Inserção do Dentista do Trabalho na Equipe de Saúde do Trabalhador

Odontologia

22/07/2015

3.1A IMPORTÂNCIA DO DENTISTA TRABALHO

 

              O trabalhador é visto na sociedade moderna como forma e ferramenta de trabalho gerando lucros e serviços, mas para que isso ocorra, o estado de saúde é fator muito importante, daí a atenção e os cuidados relacionados ao trabalho aumentarem com o passar do tempo(ARAÜJO, 1999).

 

              A Odontologia do Trabalho utili­za-se de todos os saberes estudados e desenvolvi­dos pelas demais áreas especializadas, porém sua operacionalização não se fundamenta na execução dos procedimentos intercepto-curativo-reabilitadores, não caracterizando uma relação profissional-paciente, e sim, a promoção e preservação da saúde bucal do trabalhador, pois o ambiente laboral, conforme o tipo e grau de exposição a que os trabalhadores estejam submetidos, pode originar doenças com manifesta­ções bucais, além do potencial para gerar acidentes de trabalho, pois a dor de dente ocupa a terceira posição nas causas de absenteísmo, atrás somente da dor de estômago e de cabeça (SÄ,2008).

 

              O intuito dos profissionais da área ocupacional de saúde bucal é também fazer um intenso trabalho de conscientização sobre saúde bucal com os trabalhadores que terão a oportunidade de serem multiplicadores do conhecimento adquirido (SPONCHIADO,2010). O especialista nesta área deverá ter condições de diagnosticar as doenças bucais ocupacionais, ou seja, as oriundas da profissão do indivíduo, bem como as manifestações bucais de doenças sistêmicas, conhecimento esse escasso na literatura, mas essencial para a melhoria da condição de vida do trabalhador.

 

              A atuação deste profissional estará voltada para a elaboração de políticas de promoção, prevenção e reabilitação da saúde do trabalhador, atividades inseridas no contexto da Saúde do Trabalhador, envolvendo exames admissionais e periódicos, análise de risco ocupacional e adequação dos programas de saúde ao risco envolvido, levantamento de dados epidemiológicos importantes para o subsídio da evolução da ciência, entre muitas outras modalidades de atuação, refletidas em benefícios enormes tanto para a empresa como para o trabalhador (SILVA,2010).

              O objetivo da Odontologia doTrabalho é o estudo, interpretação e solução dos diferentes problemas bucais que atingem a todos os trabalhadores, visualizados como participantes do processo de produção e consumo de bens, no qual os cirurgiões-dentistas e outros profissionais do setor também estão imersos enquantotrabalhadores de saúde.O novo paradigma da Odontologiano Brasil permitiu que seampliassem os compromissos éticos com a sociedade e com o social, garantindo que a maioria das pessoas pudesse “viver em saúde” (VILELA,2013).

 

              Dentro deste contexto, em 27de dezembro de 2001, segundo a resolução número 22 do ConselhoFederal de Odontologia, foi criada a especialidade “Odontologia do Trabalho”, vindo a preencheruma lacuna almejada pela classe, por tantos anos. Esta nova especialidade é regulamentada pelas resoluções número 22, de 27 de dezembro de 2001, e número 25, de 28 de maio de 2002, respectivamente (BRASIL,2002).O art. 30, da seção X, do Título I da Resolução 22/2001 define a especialidade como: “Art. 30 – Odontologia do Trabalho é a especialidade que tem como objetivo a busca permanente da compatibilidade entre atividade laboral e a preservação da saúde bucal do trabalhador”(CFO, 2001).

 

              A área de competência é definida pela Resolução 25/2002 do CFO: “Art. 3. As áreas de competência para a atuação do especialista em Odontologia do trabalho incluem: identificação, avaliação e vigilância dos fatores ambientais que possam constituir risco à saúde no local de trabalho, em qualquer das fases do processo de produção; assessoramento técnico e atenção em matéria de saúde, de segurança, de ergonomia e de higiene no trabalho, assim como em matéria de equipamentos de proteção individual, entendendo-se inserido na equipe interdisciplinar de saúde do trabalho operante; planejamento e implantação de campanhas e programas de duração permanente para educação dos trabalhadores quanto a acidentes de trabalho, doenças ocupacionais e educação em saúde; organização estatística de morbidade e mortalidade com causa bucal e investigação de suas possíveis relações com as atividades laborais; e realização de exames odontológicos para fins trabalhistas”. Ao buscar a compatibilidade entre a atividade produtiva e a preservação da saúde bucal do trabalhador, a “Odontologia do Trabalho” será uma área promissora no mercado(FERNANDES,2009).

 

              O especialista vai atuar integrado às equipes interdisciplinares nas empresas, como a Comissão Internade Prevenção de Acidentes (CIPA) e o Programa de Controle Médico de Saúde ocupacional (PCMSO), e ainda assessorar pequenas empresas ou profissionaisliberais em programas de prevenção de acidentes, educação em saúde e exames de admissão (FERNANDES,2009). Esta se difere das demais especialidades por ter suaação diretamente dirigida e voltada para a prevenção de todos os agravos laborais, objetivando a prevenção das doenças consequentes da atuação profissional e dos acidentes do trabalho. Cabe ao dentista do trabalho, o diagnóstico de grande quantidade de patologias que possuemmanifestações orais como primeiros sinais e sintomas, possibilitando assim tratamento a tempo de evitar seu agravamento (PERES,2003).

 

              De acordo com a REVISTA BRASILEIRA DE ODONTOLOGIA (2010), parece lícito concluir que:

  • a criação da especialidade Odontologia do Trabalho ainda não foi suficientemente absorvida ou conhecida por formandos de odontologia;
  • julga-se oportuno a divulgação desta especialidade dentro de instituições públicas e privadas de ensino de Odontologia, a fim de contribuir na formação de profissionais promotores de saúde mais capacitados e integralizados.

 

3.2 SAÚDE DE TRABALHADOR

 

              De acordo com LUCKER(1997), o termo saúde pode ser definido como “a experiência subjetiva de um indivíduo sobre seu bem estar funcional, social e psicológico”.Consequentemente se refere á experiência individual, de nossos corpos e a nós mesmo, e às consequencias daquela experiência na condução da vida diária.

 

              Assim sendo trata-se de um conceito sociológico e psicológico que aplicam-se as pessoas e populações.Para ARAÚJO e GONINI JR (1999),as condiçoes do trabalho interferem na qualidade de vida em saúde bucal de trabalhadores, podendo desencadear, alterações na mucosa, traumas e outros agravos, e indica a necessidade de exames odontológicos admissionais e periódicos como um sistema de informação em sáude do trabalhador.

              De acordo com REISINI(1998), a maior limitação dos indicadores epidemiológicos tradicionais está na sua falta de habilidade em refletir a “capacidade dos indivíduos na realização de suas tarefas e atividades”.Uma dor de dente altera a qualidade de vida resultando na procura por um profissional, mais do que outros sintomas percebidos(gengiva dolorida ou sangramento, próteses mal adaptadas, perda de dentes).Indivíduos nessas condições vivenciam grandes mudanças no seu dia dia, incluindo dias de trabalho perdidos,ficando em casa,evitando amigo e familia,aborrecendo-se com sua condição bucal, consultando dentistas,tomando medicamentos e evitando certos alimentos.SANDER e SPENCER (2004), relataram que a maneira como o trabalho é organizado reflete no bem estar dos trabalhadores.

 

              OLIVEIRA E SHEIHAM (2004),pesquisaram se adolescente brasileiros que tinham completado o tratamento ortodôntico, tinham uma qualidade de vida comparado aos que não tinham completado o tratamento e aos que nunca tiveram tido passado por tratamento ortodôntico.Os autores concluiram que adolescente que terminam seu tratamento ortodôntico tem uma melhor qualidade de vida em saúde bucal do que aqueles durante o tratamento e aqueles que nunca passaram por tratamento ortodôntico.

 

              De acordo com DRUMOND (2007), a diabéticos com periodontites leve a moderada e avançada maiores impactos negativos na qualidade de vida que diabéticos periodontalmente saudáveis ou com gengivite.

 

              Segundo SALIM (2003), a inserção da mulher no mercado de trabalho e a dupla jornada de trabalho (emprego/casa) tem sido associadas a piores condições de saúde.Para IIMARINEN (2006), o excesso de peso pode exercer um impacto negativo sobre a capacidade cardiorespiratória e músculo esquelética, e por favorecer o aumento da morbidade por doenças crônicas.

 

              A prevenção de agressões contra a saúde e a integridade física, associadas ao trabalho, surgiu somente com a incorporação do paradigma da medicina social do século XIX, que reconhece as condições de trabalho como um dos aspectos importantes das condições de vida(BARREIROS,2002). No século XX, o conhecimento sobre essa temática floresceu, não apenas por força do desenvolvimento científico da medicina e da saúde pública, mas também das chamadas áreas tecnológicas como a engenharia da segurança e higiene do trabalho, a toxicologia e a ergonomia, incorporando definitivamente o modelo da saúde do trabalhador, em consonância à saúde pública e à saúde coletiva (BEDRIKOW,2005).

 

              Os autores encontraram como temas mais comuns as doenças e acidentes de trabalho, sendo as pesquisas mais comuns as descritivas, com intoxicações, lesões por esforços repetitivos e doenças mentais concentrando o maior número de trabalhos que trataram de patologias específicas. As categorias ocupacionais mais estudadas foram os trabalhadores do ramo da saúde, ensino e agricultura. Dentre o conjunto de teses observadas percebem-se lacunas, como o pequeno número de estudos sobre câncer, na perspectiva epidemiológica da busca de determinantes ocupacionais (AQUINO,2003).

             

              Em mais de cinco décadas observaram-se apenas seis teses e dissertações, e nenhum estudo sobre prevenção, sistemas de registro, ou a carga que representam para a saúde pública, o que surpreende, considerando a relevância e expressão da produção acadêmica brasileira sobre cânceres. Surpreende também a falta de estudos sobre os trabalhadores do setor econômico primário referente a atividades de extrativismo e agropecuária, consideradas como de alto risco em todo o mundo. São também muito poucos os estudos sobre avaliação de efetividade dos programas de prevenção e em especial de intervenções exitosas, o que parece expressar um certo desânimo e cepticismo em relação ao valor da prevenção, exercendo papel importante na visão pessimista que permeia a formação de novos profissionais de saúde do trabalhador. Uma das políticas bem sucedidas na área da saúde do trabalhador é a do banimento do trabalho da criança e do adolescente em ocupações de risco(BEDRIKOW,2005).

 

              Sáude bucal do trabalhador: “é a parte da atenção à saúde do trabalhador, que trata de promover, preservar e recuperar a saúde bucal do trabalhador, conseqüente dos agravos, afecções ou doenças do exercício profissional, e que tem manifestações bucais, devendo ter sua ação voltada à prevenção de todos os agravos laborais, ou seja, objetiva a prevenção de doenças decorrentes da atuação profissional e dos acidentes de trabalho” (ARAÚJO, 1998).

