Inclusão do aluno Deficiente Visual: relato de uma prática possível

Educação e Pedagogia

27/04/2014

O conceito de deficiência visual pode abranger dois tipos: a cegueira e a baixa visão (Brasil, 2001). A cegueira pode ser definida pela total ausência de visão ou a simples percepção de luz; segundo os mesmos autores, vários países ocidentais consideram que um olho é cego quando seu campo visual se encontra reduzido a 20º.

A baixa visão é a alteração da capacidade funcional da visão, decorrente de inúmeros fatores isolados ou associados tais como: baixa acuidade visual significativa, redução importante do campo visual, alterações corticais e/ou sensibilidade aos contrastes que interferem ou limitam o desempenho visual do indivíduo As inúmeras causas que provocam a redução da acuidade visual também levam a diferentes situações de ordem funcional da visão. O conceito de deficiência visual, denominada DV, traz a necessidade de partir de uma avaliação funcional da visão, cuja perspectiva educacional considera como DV todas as pessoas que não têm acuidade visual, ou que tenham problemas visuais graves não solucionáveis com recursos ópticos comuns (Brasil, 2001).

O processo educacional de pessoas com baixa visão se dá por meios visuais e com o apoio de recursos específicos, que viabilizam a eficiência visual, tanto por meio de recursos ópticos como de não ópticos. Em relação aos cegos, tem-se o uso universal do Sistema Braille como demarcador conceitual entre esses indivíduos e aqueles considerados com baixa visão. Os cegos são, portanto, aqueles cuja visão de perto é insuficiente para a vida escolar e leituras em geral, necessitando do uso do Sistema Braille.

Ao se propor um trabalho voltado para crianças com deliciência visual, leva-se em conta a especificidade relativa á forma de perceber os materiais pedagógicos, mas assume-se que se trata de crianças muito heterogêneas entre si, com diferentes dificuldades. Essas dificuldades podem ou não ser conseqüência secundária da deficiência visual, o termo "secundário" referindo-se á condição social de prejuízo que usualmente acompanha uma lesão orgânica, mas que não se constitui em decorrência necessária dessa deficiência (Vygotsky, 2007)

OBJETIVO:

Descrever uma aula planejada para uma turma de terceiro ano do Ensino Fundamental na qual possui um aluno Deficiente Visual incluido, demonstrando que é possível adaptar o conteúdo, utilizando recursos escolares de baixo custo.

DESENVOLVIMENTO:

O objetivo da aula planejada a seguir foi que os alunos do terceiro ano do Ensino Fundamental entendessem a elaboração da tabuada e conseguissem generalizar a tabuada do 5. Foi trabalhado em uma turma contendo 26 alunos, sendo que um deles é Deficiente Visual. As atividades apresentadas a seguir foram realizadas em uma aula de 55 minutos.

Para atingir o objetivo de que os alunos entendam a formação da tabuada e a ideia de agrupar de 5 em 5, foi iniciada a aula solicitando aos alunos que fizessem agrupamento de figuras de 5 em 5. Neste momento a mesma atividade foi solicitada ao aluno, a adaptação realizada foi fazer as figuras com a cola relevo para que o aluno DV pudesse perceber os pontos e fazer o agrupamento sozinho. As figuras abaixo demonstram as duas atividades realizadas simultaneamente nas quais foram trabalhados os mesmos objetivos com todos os alunos.

Figura 1: Agrupamento de figuras contando de 5 em 5

Após perceber através de figuras a quantidade 5, foi solicitado aos alunos que fizessem os numerais do 1 ao 100 contando de 5 em 5. Para realização desta atividade a professora fez coletivamente de maneira que os alunos iam falando os números e a professora anotando na lousa, em seguida foi solicitado aos alunos que anotassem no caderno. No caso do aluno DV foi utilizado o recurso da máquina Braille e ele foi fazendo os números no momento em que os colegas iam falando.

Figura 2: Atividade numerais de 5 em 5 até o 100

Para que os alunos entendessem a formação da tabuada foi trabalhado com eles uma sequência de soma demonstrando e estruturando a tabuada juntamente com os alunos, essa etapa foi importante para que os alunos percebessem como é formado e porque os resultados apresentados na tabuada sistematizada. Enquanto os alunos realizaram as adições o aluno DV agrupou quadrados de EVA dentro de limites circulares de barbante, enquanto ele fazia isso a professora questionava sobre possíveis somas dos grupos, dessa forma o aluno atingia os mesmos objetivos dos demais colegas que era somar grupos de 5 em 5.

Figura 3: Soma e agrupamento.

