Estado nutricional de crianças beneficiadas pelo programa do leite do governo

Estado nutricional de crianças beneficiadas pelo programa do leite do governo em uma unidade b&
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Nutrição

28/07/2014

Acompanhar o estado nutricional das crianças é fundamental para ver a condição da saúde da população infantil e monitorar a evolução da qualidade de vida e desenvolvimento infantil (CUERVO et al., 2004).

De acordo com a convenção sobre os direitos da criança (1989), uma alimentação adequada é um direito da criança, visto que nos primeiros dois anos de vida a criança apresenta crescimento acelerado e metabolismo específico, devendo a nutrição ser adequada em qualidade, quantidade, frequência e consistência, uma vez que a adequação nutricional dos alimentos complementares é fundamental na prevenção de morbimortalidade na infância, como a desnutrição e a obesidade para o crescimento ser completo (LAURENTINO et al., 2006).

A alimentação da criança desde o nascimento e nos primeiros anos de vida tem repercussões ao longo de toda a vida do indivíduo, sendo que o leite humano oferece os nutrientes que a criança necessita para iniciar uma vida saudável, representando o alimento essencial e exclusivo para o lactente até o sexto mês de vida. (HORTA, et al., 1996).

A prevalência e a duração do aleitamento materno no Brasil ainda estão abaixo do recomendado, à amamentação exclusiva ainda é pouco praticada e dura menos que um ano, mesmo assim pesquisas mostram um aumento nas taxas de amamentação (VITURI & BRITO, 2003; CALDEIRA, 1998).

A alimentação complementar é definida como aquela feita no período em que outros alimentos ou líquidos são oferecidos à criança, em adição ao leite materno, necessitando serem introduzidos a partir dos seis meses de idade, visando o crescimento e desenvolvimento do bebê. (GIUGLIANI & VICTORA, 2000).

Podendo ser desvantajosa a introdução precoce ou tardia de alimentos, visto que na primeira tem-se a diminuição da duração do aleitamento materno, interferência na absorção de nutrientes importantes do leite materno, aumento do risco de contaminação e de reações alérgicas. Enquanto a introdução tardia torna-se desfavorável, na medida em que não atende às necessidades energéticas do lactente, levando à desaceleração do crescimento da criança, aumentando o risco de desnutrição e de deficiência de micronutrientes ocasionando à criança perdas irreparáveis em sua capacidade intelectual, física e social (Ministério da Saúde; 2002).

No intuito de combater a desnutrição infantil criou-se o Programa do Leite em 2003, visando reduzir as carências nutricionais e a mortalidade infantil através da distribuição do leite pasteurizado, enriquecido com 3% de gordura, ferro quelato, vitamina A e D para crianças de 6 a 36 meses de idade pertencentes a famílias com renda média per capita mensal inferior a meio salário mínimo. (www.leite.pr.gov.br).

Sendo assim, este trabalho teve por finalidade traçar o perfil nutricional de crianças beneficiadas pelo programa do leite no Núcleo Integrado de Saúde Jardim Olímpico no município de Maringá-PR.

METODOLOGIA

Este estudo retrospectivo foi procedido pela analise dos prontuários de crianças na faixa etária dos seis meses a cinco anos de idade no Núcleo Integrado de Saúde do Jardim Olímpico no município de Maringá – PR no período de 2011 a 2012.

A amostra foi composta por 145 crianças de ambos o sexo.

As variáveis coletadas foram peso (kg), estatura (cm), sexo e idade (meses) a fim de traçar o estado nutricional das mesmas. Sendo avaliadas de acordo com os parâmetros peso/idade (P/I), estatura/idade (E/I), peso/estatura (P/E) e IMC/I (índice de massa corpórea) segundo os pontos de cortes para percentil da OMS (Organização Mundiais da Saúde), 2006.

Os resultados foram analisados estatisticamente no software statistica versão 7.0, através dos testes T-Student e Qui-Quadrado (X²), considerando-se 95% de confiança e 5% de significância.

RESULTADOS

Tabela 1: Análise descritiva das crianças estudadas, para as variáveis idades (meses), altura (cm), peso (kg) e IMC (kg/m²), divididas por gênero e ano.

Variável

2011

2012

Feminino

(n=26)

Masculino

(n=19)

P

Feminino

(n=53)

Masculino

(n=47)

P

Idade (meses)

 

 

 

 

 

 

   Média

25,46

22,89

 

0,4426

22,73

21,47

 

0,2994

   Desvio-Padrão

11,18

10,69

11,40

11,05

   Mediana

25,50

22,00

22,50

20,00

   Máximo

52,00

56,00

81,00

62,00

   Mínimo

8,00

10,00

6,00

6,00

Altura (cm)

 

 

 

 

 

 

   Média

84,19

83,09

 

0,7507

83,15

82,98

 

0,9238

   Desvio-Padrão

11,40

11,34

8,95

8,99

   Mediana

86,50

81,00

82,00

82,00

   Máximo

108,00

110,00

99,00

100,00

   Mínimo

62,00

56,00

68,00

67,00

Peso (Kg)

 

 

