O presente artigo apresenta um conjunto de situações (acontecimentos) que ocorreram com diferentes pacientes, relatados por sua singularidade ou raridade, incluindo o curso da enfermidade, os meios e a conclusão diagnóstica, como também o tratamento realizado e a própria evolução do enfermo. O mesmo é composto de quatro casos clínicos publicados em diferentes meios, que retratam principalmente quatro patologias distintas e as ocorrências e/ou outras enfermidades a elas associadas, servindo de base para outros estudos que possam ser realizados.
Metodologia
Trata-se de uma revisão de literatura, de temática aberta, composta por uma seleção de artigos do tipo relato de caso, apresentados de forma resumida nesta referida produção.
Caso 01: Amiloidose hepática
A amiloidose é uma complicação que desordena o metabolismo proteico do indivíduo, o que resulta na deposição de material proteináceo fora da célula, formado de três componentes: glicoproteína não fibrilar, proteína fibrilar e glicosaminoglicanos. Segundo Tovo, Mondin e Muniz (20), o depósito de substância amiloide pode ocorrer em diversos órgãos, sendo mais comum no fígado, ressaltando que é rara a manifestação de doença hepática. As mesmas apresentaram o caso de um paciente em que ocorreu esse envolvimento hepático: um homem de 52 anos, internado com dor abdominal, que tinha o costume de fumar e ingerir álcool, apresentando astenia, inapetência e perda de 18 kg. Exames foram realizados e outras complicações foram encontradas: abaulamento em região de epigástrio e hipocôndrio direito, eritema palmar, telangiectasias em região torácica anterior, aumento do volume do fígado, moderada atrofia hepatocitária compatível com amiloidose, entre outras. Na internação, evoluiu com icterícia e iniciou o tratamento farmacológico após transferência à hematologia (depois do diagnóstico histológico). Cinco dias depois apresentou febre e, no outro, hemiplegia (estando torporoso e com desvio do olhar). O TC de crânio foi normal, mas no dia seguinte, veio a óbito. Salienta-se que as queixas hepáticas do paciente foram importantes ao diagnóstico, comprovadas pelos exames que detectaram hepatomegalia, aumento de fosfatase alcalina, fadiga, perda de peso, entre outros sinais. Sabendo que não há testes para diagnóstico específico da patologia em questão, o diagnóstico histológico trouxe a sua confirmação. As autoras apresentaram a execução de terapias mais eficazes para o manejo da referida doença.
Caso 02: Acidente vascular encefálico hemorrágico como apresentação inicial de leucemia mielomonocítica
Esse caso ocorreu em um adulto jovem, de 19 anos, diagnosticado com leucemia mielomonocítica aguda e hemorragia intraparenquimatosa cerebral. O mesmo foi submetido à drenagem do hematoma intraparenquimatoso e tratamento quimioterápico. Sendo as relatoras do caso, Silva et al (2011), o paciente “evoluiu com oligúria, hipernatremia, hipercalemia e aumento dos níveis séricos de ureia e creatinina, sendo necessária terapia renal substitutiva. A condição clínica continuou a se deteriorar. Constatado óbito no 5º dia de internação hospitalar”. Foi possível constatar que a LMA, bastante relacionada com sangramentos intraparenquimatosos cerebrais, faz parte dos diagnósticos diferenciais (causa hematológica) de AVE hemorrágico, ressaltando que os níveis plaquetários tido como “seguros” não são o único fator causal de sangramento. Esse é um caso incomum, já que são escassos os relatos de AVE hemorrágico como apresentação introdutória em indivíduos acometidos pela leucemia mielomonocítica aguda.