 

              No trabalho realizado ARAÚJO& GONINI (1999), alertaram sobre a importância de conhecer os problemas bucais que possam afetar os trabalhadores, analisar a sua epidemiologia, patologia e etiologia, além de compreender o impacto que possam ocasionar na sua qualidade de vida.O dentista tem uma grande responsabilidade no reconhecimento e, consequentemente, na prevenção das doenças profissionais que possam ser diagnosticadas através do exame da cavidade oral. Isso exige um conhecimento especializado por parte dos dentistas, conhecimento esse que não pode ser obtido nos ambulatórios dentários gerais ou na clínica particular, mas unicamente através do contato diário com os trabalhadores, em seu local de trabalho.

 

              Os exames odontológicos para fins trabalhistas devem ser realizados com o objetivo principal de considerar as relações e implicações entre saúde bucal e atividade laborativa, preservando-se os padrões éticos e morais da prática profissional, como a imparcialidade, o bom senso e a moderação (ARAÚJO, 1998).

 

              De acordo com MAZZILI (2003), as doenças ocupacionais das gengivas, dos dentes e das demais estruturas da boca podem ser agrupadas em: a) doenças devidas às ações diretas do agente causal sobre as estruturas da boca; b) doenças em que surgem lesões orais como parte de uma doença sistêmica.Os dentes e demais estruturas da cavidade oral podem ser lesados diretamente por agentes químicos, físicos ou mecânicos com que tenham estado em contato; por outro lado, podem ser observadas, na boca, manifestações de doenças sistêmicas, o que permitirá ao dentista, bem orientado em relação à higiene do trabalho, encaminhar o seu paciente ao médico especializado.Um dos papéis do dentista especializado em Odontologia do Trabalho é diagnosticar e atuar na prevenção das doenças profissionais.

 

              De acordo com CARVALHO (2007), os problemas bucais constituem uma incapacidade da atividade produtiva, com efeitos sobre a capacidade de trabalho e a qualidade de vida, além do prejuízo para o empresário.Se as condições bucais se vinculam às condições gerais de saúde, e são consideradas quando se discutem as incapacidades que atingem os trabalhadores, a promoção da saúde torna-se um meio potencial de combate ao desconforto, dor e sofrimento associado às doenças bucais, tornando-se estratégia importante na redução do impacto destas doenças no processo de viver humano.

 

              O conhecimento sobre riscos ocupacionais para a saúde bucal do trabalhador é ainda incipiente, e a sua disseminação precária, seja no meio acadê-mico seja entre os profissionais de serviços, mesmo para aqueles que trabalham em indústrias, onde exposições ocupacionais são comuns. Isso expressa a falta de integração entre a odontologia e a saúde pública em geral, e, mais especialmente, entre as práticas de saúde bucal e o campo da saúde do trabalhador. Assim, torna-se necessária a incorporação dos profissionais de odontologia nas equipes de saúde e segurança do trabalhador. É importante também o deslocamento do foco de atenção da boca para o indivíduo, e deste para o coletivo, na expressão de sua complexidade social (MARTINS,2002).

 

              As empresas privadas sofrem um prejuízo bastante alto, tanto do ponto de vista financeiro como humano. Por isso, é fundamental que os programas de saúde ocupacional incluam a odontologia, e para que essa iniciativa obtenha sucesso é importante a participação do cirurgião-dentista nesse processo (MURRAY,1996).

 

              No ambiente de trabalho, o desconforto ocasionado por doenças bucais e o controle da dor com base em medicamentos causam perda de concentração e redução da capacidade e qualidade de trabalho, predispondo o indivíduo a acidentes pessoais e no ambiente de trabalho (MAZZILI,2003).

 

              Em estudos realizados no ambiente de trabalho, o desconforto ocasionado por doenças bucais e o controle da dor com base em medicamentos causam perda de concentração e redução da capacidade e qualidade de trabalho, predispondo o indivíduo a acidentes pessoais e no ambiente de trabalho. Empregados representam um dos maiores patrimônios das empresas, e só atingem o máximo de sua capacidade de trabalho quando suas necessidades básicas de saúde estão atendidas(MARTINS,2002).

 

 

 

 

3.3 ODONTOLOGIA E SAÚDE OCUPACIONAL

 

              De acordo com GINEBRA (1959), a Saúde Ocupacional constitui um ramoda Medicina Preventiva que, no seu conceito mais amplo, tem os seguintes objetivos: 1º Proteger os trabalhadores contra qualquer risco à sua saúde, que possa decorrer do seu trabalho ou das condições em que este é realizado. 2º Contribuir para o ajustamento físico e mental do trabalhador, obtido especialmente pela adaptação do trabalho aos trabalhadores epela colocação destes em atividades profissionais para as quais tenham aptidões. 3º — Contribuir para o estabelecimento e a manutenção do mais alto grau possível de bem estar físico e mental dos trabalhadores.

 

              A Saúde Ocupacional, ciência bastante nova, nascida há pouco mais de dois séculos com os estudos fundamentais de Ramazzini, o "Pai da Medicina Ocupacional", deve ainda, na opinião de BAETJER (1956), o seu notável desenvolvimento atual a três fatores básicos: em primeiro lugar, ao grande desenvolvimento da Medicina Preventiva e da Saúde Pública em todos os seus ramos; em segundo lugar, à crescente noção da dignidade do trabalho e do direito do trabalhador a uma proteção adequada contra as agressões do meio ou do material de trabalho; finalmente, à industrialização crescente de todos os países do mundo, com a necessidade de uma produção industrial cada vez maior.

 

              No seu aspecto propriamente preventivo, a Saúde Ocupacional dedica especial atenção àquelas doenças que o trabalhador pode adquirir no seu ambiente de trabalho, devidas a um largo número de causas. Assim, essas moléstias profissionaispodem ter as seguintes origens:

 

  • Ø Doenças causadas por agentes físicos: são aquelas doenças devidas à ação de agentes tais como a pressão atmosférica anormalmente elevada ou muito baixa; temperatura aumentada ou diminuída; maior ou menor umidade do ar; ação de fontes de energia radiante (raios infra-vermelhos, ultra-violeta, ondas hertzianas, raios-X, etc.); ação de substâncias ionizantes; etc.
  • Ø Doenças causadas por agentesmecânicos: são aquelas doenças devidas à ação de agentes tais como vibrações, repetição freqüente de movimentos, posições viciosas de trabalho, etc.

 

  • Ø Doenças causadas por agentes químicos: encontramos aqui um numeroso e importante grupo de moléstias, causadas pelo enorme grupo de agentes químicos de que a indústria lança mão hoje em dia.

 

  • Ø Doenças causadas por agentes biológicos: são aquelas doenças causadas pelo contato com agentes etiológicos de doenças infecto-contagiosas ou parasitárias, devido às necessidades de trabalho. Além deste combate às moléstias profissionais, cabe ainda à Saúde Ocupacional um grande número de outras atividades preventivas dentro do campo de Higiene e Saúde Pública: a luta contra os acidentes de trabalho no sentido mais estrito; a prevenção de moléstias gerais na população trabalhadora através de vacinações, saneamento geral, etc.; educação sanitária adequada dos operários; etc ( BAETJER, 1956).

 

              De acordo com BURKET (1952), as doenças ocupacionais das gengivas, dos dentes e das demais estruturas da cavidade oral podem ser agrupadas em: doenças devidas às ações diretas do agente causal sobre as estruturas da boca, doenças em que surgem lesões orais como parte de uma doença sistêmica. Tal divisão das doenças ocupacionais da cavidade oral, é, realmente, bastante didática e objetiva. Sabe-se, como veremos adiante, que os dentes e demais estruturas da cavidade oral podem ser lesados diretamente por agentes químicos, físicos ou mecânicos com que tenham estado em contato; por outro lado, podem ser observadas na cavidade bucal manifestações de doenças sistêmica que permitirá ao dentista bem orientado em relação à higiene do trabalho, encaminhar o seu paciente ao médico especializado. Verificada, portanto, a importância do papel do dentista especializado em Saúde Ocupacional, no diagnóstico e na prevenção das doenças profissionais, passaremos a analisar de forma detalhada as alterações das estruturas da cavidade oral em função dos diversos agentes etiológicos.

 

              De acordo com BAADER (1970), três formas diferentes de alterações dentárias podem ser observadas nas pessoas expostas a ácidos, alterações essas devidas aos três tipos diferentes de lábios: A) Nos indivíduos possuidores de lábios grossos, o ácido só pode atacar o bordo livre dos dentes superiores; em conseqüência, poucas alterações dentárias são observadas. B) Nos indivíduos de lábios finos, observam-se grandes alterações tanto nos dentes superiores como nos inferiores. C) Nos indivíduos dos quais apenas um dos lábios é fino, as alterações dentárias são sempre encontradas na arcada recoberta por esse lábio.

 

3.4 EXAMES ADMISSIONAIS E PERIÓDICOS

 

              De acordo com ARAUJO (1998), concluiu que as condições de trabalho interferem na qualidade de saúde bucal dos trabalhadores, e que tal alteração poderia desencadear alterações na mucosabucal, que muitas vezes permitem um diagnósticoprecoce de um envolvimento sistêmico. Hoje, porém, não se faz uma odontologia do trabalhovoltada para a identificação epidemiológica, catalogação ou prevenção das doenças, e sim de maneira usual, simplesmente curativa.Dentro do aspecto conceitual da saúde, tendo em vista mais especificamente a saúde bucal do trabalhador, diríamos que “é a parte da atenção à saúde do trabalhador, que trata de promover, preservar e recuperar a saúde bucal do trabalhador, conseqüente dos agravos, afecções oudoenças do exercício profissional, e que tem manifestações bucais, devendo ter sua ação voltada à prevenção de todos os agravos laborais, ou seja, objetiva a prevenção de doenças decorrentes da atuação profissional e dos acidentes de trabalho” (ARAUJO, 1998).

 

              No trabalho realizado por ESTEVES(1982), citando que a presença do trabalhador emambientes com a existência de agentes patogênicos pode levar ao aparecimento de dermatoses ocupacionais com conseqüentes manifestações bucais.A prática, hoje, em relação à saúde bucal do trabalhador,se refere a exames admissionais, processados por odontologia de grupos ou empresariais, que vendem certo trabalho por preço anteriormente estipulado e de acordo com determinados padrões encomendados pelos empregadores. Desta forma, o Cirurgião-Dentista estará selecionando o operário conforme as normas estabelecidas pelo contratante.Além disso, existe uma terceirização de serviços odontológicos ao trabalhador, mas que foge à necessidade contextual enquanto odontologia do trabalho verdadeira, pela falta de uma atenção especializada e a ausência de centros de referência específicos. O que identifica-se no momento é a realização de uma medicina de trabalho mais eficiente, onde dela fazem parte o médico do trabalho, a enfermeira do trabalho, a auxiliar do trabalho, o psicólogo do trabalho, o engenheiro de segurança no trabalho, os educadores sanitários, os químicos, e não se incorpora a esta equipe, nem há qualquerreferência legal do cirurgião-dentista do trabalho(ARAUJO, 1998).A criação da odontologia do trabalho, com base exposto acima, poderiam:

 

  • Levantar os problemas bucais que podem afetar a classe trabalhadora;

 

  • Determinar um perfil patológico de uma população e a existência ou não de patologias em níveis aceitáveis ou não;

 

  • Estudar as conseqüências de uma exposição a agentes patológicos

 

  • Determinar riscos ocupacionais

 

  • Efetuar um diagnóstico precoce de alterações bucais ou mesmos sistêmicos

 

  • Identificar a necessidade ou não de mudanças no processo de trabalho

 

  • Identificar o nível de atuação dada à saúde bucal

 

  • Estimular a participação da classe trabalhadora na reinvindicação de melhores condições de trabalho e Saúde

 

  • Definir bases científicas para a aplicação de um diagnóstico mais preciso(ARAÚJO e GONINI, 1999)

 

3.5 O PAPEL DO AUDITOR ODONTOLÓGICO

 

              Uma das ferramentas de qualidade mais eficientes para aprimorar um sistema de gestão é a auditoria. Esta, quando bem aplicada, diagnostica não conformidades no sistema avaliado. É importante destacar que estas avaliações devem ser executadas por profissionais capacitados, que apresentem além do conhecimento técnico-científico, atributos pessoais como imparcialidade, prudência e diplomacia, entre outros(WEYNE,2005).