Após a atividade acima foi entregue aos alunos uma folha contendo uma figura de um relógio sem ponteiros. O objetivo da atividade foi generalizar o conteúdo estudado até o momento. Foram feitas várias perguntas aos alunos de forma a levar os alunos a refletir e perceber que os minutos do relógio analógico é contado de 5 em 5 e que era possível perceber a tabuada do 5 no relógio (exemplo: o número 1 representa 5 minutos, portanto 5x1=5). Esta atividade foi muito significativa e os alunos entenderam melhor não somente a tabuada mas a leitura dos minutos no relógio. Para o aluno DV foi trabalhado o conceito oralmente juntamente com os colegas e foi entregue um relógio utilizando barbante e cola relevo para que ele pudesse perceber o relógio e entender melhor a atividade. Para facilitar a compreensão foi colado do lado de fora os número em Braille na direção dos números em relevo.

Figura 4: relógio feito de cola relevo e barbante

Para finalizar a sequência de atividades foi apresentado aos alunos uma música da tabuada do 5 e solicitado que eles fizessem a tabuada no caderno.

CONCLUSÃO

Os alunos participaram ativamente de todas as atividades e acharam interessante o fato do aluno DV participar junto, muitos ficaram admirados em ver que o aluno também sabia a tabuada e que conseguia fazer atividades parecidas. As adaptações foram “pequenas”, mas isso no dia a dia do professor muitas vezes demanda um tempo muito grande que o professor por vários motivos não dispõe. Fazer uma adaptação curricular é algo que requer atenção, cuidado, planejamento e principalmente tempo. Professores que tem alunos incluídos poderia ter um tempo maior de horas para estudo, assim poderiam sentar e planejar a adaptação. Os recursos utilizados atingiram o objetivo, a atividade com o relógio foi interessante porque os alunos perceberam sozinhos que os minutos são contados de 5 em 5. As musicas utilizadas deixou a aula descontraída e ajudou a manter a atenção dos alunos, principalmente do aluno DV.

Em relação aos recursos utilizados, percebemos que se a atividade for bem planejada não precisamos de muito para atingir os objetivos, nas atividades apresentadas aqui foram utilizados EVA, cola relevo e barbante, todos esses recursos são disponíveis na escola. Durante a elaboração da atividade foi realizado uma busca e percebeu-se que há falta de recursos multimídias acessíveis para alunos com deficiência visual, percebendo que há uma lacuna nesta área.

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Conceitua-se inclusão educacional o processo através do qual as instituições de ensino se adaptam para poderem incluir, em seus ambientes, pessoas com deficiências e, simultaneamente, estas se preparam para assumir seus papéis nestes ambientes (Sassaki, 1999). De acordo com a conceitualização apresentada, para incluir os alunos com deficiências no ambiente social da sala de aula, as práticas educacionais devem ser alteradas no sentido da valorização da heterogeneidade humana, o que implica a aceitação individual de todos os alunos de acordo com suas condições pessoais.

A inclusão é um processo bilateral de adequação que exigirá de seus participantes e do sistema educacional, responsabilidades e funções de adaptação às condições de ensino. Em outras palavras, sem eximir a responsabilidade dos alunos com deficiências no processo de adaptação às condições de ensino, tal processo deve ser estruturado em função da diversidade de necessidades de todos os discentes. Particularmente, duas condições são consideradas essenciais à inclusão escolar de alunos com deficiências: a criação de canais adequados de comunicação entre os participantes do meio educacional, e a criação de condições para a obtenção de respostas de todos os alunos sobre os efeitos produzidos pelo tratamento educacional a que os mesmos foram submetidos. Os professores para dar inicio a um trabalho pedagógico com a criança deficiente visual, deve em primeiro lugar saber o grau de deficiência para então usar o material adequado e estratégias mais adequadas a seu aluno, aliando realmente todas as possibilidades às suas necessidades.

Referencial Teórico:

BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Programa de Capacitação de Recursos Humanos do Ensino Fundamental: deficiência visual. Brasília: MEC/SEESP, 2001. (Série Atualidades Pedagógicas, 6, v.1)

CAMARGO, E. P. O Ensino de Física no Contexto da Deficiência Visual: elaboração e Condução de Atividades de Ensino de Física para Alunos Cegos e com Baixa Visão. 2005. Tese de Doutorado em Educação para a Ciência - Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas.

Sassaki, R.K. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro, WVA editora, 1999.

Vigotski, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo: Martins Fontes, 2007

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Miryan Cristina Buzetti

por Miryan Cristina Buzetti

Doutora pelo programa de Pós Graduação em Educação Especial pela UFSCar. Desenvolvo pesquisas voltadas para área de dificuldade de aprendizagem, deficiente intelectual, formação de professores, ensino de leitura e escrita. Experiência como professora de sala de recursos, pedagoga da APAE, professora do Ensino Fundamental I. Atuo como tutora virtual em curso de Pedagogia UAB/CAPES.

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