Perfil nutricional e riscos de desenvolvimento de anorexia nervosa em acadêmicas

Classificação de acordo com o IMC das entrevistadas
Classificação de acordo com o IMC das entrevistadas

Nutrição

10/10/2012

INTRODUÇÃO
O culto ao corpo está diretamente associado à imagem de poder, beleza e mobilidade social, sendo crescente a insatisfação das pessoas com a própria aparência1. Tal insatisfação corporal por vezes pode levar ao início de comportamentos de risco para transtornos alimentares como o transtorno da compulsão alimentar periódica, e consequentemente obesidade, anorexia nervosa e bulimia nervosa, comprometendo a saúde e a qualidade de vida do indivíduo2. Um dos padrões impostos é de que a mulher para ser bela deve e precisa ser magra.



Este padrão de beleza induz as mulheres a se sentirem feias e acima do peso, desejando excessivamente a se tornarem magras e esguias com perda rápida de peso, para que dessa maneira se sintam melhores e lindas3. Devido a isso, adolescentes e mulheres entram em constantes dietas de emagrecimento e aderem a práticas inadequadas, como o uso de purgativos, jejuns prolongados, atividade física excessiva, entre outros métodos sem se preocupar com os danos que podem causar a sua saúde3.



A anorexia nervosa é caracterizada por uma restrição dietética auto-imposta, extremamente rígida, com acentuada perda de peso, associada ao intenso medo de engordar.


Sua percepção corporal está gravemente perturbada, a pessoa afirma-se gorda mesmo contra as evidências médicas4, provocando uma distorção da imagem corporal e a já citada perda significante de peso, tudo isso em consequência da restrição dietética. Quando instalada de forma crônica, leva o paciente à desnutrição, desidratação, complicações cardiovasculares, entre outras5. Outra característica típica do quadro no caso das mulheres é a amenorréia4.


As complicações clínicas são graves, pois decorrem da desnutrição crônica, o que afeta todos os sistemas do corpo, envolvendo principalmente o sistema esquelético, em que a amenorreia predispõe a osteopenia e consequentemente a uma osteoporose, e por fim, a uma arritmia cardíaca que é uma das principais causas de morte nos pacientes anoréxicos4.


Na anorexia nervosa existe a necessidade de uma alta ingestão calórica para recuperação de peso, porém de forma gradativa. As metas de reabilitação nutricional são a recuperação de peso, a cessação dos comportamentos que promovem a perda de peso, uma melhora nos comportamentos alimentares e uma melhora no estado psicológico e emocional4.

OBJETIVO
Levando em consideração o assunto por tratar do comportamento alimentar dos adolescentes e sua relação com o desenvolvimento de transtornos alimentares, sendo por isso um tema relevante, o objetivo deste trabalho foi avaliar o perfil nutricional e os riscos de desenvolvimento de anorexia nervosa entre as acadêmicas do curso de Nutrição da URI- Campus de Frederico Westphalen, Rio Grande do Sul.



MATERIAIS E MÉTODOS

Realizou-se um estudo de delineamento transversal com uma amostra constituída por 64 acadêmicos do Curso de Nutrição da URI - campus de Frederico Westphalen, ambos sendo do sexo feminino, com idades entre 17 e 25 anos. O aceite para participar do estudo foi voluntário, e para a identificação de adolescentes com sintomas de anorexia nervosa, um questionário - Teste de Atitudes Alimentares (EAT-26) foi aplicado, a fim de avaliar as atitudes alimentares. Cada questão apresentou 6 opções de resposta, conferindo-se pontos de 0 a 3, dependendo da escolha (sempre = 3 pontos, muitas vezes = 2 pontos, às vezes = 1 ponto, poucas vezes, quase nunca, e nunca = 0 ponto). Junto à aplicação do referido questionário, foi solicitado às estudantes que indicassem seu peso e sua altura no momento da aplicação, para posterior classificação do estado nutricional, através do Índice de Massa Corporal (IMC). Considerou-se com sintomas de anorexia nervosa as estudantes que apresentaram escore maior que 21 pontos (EAT+)6.


RESULTADOS E DISCUSSÕES

A classificação do estado nutricional, segundo o IMC, mostrou que 68,8% (n=44) encontravam-se eutróficas, 14,1% (n=9) com baixo peso, 15,6% (n=10) com sobrepeso e 1,6% (n=1) das acadêmicas com obesidade. A avaliação dos questionários EAT-26 apontou que 15,6% (n=10) das acadêmicas apresentaram risco para desenvolver anorexia nervosa. Destas, 5 apresentaram-se eutróficas e 5 participantes estavam com sobrepeso. De acordo com uma pesquisa realizada em duas escolas particulares de Ribeirão Preto- SP, que aplicou o EAT-26 em 365 adolescentes do sexo feminino com idade entre 12 e 18 anos o objetivo de identificar fatores de risco para o desenvolvimento de anorexia nervosa, verificou-se que no total de estudantes, em 41,6% das respostas apresentou risco para desenvolver a doença, pois o resultado do EAT-26 foi superior a 21 pontos6.

CONCLUSÃO


Mesmo apresentando um alto percentual de adolescentes com peso dentro dos padrões da normalidade, com IMC resultando em eutrofia, elas possuem indicativos para o desenvolvimento de anorexia nervosa, pois o desejo de emagrecer e perder peso não corresponde ao valor do índice. Além disso, verificou-se também que o percentual de acadêmicas com baixo peso e sobrepeso foram preocupantes. Por conseguinte, pôde-se verificar que grande parcela das estudantes deseja perder peso, apresentando por isso padrão alimentar anormal. Sendo assim, tais resultados remetem a certos cuidados nutricionais, pois o culto ao magro pode acarretar em desequilíbrios nutricionais e emocionais nesses indivíduos.


REFERÊNCIAS
1 BOSI, Maria Lúcia Magalhães, et al. Autopercepção da imagem corporal entre estudantes de nutrição: um estudo no município do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro. 2003.

2 CONTI, Maria A; GAMBARDELLA, Ana M D; FRUTUOSO, Maria F P. Revista Brasileira de Crescimento e Desenvolvimento Humano. São Paulo. 2005.

3 WITT, Juliana da Silveira Gonçalves Zanini; SCHNEIDER, Aline Petter. Nutrição Estética: valorização do corpo e da beleza através do cuidado nutricional. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 16, n. 9, Set. 2011. Disponível em: . Acesso em: 26 Set. 2012.

4 DUNKER, K.L.L ; ROMANO, E.C.B. Anorexia Nervosa. In : AQUINO, R.C. de ; PHILIPPI, S.T. Nutrição Clinica : estudos de casos comentados. Barueri,SP : Manole, 2009. 5FIATES, G. M. R.;

SALLES, R. K. Fatores de risco para o desenvolvimento de distúrbios alimentares: um estudo em universitárias. Revista de Nutrição, Campinas, v. 14, Suplemento, p 3-6, 2001.

6BIGHETTI, F. RIBEIRO, R. P. P. Tradução e validação do eating attitudes test (EAT-26) em adolescentes do sexo feminino na cidade de Ribeirão Preto-SP. 2003. 123 f.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Jéssica Cristina de Cezaro

por Jéssica Cristina de Cezaro

Acadêmica do VIII semestre do Curso de Nutricao pela pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missoes, URI- Campus de Frederico Westphalen, Bolsista de Iniciacao científica PIIC/ URI e membro do grupo de pesquisas GEPNUTS.

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