 

              As auditorias operacionais, quando bem conduzidas, podem proporcionar importantes informações à direção da empresa ou do Sistema de Saúde. Elas irão verificar se o que deve ser feito está realmente sendo feito de acordo com OLIVEIRA (2007), tendo como objetivo principal fornecer dados para que a direção analise criticamente o seu sistema de qualidade e tome as decisões, determinando ações ou disposições sobre os resultados não conformes, diminuindo ou eliminando-os. Consequentemente, garante-se a continuidade operacional (sobrevivência) na área de negócios, frente às empresas concorrentes (NORONHA,2003).

 

              De acordo com o Ministério da Saúde (1998), o objetivos da Auditoria Operacional é medir o desenvolvimento da sua atividade em relação aos seus  rendimento esperado (efetividade), melhorar o emprego de recursos, através de redução de custos e aumento da produção (economia e eficiência), analisar se os procedimentos estão adequados às circunstâncias atuais nas quais as atividades se desenrolam, assegurar a confiabilidade dos dados para promover a aderência às políticas de gestão prescritas.

 

              No trabalho realizado por WEYNE (2005),  em uma auditoria analítica, haverá o levantamento de dados, acesso a documentações e registros, avaliação dos alertas identificados pela central de regulação e a identificação de eventos críticos: relatórios da central de regulação e sistema de processamentos de contas. Os instrumentos trabalhados serão o Relatório de Auditoria Operacional, as entrevistas com usuários, o banco de dados de atendimentos, os prontuários e o cadastro de serviços. Seus resultados, como na auditoria operacional, também são demonstrados com a elaboração do relatório contendo dados gerais, motivos, situação, recomendações, data e local e identificação dos auditores. As atividades básicas de auditoria englobam: conhecer normas, contratos, tabelas, rotinas; fazer análise prévia de procedimentos ambulatoriais de custo elevado, internações; realizar auditoria externa, análise de contas médico/odontológica hospitalares; participar nos projetos de informática em apoio à gestão do plano de saúde; assessoria no processo de credenciamento, no processo de negociação e na elaboração de contratos; participar da definição e acompanhamento de indicadores, do processo de pesquisa de satisfação dos clientes, do desenvolvimento e análise de estudos epidemiológicos, da elaboração do relatório anual do plano e de seu planejamento estratégico, abrindo grande espaço no mercado de trabalho.

 

              O mercado de trabalho para o auditor apresenta formas de inserção nos serviços assistenciais odontológicos de autogestão, nas empresas prestadoras como Odontologia de grupo, Seguradora e Administradora, podendo ainda prestar serviços de consultoria/auditoria autônomos(WEYNE, 2005).

 

3.6 DOENÇAS OCUPACIONAIS : FUNCIONÁRIOS

 

              De acordo com COX (1978),o estresse ocupacional deforma específica, afirmando que esse ocorre quando se trata da percepção, pelo trabalhador, do desequilíbrioentre as demandas existentes no trabalho e sua habilidade e/ou possibilidade para respondê-las.

 

              O estresse ocupacional pode ser considerado, também, um conjuntode perturbações psicológicas ou sofrimento psíquico, associado às experiências de trabalho (SMITH e STEPHENS, 1996). Dessa forma, o estresse ocupacional é provocado por problemas ocasionados no trabalho e representa uma das principais manifestações de que háminconsistências na forma de gerenciá-lo.Muitas patologias orais podem estar associadas a determinadas atividades laborais, e o estresse tem sido um dos moduladores do sistema imune no individuo, sugerindo-se sua participação como fator desencadeante de doença, principalmente infecções oportunistas.

 

              O estresse relacionado a determinadas atividades profissionais representou um fator associado a piores condições de saúde bucal em um estudo conduzido com 3173 trabalhadores suecos (SODERFELD,2002). Um outro estudo realizado na Irlanda com 23 pacientes de um serviço odontológico, também concluiu que estresse ocupacional, representado pela falta de controle dos trabalhadoresdurante seu processo de trabalho, estava associado à progressão da doença periodontal(LINDEN,1996).

 

              De acordo comBERNIK (1997), nas ocasiõesestressantes, manifesta-se uma gama de reações de ordem psicológica e psiquiátrica. A resposta imunológica ao estresse se dá através de uma ação conjunta entre o sistema nervoso, endócrino e imune. Uma das alterações que se observa no estresse é o rápido aumento dos níveis de corticosteróides secretados pelas glândulas- renais, que se mantêm em proporções inversas à eficácia dos mecanismos de adaptação; ou seja, nos casos de pessoas deprimidas e com severas dificuldadesadaptativas, esses níveis são maiores (ANTUNES,2002).

 

              Os sintomas físicos são problemas com a memória, mal-estar generalizado, sem causaespecífica, formigamento das extremidades, sensação de desgaste físico constante, mudança de apetite, aparecimento de problemas dermatológicos, hipertensão arterial, cansaço constante, aparecimento de úlcera, tontura e sensação de estar flutuando. Os psicológicos são sensibilidade e motivação excessiva, dúvida quanto a si próprio, pensar constantemente em um só assunto, irritabilidade excessiva e diminuição da libido. Na fase final do estresse ou fase de exaustão, os sintomas da fase inicial e intermediária podem permanecer, ou não. Adicionalmente, podem surgir novos sintomas físicos como diarreia frequente, dificuldades sexuais, insônia, náuseas, tiques, hipertensão continuada, problemas dermatológicos prolongados, mudança extrema de apetite, excesso de gases, tontura frequente, úlcera e enfarte, enquanto que os sintomas psicológicos se referem a impossibilidade de trabalhar, pesadelos, sensação de incompetência em todas as áreas, vontade de fugir de tudo, apatia, depressão ou raiva prolongada, cansaço excessivo, pensar/falar constantemente em um só assunto, irritabilidade sem causa aparente, angústia/ansiedade diária, hipersensibilidade emotiva e perda de senso de humor (LIPP,1986).

 

              A gengivite ulcerativa necrosante aguda (GUNA) é uma doença periodontal que pode ocorrer na presença de estresse emocional. Corticosesteroides relacionado são estresse alteram as proporções T4 e T8 e causam diminuição da quimiotaxia dos neutrófilos, bem como a resposta fagocitária em pacientes com GUNA (LINDHE,1999). Outros autores associam sintomas depressivos à maior probabilidade de surgimento de periodontite, bem como de infecção por determinados patógenosperiodontais (PERUZZO, 2007), mostrando também queas formas mais agressivas da doença (periodontite de progressão rápida) estavam mais relacionadas que as formas crônicas (MONTEIRO, 1996). Pacientes com transtornos psiquiátricos apresentam maior frequência periodontite, e mesmo após o ajuste para o padrão de higiene oral e a quantidade de cálculo, a ansiedade seria um fator, pelo menos contribuinte, na etiologia dessa doença (DAVIS e JENKINS, 1962; PERUZZO,2007).

 

              No trabalho realizado por  PERUZZO (2007), apontou que o estresse, em associação com a má higiene bucal, aumenta as chances do desenvolvimento de doenças periodontais. Apesar de muitos trabalhos já terem demonstrado a relação do estresse com as doenças do periodonto, a maior partedas análises focalizam o efeito do estresse sistemicamente. De acordo com PERUZZO(2007), várias doenças têm sido associadas à infecção periodontal, como problemas cardíacos, partos prematuros, nascimento de bebês de baixo peso e algumas doenças pulmonares. Além disso, a falta de cuidados com a higiene dental é fator desencadeador da Doença Periodontal, mas outros fatores estão associados à progressão da doença, como susceptibilidade dos indivíduos, problemas imunológicos,Diabetes, além de fatores comportamentais, como o consumo de cigarros. O estresse desencadeia um efeito pró-inflamatório, “predispondo a maior progressão e severidade de doenças imune-inflamatórias, incluindo a Doença Periodontal” (PERUZZO,2007).

 

              De acordo com OLIVEIRA (2008), avaliar o nível de estresse é atualmente uma das recomendaçõesda Organização Mundial de Saúde (OMS) para obter e graduar qualidade de vida, entretanto pouco se tem feito a este respeito. Muitas patologias, hoje estudadas, têm íntima relação com o estresse, sendo fundamental e estabelecer a relação estresse/doença para conhecer e tratar algumas dessas lesões.

 

              A partir da resolução CFO-25/200214, a atuação do especialista em odontologia do trabalho dentro das indústrias pode acontecer de diversas formas: identificação dos fatores ambientais de risco á saúde bucal, verificar se as medidas de segurança e higiene estão sendo obedecido, planejar e promover atividades de educação em saúde bucal, investigar índices de mortalidade e morbidade com causa bucal, realizar exames odontológicos admissionários, etc (PERES,2004).Com a manutenção da saúde bucal dostrabalhadores garantida pelo trabalho do cirurgiãodentista dentro da indústria, ocorrerá a redução dos índices de absenteísmo, melhora na imagem da empresa no mercado, aumento da produçãoindividual, redução da possibilidade de acidentes de trabalho e de doenças profissionais com manifestações bucais, reduzindo custos com procedimentos restauradores (MIDORAKAWA,2000).

 

              Um trabalhador que sofre com dor de dente,pode ter alteração de ordem psicológica, como a perda de concentração, facilitando a ocorrência de acidentes e erros técnicos; seu humor e comportamento são alterados, tornando-o mais propenso à discussão e intolerância. Tais problemaspodem ser minimizados ou prevenidos com a implantação de programas de odontologia do trabalho. No entanto, o empresariado brasileiro ainda não se conscientizou a respeito da importância estratégica da especialidade para a saúde dos funcionários e do próprio negócio (ANDRADE,2006).

 

              Nas profissões que exigem exposição excessiva ao sol, sobretudo para os trabalhadores rurais e marinheiros, os efeitos da radiação ultravioleta nos lábios que podem causar queilite actínica, uma alteração pré-maligna do vermelhão do lábio inferior. Outra forma de radiação é a irradiação ionizante dos raios-x, a qual diminui a reatividade imunológica e pode produzir anormalidades no material cromossômico 12. Em 1982, Esteves enfatizou a necessidade da participação do cirurgião-dentista na equipe de saúde ocupacional.O autor alertava para que os médicos do trabalho realizassem exames minuciosos da boca para detectar patologias decorrentes da ação de agentes químicos, entre elas as dermatoses ocupacionais, já que a odontologia ocupacional não era considerada uma especialidade odontológica(ESTEVES,1982).

