O conhecimento do indivíduo como influência na sua formação discursiva

O conhecimento do indivíduo como influência na sua formação discursiva
O conhecimento do indivíduo como influência na sua formação discursiva

Educação e Pedagogia

23/06/2014

Introdução

O presente trabalho descreve a experiência obtida através de uma pesquisa de campo feita com entrevistados residentes no município de Maribondo – AL, a qual buscou analisar as diversas análises discursivas constituídas pelos entrevistados, para isso, foram escolhidas (3) três imagens, as quais apresentam discurso (ideologias), e com isso foi solicitado ao entrevistado que o mesmo fizesse a análise discursiva da imagem que foi apresentada no momento, ou seja, descobrisse a construção ideológica presente na mesma.


Foi possível perceber que os entrevistados, visto que os mesmos possuíam uma formação ideológica diferente, apresentaram opiniões (interpretações) diferentes uns dos outros. Alguns com uma formação ideológica maior conseguiram fazer uma análise correta sobre a imagem apresentada, já outros com um conhecimento de mundo menor, conseguiram constituir uma análise, porém, com mais dificuldade, o que acabou fazendo com que a análise ficasse incompleta, ou totalmente errada.


Esta pesquisa pretende também refletir sobre os conceitos de análise do discurso, como também de “ideologia”, e análise discursiva, o que serviu como base para a elaboração deste trabalho o qual aborda um tema referente a isto.
No decorrer da pesquisa, foi possível perceber que se tratando de análise do discurso, percebe-se que a maioria dos entrevistados questionaram sobre o significado desta expressão, pelo fato de que quase todos os conhecedores da análise do discurso, são estudantes do campo da linguística.


Para sistematizar este trabalho, optou-se por uma pesquisa qualitativa, na qual foi possível expor os resultados obtidos no decorrer do trabalho, pois quando tratamos de opiniões, neste caso, a variedade delas, não se tem um dimensionamento basicamente ligado a quantidade, e sim, o ponto qualitativo visto no decorrer do trabalho.


Este artigo foi dividido em (5) cinco tópicos nos quais serão abordados: a análise do discurso, alguns conceitos de análises discursivas e formação ideológica, a procedência com a análise dos dados coletados na pesquisa.
Para a realização deste trabalho, usou-se como base teórica AMARAL (2005), SILVA e FREITAG (2010), BRANDÃO (2006), dentre outros.


1. Análise do discurso

A análise do discurso é uma prática linguística a qual se encaixa na área da comunicação, pelo fato de analisar a estrutura de textos e a partir daí, compreende as construções ideológicas que se encontram neste texto.


A análise do discurso estuda mais especificamente o funcionamento da língua, ou seja, analisa o sentido o qual o texto está representando. O referido estudo vem ganhando grande destaque no universo linguístico, a prática do estudo da análise do discurso possui tanta importância como o estudo da sociolinguística, a linguística textual, dentre outras.


Hoje em dia, o estudo da análise do discurso vem tendo grande repercussão, sendo área de várias pesquisas as quais vêm sendo estudadas constantemente no mundo da linguística. Tamanha expansão é tida pela curiosidade despertada no indivíduo na tentativa de descobrir a construção ideológica, ou seja, a relação de sentido que referido texto apresenta.


Observa-se que analisar um discurso não se distingue apenas em observar o que está sendo dito. A AD[1], além de analisar o que está sendo dito, busca analisar a construção ideológica que o mesmo expõe, ou seja, a relação de sentido que este discurso possui. PÊCHEUX apud SILVA SOBRINHO (2010, p. 247).

A evidência diz: as palavras têm um sentido porque têm um sentido, e os sujeitos são sujeitos porque são sujeitos: mas, sob essa evidência, há um absurdo de um círculo pelo qual a gente parece subir aos ares se puxando pelos próprios cabelos.


Percebe-se, então, que uma palavra possui muito mais do que apenas um significado, a palavra é constituída por uma ideologia, ideologia esta descoberta pela análise do discurso.


