Restrição calórica e longevidade

Restrição calórica e longevidade
Restrição calórica e longevidade

Medicina

14/03/2015

A elevada ingestão alimentar, especialmente de dietas hipercalóricas e o aparecimento da obesidade têm sido associados ao aumento da produção de espécies reativas, induzindo o estresse oxidativo. A obesidade pode diminuir a capacidade antioxidante e aumentar a lipoperoxidação miocárdica. Portanto o estresse oxidativo pode ter importante papel nas alterações metabólicas decorrentes da obesidade (SIES, STAHK, SEVANIAN, 2005; FARINATTI, 2002).


A hiperlipidemia e a hiperglicemia estão associadas a um aumento do estresse oxidativo. Elas podem estimular a uma depleção de antioxidantes, modificações de proteínas e lipoproteínas, podendo estimular tanto a diabetes quanto a aterosclerose (SIES, STAHK, SEVANIAN, 2005; FARINATTI, 2002).


Nos experimentos com animais avaliando o envelhecimento e doenças neurodegenerativas, a restrição calórica protegeu os neurônios. Em indivíduos obesos, há uma maior tendência a diminuição no desenvolvimento cognitivo com o envelhecimento (WILLIS et al., 2009).


Estudos têm demonstrado que a RC exerce efeitos benéficos à saúde como poder contribuir para o aumento na expressão de proteínas de choque térmico, que pertencem à uma classe de chaperonas moleculares, as quais são proteínas responsáveis pelo correto dobramento de outras proteínas sintetizadas e pela prevenção da agregação proteica. A RC também pode contribuir no aumento da expressão de antioxidantes, como por exemplo, ratos alimentados com uma dieta menos calórica tendem a exibir maior quantidade de vitamina E, coenzima Q-10 nas membranas celulares cerebrais. Essa capacidade de estimular a expressão de antioxidantes é fundamental para reduzir os danos oxidativos em proteínas, lipídios e DNA (MATTSON, 2008).


A restrição dietética contendo uma nutrição balanceada em nutrientes e não nutrientes induz efeitos benéficos sobre a saúde, como aumento da longevidade, retardo na incidência de doenças crônicas, prolongamento da fase reprodutiva, maior preservação do colágeno e atraso na formação de lipofuscina nos tecidos (NETTO, 2007). No caso da saúde cardiovascular, a restrição calórica conduz a uma diminuição na produção de espécies reativas e consequentemente da lipoperoxidação cardíaca e também a um aumento das defesas antioxidantes, protegendo o miocárdio (NOVELLI, 2005).


A restrição calórica (RC) é responsável pelo aumento da capacidade antioxidante, do reparo celular e da resposta imune, protegendo mais os indivíduos do estresse oxidativo (FUKAWA, 1998). Em roedores, a RC além de contribuir para o aumento da capacidade de reparo do DNA, provoca uma diminuição na produção de O2• - e diminui a ocorrência de danos em proteínas, lipídios e DNA (VALKO et al., 2007). Outro benefício da RC é aumentar o nível das sirtuinas, enzimas envolvidas no controle do metabolismo energético e associadas à longevidade (MELETIS, ZABRISKIE, 2006).


A redução na produção de espécies reativas pelas mitocôndrias devido a RC diminui os danos às biomoléculas mitocondriais, contribuindo e muito para amenizar o envelhecimento (BIESALSKI, 2002; LEE, WEI, 2001).


A ação antioxidante da RC pode ser também através da inibição de várias vias de sinalização e dos fatores de transcrição pró-inflamatórios. A RC pode atenuar o NF-kB, o TNFα, a expressão de interleucinas, quimiocinas e moléculas de adesão, além de enzimas pró-inflamatórias como a COX-2 e a iNOS. A RC também pode previnir a diminuição das enzimas antioxidantes tiorredoxinas devido o envelhecimento (CHUNG et al., 2009; JUDGE, LEEUWENBURGH, 2007).

As pessoas centenárias podem ser consideradas o melhor exemplo do eficaz envelhecimento cardiovascular. Há uma baixa incidência de doenças cardiovasculares como por exemplo, menor prevalência de angina, hipertensão, infarto agudo do miocárdio, diabetes e dislipidemias nas pessoas com mais de cem anos comparando a idosos mais novos (GALIOTO, 2008).


