África: de mundo exótico a periferia abandonada

De mundo exótico a periferia abandonada
De mundo exótico a periferia abandonada

Educação e Pedagogia

30/09/2014

A África ao sul do Saara, com exceção a África do Sul é a causa perdida da economia mundial, se Deus a desse de presente e fizesse você seu ditador econômico a única atitude inteligente seria devolvê-la a Ele. As fronteiras se situam em lugares errados para abafar divergências étnicas, a revolução verde não foi feita para funcionar nas condições climáticas e nos solos africanos.


Não existem governos efetivos e eficientes, nenhuma economia nunca foi capaz de sobreviver a taxas de crescimento populacional ,como as da África de hoje. Os níveis de qualificação profissional e educacional são os mais baixos do mundo, isto contrasta com a África exuberante, verde e florestal. A exuberância africana caminha opostamente a analise cortante da África política e econômica.


Não obstante as descrições feitas da África refletem as formas opostas de inserção africana no mundo. Assim o mesmo lugar que excita a imaginação com seus mistérios, seus exotismos, nos seus dias atuais é tido como a periferia abandonada, apresentando diferentes papeis nela desenhados, o primeiro como símbolo daquela parte do planeta na nova ordem a segunda descrição, se entrelaça com a colonização africana. De fato tanto nas análises, quanto nas estratégias das potencias colonizadoras a África tem sido tomada como conjunto.


Colônia, periferia descartável, são exemplos dessa forma de olhar a África, não significando, entretanto, e existência de uma identidade africana. Talvez se aplique melhor a África à ideia de unidade não de identidade, pois existe uma historia de problemas comuns aos povos daí oriundos, problemas estes advindos de uma colonização por parte dos europeus que se situa entre as mais dramáticas da história.


A denominação África provém de Afrigah ou Afrikigah, termo aplicado a região onde a colônia fenícia de Cartago se desenvolveu, correspondente à cidade de Tunis, ao norte do continente, inteiramente destruída pelos romanos, estes fundam a seguir uma província nesta mesma região, a qual denominaram África, cujo nome se estendeu por toda a parte a noroeste passando a designar ,por fim, o continente inteiro.


Este moto contínuo “construção-destruição-reconstrução” de territorialidades ganhou nova dimensão a partir dos primeiros contatos com a Europa movidos pelos ventos da expansão mercantil a partir do século XV. Ao longo do processo de conquista e submissão africana entre os séculos XV e XX, podemos discernir algumas fases, ainda que todas tenham se destacado pela extrema violência. No primeiro período que se estende das viagens de reconhecimento e construção de feitorias, passando pelas expedições de geógrafos, militares e missionários ate o final do século XIX, a África esta ligada ao circuito mundial com a tarefa precípua de exportar escravos para as demais periferias mundiais, como foi o caso do trafico negreiro em direção as Américas, sendo a periferia da periferia.


Em fins do século XIX temos a fase imperialista, a conquista adquire outro conteúdo, tão espoliativo quanto os demais, porem revestido de maior sutileza: é o período em que o capital financeiro alça voo em direção ao mundo colonial sob forma de empréstimos, construção de canais e ferrovias. Podemos dizer que nessa fase a África deixou seu papel de “periferia da periferia” para galgar a condição de periferia propriamente dita.

Até aquele momento o continente africano apresentava contrastes tanto no que se refere à distribuição de sua população quanto nas formas organizadas de suas sociedades. São essas diferenças que, somadas aos heterogêneos interesses europeus que ali incidiram ,resultaram num quadro regional bastante complexo. Se os campos da Argélia foram sangrados, fornecendo trabalhadores para a construção de metrôs na França, o Egito ,por sua vez, em função de sua posição estratégica ,foi alvo das disputas entre as potencias europeias que construíram o Canal de Suez, verdadeiro símbolo do imperialismo europeu.


