Citologia Urinária - Técnicas Auxiliares para Detecção das Lesões Uroteliais

Carcinoma urotelial de baixo grau (Coloração de Papanicolaou)
Carcinoma urotelial de baixo grau (Coloração de Papanicolaou)

Medicina

31/12/2014

Marcadores Urinários

Os marcadores urinários vêm sendo utilizados como um método auxiliar à citologia urinária no intuito de ampliar as chances de detecção das lesões uroteliais, mais especificamente no diagnóstico do câncer de bexiga. Apresentam como princípio básico a detecção de antígenos que estão presentes em níveis elevados na urina de pacientes com o carcinoma urotelial. Muitos desses testes apresentam sensibilidade significativamente melhor, porém uma baixa especificidade se comparado com a citologia urinária na classificação de tais lesões (FERREIRA; ROCHA, 2010).


Sensibilidade e especificidade dos marcadores urinários

Marcadores Urinários

Sensibilidade (%)

Especificidade (%)

BTA stat

57-83

60-92

BTA TRAK

51-91

24-97

ImmunoCyt

50-100

69-79

NMP test kit

47-100

60-90

UroVysion

74-100

65-86

 

UBC

12-66

90-97

BLCA-1

80

87

BLCA-4

89-96

95

Ácido Hialurônico

92

93

HAA- HAase

91

70

Lewis X

80-94

83

Microssatélites

58-97

73-100

Quanticyt

45-69

70-93

Survivina

64

93

Telomerase

7-100

24-90

Cytokeratin 20

85

94








Fonte: Oncologia Molecular. Carlos Gil Ferreira e José Cláudio Rocha, 2010.

 

Técnicas de Evidenciação das Aberrações Cromossômicas e Moleculares nas Células Uroteliais

 

São consideradas aberrações cromossômicas as alterações quanto ao número ou estrutura de autossomos, cromossomos sexuais ou ambos. Em relação as alterações cromossômicas numéricas, há um classificação em aneuploidias e euploidias, estas resultam em um aumento ou diminuição do número do cariótipo normal da espécie (PASSARGE, 2004).

 

A aneuploidia se dá no aumento ou diminuição de um ou mais pares de cromossomos, mas não em todos e, na maioria das vezes, apresenta uma trissomia ou, menos frequente, uma monossomia (apenas um representante de um cromossomo); essa alteração se dá por uma falha na separação de um par de cromossomos durante uma das duas divisões meióticas (não-disjunção meiótica). As aneuploidias podem também resultar de perda cromossômica ou não-disjunção das cromátides no decorrer da primeira divisão mitótica do zigoto, ou durante a segmentação de um dos blastômeros (ROBERTS, 2003)

 

Essas alterações numéricas, aneuploidias, quando estão presentes em casos de carcinoma vesical em cromossomos específicos que poderão ser evidenciados através de diversos testes como a análise citogenética, a hibridização in situ fluorescente (FISH), o uso de imunohistoquímica, o southern blotting, PCR e sequenciamento de DNA.

 

O UroVysion utiliza o método de FISH, através de  marcações centroméricas para detectar as anormalidades cromossômicas presentes nos casos de carcinoma de bexiga e que tem demonstrado uma alta sensibilidade, cerca de 68 à 81%, e uma especificidade de 79 à 96% na detecção das células uroteliais malignas (ALVAREZ; LOKESHWAR, 2007).

 

O UroVysion pode ser empregado em qualquer tipo de amostra urinária, mas se faz necessário que o processamento seja feito no mesmo dia da coleta do material (Abboutt Laboratories, 2013).

 

As neoplasias uroteliais estão associadas com uma variedade de aberrações cromossômicas, bem como a perda de partes do cromossoma nove, nos estágios precoces das lesões, e dos cromossomos três, quatro, oito, onze, treze, dezessete e dezoito, durante o desenvolvimento tardio do tumor. A técnica utilizada nos dias atuais para evidenciação dessas aberrações é a UroVysion Multicolor FISH Probe Mixture, que visa a análise da interfase mitótica celular além de quantificar os cromossomos três, sete, dezessete e deleção do lócus 9p21. Essa técnica multicolor apresenta uma sensibilidade de 72% e uma especificidade de 83%, apresentando assim bons resultados para detecção das células que apresentam tais aberrações cromossômicas. A deleção do lócus 9p21 codifica-o para a proteína p16, caracterizando um importante acontecimento precoce e comum nas neoplasias vesicais.


Os ensaios feitos por UroVysion são facilmente observados por meio de microscopia de fluorescência, já que sua ação é marcar os centrômeros dos cromossomos alterados projetando em cada tipo uma cor distinta através da utilização de sondas fluorescentes pericentromérica enumeradas de acordo com o cromossomo a ser marcado. A detecção de aneuploidia então é evidenciada no cromossomo três em vermelho, no cromossomo sete em verde, no cromossomo dezessete em azul/aqua e a perda do lócus 9p21 usa um identificado específico para lócus evidenciando casos de deleção em ouro/amarelo (MITRA, 2010).

 

Os resultados de ensaios feitos por UroVysion serão somados com história clínica do paciente e resultado de exames padrões anteriores ou realizados em conjunto (citologia, cistoscopia), sendo estes positivos e o UroVysion negativo, o resultado de exames padrões prevalecem, resultados positivos UroVysion na ausência de outros sinais ou sintomas de recorrência do câncer de bexiga pode ser evidência de outros tipos de câncer do trato urinário, por exemplo ureter , uretra ou da próstata nos homens, é feito então o acompanhamento do paciente. Limitações existem em casos de tumores únicos, menores que 5 mm, que não podem ser detectados por FISH. A detecção por meio da hibridização depende da quantidade de células tumorais concentradas na lâmina, apresentando baixa sensibilidade (Abboutt Laboratories, 2013).


Hoje em dia, limitações ainda são recorrentes, mas as publicações de diversos estudos sobre a citologia urinária e o aprimoramento de suas técnicas visam diminuir tais falhas. Os marcadores urinários são excelentes escolhas para complemento do diagnóstico citológico, à medida que necessite confirmação das alterações observadas durante a análise citológica e diante de um histórico médico suspeito para certas neoplasias ou recorrência das mesmas. Técnicas feitas por meio da FISH também apresentam bons resultados, sendo necessário treinamento profissional e conhecimento em biologia molecular de modo que a interpretação das evidenciações cromossômicas feitas pelos marcadores fluorescentes seja feita de maneira correta.


Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Louise Helena Schiatti Gonzaga

por Louise Helena Schiatti Gonzaga

Diretora Técnica do Grupo Bio-Trabalho. 1ª Secretária Adjunta da Associação Nacional de Citotecnologia (ANACITO). Formação de Nível Médio em Citopatologia pelo INCA e EPSJV/Fiocruz. Formação de Nível Médio em Análises Clínicas pela ETEJK/Faetec. Graduando Ciências Biológicas pela UNIGRANRIO. Atuação Profissional como Citotecnologista no Laboratório Sergio Franco (DASA).

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