Psoríase: Qualidade de vida, manifestações clínicas e predisposição genética

A psoríase é uma doença não contagiosa
A psoríase é uma doença não contagiosa

Medicina

14/10/2014

A psoríase é uma doença não contagiosa, imune inflamatória crônica que atinge cerca de 3% da população mundial (Heller, 2012) e, no Brasil, acredita-se que acometa 3 milhões de brasileiros (Rodrigues e Teixeira, 2009). De um modo geral, os pacientes apresentam lesões na pele decorrentes de inflamação associada à hiperproliferação de queratinócitos com períodos de exacerbações, remissões ou lesões recorrentes. Estas podem comprometer cotovelos, joelhos, pés, mãos, região sacra e couro cabeludo ou se espalhar por todo o corpo (Rodrigues e Teixeira, 2009), além de casos em que ocorre acometimento das unhas ou articulações.


Por afetar principalmente a pele, a doença compromete a qualidade de vida dos pacientes portadores, principalmente envolvendo o convívio social, uma vez que há constrangimento causado pela aparência das lesões (Rodrigues e Teixeira, 2009). Estudos indicam que o impacto da psoríase na qualidade de vida dos portadores é comparável com os causados por doenças como câncer, diabetes e a maioria das desordens envolvendo depressão, que chega a atingir 60% dos pacientes (Heller, 2012, Levine e Gottlieb, 2009).


A manifestação clínica da doença na pele consiste na presença de manchas escamosas e eritematosas que podem variar de leve, com manchas isoladas, a extensa, com placas envolvendo várias áreas do corpo (Li e Armstrong, 2012). O subtipo mais comum na apresentação clínica da doença é a psoríase em placas ou vulgar caracterizada por placas ou manchas eritematosas, atinge de 80 a 90% dos portadores. Outras manifestações incluem gutata, afeta em torno de 10% dos pacientes, inversa, pustular e eritrodérmica, em menos de 3% dos portadores de psoríase (Li e Armstrong, 2012, Rodrigues e Teixeira, 2009, Levine e Gottlieb, 2009). Outros subtipos como a psoríase ungueal e articular comprometem 50 e de 25 a 42% dos pacientes, respectivamente (Jiaravuthisan et al., 2007, Duarte et al., 2012).


A psoríase vulgar manifesta-se por placas redondas ou ovais apresentando em torno da placa um anel esbranquiçado (anel de Woronoff) e, em seu interior, escamas secas e aderentes, prateadas ou acinzentadas. Costuma afetar principalmente cotovelos, joelhos, couro cabeludo, região lombo-sacra e umbigo (Rodrigues e Teixeira, 2009). Já a variante gutata, que significa em forma de gotas, consiste na presença de pontos avermelhados, com ou sem escamação, de 0,5 a 1,5 centímetros acometendo principalmente o tronco, braços e pernas, sendo prevalente em crianças, adolescentes e adultos jovens (Levine e Gottlieb, 2009).


No caso da psoríase palmo-plantar, ocorre acometimento apenas de mãos e pés com regiões cobertas por placas avermelhadas causando fissuras e dor. Diferente desta há ainda o subtipo conhecido como psoríase inversa, com presença de eritema bem delimitado sem escamação, que envolve áreas com dobras cutâneas como axilas, região genital, pescoço, dobras dos cotovelos e embaixo das mamas, são mais suscetíveis à irritação como consequência do atrito e suor, de um modo geral, as lesões apresentam-se mais úmidas e avermelhadas (Rodrigues e Teixeira, 2009, Levine e Gottlieb, 2009).


Os casos mais graves de acometimento da pele relacionam-se com as variantes eritrodérmica e pustular. A primeira envolve extensas áreas do corpo com vermelhidão e descamação fina, acompanhada de coceira e dor, possui aparência muito similar à de queimaduras e pode ocasionar desidratação severa com perda de eletrólitos. A segunda também pode afetar todo o corpo, inclusive mãos e pés, e apresenta eritema, formação de pústulas (acúmulo de glóbulos brancos) e descamação da pele, podendo causar febre e leucocitose em sua fase aguda (Rodrigues e Teixeira, 2009, Levine e Gottlieb, 2009). Ambos os subtipos deixam o paciente altamente vulnerável a infecções podendo exigir internação para tratamento sistêmico.

