14/11/2015
HEMOGRAMA: SÉRIE BRANCA
Continuando a exposição sobre a análise do hemograma, nos atentaremos agora a interpretar a série branca do hemograma.
Sua interpretação revelará os distúrbios que podem acometer o organismo, notadamente infeccioso. Também encontraremos alterações nessa série devido a parasitoses, alergias, doenças auto-imunes e alterações na medula óssea, desde displasias até leucemias. As alterações malignas da série branca geram uma enorme gama de leucemias, não cabendo aqui sua interpretação, somente citaremos a título de conhecimento para o leitor criar noção do que pode está acontecendo, até porque, essa entidade patológica é alvo de estudo próprio, dada sua complexidade e diversividade.
A gênese da série branca acontece, no adulto, na medula óssea vermelha, localizada prioritariamente nos osso chatos. As células tronco hematopoiéticas, se diferenciam em 2 tipos básicos, a que dará origem a linhagem linfóide, por fim originará os linfócitos T e B. A linhagem mileóide, dará origem aos demais componentes celulares do tecido sanguíneo. Daí as alterações nessa linhagem gerarem uma gama maior de sintomas, pelo fato de que, seu comprometimento afeta quase todas as linhagens celulares sanguíneas. A célula indiferenciada mileóide originará:
A) Megacarioblasto, que ao final teremos as plaquetas
B) Pró-eritroblasto , que ao final formará os eritrócitos
C) Mieloblastos, que ao final originará os leucócitos, não linfócitos.
O mieloblasto irá gerar 4 linhagens, a saber, promielócito (de 3 tipos; gerando basófilo, neutrófilo e eosinófilo) e o monoblasto que originará o monócito.
Cada célula é afetada por um tipo específico de substância estimuladora, ocasionando sua diferenciação. Podemos citar, dentre algumas, interleucinas (IL), Fator estimulador de colônias granulocítico-monocítico (GM-CSF), Fator de necrose tumoral (TNF). Um outro dado importante a notar é que cada tipo de célula, temos o CD (cluster diferenciation) diferente, marcando a linhagem que esta célula pertence. Como por exemplo, podemos citar o linfócito T, que expressa o CD4 ou CD8 enquanto o neutrófilo expressa o CD11.
Segue abaixo uma representação esquemática da heamatopoiese:
Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Leuc%C3%B3cito#/media/File:Hematopoiese_humana_pt.jpg
Passaremos agora ao estudo de cada tipo de célula, da série branca, com suas funções e principais alterações, antes porém, veremos os termos que podem incidir nesta série e como é o comportamento genérico das alterações.
Conforme dito anteriormente, os leucócitos são as células que combatem agressões ao organismo, auxiliando no reparo do dano celular e tecidual. Logo qualquer injúria tecidual e/ou celular causará alterações nos componentes leucocitários.
A contagem leucocitária total normalmente varia de 4 mil a 12 mil células por milímetro cúbico. Normalmente cada pessoa tem um número de leucócitos específico, que permanece ao longo dos anos. Isso significa que uma contagem pode significar problema para um, não necessariamente é problema para o outro. Assim, definiu-se um valor normal para a contagem de leucócitos (4 mil a 12 mil). Uma quantidade muito pequena ou muito grande de leucócitos indica um problema. Quando a quantidade de leucócitos é menor que 4.000 células/mL, chamamos de leucopenia e quando há um aumento na quantidade das células brancas (acima de 12.000 células/mL) chamamos de leucocitose. Tanto um quanto o outro não são doenças, mas sim o indicativo de que algum problema pode estará acontecendo no corpo. De uma maneira geral a primeira avaliação feita no leucograma tange a sua avaliação quantitativa, com números aparecendo fora de uma faixa de normalidade, indicando que há um problema. A analise mais minuciosa do paciente indicara se o problema é primariamente no tecido sanguineo, como caso de uma leucemia, ou reflete uma doença instalada em outro órgão, como por exemplo, uma infecção pulmonar levando uma resposta imune, com conseqüente aumento do número de leucócitos circulantes.
Cada tipo celular leucocitário aumenta em função de uma injúria específica, sendo importante para elucidação patológica a avaliação qualitativa, em que termos informações sobre qual linhagem está aumentada, e se há outras alterações visíveis ao microscópio.
