Educação Sexual - Responsabilidade de quem?

Educação Sexual
Educação Sexual

Educação e Pedagogia

24/10/2012

A educação sexual é tema recorrente em conversar familiares, rodas de amigos, reuniões escolares, atendimentos psicológicos e psicopedagógicos, artigos publicados em jornais e revistas, seminários, programas de televisão. Uma das intenções de tantos encontros e desencontros é buscar a responsabilidade pela ‘assustadora’ educação sexual.

Educação é a formação de conceitos e de valores através da transmissão de conhecimentos. Ela é construída concomitantemente à história de vida do indivíduo - desde o nascimento da criança, o que a liga diretamente à estrutura de personalidade; passando pelo grupo familiar – que determina algumas características, sendo que estas surgem de acordo com as interpretações dos pais às experiências do indivíduo; e depois no social – onde o indivíduo “testa” seus conhecimentos. É um processo de construção mente-corpo que visa o equilíbrio.

No processo educacional o(a) professor(a) permite a busca de conhecimento do(a) aluno(a) e entrega os seus conhecimentos, permitindo a este simbolizar, guardar, mostrar e ressignificar seus conhecimentos. Juntos eles constroem a aprendizagem. E para que esta aprendizagem ocorra o(a) professor(a) deve ter algumas características, tais como: ser bem informado, respeitar o(a) aluno(a), transmitir confiança, ser aberto ao diálogo, entre outros. Sendo assim, o objetivo de toda educação deve ser a formação do indivíduo, devendo sempre gerar conscientização, liberdade e equilíbrio pessoal, propiciando qualidade de vida.

Ao se discutir a necessidade da educação sexual nos deparamos com argumentos contra esta ação através de uma total negação não só da necessidade da educação sexual como da própria existência da sexualidade e/ou de uma negação camuflada por argumentos falsos, indiretos e/ou diretos, que são os que aceitam, mas não promovem a educação sexual. E, também, com os argumentos a favor: de ordem psicológica, social, clínica, educacional e profissional.

No meio a tanta discussão sexual observamos a movimentação da educação sexual do âmbito repressivo para o permissivo. Saímos do modelo tradicional (repressivo) no qual a palavra chave é proibição, nada pode tudo é permeado pelo dualismo entre o bem (certo) e o mau (errado). Tem uma forte base na força moral, religiosa e cultural. A reprodução (gerar descendentes) é o objetivo único da sexualidade, existindo toda uma orientação fisiológica para isto. Sendo, então, a única função feminina a de reprodutora. A atividade sexual é considerada suja, pecado, doença, o que favorece a obsessão, pois não se fala sobre, mas se faz escondido.

Agora, nos encontramos no modelo permissivo no qual tudo é permitido. Há uma postura de oposição, mas não de conscientização da sexualidade. Mudam-se as atitudes e comportamentos, mas ninguém sabe o porquê. As palavras-chave são erótico, corpo e orgasmo.

Com a atual permissividade sexual não sabemos quem esclarecerá às crianças e adolescentes as frequentes dúvidas sobre o que estão sentindo e vivenciando e a que estão expostos no dia a dia através da mídia. Assim, de que forma acreditamos estar educando quando na verdade estamos reproduzindo um modelo preexistente, ou seja, deseducando sexualmente?

A atual educação sexual aborda dois principais pontos: informações biológicas (reprodução, gestação, menstruação, órgãos sexuais...) e as normas, moral e juízos de valor. Dentro deste contexto, mostra que a religião vem dominando a educação sexual, tratando a sexualidade pelo binômio puro – impuro, no qual a sexualidade pura seria aquela consolidada pelo matrimônio. Nesta linha de pensamento segue, então, a dessexualização do indivíduo, através da deseducação sexual e da repressão. Já que a educação sexual é a reflexão sobre liberdade, responsabilidade, moral, afetividade, prazer e comunicação.

Pode-se perceber a dificuldade dos adultos em aceitar que a sexualidade não se inicia com a vida adulta, faz parte da construção da aprendizagem humana, é o processo que possibilita a plena formação do indivíduo como indivíduo pleno. É um processo de desenvolvimento psicossexual (desenvolvimento físico, emocional, intelectual e sexual) que se dá desde a concepção do indivíduo.


