padrão hidrodinâmico do trato urinário direta ou indiretamente
Medicina
09/08/2015
O estudo urodinâmico, conceitualmente, é todo método utilizado para descrever o padrão hidrodinâmico do trato urinário direta ou indiretamente. Nisto compreendem-se os diários miccionais, as tabelas volume urinado-frequência urinária, o diário sol e chuva ou seco e molhado, a urofluxometria livre, o cistodinamograma por cistografia contrastada intravenosa, o cistodinamograma ultrassonográfico, a eletroneuromiografia pélvica-perineal, a cistometria, o estudo fluxo-pressão, a urodinâmica não-invasiva com ou sem cystoscan, a videourodinâmica por fluoroscopia ou ultrassonografia ou a urodinâmica complementada pela uretrocistografia miccional.
Ao longo da história do método e pelo uso inapropriado do termo, consagrou-se o nome estudo urodinâmico completo à tríade urofluxometria livre, cistometria e estudo fluxo-pressão, mesmo que em alguns centros especializados incremente-se a eletroneuromiografia ou a ultrassonografia ao método simultaneamente ou não se realize a urofluxometria livre. Ficando, as demais técnicas, um tanto olvidadas e raras ou muito esporadicamente elegidas para a avaliação do cliente com queixas miccionais.
Entende-se por queixas miccionais, conforme a International Continence Society - Sociedade Internacional de Continência, sediada na Inglaterra e uma das principais associações internacionais que ditam diretrizes para a classificação, diagnóstico e tratamento das doenças funcionais do trato urinário, toda ou qualquer perturbação da micção em quaisquer de suas três fases (armazenamento, esvaziamento e pós-miccional). São queixas miccionais de armazenamento: perda de urina aos esforços ou secundária a urgência ou sobredistensão vesical ou por associações dessas condições, urgência miccional que é a dificuldade de postergar a micção devido ao forte desejo de urinar, polaciúria (ou frequência miccional aumentada - geralmente mais de 8 micções durante o dia ou quando o intervalo entre uma micção e outra é menor de 2 horas) e noctúria/nictúria (frequência urinária noturna aumentada - considera-se anormal quando se precisa conscientemente do mictório mais de 2 vezes após deleitar-se). São queixas de esvaziamento: a hesitância (ou esforço para iniciar a micção), o jato fraco e a intermitência (ou jato partido que pode ocorrer no início, meio ou fim da micção). Por fim, são queixas pós-miccionais a sensação de esvaziamento incompleto e o gotejamento pós-miccional.
A ICS entende que nem todo paciente que apresenta quaisquer daqueles sintomas precisa realizar o "estudo urodinâmico completo", porém todo paciente necessita de uma avaliação urodinâmica, ou seja, precisaria objetivar suas queixas através de alguma metodologia tal qual o diário miccional ou a tabela volume urinado-frequência urinária ou através de questionários validados cientificamente o quais não deixam de ser uma avaliação "urodinâmica" subjetiva. Destarte, é possível dimensionar o problema, realizar algum tipo de tratamento e reproduzir o método, alcançando-se os objetivos do tratamento de um modo cientificamente aprovado e registrado em prontuário. Reservam-se os métodos mais sofisticados ou invasivos a casos seletos em que jazem dúvidas diagnósticas ou prognósticas ou se anelam propostas cirúrgicas. Faz-se mister esclarecer o cliente dos riscos e benefícios de cada método, pois quanto mais invasivo for, maiores são as probabilidades de complicações. Citam-se a infecção urinária, o trauma uretral, a uretrorragia (sangramento da uretra), a retenção urinária e a disautonomia (complicação cardiovascular séria que ocorre em paciente vítimas de traumatismo raquimedular).
A urofluxometria livre é a primeira etapa do estudo urodinâmico completo, não é invasivo e consiste apenas de um registro do volume urinado pela velocidade de fluxo. Ao cliente, tenta-se preservar sua intimidade neste momento, para que o mesmo possa realizar esta etapa de uma forma mais espontânea possível, sob condições "fisiologicamente normais", ou seja, urinar quando sente desejo de fazê-lo, pois se entende que a maior parte da população não urina sob condições de sobre distensão vesical, desejo insuportável de urinar ou na ausência do mesmo. A realização do exame sob condições inapropriadas induz a inferências inapropriadas ou insatisfatórias.
A cistometria e o estudo fluxo-pressão são as duas etapas mais constrangedoras, porque nelas introduzem-se uma ou duas sondas de fino calibre pela uretra e outra com balão pelo reto inferior. O escopo das uretrais é o enchimento da bexiga com uma solução ou com gás e medir a pressão vesical (PV) ao longo do enchimento e esvaziamento a uma velocidade controlada que pode ser aumentada ou diminuída afim de induzir alguma resposta da musculatura lisa vesical (o detrusor). Já o da retal é medir a pressão abdominal (PA) ao longo do enchimento e esvaziamento da bexiga. Obtêm-se indiretamente os valores pressóricos do detrusor (PDET) através da subtração PV menos PA.
Os valores da PDET ao longo da cistometria informarão ao urodinamicista, por exemplo, se há hiperatividade detrusora (doença representada urodinamicamente pela presença de contrações involuntárias e conscientes do detrusor, causando alguns dos sintomas de armazenamento, por exemplo). E, no estudo fluxo-pressão, em que o cliente urina com aquelas sondas, os valores da PDET permitem inferir, por exemplo, se o há obstrução do trato de saída da urina ou se as dificuldades de o paciente urinar são devidas à doença do detrusor (a hipocontratilidade detrusora, que é doença séria e de difícil tratamento, por não haver tratamento cirúrgico ou medicamentoso consagrado e de bons resultados para o mesmo. Daí alguns chamarem-na de bexiga terminal).
Estas duas etapas do exame expõem a intimidade do paciente e, por causa disto, muitos se sentem coibidos a realizarem-no. Neste momento, urge uma boa relação urodinamicista e paciente para que a vontade deste prevaleça contanto que esteja ciente dos riscos e benefícios de sua abnegação. A falta de um tratamento inteligente pode representar repercussões no trato urinário irreversíveis tais qual terapia renal substitutiva (diálise peritoneal, hemodiálise, infecções urinárias simples ou complicadas e até mesmo a própria vida em todos os seus aspectos psicológicos, sociais e existenciais).
Portanto, conversar com seu urologista e tirar todas as dúvidas e esgotarem todas as possibilidades não invasivas antes de partir para os métodos mais invasivos poderiam minimizar quaisquer angústias e permitir bons resultados como a melhora na qualidade de vida dos portadores de disfunções miccionais.
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Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.
por Djalma Ribeiro Costa
Médico formado pela UFPe, Clínico médico pela UFPi, Cirurgião Geral pela ESP - Ceará e Urologista pela UFCe. É especializando em Auditoria hospitalar pela Faculdade Integrada AVM - RJ. É atualmente Preceptor e Vice-supervisor do Programa de Residência Médica em Cirurgia Geral do Hospital Santa Maria em Teresina - Piauí.
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