Técnica evita doença congênita misturando DNA de 2 mães
Medicina
06/06/2008
Técnica evita doença congênita misturando DNA de 2 mães
Doenças mitocondriais afetam pelo menos uma em cada oito mil pessoas
Cientistas da Universidade de Newcastle, na Grã-Bretanha, estão trabalhando em uma técnica que mistura o DNA de duas mães e de um pai para combater doenças genéticas.
Na prática, isso significa que o bebê resultante teria três pais, o que não é novidade: na década de 1990, nos Estados Unidos, uma equipe de cientistas criou bebês transgênicos ao adicionar parte do óvulo de uma mulher ao de outra como forma de tratar infertilidade.
A técnica foi proibida pela FDA (Food and Drug Administration), a autoridade americana que controla alimentos e remédios, mas continuou sendo usada em outros países.
Agora, segundo um artigo publicado na nova edição da revista New Scientist, especialistas voltam a fazer experimentos com embriões de duas mães e um pai para evitar que crianças herdem doenças sérias causadas por defeitos nas suas mitocôndrias - partes da célula responsáveis pela produção de energia.
Transmissão pela Mãe
Doenças mitocondriais afetam pelo menos uma em cada oito mil pessoas e, segundo cientistas, é provável que esse número seja ainda maior.
As mitocôndrias são passadas aos filhos pela mãe. Portanto, o princípio básico do tratamento é substituir as mitocôndrias "defeituosas" (que sofreram mutações) da mãe por mitocôndrias saudáveis de uma doadora para produzir bebês saudáveis.
A idéia é polêmica porque a mitocôndria contém seu próprio DNA, ou seja, bebês produzidos por este método terão "uma segunda mãe", explica o artigo da New Scientist.
Os especialistas argumentam, no entanto, que as mitocôndrias contém apenas 37 dos 20 mil genes humanos. E que os benefícios para as crianças superariam os riscos envolvidos, já que não há tratamento para pessoas que sofrem de doenças resultantes de defeitos mitocondriais.
O estudo é coordenado por Patrick Chinnery e Douglas Turnbull, da Universidade de Newcastle, no nordeste da Inglaterra.
Eles tratam pacientes que sofrem de doenças congênitas graves, entre elas a Sindrome de Leigh, que afeta os movimentos, a deglutição e a respiração, produzindo problemas mentais, convulsões e até morte.
E as síndromes de Leber, que provoca a cegueira, e de MELAS, que causa problemas digestivos, surdez e diabetes.
Tratamento
"Em ratos, (a técnica) pode evitar a transmissão de doenças que provocam deficiência e às vezes morte", disse Turnbull à New Scientist. "O único foco do nosso laboratório é tentar determinar se este é um tratamento válido para nossos pacientes".
Assim que o óvulo com a mitocôndria mutante é fertilizado pelo espermatozóide, seu núcleo é retirado e injetado no óvulo de uma doadora, cujo núcleo foi previamente removido.
O resultado é um embrião com genes do núcleo dos futuros pais e DNA mitocondrial da segunda mãe.
A técnica apresenta alguns problemas, já que, muitas vezes, mitocôndrias mutantes da mãe acabam sendo transferidas junto com o núcleo.
Chinnery e Turnbull estão investigando se a transferência de algumas poucas mitocôndrias mutantes no processo pode resultar em uma proporção perigosa dessas mitocôndrias no bebê.
Segundo eles, resultados iniciais indicam que não, mas os cientistas estão fazendo estudos sistemáticos sobre a questão e dizem que é cedo para tirar conclusões.
É sabido, entretanto, que a proporção de mitocôndrias mutantes tem de ser alta para que os problemas genéticos comecem a se manifestar.
Quaisquer que sejam os resultados desse estudo em particular, é provável que as mitocôndrias sejam objeto de estudos cada vez mais freqüentes.
Pesquisas revelam que sua influência nos seres humanos é muito maior do que se pensava.
Diferentes tipos de mitocôndria podem afetar nossa energia, nossa disposição para atividades atléticas, saúde, envelhecimento, fertilidade e talvez até nossa inteligência, ajudando a determinar quem somos como indivíduos - conclui a New Scientist.
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por Colunista Portal - Educação
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