Dentro do limite do chamamos de África Subsaariana encontramos as regiões do Oeste Central e Austral, a região oeste se notabilizou pela existência de vários reinos com nítida hierarquia social entre o que podemos denominar uma comunidade superior. A ausência de riquezas minerais e a existência de transformações advindas da economia do trafico contribuíram para a formação de uma área colonial onde predominou o plantition; na África Central, área predominantemente florestal, a ausência de sociedades organizadas inviabilizou a organização da platition. A presença da própria Floresta Equatorial naquela área afugentou o grande capital.


A colonização da África Meridional foi normalmente identificada como zona de grupos bantus graças a sua predominância, os bantus se organizavam em grupos de famílias extensas, com propriedade comunal da terra, sendo frequentes graves conflitos entre estes grupos, estes fatores, a existência de valiosas jazidas como ouro e diamantes e mesmo colônias agrícolas de povoamento, a necessidade de Mão de obra para a colonização, deságuam na desterritorialização de comunidades inteiras no sentido mais cruel do termo. Esta violenta segregação ou apartheid a que foram submetidos os negros da região, traduzida num complexo e elaborado sistema legal a partir de 1948 na África do Sul, e extinto em 1994, com eleição do líder negro Nelson Mandela, constituiu-se num dos pilares do desenvolvimento capitalista no país.


A região do Chifre da África compreende a área entre Etiópia e Somália, abrigou sobre o maciço abissínio uma sociedade hierarquizada que resistiu a conquista islâmica e notabilizou por sua aproximação com o cristianismo na sua versão copta, entretanto o Chifre da África, após despertar interesses das grandes potencias durante a Guerra Fria, não evoluiu no mesmo sentido sul africano, inversamente na “Nova Ordem”, a situação de alguns de seus países como a Somália, se traduz na imagem do desespero, motivo de tentativas de intervenções militares e de ajuda humanitária por parte da ONU.


A presença de africanos nos campos de batalhas da Segunda Guerra Mundial mudou irremediavelmente, as relações dessas últimas com as suas respectivas metrópoles. Recrutados compulsoriamente lutando contra italianos e a ameaça japonesa. O discurso de defesa da democracia contra regimes autoritários retornavam contra as próprias metrópoles. A chegada ao poder na Europa ocidental de partidos anticolonialista, os sindicatos e a intelectualidade alimentaram o processo de independência africana.

Os limites das jovens nações foram marcados pelo principio da “intangibilidade das fronteiras” traçadas na época colonial sem respeitar identidades e territorialidades pré-existentes. Estes rearranjos espaciais estão muitas vezes na origem do processo atual de fragmentação.


A ideia de unidade africana vinha sendo gestada desde os fins do século XIX, entretanto, somente em 1963 foi institucionalizada quando da criação da Organização da Unidade Africana (OUA) em Adis Abeba, na atualidade a OUA se limita a adotar recomendações e não tem obtido resultados eficazes.


A ideia do subdesenvolvimento, em que se pesem todas as criticas imputadas ao termo, veio no bojo de uma progressiva sensibilização da opinião publica mundial para os problemas da pobreza em um plano menos elaborado e o do abismo social numa visão mais elaborada.


Na África, os projetos de desenvolvimento nasceram e se desdobraram ao longo de décadas de forma não uníssona. Na atualidade, a sensação de desilusão acerca dos resultados desses projetos de desenvolvimento, mormente os de orientação marxista, toma conta das apreciações e prognósticos sobre o continente como um todo, é nítido contraste entre Nigéria e África do Sul de um lado, e Angola e Moçambique de outro.


Na Nigéria, ainda que a violência urbana grasse que as cidades expulsem de volta aqueles que imigraram do campo, que os conflitos étnicos ameacem as bases do desenvolvimento do país, estruturado a partir de sucessivas ditaduras militares, esta fora de questão negar a existência de uma base capitalista mais vigorosa, medida da dentre outros fatores pelo extravasamento do comercio muito além das fronteiras do país, este mercado em expansão captou exportadores europeus, americanos e até brasileiros, bem como mão de obra dos países vizinhos, quando quase três milhões de estrangeiros afluíram para lá.


