A desnutrição como fator desencadeador de uma imunodeficiência
A desnutrição como fator desencadeador de uma imunodeficiência
Medicina
03/08/2014
Podemos caracterizar a imunodeficiência como um estado no qual a capacidade do sistema imunológico é comprometida e alterada no combate a doenças infecciosas. Algumas pessoas já nascem com defeitos no sistema imunológico, imunodeficiência primária, porém a maior parte dos casos, a imunodeficiência é adquirida (secundária). Quando uma pessoa tem imunodeficiência, esta é intitulada de imunocomprometida.
Um imunocomprometido, é vulnerável a infecções oportunistas, além de infecções mais corriqueiras que afetam a todos. Discutindo a imunodeficiência secundária, podemos elucidar que suas causas mais comuns são as relacionadas a desnutrição, envelhecimento e medicamentos, como por exemplo, quimioterapia, drogas modificadoras da doença reumática, imunossupressores após transplantes de órgãos e glicocorticoides.
Dados mostram que a desnutrição é a causa mais comum de imunodeficiência. A nutrição é um determinante imperativo das respostas imunológicas. A desnutrição relacionada a proteína-energia desenvolve-se quando o corpo não satisfez suficientemente suas necessidades nutricionais. A deficiência de proteínas também ocorre se a dieta fornecer ao indivíduo energia suficiente, mas faltar a proteína; no entanto, é mais provável que a deficiência seja dupla, ou seja, de energia e proteína. Esse tipo de desnutrição afeta significativamente a imunidade mediada por células, a função dos leucócitos e a produção de citocinas. A deficiência de nutrientes simples pode resultar em alteração da resposta imunológica a substâncias estranhas. Micronutrientes, como cobre, zinco, ácido fólico e vitaminas A, C, E e B-6, todos exercem influências sobre a resposta imunológica.
A desnutrição proteica geralmente se desenvolve em grupos de maior risco, como em idosos ou crianças. A intensidade dessa desnutrição depende do estado nutricional anterior do indivíduo. Os médicos quantificam esse estado nutricional e detectam anormalidades comparando as normas padronizadas com sua altura e peso, calculando seu índice de massa corporal (IMC) e medindo a espessura das dobras de pele da porção superior de seu braço. A nutrição adequada pode restaurar a composição corporal normal. A má nutrição que ocorre no idoso pode ser devida às alterações fisiológicas do envelhecimento, às condições socioeconômicas, às doenças e à interação entre nutrientes e medicamentos. Um alto grau de suspeita clínica de pacientes idosos desnutridos, e que, consequentemente, necessitam de terapêutica nutricional, pode ser obtido por meio da história clínica, exame físico e dados laboratoriais apropriados.
Dados mostram, que em pacientes com mais de sessenta anos, existe uma correlação significativa entre os menores valores da área muscular do braço, perda de peso, hipoprealbuminemia e a maior mortalidade, tanto no hospital quanto no domicílio. Pacientes idosos, portadores de desnutrição proteica calórica, apresentam risco aumentado de adquirir doenças e/ou de evoluir de forma desfavorável a um tratamento específico.
Os pacientes portadores de má nutrição calórica, ou energética, também identificada como marasmo, apresentam medidas antropométricas, muito abaixo do padronizado, e manutenção, em limite inferior, dos valores de bioquímica nutricional.
Nesses casos, ocorre deficiência da ingestão energética. A resposta imune também se encontra comprometida. Uma diminuição acentuada das medidas antropométricas e bioquímicas caracteriza os casos de má nutrição proteica calórica, além de comprometimento imunológico importante. Nesses casos, há uma deficiência global da ingestão de nutrientes.
Pode-se afirmar que a má nutrição do idoso se correlaciona, positivamente e independentemente, com períodos de internações mais longos e maior mortalidade. Além disso, a perda de peso do idoso, frequentemente, vem associada à anorexia, sendo esta, muitas vezes, diagnosticada como a causa da perda de peso. A anorexia pode estar associada à síndrome dependente de citocinas. Além de um suporte nutricional, agressivo, tanto via enteral como parenteral, várias drogas (hormônio do crescimento, megestrol, “ciprohepatadine”, tetraidrocanabinol, esteroides anabolizantes e antidepressivos) têm sido utilizadas na tentativa de tratar a anorexia do idoso.