 

O especialista em odontologia do trabalho deve realizar um levantamento epidemiológico para verificar como está a saúde bucal da população-alvo. Cabe ao profissional examinar os locais de trabalho, de repouso, alimentação e de higiene das dependências da empresa. Esta deve promover o hábito de prevenção, evitando desconfortos e saídas de emergência(VILLAS, 2015).

 

Acidentes e doenças no trabalho são freqüentes nos três setores da economia nacional. No setor primário a causa principal é os raios UV devido a constante exposição ao sol nas atividadesagrícolas, pecuárias, florestais e da pesca. O desconforto térmico é responsável pelo aumentoda incidência de acidentes e doenças como os diversos tipos de cânceres(COUTO,2005). O diagnóstico precoce do câncer bucal, deve ser feito pelo cirurgião dentista, o que pode significar a diferença entre a vida e a morte do paciente ou do trabalhador.

 

              A atenção pela saúde bucal no trabalho, acompanhado pelo profissional da Odontologia, deve ser compreendido como de fundamental importância não apenas com foco nos riscos ocupacionais diretos, mas também na atenção aos hábitos e fatores traumáticos locais (MAZZILLI,2004).

 

              Nos setores secundário e terciário da economia são mais comuns agressões por ações mecânicas, térmicas, químicas e biológicas. Quanto às ações mecânicas, certostrabalhadores têm por hábito segurar tachas, pregos ou alfinetes entre os dentes. Neste grupoencontram-se os sapateiros, marceneiros,tapeceiros, estofadores, dentre outros. É habitual que entre esses operários se encontrem reentrâncias ou chanfraduras na borda incisal dos dentes incisivos centrais. Os músicos que utilizaminstrumentos de sopro munido de palheta, em razão dos repetidores traumas provocados pela boquilha podem apresentar perdas de substância no esmalte dos incisivos centrais superiores. Algo semelhante pode observar-se com os sopradores de vidro, em relação aos quais o trauma se dá com o contato da boquilha com os incisivos superiores e inferiores.Quanto às ações térmicas, os provadores de café, em função da peculiaridade do seu trabalho e de como ele é executado, podem desenvolver reações térmicasna mucosa das bochechas e na do palato duro e mole (MAZZILLI,2003).

 

              A ação química concorre para as perdas de substância dental e ocorrência de estomatite, como também provoca alterações nas colorações (manchas) características do esmalte e da dentinapelo produto químico com o qual o trabalhador tem permanente contato. Os vapores corrosivos (nitroso e sulfúrico) provocam destruição progressiva dos tecidos dentários e periodontais, causando mobilidade e mesmo perda dos dentes. A literatura relata as hipóteses de cárie deconfeiteiro, erosão dentária associada à exposição de fluoretos em fábrica de fertilizantes, gengivoestomatites e alterações dos tecidos moles bucais decorrentes de exposição a metais(MAZZILLI, 2003).

 

              A degradação do dente e do periodonto e asafecções dos tecidos moles relacionam-se diretamente com a ação microbiológica da flora residente e da flora patológica. O meio ambiente do trabalho pode estabelecer papel modificador e auxiliar na predisponência. As cáries dos confeiteiros e pessoas que trabalham nas fábricasde doces são caracterizadas clinicamente como manchas circular, de cor amarela ou preta, nos tecidos desvitalizados, e localizada na região do colo das peças dentárias(MAZZILLI,2003).São comuns, também, traumas e fraturas na face.

 

              Segundo Andrade Filho os acidentes de trânsito, incluindo taxistas e motoboys., foram os maiores responsáveis pelas fraturas mandibulares (ANDRADE,2000). Para o perfeito domínio das particularidades do ambiente do trabalho, é indispensável avaliar instalações, temperatura, pressão, equipamentos, ocupações, uso de equipamentos de proteção individual, perfil dos trabalhadores, horário de trabalho, condições nutricional, estado de disposição e atenção, valores culturais dominantes, nível de estresse(MAZZILLI,2003).

 

              A evolução da saúde ocupacional ocorrida nas últimas décadas caracterizou-se pela mudança profunda, onde a atuação monodisciplinar tornouse multidisciplinar, com um foco muito mais abrangente evidenciando a proteção e promoção da saúde do trabalhador(MAZZILLI,2003).Pesquisas sobre os efeitos das exposições ocupacionais a névoas ácidas na saúde bucal. Utilizaram-se como bases de dados MEDLINE, LILACS, SCIELO, BBO e DEDALUS, das quais foram selecionados oito artigos e uma tese de doutorado, que focalizavam as associações de interesse(Tuominen,1991; Tuominen & Tuominen, 1992; TUOMINEN, 1991). Os achados são consistentes em torno de uma associação positiva entre exposição a névoas ácidas e erosão dental, confirmando os dados de pesquisas conduzidas desde 1919(SIMPSON, 1919).

 

              Estudos sobre a associação entre névoas ácidas e a doença periodontal ou lesões da mucosa oral são mais recentes e raros, e os achados, controversos. Muitos estudos apresentam limites metodológicos, especialmente tamanho insuficiente da população de estudo, e análise apenas descritiva, ou sem a consideração de variáveis de confusão.A boca é a porta de entrada do sistema digestivo e, de forma auxiliar, participa ainda da respiração(SCHOUR & SARNAT, 1942). Em virtude da localização e das funções que exerce, é uma zona de absorção, retenção e excreção de substâncias tóxicas quepenetram no corpo, estando sujeita a agressões de natureza física e/ou mecânica. Sabe-se que, no ambiente do trabalho, o homem está exposto a um conjunto diversificado de agentes que podem causar danos à saúde. Nesse sentido, as condições de trabalho são de importância significativa para as estruturas bucais, podendo ocorrer uma série de patologias em conseqüência de exposições de natureza ocupacional. Para a odontologia, é de especial interesse o estudo sobre a exposição ocupacional a névoas ácidas, não só pela gravidade e diversidade dos efeitos potenciais, mas também pela sua presença freqüente em inúmeros processos industriais, incluindo a extração, fabricação e acabamento de metais, a produção de fertilizantes e de detergentes, a manufatura de baterias, bem como em vários segmentos das indústrias química e petroquímica(CATE, 1968).

 

              Estima-se que milhões de trabalhadores em todo o mundo estão expostos a produtos ácidos. presença de ácidos fortes no ambiente de trabalho pode se dar tanto na forma líquida, quanto nas formas de névoas, vapores ou gases. Estas três últimas alcançam mais facilmente as estruturas bucais pela inalação e ingestão, onde podem causar danos e, ainda, serem absorvidas pelo organismo. Foram listadas como alterações bucais, potencialmente resultantes de certas exposições ocupacionais, a cárie dental, as periodontopatias, lesões da mucosa oral, descalcificações e desgastes dentais, osteomielite e necrose óssea, cânceres da cavidade oral, além de sinais e sintomas, como a pigmentação de estruturas bucais, sensação de secura na boca, perda de sensibilidade e paladar, assim como hemorragia. Entre os fatores de risco apontados, predominavam os agentes químicos. O estudo da associação entre a exposição a névoas ácidas e a erosão dental tem predominado na pesquisa odontológica, relativamente a outros efeitos potenciais. Os achados apontam para a existência de associação positiva entre exposição a processos industriais que utilizam produtos ácidos e a erosão dental, com alguns casos apresentando destruição dentária severa e desfigurante(TUOMINEM, 1991).

 

              Na década de 60, Malcom & Paul (1961) constataram que somente trabalhadores expostos a névoas ácidas desenvolveram erosão, especialmente nos dentes incisivos; verificou, ainda, associação positiva entre o grau de erosão e o tempo de serviço, sugestiva de tendência dose-resposta para a concentração do ácido no ar e a erosão dental. Os autores aventaram a hipótese de que o selamento labial e a saliva agiriam como fatores de proteção. Embora não seja objeto desta revisão, vale ressaltar que existem fortes indícios de associação positiva entre névoas ácidas e o câncer envolvendo estruturas do trato aerodigestivo superior, inclusive a boca.Barodontalgia é uma situação desconfortável que pode acometer os aeronavegantes durante o voo, que é uma dor aguda causada pela diferença de pressão atmosférica no dente que pode levar a vertigem, incapacitação, e finalização prematura do voo(EIDELMAN, 1981).

 

              A barodontalgia se manifesta por conta da expansão do ar existente em cavidades dentárias, devido à diferença de pressão atmosféricaque ocorre durante a decolagem e pouso deaeronaves(GONZALEZ, 2004). Barodontalgia é um sintoma e não uma condição patológica, na maioria dos casos, é a exacerbação da condição oral subclínica preexistente(DONOVAN,2008). As patologias orais têm sido relatadas como fontes de barodontalgia: cárie dentária, restaurações mal adaptadas, pulpite, necrose pulpar, periodontite apical, bolsas periodontais, dentes retidos, fratura radicular, e cistos residuais(ZADIK,2012).

 

              No trabalho realizado por RAUCH (1985), a dor gerada na subida da aeronave está relacionada com doenças de polpa vital, e dor na descida à necrose pulpar ou barotrauma facial.O capeamento pulpar direto em aeronavegantes é contra-indicado, pela possibilidade de penetração de ar na cavidade pulpar, e recomenda-se o tratamento endodôntico radical em caso de suspeita de invasão à polpa radicular, com objetivo de evitar a pulpite subaguda ou necrose pulpar silenciosa, por seu potencial quanto à variação depressão barométrica(RITCHEY,2005).

 

3.7 CUIDADOS COM À HIGIENE BUCAL EM PACIENTES DIABÉTICOS E DEFICIENTES VISUAIS

 

              Diabetes mellitus é um distúrbio crônico do metabolismodos carboidratos, lipídeos e proteínas. Um dos aspectos característicos desta doença consiste na resposta secretória defeituosa ou deficiente da insulina, que se manifesta na utilização inadequada dos carboidratos (glicose) resultando na hiperglicemia, que é um distúrbio metabólico que pode causar complicações agudas e/ou crônicas no corpoumano, devido à ausência, deficiência ou ineficiência de insulina (BRASILEIRO FILHO,1998;CONTRAN, 2000) Além disso, pacientes portadores de diabetes desenvolvem uma série de alterações e agravos na cavidade bucal e a descompensação glicêmica pode agravar o curso de evolução de tais alterações e interferir no plano odontológico (CARVALHO, 2003).

 

              No trabalho realizado por LAUDA (1998), verificaram que pacientes portadores de diabetes mellitus tendem a desenvolver alterações como xerostomia (diminuição do fluxo salivar), sensibilidade dolorosa na língua devido a xerostomia, alteração da gustação, tumefação da glândula parótida, abscessos recorrentes, hipoplasias , hipocalcificações, candidose, queilite angular e doença periodontal.De acordo com AMARAL (2005), complementaram com cicatrização de feridas dificultada, neuropatia oral e propensão a cárie dental.

 

              No estudo realizado por  QUIRINO (1995) ,foi avaliado manifestações bucais de uma amostra de 70 pacientes diabéticos, divididos empacientes compensados e descompensados. O histórico médico e os dados foram analisados estomatologicamente e os principais sintomas observados foram hipossalivação, alterações de paladar e ardência bucal. Segundo CURY (2003) a periodontite é uma doença infecciosa que resulta na destruição do ligamento periodontal e osso alveolar. Os efeitos das condições sistêmicas nos tecidos periodontais têm sido bem documentados e há estudos que sugerem associação da periodontite com diabetes mellitus.

