Tutoria e interação: Reciprocidade na Educação a Distância

A educação à distância por ser aberta e flexível
A educação à distância por ser aberta e flexível

Educação e Pedagogia

19/09/2014

Tutoria e interação na Educação a Distância

Introdução

A educação à distância por ser aberta e flexível, define um novo formato que busca educar para saber compreender, sentir, comunicar-se e agir melhor, integrando a comunicação pessoal, a comunitária e a tecnológica. Nesse sentido ela não se limita somente ao processo de autoaprendizagem, sendo bem mais amplo seu alcance, onde a interação e colaboração viabilizam vínculos e estabelecem redes de aprendizagem, fomentando diálogo e participação, estimulando a pesquisa em grupo, a troca de informações, visita a sites, construção e disponibilização de conteúdos, com o propósito educativo-interativo.


Como alternativa de ensino e aprendizagem mobiliza dois atores fundamentais desse processo de construção e reelaboração do conhecimento, o aluno e o professor. Naturalmente, há uma ressignificação de seus papeis, pois se altera a modalidade comunicacional, não mais baseada na distribuição (transmissão), mas sim na comunicação (interação).


Tutoria na EAD
Etomologicamente as palavras professor e tutor resguardam aproximação. A primeira, do latim “professore”, indica aquele que ensina, conduz, quem professa algo, mestre. A segunda, da mesma matriz, “tutore”, significa quem tutela alguém, protege, defende, guarda, socorre.


Da perspectiva tradicional, a ação do professor-tutor em Educação à Distância era direcionada à orientação para aprendizagem, apoiando-se em materiais autoinstrutivos, o que limitava seu papel ao acompanhamento e cumprimento das etapas previstas no processo.


Com o aprofundamento da compreensão sobre os processos de aprendizagem aliada ao desenvolvimento das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) e o próprio avanço da EaD, o papel do professor-tutor é ressignificado e requer competências que compreendem, conforme PALLOFF e PRATT (2002) apud COLLINS E BERGE (1996), desde os aspectos técnicos referentes ao conhecimento da sua área de atuação, disposição para compartilhá-lo e saber manusear os recursos disponibilizados; à capacidade de gerir as atividades do curso, acompanhando e intervindo junto aos cursistas; como também a capacidade de se relacionar e criar vinculo com o aluno, mostrando-se confiável e acessível, estimulando e potencializando a aprendizagem.


Há que se considerar também as características demandadas para o aluno da EaD, como a capacidade de planejamento, autogerenciamento do tempo (inclusive com seu equacionamento entre curso e atividades desenvolvidas na empresa), disciplina, capacidade de comunicação, interação, etc. Estas características são denominadas Funções Psicológicas Superiores (VIGOTSKY) e desenvolvem-se ao longo da vida, através da mediação e interação. São complexas e muitos indivíduos têm dificuldade em administrá-las, pois cada um as desenvolve em ritmo próprio e conforme as experiências vividas.


Nesse contexto, é importante que o tutor tenha atenção e flexibilidade para lidar com os ritmos individuais diferenciados de cada aluno, sendo capaz de acompanhar, motivar, orientar e estimular a aprendizagem, atuando com uma metodologia consistente e assegurando o “fluxo de comunicação interativa e bidirecional, mediada pela ação tutorial com acompanhamento pedagógico e avaliação sistemática da aprendizagem” (SOUZA, SPANHOL, LIMAS e CASSOL, 2004).
A importância da interação no processo de ensino-aprendizagem
A interação na EaD é elemento essencial para o êxito desta modalidade educativa. Segundo o Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa, interação[1] é a palavra formada através da adição do prefixo latino inter, que significa entre, à palavra ação, do Latim actio-onis e significa atuação; ato; efeito; obra. Pressupõe “ação entre entes”, uma ação mútua.


Ultrapassa a perspectiva de comunicação clássica unidirecional entre emissor e receptor, ora que estes redefinem seus papeis através da interatividade, onde a mensagem circula em territórios abertos a interferências e modificações.