É também difícil o adulto aceitar que ele tem de rever a sua própria sexualidade para poder ensiná-la. Pois, ser educador sexual não é reprimir a sexualidade do educando, mas sim proporcionar-lhe meios de exercer sua sexualidade sem medo e sem culpa. E quem seriam os outros educadores sexuais e de que forma vêm atuando?

A Família está envolvida neste processo desde a concepção e deve iniciar o processo de educação sexual desde o nascimento da criança. Sendo, então, de responsabilidade primária da família a processo de educação sexual, devendo depois ser articulado com a escola e assessorado por esta, já que por ter a função de formadora, a escola deveria saber como continuar esta educação sexual da forma a desenvolver um indivíduo saudável.

A Escola tem a tendência de preservar a si mesma, seus métodos e normas vigentes, não valorizando o novo nem o diferente e não ensinando nada que provoque mudanças. Sua educação sexual é orientada para formação da família e remoção dos desejos. No dia a dia ela desqualifica a sexualidade e tolhe os comportamentos sexuais.
Daí a sua denominação: dessexualizada e dessexualizante.

Instala-se aí o ciclo de transferência da responsabilidade, no qual a família responsabiliza a escola e vice-versa e, ambas responsabilizam terceiros pela educação sexual. O papel da família e da escola parece que vem sendo o de ‘ensinar’ a reproduz o modelo; nunca repensar os modelos, o que levaria à mudança, inclusive na educação sexual.

Outro educador é a mídia, que dita preconceitos e valores. Sendo a mídia a mais moderna babá eletrônica que ‘educa’ a todos apresenta, na grande maioria dos programas, apelo sexual, incitação à violência e ridicularização da pessoa, principalmente em horário impróprio para exibição. O que também não promove a crítica ao modelo, somente a reprodução do mesmo.

Os educadores devem, então, se questionar: será que o que falamos condiz com o que fazemos e acreditamos sexualmente? Muitas vezes aceitamos conceitos preconcebidos a fim de mantermos a tradição da educação sexual. E, como a um hábito, nos acostumamos à repressão e consequentemente a não realização de nossos desejos, reproduzindo o modelo. E a reprodução sufoca a sexualidade transformando-a em genitalidade (sexo pela reprodução), o que como consequência se converte em uma vivência efêmera. O excesso de modelos, conceitos e métodos de educação sexual, porém não soluciona este problema nem dá alternativas para iniciar o movimento de mudança. Os educadores sexuais devem se questionar e avaliar para não incorrerem no erro de chamar de educação sexual o que na verdade é deseducação e, além de ter aceitado, continuar reproduzindo seus conceitos.

Na verdade, somos todos responsáveis pela educação sexual. Os educadores, formais ou não, devem se policiar sobre o trabalho que vem sendo feito, pois devemos todos nos preocupar com o desenvolvimento saudável e a qualidade de vida de nossas crianças e adolescentes. Sempre lembrando que os objetivos da sexualidade são reprodução, prazer e comunicação. E, acreditar que a educação sexual seja a principal forma de promover mudança de atitude, sendo esta da responsabilidade de todos.

Assim, conclui-se que a educação sexual é um desafio é que para isto deve haver envolvimento, conhecimento, ética e espontaneidade. E que o educador deve ter claro os valores fundamentais de respeito, amor e saúde. Deve ser acolhedor; saber ouvir; ambientar os questionamentos, ou seja, se certificar qual é o questionamento para não subestimar nem superestimar a criança ou o adolescente; ser neutro quanto a seus próprios valores, para não desconsiderar nem desrespeitar o outro e trabalhar a própria sexualidade.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Carolina Gonçalves de Freitas Fonseca

por Carolina Gonçalves de Freitas Fonseca

Mestre em psicologia, psicóloga de formação, sexóloga , especialista em educação sexual, vem atuando na área clínica há 15 anos e desenvolvendo trabalhos de consultoria e orientação em educação sexual junto a pais e professores(as).(http://psicologacarolinafreitas.blogspot.com.br/) Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/6286538666536903

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