A região japonesa de Okinawa tem uma das maiores concentrações de centenarianos do mundo e baixíssimos índices de hipertensão arterial comparando a indivíduos do ocidente. Os moradores de Okinawa não são consumidores do sal de cozinha, têm estilos de vida saudáveis, a dieta é pouco calórica, o consumo de peixes e vegetais é abundante e o consumo de alimentos ricos em gorduras saturadas e sal é pequeno (GALIOTO, 2008).


Além disso, eles praticam atividade física regularmente, evitam o hábito de fumar, têm moderado consumo de álcool e evitam situações estressantes. Com estes hábitos benéficos, eles têm um índice de massa corporal saudável, adquiriram o hábito de consumir alimentos integrais, utilizam a prática de restrição calórica e têm uma dieta rica em antioxidantes, atenuando o estresse oxidativo (GALIOTO, 2008).



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BIESALSKI. Free radical theory of aging. Curr Opin Clin Nutr Metab Care. v. 5, p.5-10, 2002.


CHUNG, H.Y.; CESARI, M.; ANTON, S.; MARZETTI, E.; GIOVANNINI, S.; SEO, A.Y.; CARTER, C.; YU, B.P.; LEEUWENBURGH, C. Molecular inflammation: underpinnings of aging and age-related diseases. Ageing Res Rev. v.8, p.18-30, 2009.


FARINATTI, P.T.V. Teorias biológicas do envelhecimento: do genético ao estocástico. Rev Bras Med Esporte. v. 8.4, p.129-137, 2002.


GALIOTO, A.; LIGIA J. DOMINGUEZ, ANTONELLA PINEO, ANNA FERLISI, ERNESTO PUTIGNANO, MARIO BELVEDERE, GIUSEPPE COSTANZA, MARIO BARBAGALLO. Cardiovascular risk factors in centenarians. Experimental Gerontology 43 106–113, 2008.


JUDGE. S.; LEEUWENBURGH. C. Cardiac mitochondrial bioenergetics, oxidative stress, and aging. Am J Physiol Cell Physiol 292: C1983–C1992, 2007


LEE, H-C.; WEI, Y-H. Mitochondrial alterations, cellular response to oxidative stress and defective degradation of proteins in aging. Biogerontology. v.2, p,231-244, 2001.


MATTSON, M.P. Dietary Factors, Hormesis and Health. Ageing Res Rev. 7(1): 43–48, 2008.


MELETIS, C.D.; NIESKE ZABRISKIE. Nutritional and Botanical Approache to Antiaging. Alternative & Complementary Therapies. v.12, p,268-274, 2006.


NETTO, M.P. Biologia e Teorias do Envelhecimento in Tratado de Gerontologia. Capítulo 7 , 2ª edição, Atheneu, 2007.


NOVELLI, E.L.B. Nutrição e Vida Saudável. Estresse oxidativo e metabolismo energético. Tecmedd, Ribeirão Preto, SP, 2005.


SIES, H.; STAHL, W.; SEVANIAN, A. Nutritional, dietary and postprandial oxidative stress. J Nutr. v. 135, p.969-972, 2005.


VALKO, M.; LEIBFRITZ, D.; MONCOL. J.; CRONIN, M.T.D.; MAZUR, M.; TELSER, J. Free radicals and antioxidants in normal physiological functions and human disease. Inter J Bioch Cell Biol. v.39, p. 44-84, 2007.


WILLIS, L. M, BARBARA SHUKITT-HALE, AND JAMES A JOSEPH BARBARA SHUKITT-HALE, AND JAMES A JOSEPH. Modulation of cognition and behavior in aged animals: role for antioxidant- and essential fatty acid–rich plant foods. Am J Clin Nutr;89(suppl):1602S–6S, 2009.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Walisson Junio Martins da Silva

por Walisson Junio Martins da Silva

Mestre em Alimentos e Nutrição-Unesp. Especialista em Qualidade de Vida e Gerontologia. Graduado em Bacharelado em Bioquímica. Licenciado em Ciências Biológicas e em Química.

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