A relação pedagógica sai da perspectiva unilateral para uma proposição mais interativa e colaborativa. Para acompanhar essa mudança, o educador precisa estabelecer um diálogo educativo que compreenda aspectos éticos, comunicativos e coletivos. Ele se dispõe como um organizador do conhecimento e da aprendizagem. Para tanto, a disponibilização de diferentes meios (chats, fóruns, pesquisas, mensagens, situações problema, etc) enriquecem as possibilidades de trabalho, como elementos estruturantes do pensar e motivadores do processo de ensino e aprendizagem, promovendo a descoberta e a construção e viabilizando também a integração e a reciprocidade dos conhecimentos.


Embora se abram oportunidades várias de interação, exatamente por sua característica de ocorrer à distância apresentam “desafios aos professores e alunos para a sua realização e para a sua manutenção com sucesso, em razão da ausência do contexto físico partilhado”, conforme citam Barros e Crescitelli (2008, p. 73).


Moore (2004) chama a atenção para a interação entre professores e alunos na EAD, sua aproximação ou distanciamento, uma vez que sendo flexível a relação tempo e espaço, é importante a criação de possibilidades de comunicação contínua para manter a motivação, assegurar o ritmo e mediar as situações de aprendizagem, buscando suprir a distância física e comunicativa em um processo de aprendizado, o que o autor define como “distância transacional”. Quanto menor a interação entre professores e alunos, maior esta distância.


O acompanhamento do professor-tutor quanto ao acesso dos participantes, incentivo, contato, esclarecimento de dúvidas, desafios, propostas de pesquisa são algumas ações importantes. Também, a estruturação do ambiente virtual disponibilizado (formato, animações, links, facilidade de acesso, etc.), à dinâmica do curso (tempo para realização, chats, fóruns e outros) e o material disponibilizado, são significativos para assegurar maior êxito do aluno na EaD.
Segundo Mattar (2009), há vários tipos de interação em EaD, entre tutores e alunos, alunos e alunos, alunos e conteúdo, tutores e tutores, tutores e conteúdos, auto interação, dentre outros que respondem a diferentes objetivos tais como “participação, comunicação, feedback, elaboração, controle/autorregularão, motivação, negociação, constituição de grupos, descoberta, exploração, clarificação e fechamento” (Mattar, 2009, p. 117). Quanto às interações relativas aos alunos destacamos, segundo o autor:

Interação aluno/professor
- síncrona ou assíncrona, oferece motivação e feedback ao aluno, auxiliando seu aprendizado. Neste sentido, o retorno das mensagens é essencial ao processo interativo, devendo-se observar um tempo máximo para sua circulação. A demora neste processo pode ocasionar em perda do seu objetivo principal.


Interação aluno/conteúdo- pode se dar através da navegação, seleção, exploração, análise, construção, resposta às questões do material e conteúdo disponibilizado. É importante que este conteúdo apresente situações contextualizadas e desafiadoras, mobilizando o interesse do aluno.


Interação aluno/aluno - síncrona ou assíncrona, tem como principal objetivo desenvolver a capacidade de trabalhar em equipe, desenvolvendo o aprendizado colaborativo e cooperativo, compartilhando, discutindo, interagindo em comunidade. Gera motivação e atenção, aumenta a percepção de coletividade. Nesta interação, o feedback também tem papel importante por gerar expectativa e movimentar a discussão sobre determinado tema.


Interação aluno/interface –
é a interação do aluno com a tecnologia, sua facilidade ou dificuldade em acessar a Plataforma e os recursos disponibilizados para o curso. Para tanto, é necessário que o design instrucional adotado viabilize a navegabilidade, ofereça variabilidade nos recursos e utilize estratégias que facilitem o aprendizado. O tutor atua tanto como incentivador da navegação pela Plataforma e quando necessário indicando outras fontes de consulta, quanto como mediador atento às sinalizações dos alunos.


Auto interação – é a análise que o aluno desenvolve sobre sua atuação no curso, seu aprendizado, o que precisa melhorar, ou seja, sobre o conteúdo e o próprio aprendizado, uma auto avaliação. Pode acontecer no decorrer do curso, na elaboração de uma síntese de conteúdo, no estudo para uma prova, e até mesmo provocado pelo tutor ou um colega.