 

              De acordo com KAWAMURA (2002), verificou que diversos fatores relacionados ao diabetes podem influenciar a progressão e agressividade da doença periodontal, como tipo de diabetes, idade, tempo de duração, controle metabólico, microbiota periodontal, alterações vasculares, alteração no metabolismodo colágeno, relação com HLA (Antígeno leucocitário humano) e resposta inflamatória.

 

              Em estudos realizados porLAUDA (1998), em pacientes diabéticos a doença periodontal foi a alteração bucal mais comum em diabéticos, atingindo um total de 75% de manifestações.

 

              Estudo realizado por SANTANA (2002), com 38 pacientes portadores de Diabetes mellitus tipo 1 e  2 metabolicamente descompensados e observaram noexame intra-bucal alto índice de perda dentária e candidose eritematosa relacionada com o uso de prótese em pacientes diabéticos tipo 1. Em relação à doença periodontal, foi constatado a presença de gengivite crônica em pacientes diabéticos tipo 1 e doença periodontal avançada em pacientesdiabéticos tipo 2. SILVA (2010), investigou a prevalência de periodontite em indivíduos com diabetes que usam o sistema público de saúde no município de Belo Horizonte e a associação dessacondição com fatores socioeconômicos, comportamentais e clínicos. O estudo transversal foi realizado com uma amostra de 300 indivíduos com diabetes e verificou-se que entre os indivíduos com diabetes estudados, 6,7% apresentaram boa condição periodontal, 68% apresentaram gengivite e 25,3% periodontite.

 

              Além das manifestações bucais que podem acometer os pacientes portadores de diabetes mellitus, CHERUBINI (2002) verificou que tais pacientes apresentam também respostas diminuídas a infecção, quando descompensados, fazendo com que o transcurso da doença se desenvolva de forma diferenciada do paciente normoglicêmico. Esta característica irá se manifestar também na cavidade bucal,fato este que deverá alertar o cirurgião dentista quanto ao manejo adequado destes pacientes, eliminando os riscos de complicações durante o tratamento. O diabete é considerado por ROINSIBLIT e PASZUCKI (1997), como um dos fatores sistêmicos que agravam a resposta do periodonto ao biofilme dentário.

 

              O número baixo deescovações, a utilização de técnicas incorretas e a falta de uso do fio dental, são fatores que favorecem o acúmulo de biofilme dentário e, consequentemente, de doença periodontal. Sendo o paciente diabético um grupo de risco, estes necessitam realizar de maneira correta todas as prescrições recomendadas com relação à higiene bucal (LAUDA, 1998).

 

              Alguns pesquisadores como MARTINEZ (1994) e MAGALHÃES (1999), admitem, em seus relatos, índices percentuais de doença periodontal, em pacientes diabéticos da ordem de até 100%. Sobre este aspecto verificou-se também que a última raspagem foi realizada nos últimos 6 meses por apenas 6 (24%) pacientes, e 10 (40%) referem apresentar sangramento gengival, o que sugere a possibilidade de complicações associadas ao periodonto.

 

              De acordo com SOUSA (2003), o maior conteúdo de glicose e cálcio na saliva favorecem o aumento na quantidade de cálculos e fatores irritantes nos tecidos, favorecendo a doença periodontal que necessita de tratamento nomínimo de 6 em 6 meses. Além disso, estes mesmos autores verificaram que pacientes com controle inadequado do diabetes apresentam mais sangramento gengival e gengivite do que aqueles com controle moderado ou do que aqueles que não apresentam a doença.

 

              Segundo SANDBERG (2001), a xerostomia, uma complicação comum em pacientes diabéticos, além de causar desconforto, pode contribuir para o aparecimento de lesões cariosas. BATISTA e MOTTA NETO (1999), comprovaram que pacientesdiabéticos descompensados apresentam xerostomia devido a grande quantidade de drogas utilizadas, que acabam interferindo no fluxo salivar. E, segundo os mesmos autores a saliva é importante, pois além de dificultar o desenvolvimento de cáries esta umedece o rebordo alveolar residual, sobre o qual se apoiam as bases das próteses parciais removíveis e totais, evitando traumas durante o processo mastigatório.

 

              A saúde bucal depende de um conjunto decondições biológicas e psicológicas, e além de possibilitar ao indivíduo exercer funções como falar, mastigar e deglutir, também interfere na sua autoestima e no seu relacionamento social (CAMPOSTRINI, 2007).

 

              A deficiência visual, seja a cegueira ou a baixa visão, impõe restrições ao desenvolvimento seguro e confiante no ambiente, interfere no conhecimento do próprio corpo e na inter-relação entre as coisas e as pessoas, influenciando,principalmente, nas atividades de auto-cuidado emobilidade (MALTA, 2006).

 

              As maiores necessidades odontológicas do deficiente visual estão relacionadas com as suas dificuldades de aprendizado e de manutenção de umahigiene bucal adequada, pois podem apresentar pouca habilidade motora para realizarem uma higiene bucal satisfatória, o que poderia levar ao acúmulo de placabacteriana dental, resultando em processo inflamatório gengival e/ou na instalação da cárie dentária (RATH, 2001).A cárie dentária e as doenças periodontais são as alterações bucais de maior prevalência na população mundial (PEREIRA, 2006).

 

              A cárie dentária é uma doença multifatorial, crônica, que progride lentamente na maioria das pessoas, sendo que raramente é autolimitante, e se não tratada pode destruir toda a estrutura dentária (FEJERSKOV, 2005).A cárie pode ser caracterizada por meio do índice CPO-D que representa os dentes permanentes cariados, perdidos e obturados (MELLO,2005).

 

              Em  estudo realizado por CERICATO (2008), verificou as implicações da deficiência visual na capacidade de controle de placa e na perda dental, concluíram que a condição visual não influenciou significativamente no índice de controle de placa bacteriana, principal fator etiológico, tanto da cárie quanto da doença periodontal, demonstrou-se também que a ausência ou dificuldade de visão não é um fator agravante e preponderante em relação ao índice CPO-D, embora tenham afirmado que existe a necessidade de desenvolvimento de novas formas de ensino que sejam efetivas na motivação etreinamento da habilidade psicomotora pararealização de uma higiene bucal adequada pelos deficientes visuais.

 

              De acordo com MENDONÇA (2001),relata a perda dental comotemática de relevância na saúde pública, pois é considerada como uma decorrência da cárie e da doença periodontal que são as alterações bucais mais prevalentes. Os resultados aqui obtidos indicam que a higiene bucal assume um papel extremamente importante na população de deficientes visuais, embora seja importante destacar a necessidade de uma abordagem especial com tempo e paciência, uma vez que os recursos visuais muito utilizados para as práticas de educação em saúde bucal para pessoas normais, não podem ser utilizadas em deficiente visuais(CERICATO, 2008).

 

              Segundo GOULART& VARGAS (1998), em estudo objetivando avaliar a percepção dos deficientes visuais quando a saúde bucal e conhecer as dificuldades e necessidades na utilização de medidas preventivas de educação em saúde oral verificaram que os principais fatores atribuídos à importância da boca foram associações das funções de comer e falar, eque o principal motivo para manter os dentes sadios era evitar sentir dor.

 

3.8 TRANSTORNO ALIMENTARES X SAÚDE BUCAL

 

              As alterações fisiológicas associadas a transtornosalimentares podem ser devastadoras e podem levar à morte. Esses distúrbios são muitas vezes difíceis de diagnosticar, e mesmo quando detectados, os pacientes podem ser avessos aaceitar o tratamento. Assim, os profissionais de saúde bucal devem estar cientes dos sinais dos transtornos alimentares e preparados para colaborar com outros profissionais da saúde para tratá-los (GURENLIAN,2002).

 

              As manifestações orais podem aparecer de acordo com a frequência e a intensidade dos hábitos de cada transtorno, que são: autoindução de vômito, dieta hipercalórica, falta de higienização após compulsão alimentar, ansiedade, depressão e período de tempo em que o indivíduo apresenta os transtornos que levam a vários graus de problemas na saúdebucal (IZIDIO,2006;ARANHA,2008).Como o cirurgião-dentista pode ser o primeiroprofissional da saúde a suspeitar dos transtornos alimentares, há a necessidade de que esteja preparado para um manejo adequado do paciente(ARANHA,2008).

 

              A intensidade do distúrbio pode levar o indivíduo a sérias manifestações sistêmicas como: osteoporose, anemia, amenorreia, infertilidade, hipotireoidismo, atrofia cerebral, dificuldades cognitivas, problemas hepáticos, edema pulmonar, arritmia atéa parada cardíaca. Na cavidade oral, as manifestações mais comuns são aumento de cárie, gengivites,halitose, xerostomia, bruxismo, hipersensibilidadedentinária e queilites (BUSSADORI,2005).

 

              As lesões odontológicas devem ser tratadasquando diagnosticadas. Se não forem tratadas, continuarão provocando prejuízos à saúde bucal, muitas vezes irreversíveis, como o escurecimento dos dentes pela abrasão dentinária. O bruxismo leva ao desgaste dental, contribuindo para a progressão do dano, podendo levar a uma redução excessiva da altura da coroa clínica, o que muitas vezes requer uma intervenção reparadora. A terapia para pacientes com distúrbio alimentar e bruxismo deve incluir métodos preventivos e não invasivos (SERRANO,2008).

 

              Foi relatado por Guedes em (2007), que os  sinais mais comuns na cavidade bucal de um paciente com bulimia nervosa são: perimólise, cáries, doença periodontal, edema de glândulas salivares, dermatite perioral, xerostomia, queilites, glossite, úlceras na mucosa oral, fratura dos ângulos incisais, perda de dimensão vertical, bruxismo,apertamento dentário, hipersensibilidade dentinária, erosão severa do esmalte, dentes gastos e translúcidos (alterações na cor, formato e tamanho), ilhas de amálgama, halitose, lábios vermelhos, ressecados e rachados, exposição pulpar, infecções periodontais e endodônticas.Pessoas portadoras de bulimia nervosa estãosujeitas à erosão ácida, pois o esmalte dentário é influenciado pelo pH e está sujeito a contínuos processos de desmineralização/ remineralização. A desmineralização do esmalte começa a partir de pH 5,5 (MILOSEVIC,1997).

 

              Em estudo realizado para verificar os efeitos do vômito frequente na saúde dental em 35 pacientes bulímicas, os autores encontraram erosão dentária, abrasão e atrito, em 22 voluntárias da amostra, ou seja, 5-6 vezes mais frequente em bulímicos do queno grupo controle de 105 voluntários (RYTOMAA,1998).O tratamento odontológico desses pacientes deve envolver cuidados emergenciais, educação, prevenção, cuidado pré-restaurador (ou adequação de meio bucal), restaurações e manutenção. Entre os cuidados emergenciais, encontram-se a procura pelo alívio da dor e a melhora da estética. Como alívio da dor, propõe-se a proteção da dentina indevidamente exposta com a utilização de cimentos de ionômero de vidro e vernizes fluoretados. Deve-se prescrever a utilização de cremes dentais com altaconcentração de flúor e com baixa abrasividade, além da utilização de bochechos com substâncias neutralizadoras da acidez após o vômito, como bicarbonato de sódio. Soluções neutras de flúor a 0,05% também são úteis na redução da erosão e da sensibilidade subsequente (TRAEBERT,2001).

