Educação nutricional como intervenção em saúde pública

Hábitos saudáveis são importantes para a promoção da saúde e qualidade
Hábitos saudáveis são importantes para a promoção da saúde e qualidade

Nutrição

26/01/2015

Os danos para a saúde que podem decorrer do consumo insuficiente ou excessivo de alimentos são há muito tempo conhecidos pelos seres humanos, mas recentemente surgiram evidências de que características qualitativas da dieta sejam importantes na definição do estado de saúde, principalmente no que diz respeito às doenças crônicas degenerativas da idade adulta (TARDIDO, 2006).


A alimentação que o indivíduo recebe insuficiente tanto quantitativamente ou qualitativamente são causas de problemas de saúde em qualquer fase da vida.


Tardido (2006), relata que cerca de 32% dos adultos brasileiros apresentam algum grau de excesso de peso; compreender e analisar as dietas de diferentes populações pode trazer valiosas contribuições para o entendimento da prevalência de doenças relacionadas com a alimentação, tais como, hipercolesterolemia, diabetes mellitus e obesidade.


Enquanto uma parte da população sobrevive em condições precárias de alimentação e higiene, outra parcela tem acesso a alimentação hipercalórica porém com baixo teor nutritivo, calorias vazias, que acumulam-se em forma de gordura e tornam-se as principais causas de doenças crônicas não transmissíveis na fase adulta. Encontramos ainda uma parcela da população que possui o acesso as informações sobre alimentação e nutrição, contudo o aspecto financeiro é um limitador de acesso a alimentação saudável. Há outra parte da população que possui informações, condições financeiras, mas tem dificuldade em mudar maus hábitos alimentares por influência da indústria alimentícia, pelo marketing e por fortes apelos da mídia.


Essa transição nutricional relaciona-se intrinsecamente com as transições demográficas e epidemiológicas observadas no Brasil. Com isso, reduzem-se a morbidade e a mortalidade por doenças relacionadas com baixo peso/desnutrição e aumentam-se aquelas relacionadas com o excesso de peso, com significativa prevalência de doenças crônicas não transmissíveis, o que impõe nova demanda aos serviços públicos de saúde e outro foco à agenda de políticas públicas de alimentação e nutrição (TADDEI et al. 2005).


Para Cuppari (2014), as necessidades nutricionais são as quantidades de nutrientes e de energia disponíveis nos alimentos que um indivíduo sadio deve ingerir para satisfazer suas necessidades fisiológicas normais e prevenir sintomas de deficiência. Inclui-se nesta, medidas de educação nutricional associadas às diretrizes de alimentação saudável do Ministério da Saúde para o Brasil, na decisiva mudança na qualidade de vida da população e na prevenção de doenças associadas à má alimentação.


Muitos são os fatores que influenciam nas escolhas alimentares no dia a dia, o acesso ao alimento, condições socioeconômicas, a cultura, hábitos de vida, o tempo disponível para alimentar-se. Entre outras inúmeras situações onde existe uma linha tênue, que vai das transformações ocorridas na sociedade, pelo processo de modernização, que promoveram mudanças na composição da dieta que passou a contar com alto teor de gorduras saturadas, açúcares e alimentos refinados e pobres em fibras alimentares, conforme menciona Cuparri (2014) e a escassez ou limitação de alimentos que provocam deficiências nutricionais, agravados por anemias e desnutrição.

O cenário atual na saúde pública tem demonstrado por um lado à alta ingestão de alimentos industrializados, gordurosos, ricos em açúcares e pobres em nutrientes como vitaminas e minerais, essenciais ao organismo humano, causando doenças pelo consumo em excesso, contudo não são garantias de que o indivíduo esteja nutrido; por outro lado, a dificuldade de acesso a alimentos por muitas famílias, fazem com que a alimentação seja composta por doações ou cestas básicas, o que também é um fator limitador na oferta de nutrientes que podem acarretar ao organismo deficiências nutricionais.


Bezerra (2011) relata ainda que a renda das famílias vem aumentando e a estrutura de consumo modifica-se em favor de uma maior aquisição de alimentos pouco nutritivos. As maiores mudanças atingem de maneira mais importante as classes de menor renda.


Drewnowski&Specter (2004) estudaram a associação entre densidade energética e custo energético e observaram que refrigerantes, chocolates e batatas fritas, alimentos de maior densidade energética e maior proporção de grãos refinados, açúcar e gordura, apresentaram custos mais baixos do que os alimentos frescos, como carnes magras, peixes, frutas e vegetais. Logo, a alta palatabilidade e o baixo custo desses alimentos são considerados responsáveis pela má qualidade da dieta, podendo levar a ganho de peso inadequado, principalmente entre indivíduos de renda mais baixa.