Para definir discurso vê-se uma infinidade de conceitos os quais buscam com o máximo de clareza esclarecer o grande significado que possui o referido termo. Discurso pode ser definido como uma dispersão, ou seja, como sendo formados por elementos que não estão ligados por nenhum princípio de unidade, isto é, o discurso pode ser constituído por elementos aleatórios, onde os mesmos nem sempre possuem alguma ligação.


Para GREGOLIN (1995, p. 17)

O DISCURSO é um suporte abstrato que sustenta os vários TEXTOS (concretos) que circulam em uma sociedade. Ele é responsável pela concretização, em termos de figuras e temas, das estruturas semio-narrativas. Através da Análise do Discurso é possível realizarmos uma análise interna (o que este texto diz?, como ele diz?) e uma análise externa (por que este texto diz o que ele diz?).


Portanto, ao analisarmos um discurso descobrimos vários textos que terão como base o referido discurso, é viável lembrar que os textos que virão surgir fazem parte da ideologia empregada no discurso.


2. Análises discursivas

Análises discursivas referem-se a análises as quais ponham em prática a teoria da análise do discurso. Todo e qualquer indivíduo pode fazer uma análise discursiva, onde a mesma poderá variar de acordo com o conhecimento histórico, geográfico e de mundo que o mesmo possua. De modo mais amplo, as análises discursivas expõem ao leitor a construção ideológica de determinado texto, ou seja, a formação ideológica dele. Para AMARAL (2005,p. 43)


As formações ideológicas, pois, são expressões da conjuntura ideológica de uma formação social; elas se põem historicamente, de formas diferentes e em diferentes momentos históricos, acompanhando o processo de complexificação da sociedade e com ele, também, se modificando. Assim, as formações ideológicas dominantes em uma sociedade correspondem ao modo de produção dominante.


As formações ideológicas possuem grande influência no conhecimento, ao deparar-se com uma imagem relacionada à 2º guerra mundial, um indivíduo sem um conhecimento histórico razoável não iria fazer uma análise discursiva que possa se considerar “correta”, a análise correta seria feita por alguém com um conhecimento histórico e de mundo maior.


Vê-se que a ideologia é quase totalmente voltada ao sentido, pois o sentido desvenda toda e qualquer formação ideológica. Vale ressaltar que a análise discursiva é utilizada para este fim “analisar o discurso para que com isso, seja descoberta sua construção ideológica através do sentido”.
A formação ideológica tem como um de seus componentes as formações discursivas, ou seja, os discursos são governados por formações ideológicas. A noção de formação discursiva possui dois tipos de funcionamento:

• A paráfrase – a formação discursiva é um sistema de paráfrases, ou seja, de constante retomada e reformulação dos enunciados, como forma de preservar sua identidade.

• O pré-construído – A análise do discurso chama de pré-construído as construções anteriores e exteriores, que se diferenciam do que é construído pelo enunciado.


A formação discursiva possui suas regras. FOUCAULT apud BRANDÃO (2006, p.32) destaca estas regras.

Os objetos que aparecem coexistem e se transformam num “espaço comum” discursivo; os diferentes tipos de enunciação que podem permear o discurso; os conceitos em suas formas de aparecimento e transformação em um campo discursivo, relacionados em um sistema comum; os temas e teorias, isto é, o sistema de relações entre diversas estratégias capazes de dar conta de uma formação discursiva, permitindo ou excluindo certos temas ou teorias.


Vê-se, então, que para delimitar-se uma formação discursiva, devem-se obedecer rigorosamente as regras acima citadas, as quais com clareza apresentam a estrutura da formação discursiva e mostra porque a mesma possui grande influência na formação ideológica.


