A influência da afetividade da família para a aprendizagem de crianças com TDAH

Influência da afetividade da família para a aprendizagem
Influência da afetividade da família para a aprendizagem

Educação e Pedagogia

10/10/2012

Sempre se discutiu a importância de um núcleo familiar bem estruturado orgânica e emocionalmente para um bom e equilibrado desenvolvimento do indivíduo. A criança com transtorno de déficit de atenção - o TDAH - não é diferente neste aspecto. O TDAH é um dos mais frequentes distúrbios que ocorrem em crianças. Ele surge geralmente na primeira infância e ocorre mais em meninos do que em meninas, não importando classe socioeconômica, etnia, grau de inteligência ou nível de escolaridade da família.



Trata-se de uma deficiência neurobiológica de origem genética, caracterizada por descontrole motor acentuado que faz com que a criança tenha movimentos bruscos e inadequados, mudanças de humor e instabilidade afetiva. Não existe uma única forma de TDAH e com o tempo pode sofrer alterações imprevisíveis. Afeta a criança na escola, em casa e na comunidade em geral, muitas vezes prejudicando seu relacionamento com professores, colegas e familiares.


Este transtorno apresenta três características básicas: a desatenção, a agitação e a impulsividade, que devem permanecer por pelo menos seis meses e manifestarem-se nos vários ambientes sociais frequentados. A criança com déficit de atenção tem dificuldade na concentração, distraindo-se com facilidade. Esquece seus compromissos, perde ou esquece objetos, tem dificuldade em seguir instruções e em se organizar. A hiperatividade, principalmente a motora, é outra característica marcante deste transtorno que leva à dificuldade de se manter por muito tempo num mesmo local ou ambiente e ficar sentado ou quieto por longo período.


Apresenta manipulação excessiva de objetos, fala excessivamente e a agitação de braços e pernas é constante. A impulsividade, outro sintoma, gera dificuldade em frear respostas ou comportamentos: respondem antes mesmo da pergunta ser formulada, não esperam sua vez, têm dificuldade em seguir regras, pois o impulso não lhes permite pensar antes de agir. Por tudo isso, são crianças que exigem muito de quem as orienta. Muitas causas para este transtorno têm sido apresentadas em diversos estudos.


Elas podem ser pré-natais: relacionadas à mãe no decorrer da gravidez (vícios, doenças crônicas, intoxicações e até, de importância fundamental, a própria aceitação da gravidez); perinatais: intercorrências durante o parto; e pós-natais: infecções do sistema nervoso central, traumatismos, etc. Há também a possibilidade de um caráter hereditário, já que se observa que 50% são filhos de pais hiperativos, embora nem todos os estudiosos concordem com essa hipótese, achando mais viável que seja consequência de desequilíbrio de uma química do cérebro.

 

É de fundamental importância observar o ambiente onde a criança vive, pois as condições familiares, sociais, culturais, psicológicas e afetivas podem gerar quadro comportamental idêntico ao TDAH, levando a um diagnóstico errado. Muitas crianças, hoje em dia, são diagnosticadas com o transtorno quando, na realidade, o problema é a falta de limites, disciplina e / ou aceitação e acolhimento amoroso por parte dos pais. É consenso que a aprendizagem tem seu início em casa, no meio familiar, de maneira informal e totalmente empírica.


A criança entra em contato com o mundo e com a cultura mediada pela família que é a fonte primeira de satisfação das necessidades e de todos os objetos e conteúdos que lhe proporcionarão o desenvolvimento dos esquemas necessários ao seu amadurecimento e aprendizagem. Para Wallon, o longo período de dependência do infante provoca intensa troca emocional e cria vínculos afetivos. A formação das estruturas afetivas inicia-se desde o primeiro contato do bebê com a mãe. A forma como ela cuida é fundamental para a inicialização de uma relação forte e saudável que irá futuramente intervir em outras relações.


A privação de relações vinculares pode ocasionar uma ruptura no desenvolvimento do pensamento. "A afetividade não é apenas uma das dimensões da pessoa: ela é também uma fase do desenvolvimento, a mais arcaica. O ser humano foi, logo que saiu da vida puramente orgânica, um ser afetivo." Essa afetividade começa na família se estende para outros relacionamentos. Se há falta de vinculação afetiva familiar, pode haver também um impedimento para a construção de novos vínculos no ambiente escolar, e consequentemente, impedir a criança de se mobilizar para a aprendizagem.

As primeiras imagens e impressões que a criança tem são criadas pelas percepções que a família, como mediadora-tradutora do mundo, lhes transmite. Mesmo os comportamentos infantis, para serem desenvolvidos e interiorizados, não dispensam a atenção dos familiares através dos exemplos e repetições constantes. Neste processo de aprendizagem, tanto as variáveis afetivas como as cognitivas têm importância para a compreensão e envolvimento da criança, influenciando seu desempenho.



Aprende-se na família, a como sentir-se em relação a si mesmo, a como avaliar sentimentos, a como reagir aos outros, como identificar e manifestar expectativas e temores; tudo isso, não somente através do que é dito ou feito em família, mas também, e talvez principalmente, pelo modelo oferecido quando os pais mostram, por exemplo, como lidam individualmente com os sentimentos ocorridos na vida conjugal e através da própria maneira como tratam com a criança.


“É muito comum a família da criança com TDAH rotulá-la com “birrenta”, “preguiçosa”, “desobediente”, e por isso reagir com irritação e constantes cobranças, castigos, palavras depreciativas do tipo: “ você não tem mais jeito!", "você nunca vai melhorar!", "você é desastrado!", "criança burra que não aprende!", que só promovem a baixa autoestima, levando a criança a aprender que nunca será capaz de aprender a se "comportar" conforme os adultos esperam e que, para ter a atenção de que necessita, ela deve continuar a se comportar do jeito que tem feito.



"Considera-se que uma das formas dos pais interagirem com seus filhos é através da "interação mediatizada", interação na qual o mediatizador (mãe ou pai, por exemplo), se situa entre o organismo mediatizado (o filho ou a filha), proporcionando e promovendo situações onde o sujeito mediatizado interaja de forma dinâmica, valorizando os processos e estruturas cognitivas. Ela é importante para desenvolver-se a motivação e a habilidade de pensar.



" Vale dizer que é a família quem vai ajudar a criança a entender suas limitações e dificuldades, ensinando-a, desde pequena, a dominar técnicas que favoreçam o controle dos comportamentos inadequados, valorizando as pequenas conquistas, evitando os rótulos tão devastadores, auxiliando-a na organização pessoal e do ambiente e criando uma rotina de pequenas tarefas que ela seja apta a cumprir sem frustrações.


O psicopedagogo também pode ser um mediador desse processo, através de aplicação de provas afetivas que possibilitarão a percepção da criança dela mesma e da família. Também terá importante papel no reforço dos conteúdos aprendidos na escola que porventura não tenham sido apreendidos a contento e auxiliará no relacionamento aluno-professor e família-professor fornecendo estratégias para que este último possa atingir a criança de maneira satisfatória. Sentir-se aceita, benquista e amparada certamente abrirá grandes oportunidades para um desenvolvimento maior do potencial da criança com TDAH.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Sandra Ferreira Alves Lima

por Sandra Ferreira Alves Lima

Formada em Pedagogia pela Universidade Mackenzie, em Teologia pela FLAM e pós-graduanda em Psicopedagogia Clínica e institucional pela UNISA.

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