Imunossenescência

Combater os agentes infecciosos e eliminar células malignas
Combater os agentes infecciosos e eliminar células malignas

Medicina

11/01/2015

O envelhecimento, antes considerado um acontecimento raro, hoje faz parte da realidade da maioria das sociedades. No Brasil, estima-se que existam atualmente cerca de 17,6 milhões de idosos (AGONDI et al., 2012).


A principal função do sistema imunológico é a de combater os agentes infecciosos e eliminar células malignas. Esta tarefa desafiadora é efetuada por dois mecanismos de defesa que interagem intimamente, definidos como imunidade inata e imunidade adaptativa (AGONDI et al., 2012).


A senescência celular corresponde à capacidade finita de replicação celular e ocorre na maioria das células, exceto nas células tronco, germinativas e nas cancerosas. Ela pode ser acelerada devido a fatores como alta ingestão de xenobióticos, alimentação desbalanceada, poluição do ar e da água, hiperóxia, alta exposição à radiação ultravioleta sem a devida proteção, excesso de álcool e tabagismo. Todos estes fatores estimulam a maior formação de espécies reativas, contribuindo para o envelhecimento celular e em muitos casos o surgimento de várias doenças (SILVA e SILVA, 2005; GAVA e ZANONI, 2005).


O aparecimento de doenças infecciosas, neurodegenerativas e cardiovasculares está fortemente associado com a senescência. Além disso, as alterações biológicas normais do envelhecimento, assim como o desenvolvimento de tais doenças, estão associadas com o declínio da resposta imune em indivíduos idosos. Generalizando, o envelhecimento tende a conduzir a menores respostas imunes comparadas às observadas em indivíduos mais novos, estando os idosos, portanto, mais suscetíveis a infecções e outras patologias (NOVAES et al., 2005).


Denomina-se imunossenescência ao envelhecimento imunológico que está associado ao progressivo declínio da função imune devido à idade, com significativo declínio da resposta às infecções, tanto pelo sistema imune inato, quanto pelo adaptativo, conferindo sérios prejuízos à saúde do idoso, aumentando, assim, a suscetibilidade dos indivíduos para infecções e câncer, principalmente após os 60 anos de idade (EWERS, RIZZO, FILHO, 2008, AGONDI et al., 2012).


Diversos estudos têm demonstrado que na medida em que intervenções nutricionais específicas são introduzidas na população de idosos, os efeitos deletérios da imunossenescência podem ser minimizados (MALAFAIA, 2008).


No Brasil, seja devido ao desconhecimento dos mecanismos envolvidos na relação “nutrição, imunidade e envelhecimento” ou pelo baixo investimento voltado a pesquisas que priorizam maiores esclarecimentos sobre a senescência, tanto as iniciativas relacionadas ao bem-estar da população idosa quanto à participação de profissionais de saúde na discussão das questões do envelhecimento no país, ainda são escassas (MALAFAIA, 2008).


Na velhice o sistema imunológico normalmente se apresenta debilitado, diminuindo a resposta imune e aumentando a sua susceptibilidade as infecções. A involução do timo provoca uma menor síntese dos linfócitos, diminuindo a eficácia imunológica do indivíduo. Além disso, o ataque das espécies reativas às biomoléculas mitocondriais nos idosos resulta em senescência linfocitária devido ao estresse oxidativo. Isto compromete a vigilância imunológica para o câncer e microorganismos (SILVA, e SILVA, 2005; NOVAES et al., 2005).

Os aspectos imunológicos relacionados ao processo natural de envelhecimento têm sido extensivamente aceitos, pois na medida em que se envelhece, aumenta-se o número de disfunções imunes, sobretudo aquelas relacionadas à resposta imune celular contra agentes patogênicos – decorrentes de alterações que ocorrem no timo– e à resposta imune humoral – decorrentes da alta produção de anticorpos. Tais alterações são consideradas responsáveis diretamente pela alta morbidade e mortalidade dos idosos, devido a doenças, tais como câncer e/ou patologias autoimunes ou à baixa proteção vacinal verificada nos indivíduos mais velhos. Além do maior acometimento de doenças tais como aterosclerose, Doença de Alzheimer, diabetes mellitus, osteoporose e doenças neoplásicas, resultado da gama de alterações que o sistema imune sofre durante o envelhecimento e consequentemente tornando a população de idosos significativamente mais susceptível à doenças infecciosas (SANSONI et al, 2008; MALAFAIA, 2008, TORRES et al., 2011).


A infecção é considerada uma desordem frequente em idosos. As infecções respiratórias agudas são responsáveis por mais de 50% de todos os tipos de infecções neste grupo etário, seguido por geniturinário, pele e infecções gastrointestinais. As infecções respiratórias agudas duram mais e são associadas com maior mortalidade e morbidade. O declínio na resposta imune é acreditado para ser uma importante causa de aumento do risco de infecções em idosos (EL-KADIK, 2009).