Os leucócitos dividem-se em duas grandes classes:
O leucograma serve para identificar como os leucócitos, que são as células de defesa do organismo, estão se comportando. Existem 6 tipos de leucócitos diferentes e cada um deles exerce uma função específica. São eles:
O leucograma é apresentado, informando o total de leucócitos, sua percentagem por tipo leucocitário e atipias encontradas nos leucócitos.
O número total de leucócitos reflete alterações que podem ser leucopênia ou leucocitose. A diferenciação dos leucócitos guia-nos por que tipo celular está presente e como esse tipo reflete na patologia. As alterações na morfologia informam se está ocorrendo alterações que justifiquem a contagem alterada leucocitária.
Nas leucopenias temos como causas as alterações da medula óssea induzidas por doença mieloproliferatipas, fármacos, toxemias por bactérias e comumente vírus, por isso é comum o concurso de leucopenia em quadros virais. Ao contrário, nas leucocitoses, podemos ter quadros, infecciosos, que são os preponderantes no aumento, doenças mieloproliferativas, inflamações, doenças autoimunes, e estresse.
As alterações por tipo histológico foi abordada anteriormente, cabendo dizer que cada tipo pode refletir uma alteração específica, guiando assim o tratamento mais efetivo para a patologia.
As alterações morfológicas são extensas e devem ser correlacionadas com a clínica, podendo corroborar com ela ou ser apenas um achado, à critério do ,examinador, pode ser sugerido novas investigações ou feitas correlações com os demais achados do exame. Na interpretação tais achados não devem ser desprezados sob pena de não se fazer um tratamento eficaz da doença em curso. Como nossa abordagem é somente a interpretação, não cabe aqui diferenciar os tipos de doenças, fato esse relegado ao médico assistente ou hematologista, bem como o curso do tratamento. Essas aletrações descritas somente pontuam, superficialmente, a interpretação, relegando a segundo plano uma investigação diagnóstica mais específica e precisa. A exemplo de alterações morfológicas temos: granulações tóxicas, vacuolizaçao, degranulação, corpos de Dohle, hipo/hipersegmentação nuclear, projeções nucleares, anomalia de Pelger-Hüet.
Com esse elenco de informações podemos agora chegar a uma ou várias causas das alterações evidenciadas. Geralmente essas alterações corroboram com a clínica encontrada ou elucidam sintomas, levando ao um diagnóstico em definitivo. Podem ainda não fazer isso, porém, guiam novas condutas, quer sejam terapêuticas ou diagnósticas.
É importante que seja o médico a correlacionar o resultado do leucograma com a história clínica do indivíduo, para chegar ao diagnóstico da doença. Essa tarefa exige amplo conhecimento, reflexão e correlação dos sintomas, anamnese, e adequação de todos esses achados com a doença correta. Não raramente, são necessárias novas investigações, com outros exames a fim de se chegar a um correto diagnóstico da patologia em curso.
BIBLIOGRAFIA
1. De JANEWAY. Imunobiologia. 7ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2010. 908p.
2. Leucóctios. Disponível em : http://pt.wikipedia.org/wiki/Leuc%C3%B3cito. Acessado em: 08/05/2015, as 12:00:00.
3. Hemograma com leucócito altos e baixos. Disponível em: http://diariodebiologia.com/2014/12/hemograma-com-leucocitos-altos-ou-baixos-o-que-pode-ser/#.VRRZ1_zF_Mc. Acessado em: 01/04/2015, às 10:00:00.
4. Leucograma. Disponível em: http://www.portaleducacao.com.br/enfermagem/artigos/23290/leucograma. Acessado em 08/05/2015, às 21:59:00.
5. PEREIRA, O. A> Interpretação do Leucograma. Disponível em http://www.orlandopereira.com.br/clipping/Interpreta%C3%A7%C3%A3o%20do%20Leucograma.pdf. Acessado em: 08/05/2015, às 22:16:00.
Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.
Biólogo, especialista em patologia humana. Acadêmico de Direito. Atualmente trabalha como professor da rede estadual do Rio de Janeiro.
UOL CURSOS TECNOLOGIA EDUCACIONAL LTDA, com sede na cidade de São Paulo, SP, na Alameda Barão de Limeira, 425, 7º andar - Santa Cecília CEP 01202-001 CNPJ: 17.543.049/0001-93