3. Metodologia

3.1 Procedência e análise de dados


Este estudo trata-se de uma pesquisa qualitativa, a qual visa mostrar os resultados de uma pesquisa de campo realizada com pessoas de escolaridade diferente, ou seja, formações ideológicas diversas. Com isso, foi exposta uma imagem para o indivíduo, onde o mesmo deveria analisar o discurso que naquela imagem contém. Podemos perceber no decorrer da pesquisa que as opiniões expressas pelos indivíduos eram diversas, já que as análises discursivas podem variar de acordo com o conhecimento histórico, geográfico e de mundo, que o indivíduo possui.


3.2 Procedência das análises coletadas

Para a concretização deste trabalho, optou-se por uma pesquisa de campo, onde saímos às ruas para entrevistar (9) nove pessoas escolhidas aleatoriamente, daí foi solicitado que o entrevistado constitua cada uma a sua análise. Primeiramente foi feita uma entrevista pessoal, solicitando informações sobre nome, idade e escolaridade, e logo depois apresentamos as imagens para posteriormente coletarmos as análises, as quais serão expostas nas análises de dados apresentadas abaixo, juntamente com as imagens que foram utilizadas na pesquisa realizada.


Imagem 1

Fonte: http://entrecruzandodiscursos.blogspot.com.br/2010/12/elementos-da-analise-do-discurso-na_1109.html


Tendo em vista a imagem acima, percebe-se que é feita uma propaganda de uma chapinha, a qual serve para alisar o cabelo, a partir daí acrescentou-se mais uma vogal na terceira sílaba da palavra Monalisa, e a palavra foi separada a partir da mesma vogal. Insinuando que a mulher que foi desenhada por Leonardo da Vinci, chamada Monalisa, usa o referido produto.
As análises coletadas serão expostas a seguir:

Entrevistado J.J.S (42 anos – Ensino Médio Completo): ___ Isso é uma mulher desenhada num quadro antigo!

Entrevistado R.M.S (23 anos – Superior incompleto): ___ Dar-se a ver nesta imagem o desenho de Monalisa feito por Leonardo Da Vinci!

Entrevistado E.A.B.C (38 anos – Superior Completo): ___ Nesta imagem, percebe-se que está se referindo a uma propaganda de uma “chapinha”, tendo um tom irônico em expor a obra “Monalisa” de Leonardo da Vinci, afirmando que até a moça da imagem usa determinado tipo de produto.



Imagem 2

Fonte: http://boliviateamo.blogspot.com.br/2013/11/el-petroleo-brasileno-y-la.html


A imagem acima apresentada possui um tom de revolta por se referir a um assunto polêmico que está sendo visto nos dias de hoje, que se trata da construção de estádios para a copa do mundo, o que direta ou indiretamente está acabando com verbas as quais deveriam ser investidas em educação e saúde. Por isso, pode-se ver na imagem que a parte da bandeira onde se vê “ordem e progresso” está afundando.


Tendo em vista a imagem acima, foram coletadas as seguintes análises:


Entrevistado F.P.H (19 anos - Ensino Fundamental Incompleto): ___ Nessa “foto” da pra ver a bandeira do Brasil!

Entrevistado L.V.F.N (21 anos - Superior Incompleto): ___ Essa imagem demonstra que o Brasil tem apenas um foco que é a copa de mundo e com as construções de estádio, já a saúde e a educação deixou de existir pois o governantes estão investindo nos estados e esquecendo do essencial.

Entrevistado M.J.S (30 anos - Ensino Fundamental Incompleto): ___ Só mostra o negócio da bandeira do Brasil afundando.


Imagem 3


Fonte: http://linguaportuguesa.uol.com.br/linguaportuguesa/gramatica-ortografia/38/artigo273503-2.asp

A imagem acima mostra que um adulto de olhos vendados, impede a vista de uma criança, para que a mesma não enxerga-se o mundo como ele realmente é, com relação à violência, drogas, álcool e várias outras coisas vivem constantemente ao nosso redor.


Diante do exposto, foram coletadas as seguintes análises discursivas:

Entrevistado S.S (34 anos – Superior Completo): ___ Demonstra duas faces vendadas! Porem um adulto vendado cobrindo os olhos de uma criança, ou seja, fechando os olhos para o mundo como se o que acontece no mundo não fosse importante.

