É uma doença transmissível aos tecidos calcificados dos dentes
Odontologia
05/10/2012
A cárie dentária é a doença infecciosa de maior prevalência e de maior incidência na espécie humana, constituindo-se em relevante problema de saúde pública e individual na maioria dos países. É uma doença transmissível aos tecidos calcificados dos dentes, resultando em uma perda localizada dos tecidos duros. É uma doença multifatorial, que depende da interação de três fatores principais: o hospedeiro, representado pelos dentes e saliva, a microbiota e a dieta consumida. Atualmente, considera-se o tempo como um quarto fator essencial para o desenvolvimento da cárie. Para que a cárie ocorra, os fatores predisponentes devem estar presentes e interagir em condições críticas por determinados períodos: o hospedeiro com dentes suscetíveis, colonizados por microrganismos cariogênicos e consumindo frequentemente dieta rica em carboidratos (sacarose).
Devido a uma série de circunstâncias, com destaque para o aumento da ingestão de sacarose, a incidência de cárie dentária aumentou drasticamente nos séculos XIX e principalmente no XX, a ponto de preocupar a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Federação Dentária Internacional (FDI).
Histórico
O termo cárie deriva do latim cariosus, que significa destruição ou putrefação. Caracteriza-se pela destruição localizada de tecidos mineralizados do dente.
Durante muito tempo se especulou sobre os fatores causais da cárie dentária. Os primeiros achados de cárie foram em fósseis de peixes, há cerca de 280 milhões de anos. Os primeiros relatos a respeito da cárie dentária em nossos antepassados diretos datam de 2 milhões a 800.000 anos a.C. Registros sobre cárie dentária foram encontrados na Ásia e América, nas pinturas em paredes do período Cro-Magnon (22.000 anos atrás).
Placas de argila de 400 a.C., na Mesopotâmia, relataram a presença de cárie correlacionando sua presença com “vermes”. Ossos de oráculos chineses datando de 1000 a.C. descrevem a ideia de cárie e “vermes”. Hipócrates (460-377 a.C.) deu importância à presença de alimentos na boca, sugerindo que fatores locais e gerais interferiam na presença de cárie. Aristóteles (384-322 a.C.) descreveu que figos macios e doces aderiam aos dentes, apodreciam e causavam lesões de cárie.
Desde os babilônios (500 a.C.) até o século XVIII, acreditou-se na existência de “vermes que beliscavam os dentes”. Galeno (Grécia, século II) julgava que a cárie resultava de um processo inflamatório interno, pulpar, causado por discrasias sanguíneas. Guy de Cabuliac (1300-1368), considerado o grande cirurgião da Idade Média, acreditava que a cárie dentária era uma verminose. Antony van Leeuwenhoek (1683), o pai da microscopia moderna, descreveu pequenos microrganismos “extraídos de um dente comprometido”, afirmando que os mesmos causavam desconforto e dor de dente. Em 1843, Erdl descreveu parasitas filamentosos na superfície dos dentes.
O primeiro estudioso a colocar essa questão em bases científicas foi W. D. Miller, dentista norte-americano que entre 1880 e 1906 foi discípulo do bacteriologista Robert Koch. Miller, o “pai da Microbiologia Oral”, estabeleceu experimentalmente que a cárie dentária resulta basicamente da ação fermentativa das bactérias da saliva sobre carboidratos da dieta do hospedeiro (teoria quimio-parasitária).
Na primeira metade do século XX, ocorreu a “era dos lactobacilos”, além de serem lançadas várias teorias que tentavam esclarecer a etiologia da cárie: teoria acidogênica, proteolítica e proteolítica-quelante, que apresentavam algumas convergências e muitas divergências, portanto geraram muitas dúvidas.
O atual conhecimento da etiologia dessa doença está fundamentado nas pesquisas sobre cárie dentária experimental em animais de laboratório, primeiramente desenvolvidas em roedores, da qual se obteve as seguintes respostas: animais isentos de microrganismos não desenvolvem lesões de cárie dentária nem quando recebem altas concentrações de sacarose (dieta cariogênica) durante muito tempo, ou seja, não há cáries sem bactérias, demonstrando assim que a cárie dentária é uma doença infecciosa; além disso, de todas as espécies bacterianas isoladas de lesões de cárie de roedores convencionais, apenas uma era capaz de produzir grandes acúmulos sobre os dentes (placa bacteriana, atualmente chamada de biofilme dentário) e extensas destruições dentais, quando monoinoculadas na boca de animais isentos de microrganismos e alimentados com dieta rica em sacarose.
Pesquisas verificaram que essa espécie era um estreptococo cariogênico que apresenta as seguintes características: é anaeróbio facultativo, portanto capaz de fermentar carboidratos; é fortemente acidogênico, produzindo grandes quantidades de ácido láctico quando fermenta a grande maioria dos carboidratos, principalmente a sacarose, fazendo o pH ambiental descer para aproximadamente 4,0; diferente dos estreptococos conhecidos na época, na presença de sacarose, essa espécie sintetiza e armazena extracelularmente um polissacarídeo de reserva chamado glucano, responsável pela capacidade de colonização sobre a superfície dentária e pelo aumento do potencial acidogênico; o estreptococo cariogênico é transmitido tanto entre animais quanto entre seres humanos.
O conjunto dessas experiências permitiu uma definição da etiologia da cárie ainda válida: a cárie dentária é uma doença infecciosa (sem bactérias não ocorre cárie), endógena (as bactérias responsáveis fazem parte da própria microbiota bucal), transmissível e trifatorial. O clássico diagrama de Keyes mostra que a cárie só aparece quando ocorre a interação dos seus três fatores etiológicos: a bactéria cariogênica, a dieta cariogênica e a suscetibilidade individual (fatores do hospedeiro e seus dentes).
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por Colunista Portal - Educação
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