 

              A vigorexia queé um transtorno causado pela prática excessiva de exercícios físicos, geralmente musculação causa algumas alterações bucais,como: xerostomia, placa bacteriana espessa com aspecto melado, fadiga muscular, problemas bucais como apertamento dentário e bruxismo (BUSSADORI,2005). As manifestações orais mais encontradas em pacientes com Alcoorexia(transtorno alimentar que não é reconhecido pela comunidade médica, ou seja, ainda é um termo “não médico”)(CHAMBER,2008).são: câncer de tecidos moles, má higiene oral, xerostomia, cáries, erosão dentária, leucoplasia e bruxismo.Alguns pontos importantes devem ser instruídos ao paciente pelo cirurgião-dentista: não escovardepois de vomitar ou consumir bebidas ácidas, fazer terapia com flúor e evitar recomendar o uso de bochechos que contenham álcool em tratamento de etilistas crônicos (SPENCER,2008).

 

3.9 INTEGRAÇÃO ENTRE MEDICINA, ENFERMAGEM E ODONTOLOGIA DO TRABALHO

 

              A saúde ocupacional é a procura do equilíbrio do homem no seu am­biente de trabalho. Os exames periódicos anuais e tratamento dentá­rio dentro da própria empresa contribuem para essa busca necessária, destacando a importância de um programa de saúde bucal no ambiente de trabalho para solução de problemas instalados e na prevenção de ocorrência de novos danos à saúde bucal (LIMA,2009).

 

              De acordo com GOMES (1987), destaca que a área médica da saúde ocupacional pode de­senvolver várias ações no sentido de melhorar a qualidade de vida do traba­lhador, atuando em conjunto com os demais membros da equipe multidisci­plinar. Da mesma forma que a Medicina, a Odontologia do Trabalho devem assumir o seu verdadeiro papel na empresa, onde o dentista do trabalho deve deixar de ser um profissional do trabalho para se tornar um profissional do empregador, se posicionando como um elemento conciliador e de ligação entre o empregador e o empregado, destacando a educação em saúde bucal como de suas atribuições na atenção básica.

 

              É importante a presença do médico e do enfermeiro para diagnosticar e tratar das lesões e dos sintomas relacionados a agentes etio­lógicos químicos e físicos aos quais os trabalhadores estão expostos em seu trabalho. Porém, o cirurgião-dentista também tem um papel fundamental no diagnóstico precoce de doenças ocupacionais com envolvimento sistêmico, porém com manifestações bucais, agindo como agente promotor de saúde e preservando a saúde oral como fator significante na manutenção da saúde geral e integridade dos trabalhadores. A integração multidisciplinar é impor­tante tanto na rede pública quanto na privada, além de ter grande valia na avaliação pericial das doenças ocupacionais, podendo caracterizar acidentes de trabalho (ANDRADE,1992).

 

              Foi na década de 70 que o serviço de saúde do trabalhador passou a ser encarado pelos empresários como controle e recupe­ração da força de trabalho, visando à maior produtividade da empresa (BENATTI,1990). Em 1972, surge a lei que torna obrigatório o serviço de saúde nas empresas (Portaria 3273, de 20/07/72), agora intitulado Serviço Especializado em Segurança e Me­dicina do Trabalho - SESMT. De acordo com o número de operários e também com o grau de periculosidade do traba­lho, a indústria é obrigada a ter determinado número de en­genheiros de segurança, inspetores, médicos e enfermeiros. Porém, através da Lei (NR4), passou-se a controlar as ativi­dades do trabalhador no interior das fábricas. Atualmente, o SESMT é regido pela Portaria 34/83, conforme o anexo 3. A legislação permaneceu desfavorável ao empregado, pois somente as empresas com 501 empregados ou mais são obri­gadas a ter SESMT e por isso, apenas 2% dos estabelecimen­tos estão funcionando e exercendo apenas saúde curativa, com tratamentos paliativos que possibilitam imediato re­torno do empregado ao trabalho (BENATTI,1990).

 

              Para KULSTAD (1945), a maior parte do absenteísmo é complicada ou agravada por doenças dentais (MIDORIKAWA,2001). Segundo GUIMARÃES (1979), um Programa de Odon­tologia do Trabalho poderia compreender os Exames de Seleção Pré-admissionais; Censos Odontológicos; Exames de Avaliação Periódica; Participação nos levantamentos de campo para Análise Profissiográfica e Participação nos Pro­gramas de Ergonomia. A função do Dentista do Trabalho na profissiografia é manter o empregado dentro dos limites exigidos para o exercício de suas funções, levantando as ob­servações bucodentárias ocorrentes e providenciando para que sejam cumpridas as exigências já mencionadas, sempre que assim o caso o requerer.

 

              Em estudo realizado porALMEIDA (2005), sistematizou a influência de exposições ocupacionais e alterações na saúde bucal destacando a importância dos dados epidemiológicos no planejamento das ações em saúde bucal.CRUZ (2008), sugeriu que o cirurgião-dentista atue encami­nhado pacientes sob estresse, ao observar algumas con­dições na cavidade bucal como líquen plano, língua ge­ográfica, herpes... O dentista, juntamente com o médico, poderiam atuar juntamente detectando sinais precoces de determinadas doenças ocupacionais e fazendo o encami­nhamento. De acordo com ANTUNES (2003),ele enfatizou que o cirurgião-dentista deve atentar para diagnóstico de câncer bucal em empresas de tabaco, por exemplo.

 

              Segundo DIAS (1993) e GOMES (1987), o uso de equipamentos de proteção individual constitui uma das ações integradas da Medicina com outras áreas (como a da Segurança do Tra­balho), identificando os agravos à saúde nas consultas dos trabalhadores. No âmbito da rede pública, a integração do dentista, mé­dico e enfermeiro do trabalho está começando a ocorrer no Programa de Saúde de Família (PSF), o qual é considerado pelo Ministério da Saúde como estratégia para reorganiza­ção do primeiro nível de atenção do SUS, aproximando os profissionais da comunidade, prestando assistência inte­gral e resolutiva direcionada às necessidades da população, priorizando ações de promoção, proteção e recuperação da saúde dos indivíduos, com necessidade de educação perma­nente (PAULA, 2009).

 

              A Norma Operacional de Assistência à Saúde, de 2001 (NOAS/SUS 01/2001), sob-responsabilidade dos muni­cípios com a atenção básica, incluiu as ações de saúde bucal no elenco mínimo a ser desenvolvido.LUCIETTO (2008) destaca que as equipes de saúde bucal (cirurgião-dentista, auxiliar de consultório dentário e téc­nico de higiene dental) devem promover práticas de saúde multiprofissionais e interdisciplinares, promovendo rela­ções profissionais e pessoais, com outros trabalhadores de saúde, como é o caso dos médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem e dos próprios agentes comunitários de saú­de.A atenção especial vem sendo dada à segurança e à saúde do trabalhador.

 

              A participação dos funcionários no processo de produção passa a ser ressaltada e percebe-se que a produtividade de uma empresa esta diretamente relacionada ao grau de satisfação do seu empregado (GUIMARÀES,1979). Um funcionário motivado contribui para o crescimento e desenvolvimento da empresa. Por isso, suas necessidades básicas devem ser satisfeitas. Diantedessa realidade, gestores passam a investir na qualidade de vida de seus funcionários e a saúde do trabalhador se destaca no cenário industrial.

 

              A saúde bucal como parte integrante da saúde geral não pode ser ignorada, surge então a especialidade Odontologia do Trabalhosaúde é definida não em termos de ausência de doenças, mas em termos de ótimo funcionamento e bem estar social e psicológico(RAMAZZINI,1982). Como resultado, tem-se passado de uma preocupação com a doença, para preocupaçãocom a saúde; da cura da doença para a prevenção e promoção da saúde, assim como da ênfase aos serviços de saúde para a ênfase amsituações físicas e sociais na qual se vive como maiores determinantes do estado de saúde. Ao mesmo tempo o paciente foi transformado de um corpo a uma pessoa, dando crescente importância às experiências subjetivas do indivíduo e às suas interpretações de saúde e doença (BIAZEVIC,2000).

 

              De acordo com FEREEIRA (1997), em reportagem sobre qualidade de vida e odontologia, aborda a presença da odontologia nas empresas e reforça os benefícios que delam sucedem como redução do absenteísmo, melhor qualidade de vida do funcionário e diminuição do imposto de renda da empresa. Apesar dessa crescente preocupação dos empresários com a saúde do trabalhador, o que se nota ainda, é o alto número de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais relacionadas ao trabalho. Fato que é a principal preocupação das equipes multiprofissionais da saúde do trabalhador, que lutam incessantemente pela prevenção dos acidentes e doenças do trabalho (BRASIL,2001;MENDES,1980).

 

              A odontologia é tratada apenas como um beneficio de caráter assistencial dado ao funcionário. Com o objetivo único de reduzir o absenteísmo devido a problemas de caráter odontológicos de acordo com BRINTON e  DIACOV (1945;1988), por meio de procedimentos curativos no serviço próprio da empresa, ou de empresa contratada para tal nas várias constituições jurídicas. Entretanto, hoje há informações sobre a ocorrência de acidentes de trabalho cuja causa básica foram problemas odontológicos (PERES, 2003; GARRAFA, 1982).

 

              As empresas podem ser obrigadas a oferecer serviços odontológicos especializados permanentemente, realizando exames periódicos e garantindo a saúde bucal dos trabalhadores, se o Projeto de Lei 422/07, do deputado Flaviano Melo (PMDB-AC), for aprovado na Câmara dos Deputados, onde tramita (CÂMARA,2009).É relevante destacar que apenas em 2001 o Conselho Federal de Odontologia criou, por meio da Resolução nº 22/2001, a especialidade Odontologia do Trabalho e em 2002 na Resolução CFO-25/2002 estabeleceu as áreas de competência para atuação dos especialistas em Odontologia do Trabalho.

 

              Em estudo realizado por QUELUZ (2005), por meio de levantamento bibliográficoabordou a nova especialidade: Odontologia do Trabalho e o contextono qual deve ser aplicada. Dados obtidos do levantamento SB Brasilmostram alta prevalência de problemas bucais dos brasileiros, com idadeentre 35 e 44 anos, como CPOD (Índice de dentes cariados, perdidos e obturados) e necessidade de prótese em 70,99% dos indivíduos pesquisados, faixa etária que se encontra em plena atividade produtiva.Desta forma, o objetivo deste estudo foi analisar o conhecimento sobre odontologia do trabalho dos profissionais integrantes da saúde ocupacional em empresas no ano de 2005. Uma limitação importante encontrada durante o estudo foi à dificuldadeem obter os questionários respondidos. Apesar da insistência, apenas15 empresas (17%) responderam o questionário.

 

              Dificuldade semelhanteocorreu com MIDORIKAWA (2000), quando apenas 10,66% das empresasresponderam ao questionário enviado. Os casos de doença ocupacional(33,96%) relatados foram de LER/DORT, embasados pelo prontuário dostrabalhadores. Fato revelador de que agentes ergonômicos são os quemais atingem os trabalhadores ligados a essas empresas.