No Brasil, a participação de frutas, legumes e vegetais na dieta das famílias é fortemente influenciada pela renda familiar e pelo preço desses alimentos. (CLARO et al. 2007).


As estratégias de saúde pública são em geral voltadas para toda a população, e há vários cenários identificados como espaços favoráveis à promoção de recomendações de estilo de vida saudável: a família, e/ou domicílio, a escola, o ambiente de trabalho, serviços de saúde, bairros e comunidades. (MULLIS et al. 2004)


O desenvolvimento de ações para a conscientização de hábitos alimentares saudáveis, bem como incentivar o consumo de frutas e hortaliças (verduras e legumes) nas refeições diárias, aumentar o consumo de fibras, grãos integrais e reduzir o consumo de alimentos com altos teores de sódio, ricos em açúcares e gorduras, como forma de melhorar o valor nutricional das refeições e incentivar a população na busca e reflexão sobre a sua relação com o alimento, sua importância para a saúde e qualidade de vida em longo prazo.


Diante do quadro atual da saúde da população e os maus hábitos alimentares adquiridos pelas pessoas, as ações de educação alimentar e nutricional devem ser constantes, proporcionando ao indivíduo condições para tomar decisões saudáveis na escolha de seus alimentos. Além dessas, o incentivo ao cultivo, como a criação de hortas comunitárias e o aproveitamento integral de alimentos podem ser instrumentos para evitar o desperdício e proporcionar o máximo de nutrientes na alimentação.


A criação de políticas que resultem na redução dos preços e proporcionem alimentos acessíveis são medidas de grande propensão a conseguir resultados efetivos, pois influenciam diretamente a escolha dos consumidores. A redução na carga de impostos incidindo sobre frutas e hortaliças seria uma intervenção com potencial ao sucesso, uma vez que não necessita de grande aporte financeiro por parte da administração pública (baseia-se na renúncia aos impostos devidos), além de direcionar a redução de preço aos consumidores. A diminuição do preço médio de frutas e hortaliças em 20% elevaria a participação desses alimentos na dieta do brasileiro em cerca de 16% (variando dos níveis atuais para cerca de 3% do total de calorias). A desvantagem óbvia da isenção de impostos é o risco de desequilíbrio na relação de oferta/demanda desses alimentos, caso sua oferta não seja igualmente estimulada. (CLARO; MONTEIRO, 2007).


Melhorar qualitativamente a alimentação das pessoas, diminuir os riscos e evitar os danos à saúde torna-se uma ação emergencial a cerca da situação atual na saúde da população como uma importante intervenção na saúde pública.
Referências


TARDIDO, Ana Paula. O impacto da modernização na transição nutricional e obesidade. Revista Brasileira de Nutrição Clínica, 2006. São Paulo. Disponível em http://www.ucg.br/ucg/eventos/Obesidade_Curso_Capacitacao_Ambulatorial/Material_Consulta/Material_Nutricao/O%20impacto%20da%20moderniza%E7%E3o%20na%20transi%E7%E3o%20nutricional%20e%20obesidade.pdf, acesso em 05 out 2014.


TADDEI J. A. A. C.; LANG R. M. F; LONGO-SILVA G.; TOLONI M. H. A. Nutrição em Saúde Pública. Rio de Janeiro: Editora Rúbio, 2011.


CUPPARI, Lilian; SCHOR, Nestor. Guia de nutrição: Clínica adulto. 3. ed. Barueri, SP: Manole, 2014.


BEZERRA Ilana.N.; SICHIERI R. Características e gastos com alimentação fora do domicílio no Brasil. Rev. Saúde Pública, 2010. Disponível em http://www.scielosp.org/pdf/rsp/v44n2/01.pdf, acesso em 08 out 2014.


DREWNOWSKI A; SPECTER S.E. Poverty and obesity: the role of energy density and energy costs. Am J Clin Nutr, 2004. Disponível em http://ajcn.nutrition.org/content/79/1/6.short, acesso em 08 out 2014.


CLARO Rafael M.; CARMO Heron C.E.; MACHADO Flávia M.S.; MONTEIRO Carlos A. Renda, preço dos alimentos e participação de frutas e hortaliças na dieta. Rev. Saúde Pública, 2007. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0034-89102007000400009&script=sci_arttext, acesso em 08 out 2014.


MULLIS R.M; BLAIR S.N.; ARONNE L.J.; BIER D.M.; DENKE M.A. Dietz W, et al. Prevention Conference VII: Obesity, a worldwide epidemic related to heart disease and stroke: Group IV: prevention/treatment. Circulation 2004. Disponível em http://circ.ahajournals.org/content/110/18/e484.short, acesso em 08 out 2014.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Fabiana de Aro

por Fabiana de Aro

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