Principais Artefatos Observados no Laboratório de Parasitologia Clínica

Exemplos de artefatos (DE CARLI, 2011, p. 146).
Exemplos de artefatos (DE CARLI, 2011, p. 146).

Medicina

18/12/2014

INTRODUÇÃO

Muitos resíduos encontrados nas fezes humanas são responsáveis pela incorreta identificação de trofozoítos e cistos de protozoários como também de ovos e larvas de helmintos, porque muitos detritos se assemelham aos parasitos (pseudoparasitos e/ou pseudo-simbiontes), o que é comum ocorrer no Laboratório de Parasitologia, principalmente com os sujeitos que não possuem experiência no diagnóstico parasitológico. Entre tais elementos, podem ser encontrados: fragmentos de alimentos, células vegetais, grãos de pólen, leucócitos, células de tecido animal, ácaros e seus ovos, e outros artefatos. Os itens citados podem dificultar tanto o exame macroscópico quanto o exame microscópico de fezes. O autor cita a divisão que Gradwohl e Kouri (1948) fizeram para os pseudoparasitos microscópicos, esta que consiste em dois grupos: Elementos em Trânsito, e Elementos Derivados de Contaminação Externa.


ELEMENTOS EM TRÂNSITO

Envolve os pseudoparasitos microscópicos encontrados nas fezes, sendo elementos simples de trânsito pelo trato digestivo, ingeridos junto aos alimentos, com ou sem modificações, a exemplo dos ovos e larvas de nematóides de animais ou de vegetais, como os gêneros “Meloidogyne”, “Heterodera”, “Pratylenchus”, e outros, além dos ácaros que possivelmente foram ingeridos com os alimentos (incluindo os ovos), especialmente “Tyroglyphus sp.”, “Tyrophagus dimidiatus”, “Cheyletus” e “Tarsonemus”.


ELEMENTOS DERIVADOS DE CONTAMINAÇÃO EXTERNA

A vidraria suja, as amebas e ciliados de vida livre, as larvas de dípteros, como também as leveduras e grãos de pólen são alguns elementos que podem ser lançados aos espécimes fecais após a colheita, caracterizando assim uma contaminação externa.


PROTOZOÁRIOS INTESTINAIS E HELMINTOS


As amebas podem ser encontradas nas fezes ou contaminando a água. Os trofozoítos diferem das amebas parasitas por apresentarem vacúolos contráteis e membrana cística. As patogênicas precisam de meios de cultura mais complexos para o desenvolvimento in vitro. Quanto aos flagelados, as amostras fecais contaminadas por urina podem conter “Trichomonas vaginalis” e a urina contaminada com fezes, “Trichomonas hominis”.


Ciliados estão presentes na água estagnada, no esgoto e no solo, nas fezes contaminadas com água e solução salina, sendo que artefatos podem parecer com o “Balantidium coli”. Em relação aos coccídios, oocistos e esporozoítos são identificados apenas por colorações específicas derivadas da fucsina-fenicada, contudo os oocistos podem ser confundidos com artefatos por conta da coloração mal realizada e da morfologia não uniforme.


Por fim, sobre os microsporídios, os esporos são arredondados e ovais, podem se assemelhar a células de leveduras e a bactérias. O tamanho e a coloração são semelhantes. A parede dos esporos dos microsporídios apresenta coloração do rosa ao vermelho, mas ainda há confusão com algumas bactérias e artefatos.


Vegetais parcialmente digeridos ou fibras de frutas se assemelham aos nematódeos ou proglotes. Células de plantas, algas, grãos de pólen e conídios de fungos são vistos nas fezes, parecendo com os ovos de “Ascaris lumbricóides”, “Taenia spp.”, e outros. As larvas são confundíveis com espécies de plantas e pelos de raízes, porém a maioria das estruturas vegetais é clara e refrátil. Por outro lado, pedaços de fibras de algodão, ciscos e outros componentes da poeira podem imitar as microfilárias quando corados.

SANGUE E ARTEFATOS DOS LÍQUIDOS ORGÂNICOS

Artefatos dos esfregaços delgados e espessos do sangue podem ser confundidos com parasitos, tais como: elementos celulares normais e contaminação com fungos, bactérias ou fibras de celulose durante a coloração. Tufos de cílios soltos em líquidos orgânicos (como do peritônio e da cavidade amniótica) são remanescentes do epitélio como descamação, sendo facilmente confundidos com protozoários ciliados e flagelados.


OUTROS ARTEFATOS

As células humanas incluem os neutrófilos polimorfonucleares (PMN) e os macrófagos (mais frequentes) e outras células como eosinófilos e hemácias. Os cristais de Charcot-Leyden (CL) são estruturas formadas pela desintegração dos produtos dos eosinófilos e basófilos; sua presença indica uma resposta imune, sendo a infecção parasitária a causa principal, ressaltando que, nas fezes, pode indica aumento de eosinófilos na corrente sanguínea.


No material fecal podem ser achados um sem-número de células de leveduras de forma redonda e oval, semelhantes a pequenos cistos no exame direto a fresco. Leveduras em brotamento podem indicar uma potencial fonte de infecção sistêmica. Infecções espúrias podem ocorrer quando o homem digere fígado de diferentes animais, digerindo os ovos livremente. Ademais, a ingestão de larvas ou de insetos junto com os alimentos pode indicar a presença de larvas nas análises, sendo de fundamental importância saber quando o espécime foi colhido e se foi submetido ao laboratório fresco ou preservado.



CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diferentes espécies de elementos microscópicos encontrados em secreções e excreções do homem são erroneamente identificadas e confundidas com parasitos humanos. Conforme os dados supracitados, é possível afirmar que o treinamento apropriado, a observância dos protocolos, o controle de qualidade, a bibliografia referencial, como também a capacitação dos instrutores são alguns dos aspectos fundamentais que auxiliam a minimização dos erros de diagnóstico dos parasitos.




REFERÊNCIAS


DE CARLI, Geraldo Attilio. Capítulo 6: Artefatos confundíveis com os Estágios de Diagnóstico dos Parasitos. In: DE CARLI, Geraldo Attilio. Parasitologia Clínica seleção de métodos e técnicas de laboratório para o diagnóstico das parasitoses humanas. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2011.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Samuel José Amaral de Jesus

por Samuel José Amaral de Jesus

As publicações neste portal correspondem ao período em que fui Estudante de Graduação em Biomedicina. Hoje, sou Bacharel em Biomedicina (2015) pela Faculdade Nobre de Feira de Santana (BA), Especialista em Metodologia e Didática do Ensino Superior pela Fundação Visconde de Cairu (BA), Mestrando.

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