 

 

 

 

   Média

12,29

11,97

 

0,7163

11,92

12,02

 

0,8730

   Desvio-Padrão

2,97

2,88

3,14

2,84

   Mediana

13,05

11,70

11,60

11,60

   Máximo

18,20

17,20

22,10

18,90

   Mínimo

5,80

5,20

6,80

6,90

IMC (kg/m²)

 

 

 

 

 

 

   Média

17,19

17,16

 

0,9543

17,00

17,25

 

0,4833

   Desvio-Padrão

1,75

1,48

2,00

1,53

   Mediana

17,09

17,49

16,56

17,08

   Máximo

20,76

19,97

22,55

21,93

   Mínimo

14,23

14,14

14,17

14,72

Na Tabela 1 foi possível observar as análises descritivas para as variáveis, idade (meses), altura (cm), peso (kg) e IMC (kg/m²), divididas entre o gênero e ano.

Observou-se que as meninas possuem uma idade média de 25,46 meses (±11,18) e os meninos 22,89 meses (±10,69) no ano de 2011. Já no ano de 2012 observou-se que o gênero feminino apresentou idade média de 22,73 meses (±11,40) e os meninos 21,47 meses (±11,05), observando assim que as idades são bem semelhantes.

Com relação à variável altura no ano de 2011, as meninas possuem 84,19 cm e os meninos 83,09 cm, porém essa pequena diferença não é significativa, evidenciando que possuem alturas semelhantes, o mesmo ocorre no ano de 2012.

Em relação ao peso em 2011, a média das meninas foi de 12,29 kg (± 2,97) e para os meninos é de 11,97 kg (± 2,88). Já no ano de 2012 as meninas apresentaram mais leves que os meninos, peso das meninas foi de 11,92 kg (±3,14) contra 12,02 kg (±2,84) para os meninos, sem diferença estatisticamente significante nos dois anos.

Para a variável IMC, as médias tanto para meninas quanto para os meninos são parecidas, com 17,19 kg/m² para as meninas e 17,16 kg/m² para os meninos em 2011. Em 2012 o IMC apresentou média de 17,00 kg/m² para as meninas e 17,25 kg/m² para os meninos, tendo uma leve diferença, não se apresentando estatisticamente significância. 

Tabela 2: Resultados obtidos através da classificação entre Peso/Idade, Altura/Idade, Peso/Altura e IMC/Idade, divididos por gênero e ano.

Variáveis

2011

2012

Feminino

  N      %

Masculino

  N       %

P

Feminino

N        %

Masculino

N         %

P

Peso/Idade

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

   Baixo peso para idade

2

(7,7)

-

-

 

0,3337

3

(5,7)

-

-

 

0,2313

   Eutrofia

21

(80,8)

18

(94,7)

45

(84,9)

41

(87,2)

   Excesso de peso para idade

3

(11,5)

1

(5,3)

5

(9,4)

6

(12,8)

Altura/Idade

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Baixa altura para idade

4

(15,4)

2

(10,5)

 

0,5994

10

(18,9)

11

(23,4)

 

0,4797

   Eutrofia

22

(84,6)

17

(89,5)

43

(81,2)

36

(76,6)

Peso/Altura

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Baixo peso para altura

-

-

-

-

 

0,2859

2

(3,8)

-

-

 

0,3780

   Eutrofia

22

(84,6)

18

(94,7)

42

(79,2)

40

(85,1)

   Excesso de peso para altura

4

(15,4)

1

(5,3)

9

(17,0)

7

(14,9)

IMC/Idade

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

IMC baixo para idade

-

-

-

-

 

0,7655

-

-

-

-

 

0,5557

   Eutrofia

21

(80,8)

16

(84,2)

44

(83,0)

41

(87,2)

   IMC elevado para idade

5

(19,2)

3

(15,8)

9

(17,0)

6

(12,8)


Na tabela 2 foram expostas a classificação de acordo com peso/idade, altura/idade, peso/altura e IMC/idade, divididos por gênero e ano.

Em relação ao peso/idade no ano de 2011, notou-se que 80,8% das meninas e 94,7% dos meninos encontravam-se na faixa de eutrofia (peso adequado), sendo que 7,7% das meninas foram classificadas em baixo peso e 11,5% com peso elevado para a idade. Já para o ano de 2012, observou-se a predominância da eutrofia (peso adequado), para meninas 84,9% e 87,2% para meninos, ocorrendo ainda um aumento no excesso de peso para os meninos (12,8%) e diminuição deste percentual de excesso de peso para as meninas (9,4%), sem diferença estatisticamente significância.

Considerando altura/idade, notou-se que 80,8% das meninas e 89,5% dos meninos estão na classificação adequada, sendo que 15,4% delas e 10,5% deles apresentam baixa altura para idade. Já em 2012 a faixa de eutrofia foi de 68% para meninos e 77% para meninas.