 

3.10 PROMOÇÃO DE SAÚDE

 

              Na literatura atual, os elementos que permitam configurar as práticas profissionais do cirurgião-dentista nas equipes multiprofissionais do Programa Saúde da Família.A necessidade de ampliação do acesso da população brasileira às ações de promoção, prevenção e recuperação da Saúde Bucal; a necessidade de melhorar os índices epidemiológicos da Saúde Bucal da população e a necessidade de incentivar a reorganização da Saúde Bucal na atenção básica foram os motivadores da implantação das ações da Saúde Bucal no Programa de Saúde da Família(SANTOS,2007).

 

              A crescente globalização da economia traz consigo um aumento da competitividade empresarial, marcada pela necessidade de se produzir mais e melhor.Para atingir tais objetivos, as empresas lançam mão de programa de qualidade total, os quais pregam uma nova ordem na organização do trabalho, fazendo-se que o trabalhador sinta –se mais participativo e responsável pelo processo produtivo.O fruto disso é uma nova denominaçãoque muitas empresas estão adotando no que se refere ao trato com seus funcionários (associados, coloboradores, e outros).Porém a implantação deste programas, não necessariamente, acarreta uma melhoras na qualidade de vida dos funcionários, podendo até mesmo, ocorrer o contrário, ocasionando prejuízos à saúde física e mental (OLIVEIRA,1997).

 

              Segundo ARAÚJO (1999), a odontologia do trabalho praticada nas empresas não está voltada para identificação epdemiológica, catologação ou prevençào de doenças, e sim para o enfoque meramente curativo.De acordo com BRAGA (1999), a implementação de um programa de atenção em saúde bucal nas empresas deve visar á melhora da saúde  de seus empregados, levando em consideração que eles fazem parte da raça humana e não simplesmente como parte das engrenagens de uma máquina.

 

3.11 DOENÇAS OCUPACIONAIS: CIRURGIÃO-DENTISTA

              A odontologia está entre as profissões maisexpostas às doenças de caráter ocupacional e os cirurgiões-dentistas, entre os primeiros em afastamentos do trabalho por incapacidade temporária ou permanente, respondendo por cerca de 30% das causas de abandono prematuro da profissão(FERREIRA,1997).

              Na profissão de cirurgião-dentista utilizam-se como rotina de trabalho os membros superiores e estruturas adjacentes, frequentemente com repetitividade de um mesmo padrão de movimento em virtude da atividade clínica, assumindo posturasinadequadas por necessidade de técnicas operatórias e utilizando força excessiva em virtude das características próprias de algumas patologias e, ainda, na maioria dos casos trabalhando sob pressão temporal(SANTOS,2001).Por outro lado, em qualquer das posições assumidas para a realização das tarefas em odontologiaalgumas posturas inadequadas podem ser observadas, tais como a torção na coluna vertebral, a inclinação exagerada do pescoço, o braço esquerdoconstantemente elevado acima de 45o em profissionais destros, a inclinação acentuada para frente da coluna vertebral, a contração exagerada da musculatura dos ombros e pescoço, entre outras(TAGLIAVINI,1998).

              No trabalho realizado por SANTOS E BARRETO (2001), em Belo Horizonte/MG investigou a atividadeocupacional e a prevalência de dor em cirurgiõesdentistas, sendo constatados 58% de dor no segmento superior e 26% na coluna vertebral. Para BAÚ (2002), 80% da população é afetada por lombalgias entre os trinta e quarenta anos e, se associadas à má postura corporal e a manuseios ocupacionais inadequados, essa idade cai para até vinte anos. Poroutro lado, embora os profissionais suportem nessa faixa etária um ritmo com maior intensidade de trabalho, em virtude de todo indivíduo possuir limites, consequentemente surgirão os danos precoces.

              De acordo com NOGUEIRA (1983), parece haver uma tendência à cifoescoliose em cirurgiões-dentistas, a qual ocorre em razão, na maioria dos casos, da manutenção de posturas corporais inadequadas para visualização do seu campo de trabalho diminuto, limitado, de difícil acesso e, ainda, de durante a realização das tarefas não se observarem critérios ergonômicos.A cifose está altamente correlacionada com a diferença de alinhamento de cabeça e pescoço fora daneutralidade do longo eixo do corpo, bem como comas alterações de ombros e quadril, sendo esses indicativos de uma tendência à escoliose. Esses dados estão de acordo com os encontrados por FLENIK(1989).

              O profissional de odontologia, no decorrer de suas atividades, éacometido por infortúnios do trabalho, decorrentes de grande desgaste físico como conseqüência da postura de trabalho. De acordo com SAQUY(1996), para prevenção das doenças ocasionadas por agentes mecânicos, é importante que o cirurgião-dentista conheça dois pontos. O primeiro é a escolha do equipamento e o segundo refere-se à ergonomia correta da posição de trabalho do profissional.

              Em COUTO(1995), estabeleceu também algumas regras básicas de ergonomia paraorganização biomecânica de trabalho, das quais podemos destacar: 1) O corpodeve trabalhar, de forma desejável, com torque zero; 2) deve-se escolher amelhor postura para se trabalhar, de acordo com a exigência da tarefa; 3) asbancadas de trabalho devem ser estruturadas de tal forma que o corpo trabalhena vertical, sem curvamento do tronco e sem elevação dos membrossuperiores; e 4) eliminar os esforços estáticos.

              No trabalho realizado por RUCKER (2000),observou que os profissionais ao adquirirem novos equipamentos, muitosdestes com grande avanço tecnológico, não conseguem integrá-loscorretamente no ambiente odontológico devido ao pouco conhecimento dosprincípios básicos de ergonomia.

              A ergonomia aplicada à prática odontológica tem como objetivo uma racionalização do atendimento, permitindo que o profissional produza mais e melhor, evitando a fadiga e o desgaste desnecessário e, ao mesmo tempo, oferecendo segurança e conforto ao paciente (RIO, 2000).

              Um problema crítico observado foi que o operador não se posicionava corretamente para evitar a torção da coluna vertebral em até 90°. Além de problemas musculares na região da coluna que causam dores, cefaléia, nódulos dolorosos na região do pescoço, o cirurgião-dentista pode sofrer com lesões inflamatórias do grupo das LER (Lesões por Esforços Repetitivos) e DORT (Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho) como tendinite, tenossinovite, sinovite, neurite, síndrome do túnel do carpo, síndrome miofascial e doenças circulatórias (BRAS,1996;FOX,1967;GARBIN,2003).

              A preocupação com riscos biológicos surgiu a partir da constataçãodos agravos à saúde em profissionais de laboratórios que manipulavam microrganismos e material clínico desde o início dos anos 1940. Na área clínica, somente a partir da epidemiada Aids, nos anos 1980, as normas para as questões de segurança no ambiente de trabalho foram mais bem estabelecidas (RAPPARINI,2007).

              Artigos publicados entre 1970 e 1987 indicam nove casos em que os pacientesforam infectados pelo vírus da hepatite B, durante o tratamento odontológico por profissional infectado (CENTERS FOR DISEASE CONTROL,1993). O risco de infecção, através de acidente perfurocortante, envolvendo sangue de fonte desconhecida pelo vírus da hepatite B (VHB) é 57 vezes superior se comparado ao HIV (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2003), bem como através das partículas e aerossóis lançados até 1,5 metros ao utilizarmos instrumentos rotatórios, jatos de ar/ar, água, ar/água, bicarbonato e ultrassom (PALMER,2000). Para a hepatite C, a incidência média de soroconversão após exposição percutânea acidental a uma fonte VHC positiva é de 1,8%, enquanto que com o HIV é de, aproximadamente, 0,3% (CENTERS FOR DISEASE CONTROL,2001). Na prática odontológica é comum a manipulação de sangue e outros fluídos orgânicos que são as principais vias de transmissão do HIV e dos VHB e VHC (SOUZA,2003).

              As hepatites virais são causadas por diferentes agentes etiológicos de distribuição universal, com semelhanças clínico-laboratoriais, mas com diferenças quanto à epidemiologia e evolução. A importância das hepatites não se limita ao enorme número de pessoas infectadas, mas também às complicações das formas agudas e crônicas, inclusive cirrose e carcinoma hepatocelular (FERREIRA,2004). Logo, os profissionais da saúde devem estar familiarizados com a grande quantidade de informações científicas sobre as formas de transmissão e desenvolvimento da doença, para tratar os pacientes infectados e realizarem procedimentos sem risco para todos os envolvidos (SOUZA,2003).

              A principal causa de acidentes de trabalho entre profissionaisde saúde está relacionada ao uso de instrumentais perfurocortantes (CAIXETA, 2005). O sangue é o material biológico mais freqüentemente encontrado nas exposições ocupacionais, o que constitui um fator preocupante, uma vez que ele veicula patógenos como o vírus das hepatites B (HBV) e C (HCV) e o vírus da imunodeficiência humana (HIV)(YOUNAI,1996). Os acidentes de trabalho com sangue e outros fluidos potencialmente contaminados devem ser tratados como emergência médica, pois as intervenções para profilaxia da infecção pelo HIV e hepatite B necessitam ser iniciadas logo após a ocorrência do acidente para obtenção de maior eficácia(KOHN, 2003).

              No Brasil, o Ministério da Saúde tem disponibilizado manuais de orientação aos dentistas com normas para prevenção e protocolos de conduta em face de acidentes ocupacionais com material biológico (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009).

              O risco ocupacional com agentes infecciosos é conhecidodesde o início dos anos 1940. Porém, as medidas profiláticas e o acompanhamento clínico-laboratorial de trabalhadores expostos aos patógenos de transmissão sangüínea só foram desenvolvidos e implementados apartir da epidemia de Aids, no início da década de 1980. No Brasil, em 1996, o Ministério da Saúde publicou os “Procedimentos frente a acidentes de trabalho comexposição a material potencialmente contaminado com o vírus da Aids”(BRIGIDO,1996). Em 2000, em publicação distribuída gratuitamente para todos os cirurgiões-dentistas pelos conselhos de classe, foram descritas as condutas diante de acidentes ocupacionais.Recentemente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária publicou as condutas a serem seguidas após acidente com materialperfurocortante, divulgadas e de livre acesso on-line(MINISTERIO DA SAUDE, 2009).

              Os serviços de saúde exigem que o trabalhador seja produtivo e que as atividades inerentes ao exercício profissional sejam desempenhadas com qualidade. Nem sempre o ambiente de trabalho é adequado à manutenção da saúde do trabalhador, não sendo confortável, ideal, ou ainda não atendendo os requisitos de biossegurança. O estresse também é um fator debilitante do estado psicológico e mental do indivíduo (RADA,2004).

              A odontologia é uma das ocupações mais estressantes (GALE,1998) que podem causar sentimentos negativos no dentista tais como depressão, nervosismo, ansiedade, auto-estima baixa e insatisfação com a profissão (PURIENE, 2008). Além disso, é uma profissão de muita exposição biológica no contato direto com saliva, sangue, secreções, vias respiratórias e aerossóis provenientes da caneta de alta-rotação (DISCACCIAT,1998). Risco químico na manipulação de diversos produtos como eugenol e resina acrílica, que podem penetrar no corpo através das vias respiratórias, dérmica, oral e ocular podendo causar doenças pulmonares, alergias, problemas oculares, tontura e cefaléia. Risco toxicológico do vapor de mercúrio residual das restaurações de amalgama, principalmente em ambientes quentes, com conseqüências que podem chegar a danos neurológicos (FREITAS, 2000).