Predisposição Genética e fatores ambientais

O desenvolvimento da doença envolve tanto a predisposição genética quanto a presença de fatores ambientais, que atuam como gatilho para a doença. Estudos indicam que 71% dos pacientes com psoríase na infância possuem histórico familiar positivo para a doença (Mak, Hundhausen e Nestle, 2009), de 5 a 10% do total de pacientes com psoríase possuem casos na família (Levine e Gottlieb, 2009) e pesquisas com gêmeos não idênticos (dizigóticos) demonstram uma taxa de concordância de 15 a 23% enquanto para gêmeos idênticos (monozigóticos) esta taxa de correlação é de 56 a 70% (Berth-Jones, 2009 e Mak, Hundhausen e Nestle, 2009). Esta variabilidade em estudos envolvendo gêmeos idênticos sugere a influência dos fatores ambientais no desenvolvimento e manifestação da doença (Mendonça e Burden, 2003).


Existe muita discussão em torno dos fatores que influenciam o desenvolvimento e a severidade da psoríase. Estudos indicam que pacientes com psoríase tendem a fumar mais e consumir níveis mais elevados de álcool, entretanto, ainda não está claro se isto aumenta a severidade da doença ou se este comportamento é uma consequência dos problemas sociais associados à manifestação da doença (Berth-Jones, 2009 e Li e Armstrong, 2012). Contudo, a abstinência de álcool ou cigarros contribui para a remissão da doença em alguns pacientes, indicando um papel importante da ação de agentes externos na severidade da psoríase (Li e Armstrong, 2012).


Muitos pacientes relatam a piora da doença em situações de estresse, sendo também este um fator para desencadeamento e manifestação da psoríase em muitos indivíduos pela primeira vez. Sabe-se ainda que vários medicamentos como carbonato de lítio, betabloqueadores e cloroquina podem promover aumento na severidade da doença, mas isto não é válido para todos os pacientes. O uso sistêmico de corticoides assim como infecções no trato respiratório e infecção por HIV podem ocasionar aumento na extensão e manifestação da psoríase. Apesar de todas as evidências, ainda não há um mecanismo neuro-imune-endócrino estabelecido ou claramente relacionado (Duarte et al., 2012 e Berth-Jones, 2009).



Referências:


Berth-Jones, J. (2009), Common dermatoses, Medicine 37:5, pp. 235-241


Duarte, G. V., Faillace, C., de Carvalho, J. F. (2012). Psoriatic arthritis, Best Practice & Research Clinical Rheumatology 26, pp. 147–156


Heller, M. M., Wong, J. W., Nguyen, T. V., Lee, E. S., Bhutani, T., Menter, A., Koo, J. Y. M. (2012). Quality-of-Life

Instruments: Evaluation of the Impact of Psoriasis on Patients, Dermatologic Clinics, Volume 30, Issue 2, pp. 281-291
Jiaravuthisan, M. M., Sasseville, D., Vender, R. B., Murphy, F., Muhn, c. Y. (2007), Psoriasis of the nail: Anatomy, pathology, clinical presentation, and a review of the literature on therapy, J. Am. Acad. Dermatol., Vol 57, n 1, pp. 1-27


Levine, D., Gottlieb, A. (2009). Evaluation and Management of Psoriasis: An Internist’s Guide, Med Clin N Am 93, pp. 1291–1303


Li, K., Armstrong, A. W. (2012), A Review of Health Outcomes in Patients with Psoriasis, Dermatol Clin 30, pp. 61–72


Mak, R.K.H., Hundhausen, C., Nestle, F.O. (2009), Progress in Understanding the Immunopathogenesis of Psoriasis, Actas Dermosifiliogr. 100, Supl. 2, pp. 2-13


Mendonça, C.O., Burden, A.D. (2003), Current concepts in psoriasis and its treatment, Pharmacology & Therapeutics 99, pp. 133– 14


Rodrigues, A. P., Teixeira, R. M. (2009), Desvendando a psoríase, Revealing the psoriasis, RBAC, vol. 41(4), pp. 303-309.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Karen Medeiros Gonçalves

por Karen Medeiros Gonçalves

Graduação em Faculdade de Farmácia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, especialização em Indústria. Mestre em Bioquímica, com foco em biotecnologia, pelo programa de pós-graduação em Bioquímica do Centro de Tecnologia da UFRJ. Doutorado completo em Ciências Farmacêuticas da Faculdade de Farmácia da UFRJ. Pós-doutorado empresarial em andamento em Farmanguinhos.

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