Entrevistado E.L.S (18 anos - Ensino Médio Incompleto): ___ Um homem fechando os olhos do outro.

Entrevistado A.C.R.O (29 anos – Ensino Médio Completo): ___ Aqui eu vejo uma mãe tapando os olhos do filho.
Conclusão

No decorrer desta pesquisa, destacou-se a grande repercussão que está tendo a análise do discurso nos estudos linguísticos atuais, por abranger os mais diversos discursos presentes no dia a dia tendo a formação ideológica do indivíduo como foco principal. Diante disso, optou-se por uma pesquisa nesta perspectiva pelo interesse de comparar as opiniões e análises discursivas encontradas a partir de entrevistas realizadas.


Durante o processo de análise de dados, vimos que não foram coletadas análises discursivas, mas sim interpretações, tendo em vista esta realidade no desenvolvimento da pesquisa, é pertinente destacar que as pessoas entrevistadas não possuem nenhum conhecimento sobre análise do discurso, e por este motivo não se pode coletar analises discursivas e sim interpretações. A causa pela qual se viu que as contribuições dadas pelos entrevistados eram interpretações e não análises, foi quando refletiu-se que a análise do discurso é o dito pelo não dito, e no corpus coletado percebe-se que os entrevistados só destacavam o que estava bastante claro na imagem apresentada.


Vale ressaltar que o presente trabalho, não visou somente em mostrar as dificuldades dos entrevistados em realizarem análises discursivas, mas também, mostrar que de acordo com o conhecimento de cada um foi possível perceber a evolução das interpretações fazendo com que algumas delas tivessem alguns aspectos de analise.


Com isso, percebe-se que a formação ideológica do indivíduo contribui significativamente para a sua capacidade em realizar análises discursivas, tendo em vista que para desenvolver uma análise discursiva, não interpretação, deve-se primeiramente ter capacidade ideológica suficiente, pois uma vez que se é feita uma análise discursiva onde a pessoa se depara com determinada imagem deve ter conhecimento seja ele histórico e/ou geográfico para saber o que a mesma está expondo, não apenas o que está visível, mas, como afirma um dos conceitos sobre a análise do discurso, deve-se ver o dito pelo não dito.

Referências


AMARAL, Maria Virgínia Borges. Discurso e relações de trabalho. Maceió, AL: EDUFAL, 2005.

BRANDÃO, Helena H. Nagamine. Introdução à análise do discurso. Campinas, SP: Editora Unicamp, 2006.

GREGOLIN, Maria do Rosário Valencise. A análise do discurso: Conceitos e aplicações. Disponível em <http://seer.fclar.unesp.br/alfa/article/view/3967/3642> Acesso em 01 de fev. 2014.

SILVA, Leilane Ramos da; FREITAG, Raquel Meister Ko. Linguagem em representação discursiva II: outros estudos. João Pessoa, PB: Editora Universitária da UFPB, 2010.



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[1] AD: Sigla referente à Análise do Discurso.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Silvio Nunes da Silva Junior

por Silvio Nunes da Silva Junior

Graduando do curso de Letras: Português e suas Respectivas Literaturas pelo Departamento de Letras da Universidade Estadual de Alagoas - UNEAL. Aluno do curso de Aperfeiçoamento em Formação Profissional de História, Literatura, Cultura e Memória Africana e Afro-brasileira pelo Centro FAPAZ de Ensino e Formação de Professores - CEFOP. Atuou como Pesquisador da FAPEAL, sendo integrante de Projeto de Pesquisa. Atualmente é Colunista do Portal Educação e Membro do Grupo de Estudo das Narrativas Alagoanas - GENA. Tem interesse nas áreas de Educação e Linguagem, Ensino de Língua Materna, Aquisição da Linguagem, Estudos do Letramento e Literatura Brasileira

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