              O próprio ambiente físico de trabalho do cirurgião-dentista pode proporcionar danos à saúde devido à umidade, e vibrações radioativas e essas radiações podem decorrer em alterações cancerígenas, distúrbios na reprodução, doenças neurodegenerativas, efeitos psiquiátricos (leucemia, blefarite, conjuntivite, catarata e osteonecrose (ANSELMO,2005;BRASIL,2008). Os ruídos resultantes do funcionamento dos equipamentos odontológicos podem alterar a saúde física e mental podendo causar perda da audição e/ou hipertensão arterial (BRASIL,2001). Além disso, há os riscos ergonômicos que causam distúrbios músculo-esqueléticos como dor na porção superior do corpo (SANTOS,2001).O que mantêm os cirurgiões-dentistas no serviço público é a paixão pela odontologia, que se exalta quando o corpo e a mente já sofrem os danos causados pelo excesso de atividades e conseqüentemente, a produção começa a cair com o passar dos anos (LEVIN,2008).

              Em relação ao conforto do consultório odontológico, grande parte dos profissionais (49%) o considerou desconfortável apontando os equipamentos antigos e sem manutenção (37,5%) ou mesmo o espaço pequeno demais (31,3%), como principais causas do descontentamento. Os ruídos provém das canetas de alta-rotação, micromotor, sugador e compressor, além do aparelho de ar condicionado e/ou ventilador, telefone entre outros (PEREIRA,2001).

              Estudos realizados por GARBIN e colaboradores (2006) constataram que os ruídos ultrapassam o limite de 65dB (conforto acústico) chegando a 83,4 dB durante procedimentos odontológicos que requerem o máximo de atenção e, segundo PERNAMBUCO (2001), nessa freqüência, eles causam irritabilidade e alterações nervosas, prejudicando a concentração do profissional. Para evitar danos recomenda-se lubrificação dos aparelhos de alta e baixa rotação, manutenção técnica de equipamentos e aparelhos, localização adequada do compressor e uso de protetores auditivos (TORRES,2007). Se 45% dos profissionais deste estudo demonstraram insatisfação com os ruídos, provavelmente é porque o limite de conforto acústico foi desrespeitado. É preocupante observar profissionais que estejam “pouco satisfeitos” ou mesmo “insatisfeitos” com a biossegurança do local, pois submeter-se a condições de trabalho que coloquem tanto a saúde do profissional como a do paciente em risco é uma violação do Código de Ética em Odontologia (CRO,2001) .

              Segundo relatos dos cirurgiões-dentistas entrevistados no presente estudo, infelizmente o equipamento para esterilização mais disponível nos consultórios odontológicos da rede pública ainda é a estufa. A esterilização por vapor seco (estufa) é recomendada para óleos e alguns tipos de brocas e alicates ortodônticos, podendo ocorrer falhas porque as estufas não recebem manutenção adequada, ou monitoramento através do termômetro, além de demorar mais e exigir altas temperaturas (BRASIL,2006). Já a autoclave (vapor saturado sob pressão) destrói os microorganismos pela ação combinada da temperatura, pressão e umidade, e dependendo do modelo do aparelho, os padrões de tempo, temperatura e pressão variam entre 121ºC a 127 ºC (1 atm de pressão) por 15 a 30 minutos e 132 ºC a 134 ºC (2 atm de pressão) por quatro a sete minutos de esterilização (BRASIL,2006).

              Em estudos realizados por SOUZA (2007), foram detectados em outras unidades brasileiras de saúde, falta de material de consumo como luvas de procedimento, e falta de instrumental clínico suficiente para atender a demanda, o que impediu o atendimento ao paciente. Falta de material de consumo também foi umas das justificativas dos participantes do presente estudo para o não-atendimento. Assim, parece que os gestores não estão preocupados com a qualidade do serviço de saúde oferecida aos usuários do SUS e com as condições de insalubridade em que se encontram os cirurgiões-dentistas.

              A participação do auxiliar de consultório permite agilizar e melhorar a qualidade do atendimento odontológico (ORENHA,1998), contribuindo indiretamente, com o serviço humanizado, pois o procedimento se torna mais rápido, eficaz e ocorre o agendamento de horário, o que evita a longa espera do paciente pelo atendimento. No Brasil os auxiliares odontológicos são direcionados para diversas e diferentes atividades no sistema público de saúde, variando entre atividades de promoção de saúde e tratamentos (FRAZÃO,1998), mas LAZARIS e REGIS (2007) encontraram em seu estudo, ausência do auxiliar odontológico nos centros públicos de saúde pesquisados. Contudo, SALIBA (1998) acreditou que os cirurgiões-dentistas ainda não aprenderam a trabalhar com auxiliares por não saber delegar funções.

              A satisfação com a profissão parece estar ligada à saúde mental e capacidade do trabalhador em realizar o serviço com qualidade, ao orgulho e amor pela odontologia, ao idealismo da profissão, ao serviço solidário, à confiança que o paciente constrói no profissional, à relação profissional-paciente e ao fato de cuidar e contribuir para a saúde alheia (VILLALBA,2009;MIALHE, 2008).

              De acordo com MIALHE (2008), apesar de os profissionais apresentarem esse amor pela profissão, eles não apoiariam seus filhos para segui-la e não cursariam novamente. Os recém-formados se frustram com os empregos alcançados no mercado de trabalho, devido às condições oferecidas, e demonstram mais insatisfação do que os profissionais que trabalham há mais tempo, pois não encontraram tudo aquilo que sonhavam enquanto eram universitários (NICOLIELO,2002).

              As condições de trabalho interferem muito na qualidade de vida do profissional podendo prejudicar sua saúde nos campos físico, psicológico e de relações sociais, pois a odontologia expõe seus profissionais aos riscos de doenças ocupacionais e conseqüentemente, compromete a qualidade do serviço oferecido ao paciente (NUNES,2006;GARCIA,2004).

              A satisfação com o emprego é um forte fator que colabora na prevenção da Síndrome de Burnout, uma doença de estresse elevado em que o indivíduo se encontra em estado de despersonalização, exaustão emocional, frustração quanto à realização profissional, depressão, sentimento de solidão, nervosismos exagerado sem causas evidentes, ansiedade e tensão (PURIENE,2008).

              A Odontologia é uma das profissões mais estressantes e quando se trabalha dentro de uma longa carga horária ou extensa jornada de trabalho, o profissional está mais sujeito aos fatores estressantes, tal como manter altos níveis de concentração para realizar os procedimentos odontológicos, pressão constante, tratamento de crianças que não colaboram, interação com as pessoas e a própria dificuldade de cada procedimento, que causa sintomas presentes na Síndrome de Burnout (RAIDE,2004).

 

3.12 MELHORIA NA QUALIDADE DE VIDA DOS CIRURGIÕES – DENTISTA

 

              De acordo com a Organização Mundial de Saúde,“qualidade de vida é a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistema de valoresnos quais ele vive e em relação aos seus objetivos,expectativas,padrões e preocupações”(WHOQOL,1997).

 

              Na área da saúde, em especial na odontologia, o interesse pelo conceito qualidade de vida é relativamente recente e decorre, emparte, dos novos paradigmas que têm influenciado as políticas e as práticas do setor nas últimas décadas.Dentre as vantagens da incorporação do pessoal auxiliar na clínica odontológica, destacam-se a maior eficiência e otimização do processo de trabalho; o aumento da qualidade técnica e da produtividade; o conforto e segurança agregados ao atendimento dos pacientes; a minimização do custo operacional e a redução do desgaste físico, do estresse e da fadiga do cirurgião-dentista(BARROS,1995;PARANHOS,2008). Além disso, a utilização do trabalho auxiliado contribui positivamente na racionalização do trabalho, poupando o cirurgiãodentista do estresse físico e mental, permitindo que sua concentração permaneça apenas na solução do problema do paciente(BARROS,1995)

 

              Os estudos de racionalizaçãode o trabalho têm procurado dar ao Homem a possibilidade de produzir mais e melhor dentro de uma unidade de tempo; ou, num conceito mais amplo, dar a ele condição de utilizar meios e sistemas que tornem o seu trabalho mais eficiente, produtivo e menos cansativo(NARESSI,1992). Neste sentido, para que a racionalização do trabalho possa ser efetivadaadequadamente em âmbito odontológico, é de suma importância a utilização de pessoal auxiliar qualificado(SALIBA,1998).

 

              Os profissionais envolvidos com a saúde bucal trabalham em contato diário com diversos produtos químicos, além de podeiras e pós, que podem trazer sérios problemas de saúde. O plumbismo ou saturnismo é o conjunto de sinais e sintomas causados no ser humano pela intoxicação com o chumbo. O contato com mercúrio pode causar nos profissionais um conjunto de sinais e sintomas conhecidos por hidrargirismo ou mercurialismo e cujos prejuízos à saúde podem ser vários, dependendo do nível de intoxicação(ALLEGRA,2000).

 

              O formol é um produto altamente tóxico, cancerígeno, utilizado com ação conservante e fixadora. Seu uso ainda é admissível na conservação e na fixação de tecidos orgânicos removidos para análise laboratorial o mesmo é utilizado no processo de esterelização.O contato permanente com produtos químicos como o fenol, formol, tricresol, para-mono-cloro-fenol, chumbo e mercúrio, por exemplo, segundo a Norma Regulamentadora n. 15 (Atividades e Operações Insalubres) do Ministério do Trabalho e Emprego, em seus Anexos 11 e 13, comprovado por meio de laudo pericial, dá direito ao trabalhador da Odontologia à percepção do adicional de insalubridade em seu grau máximo(FOUSP, 2006).

 

              O exaustor é o equipamento mais adequado para renovar o ar de ambientes fechados e a sua finalidade em consultório odontológico é justamente para retirar do ambiente interno odontológico os gases e vapores químicos tóxicos nocivos à saúde humana, bem como os pós e poeiras, deixando o ar em condições de ser inalado ou ingerido sem causar prejuízo à saúde dos profissionais(ALLEGRA,2000).

 

              A equipe de saúde bucal deveria ser informada a respeito dos diversos vapores e gases tóxicos de agentes químicos manipulados no ambiente odontológico, bem como sobre a presença constante de poeiras e pós de materiais manipulados constantemente, como gessos, alginatos, pedra-pomes, cimentos, talco das luvas e outros(PERNAMBUCO,2001;FOUSP, 2001).

 

              Várias mudanças tem se apresentado na prática profissional, com novos modelos de prestação de serviços e novas formas de organização do trabalho.Essas mudanças facilitaram a percepção da necessidade da criação de profissionais auxiliares odontológicos, com a finalidade de dinamizar a profissão e otimizar o atendimento aou paciente (BIAZEVIC,2001).

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Ana Sigrid Monteiro Calderon

por Ana Sigrid Monteiro Calderon

Cirurgiã-Dentista Especialista em Odontologia do Trabalho

Portal Educação

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