As pretensões nigerianas são muitas: a liderança no continente, hegemonia na África Ocidental e “guia” das nações negras. O Estado nigeriano, montado na riqueza petrolífera, não mede esforço em construir uma verdadeira federação que possa dar conta dessa diversidade.


Se os sonhos nigerianos de liderança começam a se esvair, o mesmo não acontece em relação à África do Sul. Sobre este pais concentram-se as expectativas maiores quanto ao desempenho desse papel.


Contrastando com estes polos estão às nações que trilharam o caminho “socialista”, Angola e Moçambique; e de conhecimento de todos que a guerra que dilacera a economia e as esperanças dos angolanos, a palidez do desempenho tanzaniano no cenário regional e o difícil esforço de Moçambique para tentar superar sua condição de pobreza. A situação de Angola é de difícil prognostico em função do prolongamento do conflito armado entre as forças governamentais e as forças de oposição; no outro lado do continente esta Moçambique, tentando sua reconstrução após acordo de paz entre os exércitos da FRELIMO e da RENAMO, em 1992,e a realização de eleições mediadas pela ONU, que obrigaram as duas forças a dividir o poder.


A partir dos resultados obtidos nos projetos desenvolvimentistas da Nigéria, África do Sul, Angola e Moçambique, vimos delinear o perfil de uma África profundamente cindida: dum lado a desilusão com os projetos de desenvolvimento tanto socialista ou fora dele, de outro a esperança no avanço da África do Sul pós-apartheid. Frente ao processo de globalização este processo só fará agravar-se. Na imprensa, nas organizações internacionais preocupadas com o destino do Terceiro Mundo, os prognósticos tomam a África como um conjunto sem esperanças. Amin refere-se à África negra como “quarto-mundializada, sem função no mundo atual, enquanto Zorgbibe fala em marginalização no sistema mundial”. Outra forma de exclusão diz respeito à perda de importância estratégica de um determinado território em função da mudança de conjuntura internacional. O desinteresse por parte dos centros ocidentais implicou em algumas das muitas situações dramáticas que povoam os noticiários sobre o continente.


O caso da Somália é ilustrativo, pois ela é o rosto de uma África marginalizada pela fome, miséria, mas também pela proliferação dos espaços ocupados por aglomerados humanos de exclusão, outro exemplo e o de Ruanda, que assim como a Somália é emblemático dessa face da globalização, em Ruanda, centenas de milhares de mortos, mais de dois milhões de refugiados e deslocados, este é o saldo do conflito étnico-racial entre Tutsis e Hutus. A (des)ordem em Ruanda e na Somália pode ser encontrada em outros cantos da África ,as guerras da Libéria, a luta esquecida dos núbios no sul do Sudão, os territórios da droga ,a fronteira entre Chade e o extremo norte de Camarões. “Dentre todas as nações do continente apenas a África do Sul esta classificada como periferia integrada do continente”.


Enquanto a ideia de um desenvolvimento da África do Sul seduz o ocidente, o norte vem sendo, cada vez mais associado ao “perigo muçulmano”. Norte excluído, sul conectado? Não é tão simples assim, sabemos que as soluções para os dilemas da África variam de intensidade e complexidade segundo a região e mesmo segundo o contexto histórico: as esperanças para os africanos são tantas quanto às desesperanças projetadas para o continente neste fim de século.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Lúcio Flávio Pereira de Aguiar

por Lúcio Flávio Pereira de Aguiar

Graduado em História e Geografia. Professor da Educação Básica no Rio de Janeiro (Regular e EJA). Facilitador em Alfabetização de Jovens e Adultos. Consultor para o Terceiro Setor.

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