Muitos fatores, incluindo, entre outros, idade, predisposição genética, tabagismo e estado nutricional, podem afetar a função imunológica. Uma ingestão adequada de vitaminas, fitoquímicos e oligoelementos são necessárias para a funcionalidade do sistema imune e proteção às espécies reativas de oxigênio (ROS), as quais são altamente produzidas no processo inflamatório. Muitas dessas espécies são formadas continuamente nos tecidos por mecanismos endógenos e exógenos e podem ser imunossupressoras. É necessária a ingestão adequada de vitaminas antioxidantes e fitoquímicos ou substâncias que estimulem a formação de antioxidantes (como é o caso de alguns oligoelementos) para protegerem as células dos danos causados pelas ROS (EL-KADIK,,2009; INSERRA et al, 1999; BRAMBILLA et al, 2008).


Durante o envelhecimento, as alterações no sistema imunológico são associadas ao aumento da suscetibilidade às infecções. Células do sistema imune são ricas em ácidos graxos poli-insaturados (HUGLES, 2001; DE LA FUENTE, 2002), e contêm altos níveis de antioxidantes, que protegem contra a peroxidação lipídica e imunossupressão. A reatividade das células imunitárias frente às espécies reativas exógenas tem se mostrado dependente da idade. Linfócitos de idosos parecem ser mais sensíveis à exposição ao peróxido de hidrogênio do que os de jovens e adultos. Além disso, tem sido demonstrado que a deficiência de micronutrientes pode ser a causa de supressão da resposta imune tanto a inata quanto a adaptativa. Uma ingestão adequada de antioxidantes parece ser essencial para um bom funcionamento do sistema imunológico (BRAMBILLA et al, 2008; DE LA FUENTE, 2002).


Estudos importantes, envolvendo modelos animais ou humanos, têm revelado que a suplementação de alguns micronutrientes em idosos, exerce efeitos benéficos sobre os aspectos funcionais na imunidade, principalmente em relação à proliferação linfocitária, função das células NK, produção de citocinas, resposta imune às imunizações e à capacidade quimiotática e fagocitária das células imunológicas (MALAFAIA, 2008).



Referências

AGONDI, R. C.; RIZZO, LUIZ VICENTE; KALIL, JORGE; BARROS, M. T . Imunossenescência. Revista Brasileira de Alergia e Imunopatologia, v. 35, p. 169-176, 2012.


BRAMBILLA, D., MONCUSO, C., SCUDERI, R., BOSCO, P., CANTARELLA, G., LEMPEREUR, L., BENEDETTO, G.,


PEZZINO, S. Y BERNARDINI, R. (2008). The role of antioxidant supplement in immune system, neoplastic, and neurodegenerative disorders: a point of view for an assessment of the risk/benefit profile. Nutrition Journal. 7(1): 29-38.
DE LA FUENTE M. Effects of antioxidants on immune system ageing. Eur J Clin Nutr 56: S5–S8, 2002.


EL-KADIK, A. The Role of Micronutrients in Preventing Infections In The Elderly Handbook Of Nutrition In The Aged / editor, Ronald R. Watson. 4th ed. CRC Press 364p, 2009


GAVA, A.A.; ZANONI, J.N. Envelhecimento celular Arq. Ciências Saúde UNIPAR;9(1):41-46, jan.-mar. 2005. HUGHES, D.A. 2001. Dietary carotenoids and human immune function. Nutrition, 17: 823–827.


INSERRA PF, JIANG S, SOLKOFF D. Immune function in elderly smokers and nonsmokers improves during supplementation with fruit and vegetable extracts. Integrative Med. 1999;2:3-10.


MALAFAIA, G. As consequências das deficiências nutricionais, associadas à imunossenescência, na saúde do idoso Arquivos Brasileiros de Ciências da Saúde, v.33, n. 3, p. 168-76, 2008.


NOVAES, M.R.C.G, ITO MARINA KYOMI, ARRUDA SANDRA FERNANDES, RODRIGUES POLYANA, LISBOA


ADRIANA QUEIROZ. Suplementação de micronutrientes na senescência: implicações nos mecanismos imunológicos. Rev. Nutr.2005, vol.18, n.3, pp. 367-376.


TORRES, KAREN CL ; PEREIRA PA ; LIMA G S ; SOUZA, B. R. ; MIRANDA D M ; BAUER M. E. ; ROMANO-SILVA, M. A. Imunossenescência. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia (UnATI. Impresso), v. 5, p. 163-169, 2011.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Walisson Junio Martins da Silva

por Walisson Junio Martins da Silva

Mestre em Alimentos e Nutrição-Unesp. Especialista em Qualidade de Vida e Gerontologia. Graduado em Bacharelado em Bioquímica. Licenciado em Ciências Biológicas e em Química.

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