Com relação ao peso/altura 84,6% das meninas e 94,7% dos meninos foram classificados em eutróficos, ou seja, peso adequado para a altura, não havendo estatisticamente significância. Em 2012 as meninas apresentaram 79,2% e os meninos 85,1% na faixa da eutrofia, porém observou-se um aumento no excesso de peso tanto nas meninas quanto nos meninos (17 % e 14,9 % respectivamente), notando-se ainda que nenhum menino fosse classificado em baixo peso enquanto que 3,8% das meninas apresentaram baixo peso.

A classificação do IMC, na faixa dos eutróficos foi 80,8% para meninas contra 84,2% para os meninos, não havendo significância, considerando na tabela o ano de 2011. Já para o IMC em 2012, 17% para elas e 12,8% para eles apresentaram IMC elevado para idade, não havendo diferenças entre ambos significativamente.

DISCUSSÃO

Analisando os dados apresentados por Luz (2009), observou-se semelhança, já que houve uma prevalência das meninas em 57, 41% em relação aos meninos (42,59%).

A idade média de 22 a 25 meses das crianças apresentadas por Luz (2009) apresentou-se idêntica à pesquisa em questão.

A prevalência de crianças eutrófica (peso adequado) em ambos os sexos foi condizente ao um estudo apresentado em Piracicaba-SP, o qual mostrou que o sexo masculino obteve uma maior prevalência de peso adequado em 65,45% contra 62,24% para o sexo feminino (FOGANHOLO et al.2006).

Segundo Mendes et al (2009), 98,12% das crianças apresentaram estatura adequada para idade, sendo que apenas 1,88% estavam dentro da faixa de baixa estatura para idade. Em estudo feito por Oliveira et al (2011) 6,3% das crianças também apresentaram-se em baixa estatura para idade. No presente estudo houve uma taxa maior tanto de meninas quanto de meninos com baixa estatura para idade. Alguns fatores podem estar associados a este quadro de baixa estatura entre as crianças, como a renda familiar, aonde não possuem uma renda suficiente para investir na alimentação adequada, baixa escolaridade dos pais, visto que quanto menor a instrução dos pais menor será a atenção na importância da higiene da criança e menor chances de fornecer alimentos adequados para o crescimento e desenvolvimento da própria criança (FLORENCIO et al.2001).

Em estudo feito em Manaus, Nagahama et al (2009), observou déficit nutricional em 5,2% no peso pela idade e 13,4% em altura para idade. Lima (2009) em estudo realizado em Pernambuco encontrou um déficit de crescimento linear em 16% das crianças estudadas. Outro estudo baseado em dados mundiais em alguns países relatou que 43% das crianças apresentaram déficit em altura para idade (CUERVO et al. 2004). No estudo em questão houve uma prevalência maior das meninas do que para os meninos sobre o déficit em baixa estatura para idade. Tanto o déficit de peso como de estatura, pode estar relacionado a um estado de saúde inadequado em longo prazo, por uma alimentação inadequada e a condição da família, muitas vezes os pais possuem mais filhos e não conseguem manter uma renda apropriada, prejudicando assim o crescimento da criança nos primeiros anos de vida.

De acordo com o índice de massa corpórea Mendes et al (2009), apresentou em seu estudo um percentual médio de 15,84% o que se assemelha a pesquisa em questão em ambos os sexos e anos.

Em estudo feito por Foganholo et al (2006) 12,7% e 14,23% dos meninos e meninas respectivamente apresentaram um excesso de peso, o mesmo ocorreu com Mendes et al (2009) que apresentou um risco de sobrepeso em 22,64% em ambos os sexos. No presente estudo houve um excesso de peso com um percentual menor que os estudos citados, para os meninos houve uma prevalência maior de excesso de peso em relação às meninas de acordo com o índice de massa corpórea.

Sendo que segundo Ferreira et al (1997) há um aumento do sobrepeso e obesidade crescendo no Brasil, caracterizado por uma mudança nos padrões alimentares, aonde se evidência um aumento de consumo em produtos industrializados, de origem animal e açucarados, e um baixo consumo de frutas, verduras, fibras e carboidratos complexos, o qual é influenciado ainda pelos hábitos alimentares da família com repercussões ao longo da vida (COSTA & SILVA; MENDONÇA, 1998).

Porém, ao mesmo tempo nota-se pouca atenção a este quadro de obesidade instalado no Brasil pelo fato de a desnutrição ainda em alguns estados estarem com índices elevados, sendo considerado um problema de saúde pública, uma vez que a mesma é responsável por 40% dos óbitos em crianças menores de um ano de vida.

CONCLUSÃO

Portanto, a partir da análise dos dados conclui-se que mais de 70% das crianças foram classificadas em eutrofia quanto aos parâmetros P/I, A/I, P/A e IMC, prevalecendo no sexo masculino. Ao mesmo tempo foi observado um aumento de peso nas crianças ao se comparar o ano de 2011 e 2012.

Demonstrando assim a eficácia do programa em relação à diminuição do risco nutricional pela desnutrição ao mesmo tempo em que se torna necessário o acompanhamento de perto para que medidas preventivas sejam tomadas, evitando o aumento do excesso de peso em crianças.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Juliana Carolina Lopes

por Juliana Carolina Lopes

formação nivel superior completo bacharel em nutrição

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