Dinâmica do Dente no Ambiente Oral

O esmalte realiza constantes trocas químicas com o seu meio ambiente, a cavidade bucal
O esmalte realiza constantes trocas químicas com o seu meio ambiente, a cavidade bucal

Odontologia

05/10/2012

Por muito tempo, tratou-se o dente como um órgão estático, sem capacidade de reação com o seu meio ambiente. Atualmente, é sabido que o esmalte realiza constantes trocas químicas com o seu meio ambiente, a cavidade bucal.

Quanto a sua composição química, sabe-se que o conteúdo inorgânico alcança 96 a 97% do total, representado por cristais de hidroxiapatita. O restante está distribuído entre água e material orgânico.

Na composição estrutural, os componentes inorgânicos estão distribuídos em cristais numa organização prismática, com material orgânico e água intermediando estes cristais e os prismas.

Esta organização viabiliza o dinamismo entre o esmalte e o seu meio, por favorecer e existência de microporos para entrada e saída de elementos minerais e água, configurando os processos de desmineralização e remineralização dentária, que traduzem esta relação dinâmica entre dente versus cavidade bucal.

O processo de desmineralização é caracterizado pela perda de minerais do dente no momento em que houver uma queda do pH do meio, sendo que a remineralização é a reposição desses minerais quando houver neutralização desse pH ácido.

Quando existe uma situação de equilíbrio dinâmico, isto é, Desmineralização=Remineralização, temos que a quantidade de íons perdidos é igual à quantidade de íons repostos, sem caracterizar, portanto, predomínio de uma situação.

A partir do surgimento de um elemento novo, por exemplo, consumo de um carboidrato em que pela sua degradação haja liberação de ácidos que levem à queda do pH próximo ao dente (pH do biofilme), está configurado um desequilíbrio no meio bucal. Esses ácidos também penetram nos poros do esmalte, desfazendo ligações moleculares, o que determina a liberação de íons minerais do dente, diminuindo o diâmetro dos cristais de hidroxiapatita e, consequentemente, alargando os poros.

Este processo repetido e não seguido de reposição dos minerais perdidos, representa que está havendo desmineralização em nível “ultra-estrutural”. É doença presente mesmo que, neste momento, não existam manifestações clinicas, mas pode representar o início de um processo destrutivo, que poderá evoluir para o “estado clínico” da doença cárie, representado pela opacidade do esmalte, na forma da chamada mancha branca.

Este processo poderá ser interrompido. Quando bastante precoce, na fase de ultra-estrutura, pode ocorrer a reposição dos minerais perdidos, o que garante a ocorrência da remineralização.

Num estágio mais avançado, com mancha branca formada, podemos interromper a progressão da lesão, sem, contudo, conseguirmos garantir a reposição do conteúdo total de mineral perdido.

Assim, a partir da neutralização do pH ácido e estando o esmalte “ávido” por minerais, ocorrerá o retorno desses elementos ao dente. Isso ocorrerá mais livremente se o dente estiver sem biofilme, mas independe desta para acontecer. Porém, deve-se ressaltar que, quanto mais espesso for o biofilme, maior a dificuldade para neutralização dos ácidos.

Neste fenômeno da remineralização, o flúor exerce papel importante, reagindo com o esmalte desde que esteja presente na cavidade bucal, na forma iônica.

Assim, quando presente em baixa concentração no biofilme ou saliva (0,02 a 0,05 ppm), à medida em que ocorre a remineralização, poderá ligar-se ao esmalte na forma de fluorapatita, substituindo o radical hidroxila do cristal original. A fluorapatita é mantida por uma ligação extremamente forte, o que a torna menos solúvel frente aos ácidos do ambiente bucal. Durante a remineralização, o flúor também carregará consigo cálcio e fosfato para o interior do esmalte, que ocuparão os “espaços” no esmalte, criados pela desmineralização, podendo aumentar o diâmetro dos cristais.

Resumindo, após consumo de alimentos que depois de metabolizados por microrganismos levem à liberação de ácidos que causem a queda de pH, a acidez do meio permanecerá até que haja neutralização pela saliva. Durante o tempo em que o pH for baixo (pH<5,5), estará havendo dissolução dos cristais de hidroxiapatita, promovendo a desmineralização. A projeção dessa consequência será mais negativa quanto maior for o tempo de duração, a intensidade e frequência com que essa desmineralização ocorrer.

Quando a interrupção desse processo se der após a formação da lesão (seja pela remineralização ou paralisação de manchas ou mesmo de cavidade), significa que houve a preservação do remanescente da estrutura dentária, que receberá um tratamento restaurador ou não, após análise de cada caso.

Quando estiver estabelecido um conjunto de ações, no sentido de impedir que ocorra um desequilíbrio no meio bucal, levando à desmineralização, aí sim, estaremos diante da prevenção da doença.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


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