Caso 03: Hipercolesterolemia Familiar e Doença Aterosclerótica Prematura na Gestação
Trata-se de uma doença rara: hipercolesterolemia familiar xantomatosa, na forma homozigótica, causada por defeitos ou total ausência dos receptores de LDL-colesterol. Com o desenvolvimento de doença aterosclerótica grave, a vida do sujeito pode ficar comprometida, além de ser pouco provável que possa ocorrer uma gestação. Entretanto, o caso apresentado por Ávila et al (1997) é de uma gestação bem-sucedida em portadora das enfermidades supracitadas, após dois abortamentos, sendo que a mesma foi submetida com antecedência a uma cirurgia de anastomose ileal parcial para a diminuição da hipercolesterolemia. Foi observado que, “durante a gestação não houve manifestações clínicas, sinais de progressão das lesões arteriais obstrutivas ou intercorrências obstétricas. A paciente deu à luz na 38ª semana de gestação através de parto cesárea por indicação obstétrica, sob anestesia geral”. A criança nasceu com crescimento adequado para a idade gestacional. Entretanto, o aleitamento materno foi desaconselhado por conta dos altos níveis de colesterol e triglicérides da mãe no pós-parto. Mesmo assim, o recém-nascido também apresentava níveis elevados, aos quatro meses de idade. Os autores finalizam dizendo que: “O sucesso deste caso não deve invalidar o atual desaconselhamento à gestação em portadora de HF grave, no âmbito do planejamento familiar. Contudo, é um reforço de otimismo à visão de futuro sobre a influência da terapia gênica na erradicação da HF”. Caso 04: Hipoplasia da veia cava inferior
Existem muitas anomalias de desenvolvimento da veia cava inferior. Contudo, a hipoplasia total de sua porção abdominal não ocorre com frequência. Foi abordado um caso novo até então. Ocorreu em um paciente do sexo masculino, de 49 anos deidade, que apresentava colelitíase, nefrolitíase, cistos renais e lipomatose pélvica, além de antecedentes de trombose das veias femoral comum esquerda e direita, desenvolvendo grave doença varicosa de membros inferiores. Realizou-se a tomografia computadorizada (TC). A VCI inferior estava acentuadamente reduzida de calibre, o paciente estava com uma extensa rede colateral em abdome e pelve (com evidências de derivação sistêmico-portal), doença varicosa grave de membros inferiores, dilatação compensatória do sistema ázigos/hemiázigos. Algumas imagens reformatadas axiais oblíquas ponderadas em T2 FSE mostraram importante redução de calibre das veias renais esquerda e direita, principalmente da primeira, o que drenou para uma VCI de calibre acentuadamente reduzido, ajudando a evidenciar a natureza congênita. Os achados da angio-ressonância magnética (angio-RM) foram superponíveis aos da TC, confirmando a hipoplasia da VCI abdominal e também demonstrando o segmento vascular hipoplásico ou atrésico, as vias colaterais de derivação sanguínea, as afecções abdominais concomitantes e as malformações associadas. Reafirmando que trata-se de uma ocorrência rara, Viana et al (2006) finalizaram com a seguinte afirmação: “Trombose venosa profunda em um indivíduo jovem e sem outros fatores de risco, especialmente se proximal, bilateral ou recorrente, é indicação formal de estudo da VCI, já que anomalias deste vaso são um fator de risco por si sós.”.
Conclusão
Todos os casos apresentaram patologias distintas, porém, alguns apresentaram ocorrências raras. De modo geral, foi possível constatar que o tratamento é essencial em qualquer doença, principalmente por prolongar a vida do paciente tido como de risco. Com certeza, os casos aqui apresentados poderão servir de base para muitos outros estudos sobre as enfermidades aqui referidas.
Referências
TOVO, Cristiane Valle; MONDIN, Mariana; MUNIZ, Alessandra. Amiloidose Hepática: relato de um caso. Revista Técnico-Científica do Grupo Hospitalar Conceição. Momento & Perspectivas em Saúde. (Porto Alegre), 16(1), p. 48-50, jan.-jun., 2003.
SILVA, Rafael Denadai Pigozzi et al. Acidente vascular encefálico hemorrágico em adulto jovem como apresentação inicial de leucemia mielomonocítica. Relato de caso. Rev. Bras. Clín. Med. (São Paulo), 9(2), p. 157-60, mar.-abr., 2011.
ÁVILA, Walkiria Samuel et al. Gestação em portadora de hipercolesterolemia familiar e doença aterosclerótica prematura. Arq. Bras. Cardiol. (São Paulo), 68(3), p. 185-88, 1997.
VIANA, Sergio Lopes et al. Hipoplasia da veia cava inferior: relato de caso e revisão da literatura. Rev. Imagem. 28(3), p. 203-207, 2006.
Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.
por Samuel José Amaral de Jesus
As publicações neste portal correspondem ao período em que fui Estudante de Graduação em Biomedicina.
Hoje, sou Bacharel em Biomedicina (2015) pela Faculdade Nobre de Feira de Santana (BA), Especialista em Metodologia e Didática do Ensino Superior pela Fundação Visconde de Cairu (BA), Mestrando.
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