A SEXUALIDADE NA GRAVIDEZ

Durante a gravidez é possível desenvolver novo olhar sobre a sexualidade do casal.
Durante a gravidez é possível desenvolver novo olhar sobre a sexualidade do casal.

Medicina

06/09/2015

A gravidez e o pós-parto são períodos caracterizados por mudanças no corpo da mulher, no emocional, nas interações sociais e no relacionamento entre o casal, e estas podem afetar diretamente a vida sexual. É uma fase de transição que torna necessário o equilíbrio e a adaptação da mulher, bem como, a de seu parceiro, e pode ser um período interessante para desenvolver um novo olhar sobre a sexualidade. A vida sexual do casal neste período poderá ser aprofundada ou poderá encontrar algumas dificuldades que terão impacto negativo na saúde física e psicológica de ambos.  

A chegada de um filho produz mudanças consideráveis na dinâmica do casal e da família, os quais terão que aprender tarefas relacionadas ao exercício de novos papéis dentro do relacionamento, gerando assim, uma reorganização de todos para cuidar do bebê.  É um verdadeiro desafio à capacidade de adaptação de cada um.

A gravidez traz mudanças como, um elevado aumento da produção hormonal, de estrogénios e progesterona; alterações na pele, nos cabelos; aumento do volume do coração e uma diminuição da atividade intestinal; aumento do abdômen e dos seios. Estas mudanças podem alterar a forma da mulher perceber sua imagem corporal e levá-la a ter sentimentos de perda da autoestima, a sentir-se pouco atraente fisicamente e até mesmo com incapacidade de sedução. 

O pós-parto traz mudanças hormonais como, a diminuição do nível de estrogénios e progesterona, e o aumento de prolactina, durante o período de amamentação, bem como, a diminuição do tamanho do útero; além disso, a mulher pode ter experiências de sequelas perinatais durante as primeiras semanas após o parto.

Estas mudanças alteram de modo irreversível a vida da mulher, pois a colocam em contato com novas emoções, angústias, pensamentos e alegrias. Há sentimentos como, o medo de perder o bebê, de perder sua própria autonomia, medo de que seu corpo jamais volte a ser o mesmo, em contraste com o desejo, o orgulho e a alegria de ser mãe.

Na dinâmica familiar, o bebê é um novo integrante totalmente dependente da atenção, e passa a ocupar o espaço do imaginário e das fantasias dos pais. A mudança de papéis entre o casal tem reflexos na interação conjugal, e requer uma nova forma de adaptação. Ao mesmo tempo em que o nascimento do bebê passa ser a consolidação de um desejo de ambos, também, pode representar um obstáculo para o relacionamento de alguns casais, podendo representar para estes, a perda da exclusividade. A mulher fica tão envolvida com o bebê que o homem pode se sentir deixado de lado, pois um novo rival passar a concorrer ao afeto desta. Podem surgir cenas de incompreensão e ciúmes, dando origem a incompatibilidades entre os parceiros. Assim o casal experimenta a vulnerabilidade, e a atividade sexual pode ser tanto um fator de risco, como um fator de satisfação e bem-estar.

A satisfação do relacionamento conjugal pode diminuir consideravelmente da gestação até o nascimento do bebê, e as dificuldades encontradas podem afetar negativamente a médio e longo prazo a saúde física e psicológica de ambos. Em relação ao comportamento sexual, o casal pode apresentar uma diminuição do desejo sexual e da frequência da atividade sexual, bem como, em alguns casos, o aumento do desejo. Casais tendem a se absterem da prática da penetração vaginal; a frequência da atividade sexual diminui por medo de prejudicar o feto ou induzir um aborto ou um parto prematuro; há mudanças na escolha de posições durante a interação sexual; e também pode ocorrer um aumento do erotismo e do desempenho sexual em outros momentos.

Após o primeiro ano de nascimento do bebê a frequência sexual tende a ser ainda mais reduzida do que no período da gravidez. O interesse sexual pode variar entre o casal. A mulher tende a se interessar por carícias e ternura durante a gravidez e alguns parceiros podem se sentir desinteressados sexualmente. Há situações em que a mulher pode evitar seu parceiro. Algumas mulheres podem experimentar dor e desconforto durante a penetração, o que altera a motivação destas para a atividade sexual; e outras podem ter um aumento da sua satisfação sexual após o parto. Os aspectos culturais somados as vivências psicológicas de cada um e o modo como a mulher elabora as mudanças de seu corpo irão interferir no desejo erótico.

Os fatores que contribuem para a diminuição do desejo sexual e da frequência são: a dificuldade de adaptação aos novos papéis a serem desempenhados pelo casal; o estresse e as emoções associadas ao nascimento do bebê, a ausência de disponibilidade de atenção entre o casal; a maneira como a mulher lida com sua imagem corporal, bem como, as mudanças hormonais em seu corpo.

A disfunção sexual mais frequente no ciclo gravídico-puerperal é a dispareunia, ou seja, dor na relação sexual, principalmente em mulheres que estão em sua primeira gestação. O medo de que a penetração possa prejudicar o feto, inibe tanto o homem quanto a mulher. É mais frequente que as disfunções sexuais ocorram depois do parto, por vários aspectos, entre estes, o medo de uma nova gravidez que concorre para criar expectativas negativas sobre a atividade sexual.

É importante que o casal conheça e compreenda as modificações psicológicas e fisiológicas nessa fase de vida e que considerem suas dificuldades, seus limites e suas emoções.  Que estejam atentos para outras formas de vivenciar a sexualidade, seja experimentando caricias e atividades não-genitais ou  diferentes posições que diminuam o desconforto. Desenvolvendo entre si uma comunicação e compreensão mútuas, poderão se sentir confiantes e confortáveis.

Intervenções psicoeducativas sobre saúde sexual, o aconselhamento que encoraje uma conversa aberta entre o casal sobre as dificuldades e mitos desse período, sobre suas necessidades sexuais e expectativas é uma excelente oportunidade para uma maior compreensão sobre a sexualidade. 

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Mirian Bernardes Lopes Alves

por Mirian Bernardes Lopes Alves

Pós-Graduada em Sexualidade Humana pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM/USP), psicóloga e licenciada em Psicologia pela Universidade Paulista (UNIP), credenciada no Conselho Regional de Psicologia de São Paulo (CRP-SP/99520), escritora de poesias, consultora em redação técnica, colunista da Revista Taboão News, em Taboão da Serra/SP e do Portal Trocando Fraldas em São Paulo.

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