Como podemos ver, há diversas formas de interagir em EaD, não necessariamente guiada apenas pelo tutor ou isoladamente. Um desafio enfrentado nesta modalidade é o equilíbrio entre a interação e o estudo independente, ora que ambos caminham em direção à autonomia almejada na construção do conhecimento. É importante que professores e alunos sejam corresponsáveis neste processo, ao utilizarem a EAD como meio condutor da informação, fomentador da comunicação, do diálogo e da interatividade, apropriando-se deste espaço onde cada vez mais pessoas buscam aprimorar sua formação.
Síntese
A docência é uma atividade que se aprimora no seu exercício. Da mesma forma, a tutoria é lapidada na prática e estudo. A busca por materiais, o compartilhamento de dúvidas e informações com colegas, pesquisa e aprimoramento de estratégias didáticas, qualidade no trabalho desenvolvido, interesse e atenção quanto ao aprendizado do aluno são qualidades intrínsecas ao tutor.


O aluno precisa compreender o papel de agente da sua aprendizagem, capaz de assumir a responsabilidade tanto de estudar sozinho quanto de aprender coletivamente, buscando desenvolver-se, além de compreender a relevância dos conhecimentos que traz, sua experiência e da contribuição dos outros, enxergando-se como parte essencial dessa construção.


O professor é a ponte entre o aluno e o conhecimento, não sendo somente aquele que define o ritmo e a forma da aula. Ele compartilha informações e desenvolve estratégias para que seu aluno possa acessá-las e compreendê-las, conduzindo seu trabalho de maneira que o aluno possa cada vez mais agir autonomamente.


Ambos são agentes do saber, que em suas ações confluem para interação, participação social e elaboração de novos modos de aprendizagens e significados. É uma construção que requer redimensionamento da ação educativa, considerando as novas linguagens e os novos modos de aprender.


Estreitar o diálogo e compartilhar informações, desenvolver práticas desafiadoras que acolham os conhecimentos e dificuldades dos alunos, ao mesmo tempo em que se trabalhem as competências necessárias ao curso, são desafios aos tutores atuais que passam a ter uma função mais desafiadora, com maior exigência intelectual e criativa, pois em sua ação problematizadora, sistematizadora de experiências e mediadora da memória entre o que se conhece e o que irá conhecer, assume o papel mais de formador que informador e para isto sua formação precisa estar sintonizada a essa nova proposição educativa.


REFERÊNCIAS:


BARROS, Kazue Saito Monteiro de; CRESCITELLI, Mercedes Fátima de Canha. Prática docente virtual e polidez na interação. In: Interações virtuais: perspectivas para o ensino da Língua Portuguesa a distância. São Carlos: Editora Clara Luz, 2008, p. 73-92.


MATTAR, João. Interatividade e Aprendizagem apud LITTO e FORMIGA. Educação à Distância. O estado da arte. São Paulo: Pearson, 2009.


MOORE, Michel. Teoria da Distância Transacional. Trad. Wilson Azevedo. Disponível em http://www.abed.org.br/revistacientifica/Revista_PDF_Doc/2002_ Teoria_ Distancia_Transacional_Michael_Moore.pdf. Consultado em 20/01/2012.


PALLOFF, R. e PRATT, K. Construindo Comunidades de Aprendizagem no Ciberespaço. Porto Alegre: Artmed, 2002.


SOUZA, A. SPANHOL, F. LIMAS, J. e CASSOL, M. Tutoria na Educação Distância. Disponível em www.abed.org.br/congresso2004/por/thm/088-tc-c2.htm. Consultado em 10/02/2014.


VIGOTSKY, Lev. A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes, 1991.


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[1]https://blog.ufba.br/dancanovasmidias/2008/10/24/etimologia-de-interatividade/

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Kamila Silva de Novais

por Kamila Silva de Novais

Pedagoga, Mestre em Educação pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Psicopedagoga, Esp. em Gestão Estratégica de Pessoas. Professora do Ensino Superior. Pesquisadora do Grupo FECOM (Form. do Educador , Comunicação e Memória). Pedagoga de empresa pública. Atuando com foco na discussão sobre Educação e Mídias, Formação de Professores, Sociedade do Consumo, Educação Básica e Educação Infantil.

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