A suplementação de vitaminas hidrossolúveis, adicionada em 50 g de açúcar, resulta em melhora significativa dos níveis de tiamina, piridoxina, vitamina C e ganho de peso, em pessoas com mais de sessenta e cinco anos. Recomenda-se que a oferta de vitamina C seja de, no mínimo, 150 mg/dia em sujeitos com mais de oitenta anos. Para a riboflavina e vitamina B6, as recomendações seriam de, no mínimo, 3 mg/dia. As recomendações de 10-11 mg/dia de ferro não são suficientes para impedir que a prevalência de anemia, em idosos, seja consideravelmente alta.
Estudos mostram que quando idosos recebem uma suplementação calórica durante os períodos de internação e durante a evolução ambulatorial, independente da dieta usual, apresentam nítida melhora das condições gerais de nutrição. A suplementação de selênio, vitamina E, cromo, carotenoides e ácido ascórbico poderiam prevenir a menor expressão de interleucina-2 e seu receptor, que ocorre no idoso, consequentemente melhorando ou prevenindo o declínio da resposta imune, dependente desses fatores.
A alta produção de auto anticorpos em idosos tem sido associada à menor resistência dessa população a doenças infecciosas. A eficácia da imunização de idosos é significativamente menor quando comparada a de adultos jovens, o que é visualizado pelo menor número de anticorpos produzidos por idosos após imunização. O aumento do número de auto anticorpos ocasiona uma queda na produção de células B responsáveis pela secreção de anticorpos a antígenos nominais, o que sugere que indivíduos idosos sejam mais suscetíveis a doenças infecciosas devido a mudanças nos tipos celulares e, consequentemente, na população de anticorpos.
Tem sido observado que, na população idosa, a suplementação de alguns micronutrientes melhora alguns aspectos da função imune, como resposta proliferativa linfocitária e função das células NK, produção de IL-2 e resposta humoral após vacinação. A redução da resposta imune em idosos está fortemente associada a deficiências nutricionais, não constituindo uma resposta biológica generalizada associada ao processo de envelhecimento.
• Referências Bibliográficas:
AFONSO, Fabrício Rubens Pires. Avaliação nutricional de crianças e adolescentes portadores de imunodeficiências prímárias. 2009. Dissertação (Mestrado em Pediatria) - Faculdade de Medicina, University of São Paulo, São Paulo, 2010. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5141/tde-11052010-110606/>. Acesso em: 2014-06-04.
OTERO, Ubirani Barros; ROZENFELD, Suely; GADELHA, Angela Jourdan. Óbitos por desnutrição em idosos, São Paulo e Rio de Janeiro. Análise de séries temporais: 1980-1996. Rev Bras Epidemiol, v. 4, n. 3, p. 191-205, 2001.
MARCHINI, Júlio Sérgio; FERRIOLLI, Eduardo; MORIGUTI, Julio Cesar. Suporte nutricional no paciente idoso: definição, diagnóstico, avaliação e intervenção. Medicina (Ribeirao Preto. Online), v. 31, n. 1, 1998.
Rolandelli RH, Ullrich JR. Suporte Nutricional no Paciente Cirúrgico Idoso debilitado. Clin Cir Am Norte. 1994; 1.
NOVAES, Maria Rita Carvalho Garbi et al. Suplementação de micronutrientes na senescência: implicações nos mecanismos imunológicos. Rev. nutr, v. 18, n. 3, p. 367-376, 2005.
Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.
UOL CURSOS TECNOLOGIA EDUCACIONAL LTDA, com sede na cidade de São Paulo, SP, na Alameda Barão de Limeira, 425, 7º andar - Santa Cecília CEP 01202-001 CNPJ: 17.543.049/0001-93