica apenas ao fato de que nem todos alcançarão o sonho americano, mas também, ao fato de que, se for possível alcançar, nem sempre é possível permanecer nele.


Já em Quem Tem Medo de Virginia Woolf? O foco é a ilusão x realidade, algo que se constrói a partir da crítica do autor às instituições tradicionais. A peça tem início quando o casal George e Martha, após uma festa, recebem Nick e Honey. No meio de insinuações e flertes, inicia-se uma espécie de jogo da verdade. A cena é muito interessante e parece ter inspirado o aclamado Ingmar Bergman na introdução de seu filme Cenas de Um Casamento.


  As personagens centrais podem ser observadas a partir das tradições mais importantes para os americanos: família, sucesso e no contexto do drama, o casamento. Percebe-se nas personagens a vida estereotipada, ou seja, o casal aparentemente é perfeito, mas seu relacionamento está envolto em contendas e discussões. Outro elemento interessante é Martha, que foge totalmente às tradições, pois é uma mulher violenta, insubmissa e descontente, enquanto que seu esposo é tímido, fraco e manipulável, há uma inversão de papeis.


Novamente, a aparência é criticada. George que é professor de história pode ser considerado fracassado por não aceitar a proposta do sogro? Para manter as aparências, também lhe é negada a possibilidade de publicar seu romance, posto que, este falaria de sua vida, revelando, assim, os momentos conflitantes de sua vida, o que traria uma exposição negativa para a família.  


 Nota-se, nesse sentido, que a crítica maior do autor está na aparência, construída pelas tradições, isto é, o que as pessoas devem ser, o que devem possuir, como devem se portar, ou no que se transformam para manter as aparências impostas pela sociedade.


Desta forma, temos uma semelhança nas peças, principalmente, no que concerne à ilusão, como a fuga da realidade marcada pela presença de Ben em A Morte do Caixeiro Viajante, de Miller e em Quem Tem Medo de Virginia Woolf?, de Albee a partir da embriaguez e pelos jogos e discussões.

 


REFERÊNCIAS

ALBEE, Edward. Who's afraid of virginia woolf? London: Penguin Books, 1965.

 

DIAS, Deise Lílian Fonseca. O Fracasso do Sonho Americano em A Morte do Caixeiro Viajante de Arthur Miller. Revista Vivência. Revista de Antropologia, vinculada ao Departamento de Antropologia e ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da UFRN. N. 34, 2008 p. 113-118.

 

MILLER, Arthur. A Morte do Caixeiro Viajante: algumas conversas particulares em dois atos e um réquiem. Trad: Flávio. Rangel. São Paulo: Abril Cultural,1976.

 

Zanesco, Liane Mroginisnki. Tramas Teias e Jogos Dramáticos em Edward Albee, Patrick Marber e Make Nichols. Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de Letras. Programa de Pós-Graduação em Letras, Doutorado em letras, Área de Estudos da Literatura, Especialidade da Literatura Comparada, Porto Alegre, 2010.  

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Karla Purcino

por Karla Purcino

Graduada em Letras - Licenciatura em Inglês/Português (2013). Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Estilística e Alfabetização.

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